Título: 1958 - A bossa do mundo é nossa!
Autor: Joaquim Ferreira dos Santos
Direção e roteiro: André Paes Leme
Elenco: Andrea Veiga, Bianca Byington, Daniela Fontan, Diego de Abreu, Leandro
Castilho e Matheus Lima
Foto: Silvana Marques
Cotação: * * 1/2
Espetáculo em cartaz de sexta-feira a domingo no Teatro Laura Alvim, no Rio de Janeiro (RJ), até 22 de dezembro de 2013
A despeito de toda a hipocrisia que regia a sociedade brasileira nos anos 50, há toda uma aura mágica em torno da década, sobretudo de sua modernista segunda metade, marcada pelos progressos da era JK, pela revolução estética provocada na música brasileira com o surgimento da Bossa Nova e pelas conquistas mundiais do futebol. Best-seller do jornalista carioca Joaquim Ferreira dos Santos, o livro Feliz 1958 - O ano que não devia terminar (Editora Record, 1997) se escorou na nostalgia dessa modernidade nacional ao reconstituir os feitos e costumes do ano dourado. É dessa saudade sem idade que se alimenta a comédia musical 1958 - A bossa do mundo é nossa!, em cartaz de sexta-feira a domingo, no Teatro Laura Alvim, no Rio de Janeiro (RJ), até 22 de dezembro de 2013. O espetáculo se alimenta também do apego do público carioca de teatro aos musicais, se revelando um subproduto do gênero. Embora haja a permanência em cena de um trio de piano, baixo e bateria para escorar o elenco (afinado em todos os sentidos) na execução de temas como o samba-canção Sábado em Copacabana (Dorival Caymmi e Carlos Guinle, 1951), 1958 - A bossa do mundo é nossa! não chega a se enquadrar no padrão de um musical. A música, no caso, é veículo para ajudar a montar o painel cultural / comportamental da época e tampouco se resume à bossa nova incluída no título do espetáculo, embora o samba Chega de saudade (Tom Jobim e Vinicius de Moraes, 1958) esteja obviamente no repertório por ter sido a pedra fundamental na formatação da batida diferente. De todo modo, salta aos ouvidos o bom registro de Meu mundo caiu (Maysa, 1958) na voz de Andrea Veiga. O sucesso da cantora e compositora paulista Maysa (1936 - 1977) veio de fato ao mundo em 1958, mas o roteiro musical se permite algumas licenças temporais, como a inclusão do samba Beija-me (Roberto Martins e Mário Rossi), lançado em 1943, mas - justiça seja feita - revivido em 1959 pelo cantor mineiro Lúcio Alves (1927 - 1993) em registro já inserido no universo bossa-novista instaurado oficialmente no ano anterior. Música à parte, o espetáculo se ressente da falta de dramaturgia, já que a matéria-prima usada na elaboração do texto da peça - o livro de Joaquim Ferreira dos Santos - tem narrativa de tom documental. A rigor, nem dá para falar em texto, já que o roteiro de 1958 - A bossa do mundo é nossa! é constituído de quadros isolados que montam o painel da época retratada no espetáculo. No entanto, o hábil diretor André Paes Leme constrói toda uma teatralidade que sustenta a comédia musical. É nessa graciosa teatralidade que se escora o espetáculo, valorizado por bom elenco. Andrea Veiga, Bianca Byington, Daniela Fontan, Diego de Abreu, Leandro Castilho e Matheus Lima se harmonizam nos números coletivos - sobretudo quando cantam jingles de produtos de 1958, alimentando a aura de saudosismo que envolve a cena - e defendem bem todos seus papéis nos quadros que se sucedem com certa repetição. Sim, a piada vai ficando velha ao longo do espetáculo, mas 1958 - A bossa do mundo é nossa! tem lá seus momentos e seu charme. A bola bate na trave, mas o ágil jogo de cena tem bons lances.
2 comentários:
A despeito de toda a hipocrisia que regia a sociedade brasileira nos anos 50, há toda uma aura mágica em torno da década, sobretudo de sua modernista segunda metade, marcada pelos progressos da era JK, pela revolução estética provocada na música brasileira com o surgimento da Bossa Nova e pelas conquistas mundiais do futebol. Best-seller do jornalista carioca Joaquim Ferreira dos Santos, o livro Feliz 1958 - O ano que não devia terminar (Editora Record, 1997) se escorou na nostalgia dessa modernidade nacional ao reconstituir os feitos e costumes do ano dourado. É dessa saudade sem idade que se alimenta a comédia musical 1958 - A bossa do mundo é nossa!, em cartaz de sexta-feira a domingo, no Teatro Laura Alvim, no Rio de Janeiro (RJ), até 22 de dezembro de 2013. O espetáculo se alimenta também do apego do público carioca de teatro aos musicais, se revelando um subproduto do gênero. Embora haja a permanência em cena de um trio de piano, baixo e bateria para escorar o elenco (afinado em todos os sentidos) na execução de temas como o samba-canção Sábado em Copacabana (Dorival Caymmi e Carlos Guinle, 1955), 1958 - A bossa do mundo é nossa! não chega a se enquadrar no padrão de um musical. A música, no caso, é veículo para ajudar a montar o painel cultural / comportamental da época e tampouco se resume à bossa nova incluída no título do espetáculo, embora o samba Chega de saudade (Tom Jobim e Vinicius de Moraes, 1958) esteja obviamente no repertório por ter sido a pedra fundamental na formatação da batida diferente. De todo modo, salta aos ouvidos o bom registro de Meu mundo caiu (Maysa, 1958) na voz de Andrea Veiga. O sucesso da cantora e compositora paulista Maysa (1936 - 1977) veio de fato ao mundo em 1958, mas o roteiro musical se permite algumas licenças temporais, como a inclusão do samba Beija-me (Roberto Martins e Mário Rossi), lançado em 1943, mas - justiça seja feita - revivido em 1959 pelo cantor mineiro Lúcio Alves (1927 - 1993) em registro já inserido no universo bossa-novista instaurado oficialmente no ano anterior. Música à parte, o espetáculo se ressente da falta de dramaturgia, já que a matéria-prima usada na elaboração do texto da peça - o livro de Joaquim Ferreira dos Santos - tem narrativa de tom documental. A rigor, nem dá para falar em texto, já que o roteiro de 1958 - A bossa do mundo é nossa! é constituído de quadros isolados que montam o painel da época retratada no espetáculo. No entanto, o hábil diretor André Paes Leme constrói toda uma teatralidade que sustenta a comédia musical. É nessa graciosa teatralidade que se escora o espetáculo, valorizado por bom elenco. Andrea Veiga, Bianca Byington, Daniela Fontan, Diego de Abreu, Leandro Castilho e Matheus Lima se harmonizam nos números coletivos - sobretudo quando cantam jingles de produtos de 1958, alimentando a aura de saudosismo que envolve a cena - e defendem bem todos seus papéis nos quadros que se sucedem com certa repetição. Sim, a piada vai ficando velha ao longo do espetáculo, mas 1958 - A bossa do mundo é nossa! tem lá seus momentos e seu charme. A bola bate na trave, mas o ágil jogo de cena tem bons lances.
Andréa Veiga, a Paquita... nunca mais tinha ouvido falar dela
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