Título: Cavalo
Artista: Rodrigo Amarante (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Circo Voador (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 12 de outubro de 2013
Cotação: * * *
Primeiro disco solo de Rodrigo Amarante, Cavalo representa um movimento para dentro. No álbum, que chega às lojas nos formatos de CD e vinil neste mês de outubro de 2013, o cantor e compositor carioca interioriza sentimentos em série de canções melancólicas de tom introspectivo, cool, por vezes até moroso. No show calcado no disco e apresentado pelo artista ao público carioca já na madrugada deste sábado, 12 de outubro, Amarante permanece sintonizado com o espírito do álbum sem expandir o som desse universo particular. É um cavalgar solitário, feito com a cumplicidade do seu público, que reconheceu de imediato os versos de Irene (Rodrigo Amarante, 2013), primeira das 17 músicas de roteiro que conciliou as onze composições de Cavalo com algumas músicas inéditas e com tributo ao compositor baiano Tom Zé, parabenizado por Amarante por conta dos 77 anos (completados na véspera) ao som do samba Mãe (Mãe solteira), parceria de Zé com Elton Medeiros lançada no antológico álbum Estudando o samba (Continental, 1976). Cantada por Amarante a sós com seu violão, Irene teve parte de sua beleza dissipada no ambiente efervescente do Circo Voador, palco inadequado para show de atmosfera tão tristonha. Em contrapartida, a linda melodia de The ribbon (Rodrigo Amarante, 2013) saltou aos ouvidos em registro feito por Amarante somente com sua guitarra. Sintonizada com o tom minimalista dos arranjos, a banda - formada por Gabriel Bubu (baixo, guitarra, teclado, percussão e vocal), Gustavo Benjão (guitarra, MPC, percussão e vocal), Lucas Vasconcellos (teclado, MPC, percussão e vocal) e Rodrigo Barba (bateria) - entrou em cena a partir do segundo número, Nada em vão (Rodrigo Amarante, 2013), mas por vezes saiu para deixar o palco somente para Amarante. E é justamente por cavalgar solitário por suas trilhas de melancolia e poesia que o cantor precisa aprimorar sua dicção. Seu canto é tão para dentro que por vezes não se entende o que está sendo cantado por Amarante em músicas como Cavalo (Rodrigo Amarante, 2013) e Fall asleep (Rodrigo Amarante, 2013), números em que o hermano pilota os teclados. Música tocada em shows desde 2012, mas não registrada no CD Cavalo, a ainda inédita Um milhão marca a volta de Amarante para o violão. Aliás, como optou por omitir no roteiro sua produção autoral com os grupos Los Hermanos e Little Joy, o artista vem apresentando inéditas como Dancing e Noster nostri nos shows da turnê Cavalo. Alocada na abertura do bis, em número feito por Amarante a sós com seus teclados, Noster nostri se revelou belíssima balada cantada em inglês que sinaliza a inspiração contínua do bom compositor. É tão bonita quanto Evaporar, música que Amarante lançou em gravação feita com o guitarrista Lanny Gordin para o álbum Lanny duos (2007). Evaporar arrematou o bis de show que, como o disco que o inspirou, tem momentos morosos, mas cresce no terço final, animado com o suingue e com a pegada afro de Maná (Rodrigo Amarante, 2012), música que já havia sido gravada pelo artista com o coletivo The Bottletop Band e que, no registro solo de Amarante, evoca o som do pernambucano Otto. Cabe ressaltar também que funcionou, em Tardei (Rodrigo Amarante, 2013), o deslocamento dos músicos da banda para a função de vocalistas para simular o efeito do coro da gravação do disco. Enfim, com ou sem sua banda, garantido pela adesão incondicional do fervoroso público herdado dos Los Hermanos, Rodrigo Amarante se porta em cena como viajante solitário, se embrenhando em trilhas tristonhas que alternam instantes de grande beleza com momentos de apatia introspectiva. É nesse ritmo que, para o bem ou para o mal, Cavalo cavalga em cena...
Um comentário:
Primeiro disco solo de Rodrigo Amarante, Cavalo representa um movimento para dentro. No álbum, que chega às lojas nos formatos de CD e vinil neste mês de outubro de 2013, o cantor e compositor carioca interioriza sentimentos em série de canções melancólicas de tom introspectivo, cool, por vezes até moroso. No show calcado no disco e apresentado pelo artista ao público carioca já na madrugada deste sábado, 12 de outubro, Amarante permanece sintonizado com o espírito do álbum sem expandir o som desse universo particular. É um cavalgar solitário, feito com a cumplicidade do seu público, que reconheceu de imediato os versos de Irene (Rodrigo Amarante, 2013), primeira das 17 músicas de roteiro que conciliou as onze composições de Cavalo com algumas músicas inéditas e com tributo ao compositor baiano Tom Zé, parabenizado por Amarante por conta dos 77 anos (completados na véspera) ao som do samba Mãe (Mãe solteira), parceria de Zé com Elton Medeiros lançada no antológico álbum Estudando o samba (Continental, 1976). Cantada por Amarante a sós com seu violão, Irene teve parte de sua beleza dissipada no ambiente efervescente do Circo Voador, palco inadequado para show de atmosfera tão tristonha. Em contrapartida, a linda melodia de The ribbon (Rodrigo Amarante, 2013) saltou aos ouvidos em registro feito por Amarante somente com sua guitarra. Sintonizada com o tom minimalista dos arranjos, a banda - formada por Gabriel Bubu (baixo, guitarra, teclado, percussão e vocal), Gustavo Benjão (guitarra, MPC, percussão e vocal), Lucas Vasconcellos (teclado, MPC, percussão e vocal) e Rodrigo Barba (bateria) - entrou em cena a partir do segundo número, Nada em vão (Rodrigo Amarante, 2013), mas por vezes saiu para deixar o palco somente para Amarante. E é justamente por cavalgar solitário por suas trilhas de melancolia e poesia que o cantor precisa aprimorar sua dicção. Seu canto é tão para dentro que por vezes não se entende o que está sendo cantado por Amarante em músicas como Cavalo (Rodrigo Amarante, 2013) e Fall asleep (Rodrigo Amarante, 2013), números em que o hermano pilota os teclados. Música tocada em shows desde 2012, mas não registrada no CD Cavalo, a ainda inédita Um milhão marca a volta de Amarante para o violão. Aliás, como optou por omitir no roteiro sua produção autoral com os grupos Los Hermanos e Little Joy, o artista vem apresentando inéditas como Dancing e Noster nostri nos shows da turnê Cavalo. Alocada na abertura do bis, em número feito por Amarante a sós com seus teclados, Noster nostri se revelou belíssima balada cantada em inglês que sinaliza a inspiração contínua do bom compositor. É tão bonita quanto Evaporar, música que Amarante lançou em gravação feita com o guitarrista Lanny Gordin para o álbum Lanny duos (2007). Evaporar arrematou o bis de show que, como o disco que o inspirou, tem momentos morosos, mas cresce no terço final, animado com o suingue e com a pegada afro de Maná (Rodrigo Amarante, 2012), música que já havia sido gravada pelo artista com o coletivo The Bottletop Band e que, no registro solo de Amarante, evoca o som do pernambucano Otto. Cabe ressaltar também que funcionou, em Tardei (Rodrigo Amarante, 2013), o deslocamento dos músicos da banda para a função de vocalistas para simular o efeito do coro da gravação do disco. Enfim, com ou sem sua banda, garantido pela adesão incondicional do fervoroso público herdado dos Los Hermanos, Rodrigo Amarante se porta em cena como viajante solitário, se embrenhando em trilhas tristonhas que alternam instantes de grande beleza com momentos de apatia introspectiva. É nesse ritmo que, para o bem ou para o mal, Cavalo cavalga em cena...
Postar um comentário