Resenha de CD
Título: Bate bola
Artista: Afonso Machado, Chico Faria, Ruy Faria e Tiago Machado
Gravadora: MP,B Discos / Universal Music
Cotação: * * 1/2
A edição do CD Bate bola neste mês de outubro de 2013 é lance antecipado da indústria do disco para pegar carona na euforia que vai tomar conta do Brasil em 2014 por conta realização da Copa do Mundo no país. Ruy Faria - voz dissidente do grupo MPB-4, do qual se desligou em 2004 - se juntou ao seu filho Chico Faria e a Afonso Machado, que reforçou o time com seu filho Tiago Machado. O quarteto dá voz a repertório que versa quase sempre sobre futebol, geralmente na cadência bonita do samba. Mas o disco bate na trave porque os arranjos vocais - a cargo de Ruy Faria e Chico Faria - ficam longe do requinte de grupos como Os Cariocas e o próprio MPB-4. Contudo, justiça seja feita, Bate bola marca dois gols logo de primeira. O primeiro, um golaço, é feito logo na primeira faixa, uma abordagem em clima de samba do choro Um a zero (Pixinguinha e Benedito Lacerda, 1919), feita com a letra escrita em 1994 pelo compositor mineiro Nelson Ângelo. No toma-lá-dá-cá do samba, Linha de passe (João Bosco, Aldir Blanc e Paulo Emílio, 1979) também manda a bola para a rede. Contudo, à medida que o jogo avança, fica claro a opacidade das vozes individuais do grupo em temas como O futebol (1989), samba de Chico Buarque que expõe a engenhosidade típica das músicas do compositor. A propósito, Chico foi convocado para reforçar o time em Aqui é o país do futebol - tema de 1970 em que os craques Milton Nascimento e Fernando Brant abordam a paixão nacional pelo esporte com crítica social condizente com época em que a participação do Brasil na Copa do México era usada pelo governo de Emílio Garrastazu Médici (1905 - 1985) para desviar a atenção das atrocidades cometidas nos porões da ditadura - e na empolgante Na cadência do samba (Que bonito é). Neste tema de 1956, composto pelo pernambucano Luiz Bandeira (1923 - 1998), o time vocal de Bate bola é reforçado ainda por Carlinhos Vergueiro, convidado também de Monalisa, samba feito por Vergueiro com Paulo César Feital e gravado pelo autor em seu álbum Contra-ataque - Samba e futebol (1999). As convocações de Chico e Vergueiro - ambos sem fôlego vocal - mantêm inalterado o ritmo do jogo, que alcança o pique do Nordeste aos 40 do segundo tempo com as regravações do coco-rojão Um a um (Edgar Ferreira) - sucesso na Copa de 1954 na voz de Jackson do Pandeiro (1919 - 1982), rei do ritmo que driblava a pauta com a destreza de um Garrincha (1933 - 1983) - e Isso aqui tá bom demais (Dominguinhos e Nando Cordel, 1985), cuja introdução vocal prepara um gol perdido ao longo da faixa. Enfim, Bate bola tem o jeito de um amistoso jogado no campo do Politheama, o time encabeçado pelo craque Chico Buarque. Foi lá, aliás, que surgiu a ideia deste disco que, apesar de alinhar bons jogadores em cena, bate na trave...
A edição do CD Bate bola neste mês de outubro de 2013 é lance antecipado da indústria do disco para pegar carona na euforia que vai tomar conta do Brasil em 2014 por conta realização da Copa do Mundo no país. Ruy Faria - voz dissidente do grupo MPB-4, do qual se desligou em 2004 - se juntou ao seu filho Chico Faria e a Afonso Machado, que reforçou o time com seu filho Tiago Machado. O quarteto dá voz a repertório que versa quase sempre sobre futebol, geralmente na cadência bonita do samba. Mas o disco bate na trave porque os arranjos vocais - a cargo de Ruy Faria e Chico Faria - ficam longe do requinte de grupos como Os Cariocas e o próprio MPB-4. Contudo, justiça seja feita, Bate bola marca dois gols logo de primeira. O primeiro, um golaço, é feito logo na primeira faixa, uma abordagem em clima de samba do choro Um a zero (Pixinguinha e Benedito Lacerda, 1919), feita com a letra escrita em 1994 pelo compositor mineiro Nelson Ângelo. No toma-lá-dá-cá do samba, Linha de passe (João Bosco, Aldir Blanc e Paulo Emílio, 1979) também manda a bola para a rede. Contudo, à medida que o jogo avança, fica claro a opacidade das vozes individuais do grupo em temas como O futebol (1989), samba de Chico Buarque que expõe a engenhosidade típica das músicas do compositor. A propósito, Chico foi convocado para reforçar o time em Aqui é o país do futebol - tema de 1970 em que os craques Milton Nascimento e Fernando Brant abordam a paixão nacional pelo esporte com crítica social condizente com época em que a participação do Brasil na Copa do México era usada pelo governo de Emílio Garrastazu Médici (1905 - 1985) para desviar a atenção das atrocidades cometidas nos porões da ditadura - e na empolgante Na cadência do samba (Que bonito é). Neste tema de 1956, composto pelo pernambucano Luiz Bandeira (1923 - 1998), o time vocal de Bate bola é reforçado ainda por Carlinhos Vergueiro, convidado também de Monalisa, samba feito por Vergueiro com Paulo César Feital e gravado pelo autor em seu álbum Contra-ataque - Samba e futebol (1999). As convocações de Chico e Vergueiro - ambos sem fôlego vocal - mantêm inalterado o ritmo do jogo, que alcança o pique do Nordeste aos 40 do segundo tempo com as regravações do coco-rojão Um a um (Edgar Ferreira) - sucesso na Copa de 1954 na voz de Jackson do Pandeiro (1919 - 1982), rei do ritmo que driblava a pauta com a destreza de um Garrincha (1933 - 1983) - e Isso aqui tá bom demais (Dominguinhos e Nando Cordel, 1985), cuja introdução vocal prepara um gol perdido ao longo da faixa. Enfim, Bate bola tem o jeito de um amistoso jogado no campo do Politheama, o time encabeçado pelo craque Chico Buarque. Foi lá, aliás, que surgiu a ideia deste disco que, apesar de alinhar bons jogadores em cena, bate na trave...
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