Título: Foi no mês que vem
Artista: Vitor Ramil (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Theatro Net Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 15 de outubro de 2013
Cotação: * * * *
A vida musical de Vitor Ramil é um livro aberto. Literalmente. Lançado simultaneamente com o revisionista álbum duplo Foi no mês que vem (Satolep Music, 2013), o Songbook Vitor Ramil (Belas Letras, 2013) desfolha conceitos sobre as páginas mais expressivas do cancioneiro do cantor e compositor gaúcho. Páginas de livro que Ramil reabriu no Rio de Janeiro (RJ), na noite de 15 de outubro de 2013, ao apresentar no Theatro Net Rio Foi no mês que vem, show de caráter retrospectivo como o refinado disco duplo que o inspirou. Foi um longo show, como reconheceu o artista ao se despedir de seu público carioca. É que Ramil é tão bom de papo quanto de música, o que gerou histórias entre uma música e outra. Falatório que prende a atenção da plateia, pelo humor mordaz das tiradas de Ramil, e que evita que o show se torne linear, já que o roteiro é essencialmente autoral. Só que a música é tão boa quanto o papo. A sós com seus três violões, revezados ao longo da apresentação, Ramil também segura a a atenção da plateia quando dá voz a canções como Invento (Vitor Ramil, 2007) - propagada na voz de Ney Matogrosso no show Beijo bandido (2008) - e Espaço (Vitor Ramil, 2000). São páginas trabalhadas na poesia e no apuro. Na estreia carioca do show, a entrada em cena de Ian Ramil, filho do artista, abriu o amplo leque de participações, recorrentes ao longo da apresentação. Ian marcou presença afetiva em Passageiro (Vitor Ramil, 1987) em número que cresceu com os vocais em uníssono de pai e filho. Na sequência, a partir de Ramilonga (Vitor Ramil, 1997), o virtuoso violonista argentino Carlos Moscardini se fez ouvir em set com cinco músicas. A primeira delas - o Tango da independência, composto por Ramil com Paulo Seben para disco de 1987, Tango, mas nunca efetivamente gravado na íntegra pelo cantor até o registro do álbum Foi no mês que vem - expôs a interação da música de Ramil, enraizada na tradições do Sul do Brasil sem ranços folclóricos, com o universo musical portenho. Acima de latitudes, paira a beleza melódica da milonga Deixando o pago (Vitor Ramil e João da Cunha Vargas, 2004) e de Noite de São João (Vitor Ramil sobre poema de Fernando Pessoa, 1997), tema que ganhou o reforço vocal de Kleiton & Kledir - dupla formada por irmãos de Ramil - e que foi composta com inspiração no clima de Estrela, estrela (Vitor Ramil, 1981), canção que se tornou o primeiro sucesso do cancioneiro do artista, tendo sido gravada pelas cantoras Gal Costa e Maria Rita, e que foi alocada no roteiro antes do tema junino. Em número solo, incrementado com imagem projetada em telão, a obra-prima Loucos de cara (Vitor Ramil, 1987) deixou no show a mesma impressão do disco: a sensação de que se trata de música que pede mais do que um violão para ter exposta sua força épica. Na sequência, a entrada em cena do percussionista Marcos Suzano alterou toda a dinâmica do show. Com mais molho, o set com Suzano - composto por Livro aberto (Vitor Ramil, 2007), Neve de papel (Vitor Ramil, 1995) e Viajei (Vitor Ramil, 2007) - reiterou a precisão da estética do calor gerado pela interação entre percussão e violão, mote do disco Satolep sambatown (2007), gravado por Ramil com Suzano. Ainda com Suzano em cena, a cantora Katia B entrou no palco do Theatro Net Rio para fazer boa participação vocal em Que horas não são? - canção de Ramil que B lançou em 2000 e que Ramil somente veio a gravar em 2007 - e em Joquim (Joey) (Bob Dylan e Jacques Levy em versão em português de Vitor Ramil, 1987), longo número em que a entrada da voz da cantora, no refrão, fez toda a diferença. Veio, então, a participação de Milton Nascimento, recebido como entidade por Ramil para cantar (em tons amenos) Não é céu (Vitor Ramil, 1995) e Morro velho (Milton Nascimento, 1967), números em que o trem mineiro cruzou harmoniosamente os vastos trilhos do Sul do Brasil. No fim, Ramil se valeu de Astronauta lírico (Vitor Ramil, 2000) para encerrar o show com o mesmo efeito poético obtido por Ney Matogrosso no bis de seu show Atento aos sinais. No bis, com as adesões do baixista André Gomes (presente nos números feitos com Milton), de Suzano e Moscardini, Ramil desfolhou outra página de seu cancioneiro, Grama verde (Vitor Ramil e André Gomes, 1995), para, então, fechar livro que se conserva em perfeito estado, resistindo aos efeitos do tempo.
3 comentários:
A vida musical de Vitor Ramil é um livro aberto. Literalmente. Lançado simultaneamente com o revisionista álbum duplo Foi no mês que vem (Satolep Music, 2013), o Songbook Vitor Ramil (Belas Letras, 2013) desfolha conceitos sobre as páginas mais expressivas do cancioneiro do cantor e compositor gaúcho. Páginas de livro que Ramil reabriu no Rio de Janeiro (RJ), na noite de 15 de outubro de 2013, ao apresentar no Theatro Net Rio Foi no mês que vem, show de caráter revisionista como o disco duplo que o inspirou. Foi um longo show, como reconheceu o artista ao se despedir de seu público carioca. É que Ramil é tão bom de papo quanto de música, o que gerou histórias entre uma música e outra. Falatório que prende a atenção da plateia, pelo humor mordaz das tiradas de Ramil, e que evita que o show se torne linear, já que o roteiro é essencialmente autoral. Só que a música é tão boa quanto o papo. A sós com seus três violões, revezados ao longo da apresentação, Ramil também segura a a atenção da plateia quando dá voz a canções como Invento (Vitor Ramil, 2007) - propagada na voz de Ney Matogrosso no show Beijo bandido (2008) - e Espaço (Vitor Ramil, 2000). São páginas trabalhadas na poesia e no apuro. Na estreia carioca do show, a entrada em cena de Ian Ramil, filho do artista, abriu o amplo leque de participações, recorrentes ao longo da apresentação. Ian marcou presença afetiva em Passageiro (Vitor Ramil, 1987) em número que cresceu com os vocais em uníssono de pai e filho. Na sequência, a partir de Ramilonga (Vitor Ramil, 1997), o virtuoso violonista argentino Carlos Moscardini se fez ouvir em set com cinco músicas. A primeira delas - o Tango da independência, composto por Ramil com Paulo Seben para disco de 1987, Tango, mas nunca efetivamente gravado na íntegra pelo cantor até o registro do álbum Foi no mês que vem - expôs a interação da música de Ramil, enraizada na tradições do Sul do Brasil sem ranços folclóricos, com o universo musical portenho. Acima de latitudes, paira a beleza melódica da milonga Deixando o pago (Vitor Ramil e João da Cunha Vargas, 2004) e de Noite de São João (Vitor Ramil sobre poema de Fernando Pessoa, 1997), tema que ganhou o reforço vocal de Kleiton & Kledir - dupla formada por irmãos de Ramil - e que foi composta com inspiração no clima de Estrela, estrela (Vitor Ramil, 1981), canção que se tornou o primeiro sucesso do cancioneiro do artista, tendo sido gravada pelas cantoras Gal Costa e Maria Rita, e que foi alocada no roteiro antes do tema junino.
Em número solo, incrementado com imagem projetada em telão, a obra-prima Loucos de cara (Vitor Ramil, 1987) deixou no show a mesma impressão do disco: a sensação de que se trata de música que pede mais do que um violão para ter exposta sua força épica. Na sequência, a entrada em cena do percussionista Marcos Suzano alterou toda a dinâmica do show. Com mais molho, o set com Suzano - composto por Livro aberto (Vitor Ramil, 2007), Neve de papel (Vitor Ramil, 1995) e Viajei (Vitor Ramil, 2007) - reiterou a precisão da estética do calor gerado pela interação entre percussão e violão, mote do disco Satolep sambatown (2007), gravado por Ramil com Suzano. Ainda com Suzano em cena, a cantora Katia B entrou no palco do Theatro Net Rio para fazer boa participação vocal em Que horas não são? - canção de Ramil que B lançou em 2000 e que Ramil somente veio a gravar em 2007 - e em Joquim (Joey) (Bob Dylan e Jacques Levy em versão em português de Vitor Ramil, 1987), longo número em que a entrada da voz da cantora, no refrão, fez toda a diferença. Veio, então, a participação de Milton Nascimento, recebido como entidade por Ramil para cantar (em tons amenos) Não é céu (Vitor Ramil, 1995) e Morro velho (Milton Nascimento, 1967), números em que o trem mineiro cruzou harmoniosamente os trilhos do Sul do Brasil. No fim, Ramil se valeu de Astronauta lírico (Vitor Ramil, 2000) para encerrar o show com o mesmo efeito poético obtido por Ney Matogrosso no bis de seu show Atento aos sinais. No bis, com as adesões do baixista André Gomes (presente nos números feitos com Milton), de Suzano e Moscardini, Ramil desfolhou outra página de seu cancioneiro, Grama verde (Vitor Ramil e André Gomes, 1995), para, então, fechar livro que se conserva em perfeito estado, resistindo aos efeitos do tempo.
Ué? Ó show é "ótimo" e não tem 5 estrelas?
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