Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Ponte orquestral com Fondse conduz som de Lenine à dimensão sublime

Resenha de show
Título: The bridge
Artista: Lenine e Martin Fondse Orchestra (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Theatro Net Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 21 de outubro de 2013
Cotação: * * * * *

 Já em si uma ponte que liga os sons da Nação Nordestina ao universo pop, a música do pernambucano Lenine é conduzida à outra dimensão - não necessariamente melhor ou pior, mas diferente - ao ser entrelaçada com a obra e o toque da Martin Fondse Orchestra. Na ponte transatlântica que une Brasil e Holanda no show The bridge, o pop brasileiro cosmopolita de Lenine ganha a forma orquestral dos arranjos de Fondse, maestro e pianista holandês que transita pelo jazz com influências da música clássica. No show, que está em turnê por seis cidades do Brasil neste mês de outubro de 2013, as composições de Lenine são amalgamadas com temas instrumentais de Fondse em total harmonia. Já no primeiro número - Maurício (Martin Fondse) / A ponte (Lenine e Lula Queiroga, 1997), músicas que aludem nos títulos às pontes construídas nas portuárias cidades de Amsterdã e Recife, nortes das respectivas obras dos artistas - fica evidente o tom vibrante desse amálgama, iniciado quando Lenine entra pela plateia cantando os versos de A ponte. A perfeita harmonização desses dois cancioneiros é reiterada na junção também vibrante de A rede (Lenine e Lula Queiroga, 1999) com Eendracht (Martin Fondse), número em que Lenine cita País tropical (Jorge Ben Jor, 1969) - em tons ternos que contrastam com os registros habitualmente efusivos do tema de Ben - e o saxofonista Mete Erker brilha em solo incandescente. A própria formação da Martin Fondse Orchestra já demole a tênue fronteira entre as músicas clássica e popular ao cruzar em cena violinos e bateria - no caso, tocada por Dirk-Peter Kölsch, músico fundamental na criação da nova pulsação do caboclinho Leão do Norte (Lenine e Paulo César Pinheiro, 1993). A polifonia orquestral embute ruídos em Chão (Lenine e Lula Queiroga, 2011) / Loopbrug (Martin Fondse) para realçar que sons ambientes pautaram a arquitetura dessa composição de Lenine que deu nome a um álbum de 2011 gravado sob inspiração de sons cotidianos. Já O dia em que faremos contato (Lenine e Bráulio Tavares, 1997) / Ravelin (Martin Fondse) ganha levada eletrizante no diálogo entre as cordas da orquestra de Fondse com a guitarra eletroacústica de Lenine. Na sequência, Paciência (Lenine e Dudu Falcão, 1999) / Rio-Niterói (Martin Fondse) sereniza o show no toque lírico do violoncelo da norueguesa Annie Tangberg enquanto - dois números depois - a flauta de Mete Erker sopra os ventos que arejam Miragem do porto (Lenine e Bráulio Tavares, 1992). Sem se intimidar com a imponência orquestral e a atmosfera clássica que ambienta The bridge, o público interage com Lenine e os músicos, cantando, por exemplo, os versos de Rosebud (O verbo e a verba) (Lenine e Lula Queiroga, 2001) e de Hoje eu quero sair só (Lenine, Mu Chebabi e Caxa Aragão, 1995), canção-hit entrelaçada no roteiro com Iran Foot, tema de Fondse. A rigor, a obra do maestro holandês é embutida no cancioneiro de Lenine, condutor dessa viagem sonora feita sem fronteiras entre gêneros e com apuro, detectado no requinte do arranjo que, na introdução de Relampiano (Lenine e Moska, 1997) / Tyne (Martin Fondse), simula a atmosfera de temporal que se aproxima. Solo de Lenine, Virou areia (Lenine e Bráulio Tavares, 1991) evidencia o toque percussivo do violão do artista brasileiro, preparando o clima suave para A gandaia das ondas (Lenine, 1993). Na sequência, a dobradinha Do it (Lenine e Ivan Santos, 2004) / Rock bridge (Martin Fondse) retoma a pressão inicial do show, mantida em Martelo bigorna (Lenine, 2008) / Golden gate (Martin Fondse). Mais tarde, a junção de O silêncio das estrelas (Lenine e Dudu Falcão, 1993) com Stargate (Martin Fondse) eleva The bridge a uma atmosfera etérea e jazzy que beira o céu, encerrando show marcado pela perfeição. No bis, a balada Amor é pra quem ama (Lenine e Ivan Santos, 2011) - tocada somente com Lenine no violão e com Fondse na escaleta - reitera a afinação e fina sintonia entre estes dois músicos compositores ligados por pontes indestrutíveis enquanto o suingue miscigenado de Jack soul brasileiro (Lenine, 1997) / Ponte Vecchio (Martin Fondse) arremata The bridge, sendo o fim de um caminho pavimentado com maestria neste show irretocável e grandioso na intenção e na realização. A travessia é sublime.

6 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Já em si uma ponte que liga os sons da Nação Nordestina ao universo pop, a música do pernambucano Lenine é conduzida à outra dimensão - não necessariamente melhor ou pior, mas diferente - ao ser entrelaçada com a obra e o toque da Martin Fondse Orchestra. Na ponte transatlântica que une Brasil e Holanda no show The bridge, o pop brasileiro cosmopolita de Lenine ganha a forma orquestral dos arranjos de Fondse, maestro e pianista holandês que transita pelo jazz com influências da música clássica. No show, que está em turnê por seis cidades do Brasil neste mês de outubro de 2013, as composições de Lenine são amalgamadas com temas instrumentais de Fondse em total harmonia. Já no primeiro número - Maurício (Martin Fondse) / A ponte (Lenine e Lula Queiroga, 1997), músicas que aludem nos títulos às pontes construídas nas portuárias cidades de Amsterdã e Recife, nortes das respectivas obras dos artistas - fica evidente o tom vibrante desse amálgama, iniciado quando Lenine entra pela plateia cantando os versos de A ponte. A perfeita harmonização desses dois cancioneiros é reiterada na junção também vibrante de A rede (Lenine e Lula Queiroga, 1999) com Eendracht (Martin Fondse), número em que Lenine cita País tropical (Jorge Ben Jor, 1969) - em tons ternos que contrastam com os registros habitualmente efusivos do tema de Ben - e o saxofonista Mete Erker brilha em solo incandescente. A própria formação da Martin Fondse Orchestra já demole a tênue fronteira entre as músicas clássica e popular ao cruzar em cena violinos e bateria - no caso, tocada por Dirk-Peter Kölsch, músico fundamental na criação da nova pulsação do caboclinho Leão do Norte (Lenine e Paulo César Pinheiro, 1993). A polifonia orquestral embute ruídos em Chão (Lenine e Lula Queiroga, 2011) / Loopbrug (Martin Fondse) para realçar que sons ambientes pautaram a arquitetura dessa composição de Lenine que deu nome a um álbum de 2011 gravado sob inspiração de sons cotidianos. Já O dia em que faremos contato (Lenine e Bráulio Tavares, 1997) / Ravelin (Martin Fondse) ganha levada eletrizante no diálogo entre as cordas da orquestra de Fondse com a guitarra eletroacústica de Lenine. Na sequência, Paciência (Lenine e Dudu Falcão, 1999) / Rio-Niterói (Martin Fondse) sereniza o show no toque lírico do violoncelo da norueguesa Annie Tangberg enquanto - dois números depois - a flauta de Mete Erker sopra os ventos que arejam Miragem do porto (Lenine e Bráulio Tavares, 1992). Sem se intimidar com a imponência orquestral e a atmosfera clássica que ambienta The bridge, o público interage com Lenine e os músicos, cantando, por exemplo, os versos de Rosebud (O verbo e a verba) (Lenine e Lula Queiroga, 2001) e de Hoje eu quero sair só (Lenine, Mu Chebabi e Caxa Aragão, 1995), canção-hit entrelaçada no roteiro com Iran Foot, tema de Fondse.

Mauro Ferreira disse...

A rigor, a obra do maestro holandês é embutida no cancioneiro de Lenine, condutor dessa viagem sonora feita sem fronteiras entre gêneros e com apuro, detectado no requinte do arranjo que, na introdução de Relampiano (Lenine e Moska, 1997) / Tyne (Martin Fondse), simula a atmosfera de temporal que se aproxima. Solo de Lenine, Virou areia (Lenine e Bráulio Tavares, 1991) evidencia o toque percussivo do violão do artista brasileiro, preparando o clima suave para A gandaia das ondas (Lenine, 1993). Na sequência, a dobradinha Do it (Lenine e Ivan Santos, 2004) / Rock bridge (Martin Fondse) retoma a pressão inicial do show, mantida em Martelo bigorna (Lenine, 2008) / Golden gate (Martin Fondse). Mais tarde, a junção de O silêncio das estrelas (Lenine e Dudu Falcão, 1993) com Stargate (Martin Fondse) eleva The bridge a uma atmosfera etérea e jazzy que beira o céu, encerrando show marcado pela perfeição. No bis, a balada Amor é pra quem ama (Lenine e Ivan Santos, 2011) - tocada somente com Lenine no violão e com Fondse na escaleta - reitera a afinação e fina sintonia entre estes dois músicos compositores ligados por pontes indestrutíveis enquanto o suingue miscigenado de Jack soul brasileiro (Lenine, 1997) / Ponte Vecchio (Martin Fondse) arremata The bridge, sendo o fim de um caminho pavimentado com maestria neste show irretocável e grandioso na intenção e na realização. A travessia é sublime.

Anônimo disse...

Lenine tocou domingo passado aqui em Recife com a orquestra sinfônica brasileira.
Uma grande empreiteira, comemorando aniversário de algumas décadas, bancou esse show em praça pública.
Foi muitooo bom.
Lenine não cansa de marcar gols.
É ele e Messi.

PS: Esse show vai ter em Recife, né Mauro?
São seis cidades, mas vc só menciou quatro.

Maria disse...

Lenine sempre foi muito talentoso, só que antes faltava mais projeção pra ele de uns 10 anos pra cá o cara engrenou!

Maria disse...

Só não viu logo quem não quis.

Unknown disse...

Será que rola um CD/DVD?
Abraço