Mauro Ferreira no G1

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sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Todas as faces de Joyce Moreno se harmonizam no refinado show 'Tudo'

Resenha de show
Título: Tudo 
Artista: Joyce Moreno (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Miranda (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 5 de setembro de 2013
Cotação: * * * *

"Tudo é melodia / Tudo é harmonia / Tudo é uma canção", sentencia Joyce Moreno na bela música que dá título ao álbum que gravou para o Japão em 2012 e que lançou no Brasil neste ano de 2013. Canção que prega a tolerância, como ressaltou a artista para o público antenado que foi ver seu show na casa carioca Miranda na noite de 5 de setembro, Tudo (Joyce Moreno, 2012) é atestado da inspiração perene desta compositora que ajudou a abrir caminhos para a produção feminina nacional na virada dos anos 70 para os 80. Não é à toa que o show Tudo - enfim apresentado no Rio de Janeiro (RJ), cidade natal da cantora - abre com Samba de mulher (Joyce Moreno e Léa Freire, 1995) e fecha com Feminina (Joyce Moreno, 1979), samba que marcou o início da fase de maior popularidade da carreira da artista no Brasil. Contudo, a obra de Joyce Moreno se tornou plural ao longo dessa trajetória profissional que já caminha para os 50 anos, contabilizados a partir de sua primeira gravação oficial, feita em 1964 para disco do grupo vocal Sambacana. Tudo, o show, ilumina e harmoniza as várias faces musicais de Joyce Moreno - ainda que esteja obviamente calcado na vigorosa safra inédita e autoral do CD feito para o mercado japonês. Se Puro ouro (Joyce Moreno, 2012) faz reluzir no show a face da artista que também bebeu na fonte do samba-jazz dos anos 60, Estado de graça (2012) - primeira parceria da compositora com Nelson Motta - ilumina a cantora que, como todos de sua geração, se banhou nas águas da Bossa Nova. Não por acaso, o samba mais mordaz do disco e do show Tudo se chama Quero ouvir João (Joyce Moreno e Paulo César Pinheiro, 2012) em alusão ao genial criador da Batida Diferente que revolucionou tudo em 1958. Já Essa mulher (Joyce Moreno e Ana Terra, 1979) põe em cena a compositora de canções que, no show, ganham o toque jazzístico do trio formado pelo pianista Rafael Vernet, o baixista Rodolfo Stroeter e o baterista Tutty Moreno. E, como se isso fosse tudo, há também a intérprete que se maturou com o tempo e que dá as caras nos sambas Céu e mar (Johnny Alf, 1953) - número ensolarado, cheio de energia - e Adeus, América (Haroldo Barbosa e Geraldo Jaques, 1948), tema em que a musicista expõe a ginga que enlouquece os gringos desde os anos 90, década em que a música de Joyce Moreno caiu na pista. A face da musicista - que toca em cena o primeiro violão que comprou com seu dinheiro, há mais de 40 anos, como revelou à plateia com humor - é exposta especialmente no set de voz-e-violão em que Joyce cai no samba ao som de composições de Billy Blanco (1924 - 2011) e Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994), saudados por ela com Viva meu samba (1958) e Águas de março (1972), respectivamente. Vinicius de Moraes (1913 - 1980) também é lembrado com Medo de amar (1958) por esta artista negra demais no coração que em 1988 gravou disco dedicado à obra do poeta compositor. De volta à sua seara autoral, Joyce mostra Choro do anjo (Joyce Moreno, 2012), de toque jazzy, e reitera o apurado senso rítmico ao levar nos vocalises o tema instrumental Tringuelingue (Joyce Moreno), composto com inspiração nos sons ouvidos na praia. À vontade nessa sua praia, a carioca recebe o cantor conterrâneo Zé Renato para cantar dois sambas de safra recente. Pra você gostar de mim (2012) - com música de Zé e letra de Joyce - é puro ouro. Um grande samba que poderia até cair na boca do povo se a trilha sonora do Brasil fosse a dos anos 70 ou 80. Dor de amor é água (Joyce Moreno e Paulo César Pinheiro, 2012) é valorizado pelo dueto de Joyce com Zé Renato, feito no show tal como no disco. No fim, Aquelas canções em mim (Joyce Moreno, 2012) faz bater uma saudade de um Brasil que já foi mais evoluído do ponto de vista musical. Era um Brasil que ouvia Mistérios (Joyce Moreno e Maurício Maestro, 1979), canção que trouxe Zé Renato de volta ao palco, já no bis, em dueto que fez todo o sentido porque a música figura tanto no repertório de Joyce como no do Boca Livre. No passado ou no presente, tudo é harmonia no som de Joyce Moreno.

9 comentários:

Mauro Ferreira disse...

"Tudo é melodia / Tudo é harmonia / Tudo é uma canção", sentencia Joyce Moreno na bela música que dá título ao álbum que gravou para o Japão em 2012 e que lançou no Brasil neste ano de 2013. Canção que prega a tolerância, como ressaltou a artista para o público antenado que foi ver seu show na casa carioca Miranda na noite de 5 de setembro, Tudo (Joyce Moreno, 2012) é atestado da inspiração perene desta compositora que ajudou a abrir caminhos para a produção feminina nacional na virada dos anos 70 para os 80. Não é à toa que o show Tudo - enfim apresentado no Rio de Janeiro (RJ), cidade natal da cantora - abre com Samba de mulher (Joyce Moreno e Léa Freire, 1995) e fecha com Feminina (Joyce Moreno, 1979), samba que marcou o início da fase de maior popularidade da carreira da artista no Brasil. Contudo, a obra de Joyce Moreno se tornou plural ao longo dessa trajetória profissional que já caminha para os 50 anos, contabilizados a partir de sua primeira gravação oficial, feita em 1964 para disco do grupo vocal Sambacana. Tudo, o show, ilumina e harmoniza as várias faces musicais de Joyce Moreno - ainda que esteja obviamente calcado na vigorosa safra inédita e autoral do CD feito para o mercado japonês. Se Puro ouro (Joyce Moreno, 2012) faz reluzir no show a face da artista que também bebeu na fonte do samba-jazz dos anos 60, Estado de graça (2012) - primeira parceria da compositora com Nelson Motta - ilumina a cantora que, como todos de sua geração, se banhou nas águas da Bossa Nova. Não por acaso, o samba mais mordaz do disco e do show Tudo se chama Quero ouvir João (Joyce Moreno e Paulo César Pinheiro, 2012) em alusão ao genial criador da Batida Diferente que revolucionou tudo em 1958. Já Essa mulher (Joyce Moreno, 1979) põe em cena a compositora de canções que, no show, ganham o toque jazzístico do trio formado pelo pianista Rafael Vernet, o baixista Rodolfo Stroeter e o baterista Tutty Moreno. E, como se isso fosse tudo, há também a intérprete que se maturou com o tempo e que dá as caras nos sambas Céu e mar (Johnny Alf, 1953) - número ensolarado, cheio de energia - e Adeus, América (Haroldo Barbosa e Geraldo Jaques, 1948), tema em que a musicista expõe a ginga que enlouquece os gringos desde os anos 90, década em que a música de Joyce Moreno caiu na pista. A face da musicista - que toca em cena o primeiro violão que comprou com seu dinheiro, há mais de 40 anos, como revelou à plateia com humor - é exposta especialmente no set de voz-e-violão em que Joyce cai no samba ao som de composições de Billy Blanco (1924 - 2011) e Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994), saudados por ela com Viva meu samba (1958) e Águas de março (1972), respectivamente. Vinicius de Moraes (1913 - 1980) também é lembrado com Medo de amar (1958) por esta artista negra demais no coração que em 1988 gravou disco dedicado à obra do poeta compositor. De volta à sua seara autoral, Joyce mostra Choro do anjo (Joyce Moreno, 2012), de toque jazzy, e reitera o apurado senso rítmico ao levar nos vocalises o tema instrumental Tringuelingue (Joyce Moreno), composto com inspiração nos sons ouvidos na praia. À vontade nessa sua praia, a carioca recebe o cantor conterrâneo Zé Renato para cantar dois sambas de safra recente. Pra você gostar de mim (2012) - com música de Zé e letra de Joyce - é puro ouro. Um grande samba que poderia até cair na boca do povo se a trilha sonora do Brasil fosse a dos anos 70 ou 80. Dor de amor é água (Joyce Moreno e Paulo César Pinheiro, 2012) é valorizado pelo dueto de Joyce com Zé Renato, feito no show tal como no disco. No fim, Aquelas canções em mim (Joyce Moreno, 2012) faz bater uma saudade de um Brasil que já foi mais evoluído do ponto de vista musical. Era um Brasil que ouvia Mistérios (Joyce Moreno e Maurício Maestro, 1979), canção que trouxe Zé Renato de volta ao palco, já no bis, em dueto que fez todo o sentido porque a música figura tanto no repertório de Joyce como no do Boca Livre. No passado ou no presente, tudo é harmonia no som de Joyce Moreno.

lurian disse...

Pra ela estendam-se os tapetes!

Marcelo disse...

Foi um show de musicalidade , poesia e simpatia de uma turma da pesada. Reunir no mesmo espaço Carlos Lyra, Leila Pinheiro e Menescal não é pra qualquer um não... Viva Joyce!!!!

Denilson Santos disse...

Mauro,

A música "Essa Mulher" é uma parceria da Joyce Moreno com a Ana Terra.

abração,
Denilson

Mauro Ferreira disse...

Grato pelo toque, Denilson, já consertei o post da resenha e o do roteiro. Abs, MauroF

Tombom disse...

Joyce é joia de alto valor para quem ama a boa música que se faz no Brasil!

Denilson Santos disse...

Valeu, Mauro.

É que considero essa música como uma das mais lindas de todo o cancioneiro nacional.

Mil vivas para a Joyce Moreno.

abração,
Denilson

Unknown disse...

Esperando ansiosamente para conferir esse show em São Paulo!

Bernardo Barroso Neto disse...

Joyce é tudo de bom: uma cantora maravilhosa, uma excelente compositora, uma grande artista e uma bela mulher. Pena que aqui no Brasil prefere dar ouvidos a outros tipos de músicas.