Resenha de documentário
Título: A farra do Circo
Diretores: Roberto Berliner e Pedro Bonz
Produção: TV Zero
Cotação: * * * *
Filme em cartaz no Festival do Rio até 6 de outubro de 2013
O verão de 1982 abriu as portas da indústria da música para o pop rock nacional a partir do estouro da banda carioca Blitz com o compacto da música Você não soube me amar (Evandro Mesquita, Ricardo Barreto, Guto e Zeca Mendigo). Ao mesmo tempo nasceu no Rio de Janeiro (RJ), fincado nas areias do Arpoador, o Circo Voador, palco que abrigava manifestações de música, teatro e poesia e que deu asas à geração pop daqueles anos dourados de sol e rock. O documentário A farra do Circo - em cartaz até este domingo, 6 de outubro de 2013, dentro da programação do Festival do Rio - rememora esse voo libertário fazendo uso somente de imagens captadas em VHS entre 1982 e 1986. Não há entrevistas atuais com personagens da saga e tampouco há comentários de especialistas sobre o momento cultural da época. Há somente as imagens de alto valor documental, capazes de traduzir a atmosfera idealista de uma trupe que alçou voo sem se preocupar em dimensionar a altitude da aventura - e, por essa opção estética, o filme de Roberto Berliner e Pedro Bonz evoca o documentário Titãs - A vida até parece uma festa, feito de forma similar e estreado no mesmo Festival do Rio em 2008. Havia uma ideologia para viver! Personagem dessa farra desde o primeiro voo, Cazuza (1958 - 1990) aparece em cena, em 1983, à frente do jovial Barão Vermelho, cantando duas músicas - Carne de pescoço (Frejat e Cazuza) e Pro dia nascer feliz (Frejat e Cazuza) - do segundo álbum do grupo, Barão Vermelho 2 (Som Livre, 1983). Logo despejado do Arpoador, o Circo Voador foi armado na Lapa - bairro do Centro do Rio de Janeiro (RJ), aonde ainda está erguido e em atividade - e lá se consagrou como palco do pop rock nacional que emergia nas rádios e programas de televisão. Por isso, faz sentido o filme mostrar o trio carioca Paralamas do Sucesso tocando Veraneio vascaína (Flávio Lemos e Renato Russo) - o hino punk do Aborto Elétrico que somente ganharia registro em disco, em 1986, pelo Capital Inicial - com todo o vigor e energia de seus primeiros anos. Simpatizante da geração pop desde a primeira hora, Caetano Veloso logo se enturmou com os roqueiros e com o Circo. Por isso, também faz sentido que o documentário flagre o cantor e compositor baiano proferindo palavrões lúdicos no picadeiro antes de cantar Qualquer coisa (Caetano Veloso, 1975), para delírio do público que se esprimia nas pistas e arquibancadas. Palco eclético que sempre abrigou de Celso Blues Boy (1956 - 2012) a Nana Caymmi, passando por Clementina de Jesus (1901 - 1987) e o grupo de teatro Asdrúbal Trouxe o Trombone (cujos números musicais são recorrentes no filme, aliás), o Circo Voador daquela época foi empreendimento posto em prática com mais poesia do que visão empresarial. Tanto que a sequência de imagens que refaz a rota da atribulada viagem do Circo ao México, na Copa do Mundo de 1986, é bem esclarecedora da inabilidade confessa da trupe para lidar com patrocinadores e autoridades. Mas qualquer desvio de rota se tornava insignificante quando lá em cima daquele palco havia um artista como o efêmero grupo Brylho tocando, com Claudio Zoli à frente, como mostra o filme, seu único hit Noite do prazer (Claudio Zoli, Paulo Zdanowski e Arnaldo Brandão, 1983). Sim, as noites eram de brilho e prazer no Circo Voador da primeira metade dos anos 80. A farra do Circo se engrandece na tela pelas imagens tão cheias de energia, jovialidade e poesia. Imagens que dispensam palavras atuais porque se bastam para documentar o libertário voo inicial da geração pop dos anos 1980. Voo cuja rota ainda reverbera...
O verão de 1982 abriu as portas da indústria da música para o pop rock nacional a partir do estouro da banda carioca Blitz com o compacto da música Você não soube me amar (Evandro Mesquita, Ricardo Barreto, Guto e Zeca Mendigo). Ao mesmo tempo nasceu no Rio de Janeiro (RJ), fincado nas areias do Arpoador, o Circo Voador, palco que abrigava manifestações de música, teatro e poesia e que deu asas à geração pop daqueles anos dourados de sol e rock. O documentário A farra do Circo - em cartaz até este domingo, 6 de outubro de 2013, dentro da programação do Festival do Rio - rememora esse voo libertário fazendo uso somente de imagens captadas em VHS entre 1982 e 1986. Não há entrevistas atuais com personagens da saga e tampouco há comentários de especialistas sobre o momento cultural da época. Há somente as imagens de alto valor documental, capazes de traduzir a atmosfera idealista de uma trupe que alçou voo sem se preocupar em dimensionar a altitude da aventura - e, por essa opção estética, o filme de Roberto Berliner e Pedro Bonz evoca o documentário Titãs - A vida até parece uma festa, feito de forma similar e estreado no mesmo Festival do Rio em 2008. Havia uma ideologia para viver! Personagem dessa farra desde o primeiro voo, Cazuza (1958 - 1990) aparece em cena, em 1983, à frente do jovial Barão Vermelho, cantando duas músicas - Carne de pescoço (Frejat e Cazuza) e Pro dia nascer feliz (Frejat e Cazuza) - do segundo álbum do grupo, Barão Vermelho 2 (Som Livre, 1983). Logo despejado do Arpoador, o Circo Voador foi armado na Lapa - bairro do Centro do Rio de Janeiro (RJ), aonde ainda está erguido e em atividade - e lá se consagrou como palco do pop rock nacional que emergia nas rádios e programas de televisão. Por isso, faz sentido o filme mostrar o trio carioca Paralamas do Sucesso tocando Veraneio vascaína (Flávio Lemos e Renato Russo) - o hino punk do Aborto Elétrico que somente ganharia registro em disco, em 1986, pelo Capital Inicial - com todo o vigor e energia de seus primeiros anos. Simpatizante da geração pop desde a primeira hora, Caetano Veloso logo se enturmou com os roqueiros e com o Circo. Por isso, também faz sentido que o documentário flagre o cantor e compositor baiano proferindo palavrões lúdicos no picadeiro antes de cantar Qualquer coisa (Caetano Veloso, 1975), para delírio do público que se esprimia nas pistas e arquibancadas. Palco eclético que sempre abrigou de Celso Blues Boy (1956 - 2012) a Nana Caymmi, passando por Clementina de Jesus (1901 - 1987) e o grupo de teatro Asdrúbal Trouxe o Trombone (cujos números musicais são recorrentes no filme, aliás), o Circo Voador daquela época foi empreendimento posto em prática com mais poesia do que visão empresarial. Tanto que a sequência de imagens que refaz a rota da atribulada viagem do Circo ao México, na Copa do Mundo de 1986, é esclarecedora da inabilidade confessa da trupe para lidar com patrocinadores e autoridades. Mas qualquer desvio de rota se tornava insignificante quando lá em cima daquele palco havia um artista como o efêmero grupo Brylho tocando, com Claudio Zoli à frente, como mostra o filme, seu único hit Noite do prazer (Claudio Zoli, Paulo Zdanowski e Arnaldo Brandão, 1983). Sim, as noites eram de brilho e prazer no Circo Voador da primeira metade dos anos 80. A farra do Circo se engrandece na tela pelas imagens tão cheias de energia, jovialidade e poesia. Imagens que dispensam palavras atuais porque se bastam para documentar o libertário voo inicial da geração pop dos anos 80.
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