Título: Disco
Artista: Arnaldo Antunes (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Circo Voador (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 27 de outubro de 2013
Cotação: * * * 1/2
Agenda da turnê nacional do show Disco:
* De 31 de outubro a 1 de novembro de 2013 - Sesc Belenzinho - São Paulo (SP)
* De 6 a 9 de novembro de 2013 - Sesc Belenzinho - São Paulo (SP)
* 11 de dezembro de 2013 - Teatro Bradesco - São Paulo (SP)
Disco - o recém-lançado 16º título da obra fonográfica de Arnaldo Antunes pós-Titãs - se revelou álbum apático, desconexo, aquém do belo histórico do cantor, compositor e poeta. Contudo, em cena, Disco cresce, ganhando movimento, pressão e - no bloco final - o peso do rock mais heavy. Por priorizar músicas pouco cantadas em show pelo artista paulista, casos de Atenção (Arnaldo Antunes, Alice Ruiz e João Bandeira, 2001) e da monocórdia balada Hotel Fraternité (Arnaldo Antunes sobre poema de Hans Magnus Enzensberger traduzido por Aldo Fortes, 2006), o roteiro dá a impressão de ter sido construído já tendo em vista um provável registro audiovisual do show que chegou ao Rio de Janeiro (RJ) em apresentação iniciada no Circo Voador já na madrugada de domingo, 27 de outubro de 2013. Se vier o DVD, o ouvinte residente longe demais das capitais - rota da turnê que já passou por Salvador (BA) e Porto Alegre (RS) e que aterrissa esta semana em São Paulo (SP) - vai poder perceber que o movimento que agrega valor a Disco no palco é resultante do caráter performático com que Arnaldo evolui em cena. Traço perceptível desde a primeira música, Muito muito pouco (Arnaldo Antunes, 2013), cantada após a abertura feita com a leitura de poema, Agora (Já passou), da lavra do artista multimídia. Com gestual que realça o sentido do que está sendo cantado, Arnaldo bate no peito no ritmo funkeado de Trato (2013) - parceria com Hyldon e Céu - e usa o pedestal do microfone como habitual acessório cênico. Performances à parte, o show reitera a irregularidade do cancioneiro reunido por Arnaldo em Disco. Fica nítido em cena, como já ficara evidente no álbum, que a safra 2013 de Arnaldo com Dadi Carvalho e Marisa Monte alterna canções maiores (Sou volúvel) e menores (Querem mandar). De todo modo, as canções antigas do trio tribalista ainda pairam acima das músicas atuais. Tanto que Consumado (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte, 2004) - canção do álbum Saiba (2004) - representa ponto de fervura no show, turbinada com o coro popular, bisado em A casa é sua (Arnaldo Antunes e Ortinho, 2009), pérola pop do luminoso álbum Iê iê iê (2009). Em contrapartida, Contato imediato (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte, 2006) evidencia os limites do cantor como intérprete e não se revela em cena com toda sua beleza, em número que se ressente da comparação com o registro límpido feito pela cantora Jussara Silveira no álbum Ame ou se mande (2011). Já Nome não (Arnaldo Antunes, 1993) é lembrança do concretista primeiro disco solo do artista, Nome (1993), título já atípico em discografia que foi ganhando contorno pop e melódico ao longo dos 20 anos que separam Nome de Disco. Grávida - parceria de Arnaldo com Marina Lima, lançada pela cantora em 1991 e até então nunca abordada por seu coautor em discos e shows - se ajusta bem à arquitetura do roteiro em número incrementado visualmente com imagens de chuva projetadas no telão. A poética Azul vazio (Arnaldo Antunes e Márcia Xavier, 2013) dá início a bloco acústico que causa certa dispersão no ambiente sempre efervescente do Circo Voador, palco inadequado para a interiorizada abordagem cool e minimalista de Até quem sabe (João Donato, Lysias Ênio e Mercedes Chies), feita por Arnaldo somente com o toque do acordeom de André Lima. Balada que exemplifica o feliz flerte de Arnaldo com a canção sentimental brasileira, mote do álbum Iê iê iê, Meu coração (Arnaldo Antunes e Ortinho, 2009) faz bem a transição do clima acústico para o som mais encorpado, começando em número solo de voz & violão e terminando com toda a banda - formada por feras como o guitarrista Edgard Scandurra, o baterista Curumim e o baixista Betão Aguiar - de volta ao palco. Com mais pressão roqueira do que levadas do Norte, Ela é tarja preta (Arnaldo Antunes, Betão Aguiar, Luê, Felipe Cordeiro e Manoel Cordeiro, 2013) começa a preparar o clima para o heavy bloco final o show. Contudo, antes de pesar a mão na execução de rocks como Vá trabalhar (Arnaldo Antunes, 1981 / 2013) e Sentido (Arnaldo Antunes e Nando Reis, 2001 / 2013), Arnaldo faz seu público se render mais uma vez à irresistível Invejoso (Arnaldo Antunes e Liminha, 2009), outra pérola pop(ular) de Iê iê iê. Tema lançado pelos Titãs no grande álbum Õ blésq blom (1989), Medo (Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Tony Bellotto, 1989) adensa Disco em cena com o mesmo peso de Fora de si (Arnaldo Antunes, 1995), enlouquecido rock que encerra o show, retomado no bis com Envelhecer (Arnaldo Antunes, Marcelo Jeneci e Ortinho, 2009) e Socorro (Arnaldo Antunes e Alice Ruiz, 1994), número catártico a ponto de gerar um segundo bis com a tribalista Passe em casa (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte e Margareth Menezes, 2002) e com O pulso (Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Tony Bellotto, 1989), outra sagaz lembrança titânica de Õ blésq blom. Sim, mesmo que Arnaldo Antunes esteja promovendo álbum de menor peso em sua discografia, o pulso do (grande) artista ainda pulsa firme e forte em cena.
5 comentários:
Disco - o recém-lançado 16º título da obra fonográfica de Arnaldo Antunes pós-Titãs - se revelou álbum apático, desconexo, aquém do belo histórico do cantor, compositor e poeta. Contudo, em cena, Disco cresce, ganhando movimento, pressão e - no bloco final - o peso do rock mais heavy. Por priorizar músicas pouco cantadas em show pelo artista paulista, casos de Atenção (Arnaldo Antunes, Alice Ruiz e João Bandeira, 2001) e da monocórdia balada Hotel Fraternité (Arnaldo Antunes sobre poema de Hans Magnus Enzensberger traduzido por Aldo Fortes, 2006), o roteiro dá a impressão de ter sido construído já tendo em vista um provável registro audiovisual do show que chegou ao Rio de Janeiro (RJ) em apresentação iniciada no Circo Voador já na madrugada de domingo, 27 de outubro de 2013. Se vier o DVD, o ouvinte residente longe demais das capitais - rota da turnê que já passou por Salvador (BA) e Porto Alegre (RS) e que aterrissa esta semana em São Paulo (SP) - vai poder perceber que o movimento que agrega valor a Disco no palco é resultante do caráter performático com que Arnaldo evolui em cena. Traço perceptível desde a primeira música, Muito muito pouco (Arnaldo Antunes, 2013), cantada após a abertura feita com a leitura de poema, Agora (Já passou), da lavra do artista multimídia. Com gestual que realça o sentido do que está sendo cantado, Arnaldo bate no peito no ritmo funkeado de Trato (2013) - parceria com Hyldon e Céu - e usa o pedestal do microfone como habitual acessório cênico. Performances à parte, o show reitera a irregularidade do cancioneiro reunido por Arnaldo em Disco. Fica nítido em cena, como já ficara evidente no álbum, que a safra 2013 de Arnaldo com Dadi Carvalho e Marisa Monte alterna canções maiores (Sou volúvel) e menores (Querem mandar). De todo modo, as canções antigas do trio tribalista ainda pairam acima das músicas atuais. Tanto que Consumado (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte, 2004) - canção do álbum Saiba (2004) - representa ponto de fervura no show, turbinada com o coro popular, bisado em A casa é sua (Arnaldo Antunes e Ortinho, 2009), pérola pop do luminoso álbum Iê iê iê (2009). Em contrapartida, Contato imediato (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte, 2006) evidencia os limites do cantor como intérprete e não se revela em cena com toda sua beleza, em número que se ressente da comparação com o registro límpido feito pela cantora Jussara Silveira no álbum Ame ou se mande (2011). Já Nome não (Arnaldo Antunes, 1993) é lembrança do concretista primeiro disco solo do artista, Nome (1993), título já atípico em discografia que foi ganhando contorno pop e melódico ao longo dos 20 anos que separam Nome de Disco.
Grávida - parceria de Arnaldo com Marina Lima, lançada pela cantora em 1991 e até então nunca abordada por seu coautor em discos e shows - se ajusta bem à arquitetura do roteiro em número incrementado visualmente com imagens de chuva projetadas no telão. A poética Azul vazio (Arnaldo Antunes e Márcia Xavier, 2013) dá início a bloco acústico que causa certa dispersão no ambiente sempre efervescente do Circo Voador, inadequado para a interiorizada abordagem cool e minimalista de Até quem sabe (João Donato, Lysias Ênio e Mercedes Chies), feita por Arnaldo somente com o toque do acordeom de André Lima. Balada que exemplifica o feliz flerte de Arnaldo com a canção sentimental brasileira, mote do álbum Iê iê iê, Meu coração (Arnaldo Antunes e Ortinho, 2009) faz bem a transição do clima acústico para o som mais encorpado, começando em número solo de voz & violão e terminando com toda a banda - formada por feras como o guitarrista Edgard Scandurra, o baterista Curumim e o baixista Betão Aguiar - de volta ao palco. Com mais pressão roqueira do que levadas do Norte, Ela é tarja preta (Arnaldo Antunes, Betão Aguiar, Luê, Felipe Cordeiro e Manoel Cordeiro, 2013) começa a preparar o clima para o heavy bloco final o show. Contudo, antes de pesar a mão na execução de rocks como Vá trabalhar (Arnaldo Antunes, 1981 / 2013) e Sentido (Arnaldo Antunes e Nando Reis, 2001 / 2013), Arnaldo faz seu público se render mais uma vez à irresistível Invejoso (Arnaldo Antunes e Liminha, 2009), outra pérola pop(ular) de Iê iê iê. Tema lançado pelos Titãs no grande álbum Õ blésq blom (1989), Medo (Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Tony Bellotto, 1989) adensa Disco em cena com o mesmo peso de Fora de si (Arnaldo Antunes, 1995), enlouquecido rock que encerra o show, retomado no bis com Envelhecer (Arnaldo Antunes, Marcelo Jeneci e Ortinho, 2009) e Socorro (Arnaldo Antunes e Alice Ruiz, 1994), número catártico a ponto de gerar um segundo bis com a tribalista Passe em casa (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte e Margareth Menezes, 2002) e com O pulso (Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Tony Bellotto, 1989), outra sagaz lembrança titânica de Õ blésq blom. Sim, mesmo que Arnaldo Antunes esteja promovendo álbum de menor peso em sua discografia, o pulso do (grande) artista ainda pulsa firme e forte em cena.
O pijama que ele vestiu como figurino de show foi propício a vários dos momentos soníferos... A parte acústica então.. .zZzzZzZzZz... É um show para teatros, não para Circo Voador.
Sim, Eduardo, concordo. Assim como "Cavalo", show de Rodrigo Amarante, "Disco" é show para teatro, local no qual todos seus matizes ficariam mais nítidas, ainda que os números roqueiros sejam a cara do Circo Voador. Abs, MauroF
O Pulso é realmente uma música singular.
A mistura de doenças físicas e psíquicas é matadora.
Top cinco dos Titãs, sem dúvida.
PS: Esse pijamão do Arnaldo tá mesmo esperto.
Mas aqui em Recife não rolaria, calorrrrrrrrr.
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