Título: A arca de Noé - Vinicius de Moraes
Artista: Vários
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * * 1/2
Idealizada por Susana de Moraes, filha mais velha de Vinicius de Moraes (1913 - 1980), a releitura contemporânea das músicas dos álbuns A arca de Noé (1980) e A arca de Noé 2 (1981) chega ao mercado fonográfico - em CD editado pela gravadora Sony Music - a tempo de festejar o Dia das Crianças e o centenário de nascimento do compositor e poeta. Viabilizado por produção capitaneada por Dé Palmeira, com adesões de Adriana Calcanhotto e Leonardo Netto, o CD A arca de Noé - Vinicius de Moraes resulta interessante porque os novos arranjos deram tom contemporâneo ao cancioneiro de Vinicius sem desconfigurá-lo. Ao contrário, parece ter havido respeito na abordagem das músicas - ainda que cada artista do elenco estelar tenha trazido sua canção para seu universo particular. Erasmo Carlos, por exemplo, choca O pintinho (Toquinho, Vinicius de Moraes e Gilda Mattoso, 1981) na pressão do rock em registro turbinado pelas guitarras de Dado Villa-Lobos e Lucas Vasconcellos. Presenças tão surpreendentes quanto bem-vindas, Chitãozinho & Xororó terçam vozes em A corujinha (Toquinho, Vinicius de Moraes e Sergio Bardotti, 1980) como se estivessem à beira da fazenda, em noite enluarada. As violas caipiras de Xororó e Henrique Bonna se encarregam de reforçar o tom ruralista da faixa. Música composta para o projeto, mas gravada por Adriana Partimpim no álbum Partimpim dois (2009), As borboletas é parceria póstuma de Cid Campos com Vinicius que alça voo linear na voz de Gal Costa no escuro tom indie-eletrônico do álbum Recanto (2011). Produzida por Calcanhotto e Domenico Lancellotti, a faixa de Gal é das mais ousadas da releitura d'A arca de Noé e se afina com a abordagem d'A cachorrinha (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1981) por Maria Luiza Jobim em gravação produzida pelo tecladista Lucas Paiva. Se bem que Zeca Pagodinho também foi ousado (e bem-sucedido) ao transformar a valsa O pato (Toquinho, Vinicius de Moraes e Paulo Soledade, 1980) em samba à moda carioca - no mesmo nobre quintal em que Chico Buarque acerta o passo amaxixado do samba O pinguim (Toquinho, Paulo Soledade e Vinicius de Moraes, 1981) - enquanto Caetano Veloso e Moreno Veloso fazem O Leão (Fagner e Vinicius de Moraes, 1981) rugir com igual propriedade na cadência do pagode baiano. Destaque do elenco, a baiana Ivete Sangalo mostra - ao reviver A galinha d'Angola (Toquinho e Vinicius de Moraes, 1981) em gravação feita com o grupo português Buraka Som Sistema - que é ótima cantora quando abre mão de suas habituais presepadas e quanto tem repertório à altura de sua voz. A faixa de Ivete flerta com o kuduro de forma natural. Já Arnaldo Antunes põe sua voz cavernosa e toque andino de latinidade em O peru (Toquinho, Paulinho Soledade e Vinicius de Moraes, 1981). É tanta estrela que Mariana de Moraes passa batida com sua reverente gravação de A formiga (Vinicius de Moraes e Paulo Soledade, 1981). Única música inédita do disco, O elefantinho - parceria póstuma de Adriana Partimpim com Vinicius - é faixa mais indicada para crianças com mais de 20 anos pelo tom intrincado do arranjo da gravação da Partimpim, menina tão sapeca quanto Mart'nália, intérprete de O gato (Toquinho, Vinicius de Moraes e Luis Bacalov, 1980), faixa marcada pela leveza moleca da filha de Martinho da Vila. Com a voz de Rodrigo Amarante, A foca (Toquinho e Vinicius de Moraes, 1980) tem seu clima circense realçado pela gravação da Orquestra Imperial. Miúcha e Paulo Jobim também acertam ao reviver São Francisco (Toquinho e Vinicius de Moraes, 1980) em feitio de oração. Por sua voz, Marisa Monte reitera em As abelhas (Luis Bacalov e Vinicius de Moraes, 1980) sua intimidade com o riponga clima novo baiano. Enfim, A arca de Noé está povoada com novos nomes e sons. Da solenidade de Maria Bethânia, que recita o poema que introduz A arca de Noé (Toquinho e Vinicius de Moraes, 1980) em faixa cantada por Seu Jorge e Péricles, à naturalidade do próprio Vinicius (ouvido ao fim do disco na gravação original d'A casa, música do disco de 1980), tudo está no seu lugar nessa releitura respeitosa e ao mesmo tempo ousada da obra infantil do poeta. Viva Vinicius!!
6 comentários:
Idealizada por Susana de Moraes, filha mais velha de Vinicius de Moraes (1913 - 1980), a releitura contemporânea das músicas dos álbuns A arca de Noé (1980) e A arca de Noé 2 (1981) chega ao mercado fonográfico - em CD editado pela gravadora Sony Music - a tempo de festejar o Dia das Crianças e o centenário de nascimento do compositor e poeta. Viabilizado por produção capitaneada por Dé Palmeira, com adesões de Adriana Calcanhotto e Leonardo Netto, o CD A arca de Noé - Vinicius de Moraes resulta interessante porque os novos arranjos deram tom contemporâneo ao cancioneiro de Vinicius sem desconfigurá-lo. Ao contrário, parece ter havido respeito na abordagem das músicas - ainda que cada artista do elenco estelar tenha trazido sua canção para seu universo particular. Erasmo Carlos, por exemplo, choca O pintinho (Toquinho, Vinicius de Moraes e Gilda Mattoso, 1981) na pressão do rock em registro turbinado pelas guitarras de Dado Villa-Lobos e Lucas Vasconcellos. Presenças tão surpreendentes quanto bem-vindas, Chitãozinho & Xororó terçam vozes em A corujinha (Toquinho, Vinicius de Moraes e Sergio Bardotti, 1980) como se estivessem à beira da fazenda, em noite enluarada. As violas caipiras de Xororó e Henrique Bonna se encarregam de reforçar o tom ruralista da faixa. Música composta para o projeto, mas gravada por Adriana Partimpim no álbum Partimpim dois (2009), As borboletas é parceria póstuma de Cid Campos com Vinicius que alça voo linear na voz de Gal Costa no escuro tom indie-eletrônico do álbum Recanto (2011). Produzida por Calcanhotto e Domenico Lancellotti, a faixa de Gal é das mais ousadas da releitura d'A arca de Noé e se afina com a abordagem d'A cachorrinha (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1981) por Maria Luiza Jobim em gravação produzida pelo tecladista Lucas Paiva. Se bem que Zeca Pagodinho também foi ousado (e bem-sucedido) ao transformar a valsa O pato (Toquinho, Vinicius de Moraes e Paulo Soledade, 1980) em samba à moda carioca - no mesmo nobre quintal em que Chico Buarque acerta o passo amaxixado do samba O pinguim (Toquinho, Paulo Soledade e Vinicius de Moraes, 1981) - enquanto Caetano Veloso e Moreno Veloso fazem O Leão (Fagner e Vinicius de Moraes, 1981) rugir com igual propriedade na cadência do pagode baiano.
Destaque do elenco, a baiana Ivete Sangalo mostra - ao reviver A galinha d'Angola (Toquinho e Vinicius de Moraes, 1981) em gravação feita com o grupo português Buraka Som Sistema - que é ótima cantora quando abre mão de suas habituais presepadas e quanto tem repertório à altura de sua voz. A faixa de Ivete flerta com o kuduro de forma natural. Já Arnaldo Antunes põe sua voz cavernosa e toque andino de latinidade em O peru (Toquinho, Paulinho Soledade e Vinicius de Moraes, 1981). É tanta estrela que Mariana de Moraes passa batida com sua reverente gravação de A formiga (Vinicius de Moraes e Paulo Soledade, 1981). Única música inédita do disco, O elefantinho - parceria póstuma de Adriana Partimpim com Vinicius - é faixa mais indicada para crianças com mais de 20 anos pelo tom intrincado do arranjo da gravação da Partimpim, menina tão sapeca quanto Mart'nália, intérprete de O gato (Toquinho, Vinicius de Moraes e Luis Bacalov, 1980), faixa marcada pela leveza moleca da filha de Martinho da Vila. Com a voz de Rodrigo Amarante, A foca (Toquinho e Vinicius de Moraes, 1980) tem seu clima circense realçado pela gravação da Orquestra Imperial. Miúcha e Paulo Jobim também acertam ao reviver São Francisco (Toquinho e Vinicius de Moraes, 1980) em feitio de oração. Por sua voz, Marisa Monte reitera em As abelhas (Luis Bacalov e Vinicius de Moraes, 1980) sua intimidade com o riponga clima novo baiano. Enfim, A arca de Noé está povoada com novos nomes e sons. Da solenidade de Maria Bethânia, que recita o poema que introduz A arca de Noé (Toquinho e Vinicius de Moraes, 1980) em faixa cantada por Seu Jorge e Péricles, à naturalidade do próprio Vinicius (ouvido ao fim do disco na gravação original d'A casa, música do disco de 1980), tudo está no seu lugar nessa releitura respeitosa e ao mesmo tempo ousada da obra infantil do poeta. Viva Vinicius!!
Será que vai me emocionar como o original (choro feito um idiota com música infantil da época que eu era criança)?
Não ouvi, mas para mim é bola fora não ter colocado Bethânia para cantar A Arca de Noé. Somente ela tem a postura (e olha que nem é minha cantora favorita) para regravar o original de Mílton Nascimento.
O disco ficou muito abaixo do original obviamente. E que voz é aquela da Gal?
Bola fora total.
Ouvi algumas gravações da "Arca",a propósito do que foi dito acima,a faixa de Gal Costa tinha tudo pra ser interessante mesmo sendo uma canção bastante opaca do filho de Augusto de Campos;o grande problema da faixa é justamente o que sempre a distinguiu como uma de nossas maiores cantoras:sua voz.Nessa gravação ela parece um tanto gripada,rouca ou qualquer equivalente desses,poderia ter gravado noutro dia,a mim soou como desleixo consigo própria e com o público,uma pena.
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