Resenha de show
Título: Elizeth Cardoso, a Divina
Artista: Teresa Cristina (em foto de Rodrigo Amaral)
Participação: Áurea Martins
Local: Imperator - Centro Cultural João Nogueira (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 10 de outubro de 2011
Cotação: * * * * 1/2
"Em homenagem a Elizeth, não vou tirar minha sandália até o final do show. Vou ficar elegante até o fim", gracejou Teresa Cristina após cantar E daí?, samba-canção do compositor carioca Miguel Gustavo (1922 - 1972) lançado em 1959 na voz referencial da cantora carioca Elizeth Cardoso (1920 - 1990). Sim, Teresa Cristina - cantora carioca fã de Iron Maiden que já se desprendeu do rótulo de sambista (redutor, em seu caso) - permaneceu elegante do primeiro ao último dos 23 números do show Elizeth Cardoso, a Divina, apresentado no Imperator - Centro Cultural João Nogueira, no Rio de Janeiro (RJ), na noite de ontem, 10 de outubro de 2013. E a elegância veio tanto do belo figurino de gala quanto do canto já maturado de Teresa. Já no primeiro número - Canção de amor (Elano de Paula e Chocolate, 1950), carro-chefe e marco inicial do repertório de Elizeth - ficou evidente o requinte do canto de Teresa em registro de início sublinhado somente pelo acordeom de Kiko Horta. Sob a direção também elegante de Marcio Debellian, idealizador do show pontuado por falas e vídeos da Divina, Teresa deu voz a músicas como Luz negra (Nelson Cavaquinho e Irani Barros, 1964) - samba que na discografia de Elizeth é ouvido em antológico álbum de 1965 em que a cantora subiu o morro em busca da produção autoral de compositores populares - e Pra machucar meu coração (Ary Barroso, 1943), samba lançado antes do surgimento de Elizeth, mas no qual a cantora também poria (mais de uma vez, aliás) sua estilosa voz de contralto que roçava o registro de mezzo-soprano. Sob a eficiente direção musical de Paulão Sete Cordas, hábil na criação de arranjos que evocaram por vezes o som dos conjuntos regionais que deram o tom na música brasileira pré-Bossa Nova, Teresa Cristina adotou registro mais intenso em As praias desertas (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958), tema adequado para cantora que parece ter lágrimas na voz - como ficaria evidenciado, cinco números depois, no samba triste Águas do rio (Só resta saudade) (Anescarzinho do Salgueiro e Noel Rosa de Oliveira, 1965), pérola rara pescada por Elizeth na sua subida de morro em 1965. Outra raridade incluída no roteiro é O amor é assim (Sivan Castelo Neto, 1940), valsa lançada por Silvio Caldas (1908 - 1998), emblemático cantor carioca com quem Elizeth dividiu a interpretação dessa bela composição no primeiro dos dois álbuns que gravaram juntos em 1971. Elizeth gostava de canções de amor demais, como Medo de amar (Vinicius de Moraes, 1958), música também incluída no roteiro que peca somente por omitir Nossos momentos (Haroldo Barbosa e Luis Reis, 1960), samba-canção tão eternamente associado a Elizeth quanto Canção de amor e Barracão (Luís Antonio e Oldemar Magalhães, 1953), o samba que Elizeth tomou para si, a partir de 1968, e que Teresa cantou em afinado dueto com a carioca Áurea Martins, luxuosa convidada do show. Aliás, o dueto de Áurea e Teresa em É luxo só (Ary Barroso e Luiz Peixoto, 1957) foi cheio de síncopes inusitadas feitas por Áurea com sua habitual destreza, em um cai para lá, cai para cá que fez jus ao título do samba lançado pelo cantor Jorge Goulart (1926 - 2012), mas também gravado com propriedade pela Divina. Sim, a participação de Áurea Martins foi luxo só - com direito a números individuais como a luminosa abordagem de Janelas abertas (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958) - mas Teresa Cristina ombreou a categoria vocal da veterana colega. Ora cheia de graça, como no buliçoso samba Camisa amarela (Ary Barroso, 1939), ora cheia de emoção, como no magoado samba-canção Sim (Cartola e Oswaldo Martins, 1952), Teresa Cristina ainda caiu perfeita Na cadência do samba (Ataulfo Alves e Paulo Gesta, 1962), honrando o rico legado de Elizeth Cardoso em um show divino que merece ficar em cena além dessa única apresentação programada para marcar a abertura de exposição sobre essa cantora realmente magnífica, divina, que (ainda hoje) é um dos padrões e uma das referências de canto feminino no Brasil.
"Em homenagem a Elizeth, não vou tirar minha sandália até o final do show. Vou ficar elegante até o fim", gracejou Teresa Cristina após cantar E daí?, samba-canção do compositor carioca Miguel Gustavo (1922 - 1972) lançado em 1959 na voz referencial da cantora carioca Elizeth Cardoso (1920 - 1990). Sim, Teresa Cristina - cantora carioca fã de Iron Maiden que já se desprendeu do rótulo de sambista (redutor, em seu caso) - permaneceu elegante do primeiro ao último dos 23 números do show Elizeth Cardoso, a Divina, apresentado no Imperator - Centro Cultural João Nogueira, no Rio de Janeiro (RJ), na noite de ontem, 10 de outubro de 2013. E a elegância veio tanto do belo figurino de gala quanto do canto já maturado de Teresa. Já no primeiro número - Canção de amor (Elano de Paula e Chocolate, 1950), carro-chefe e marco inicial do repertório de Elizeth - ficou evidente o requinte do canto de Teresa em registro de início sublinhado somente pelo acordeom de Kiko Horta. Sob a direção também elegante de Marcio Debellian, idealizador do show pontuado por falas e vídeos da Divina, Teresa deu voz a músicas como Luz negra (Nelson Cavaquinho e Irani Barros, 1964) - samba que na discografia de Elizeth é ouvido em antológico álbum de 1965 em que a cantora subiu o morro em busca da produção autoral de compositores populares - e Pra machucar meu coração (Ary Barroso, 1943), samba lançado antes do surgimento de Elizeth, mas no qual a cantora também poria (mais de uma vez, aliás) sua estilosa voz de contralto que roçava o registro de mezzo-soprano. Sob a eficiente direção musical de Paulão Sete Cordas, hábil na criação de arranjos que evocaram por vezes o som dos conjuntos regionais que deram o tom na música brasileira pré-Bossa Nova, Teresa Cristina adotou registro mais intenso em As praias desertas (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958), tema adequado para cantora que parece ter lágrimas na voz - como ficaria evidenciado, cinco números depois, no samba triste Águas do rio (Só resta saudade) (Anescarzinho do Salgueiro e Noel Rosa de Oliveira, 1965), pérola rara pescada por Elizeth na sua subida de morro em 1965. Outra raridade incluída no roteiro é O amor é assim (Sivan Castelo Neto, 1940), valsa lançada por Silvio Caldas (1908 - 1998), emblemático cantor carioca com quem Elizeth dividiu a interpretação dessa bela composição no primeiro dos dois álbuns que gravaram juntos em 1971. Elizeth gostava de canções de amor demais, como Medo de amar (Vinicius de Moraes, 1958), música também incluída no roteiro que peca somente por omitir Nossos momentos (Haroldo Barbosa e Luis Reis, 1960), samba-canção tão eternamente associado a Elizeth quanto Canção de amor e Barracão (Luís Antonio e Oldemar Magalhães, 1953), o samba que Elizeth tomou para si, a partir de 1968, e que Teresa cantou em afinado dueto com a carioca Áurea Martins, luxuosa convidada do show. Aliás, o dueto de Áurea e Teresa em É luxo só (Ary Barroso e Luiz Peixoto, 1957) foi cheio de síncopes inusitadas feitas por Áurea com sua habitual destreza, em um cai para lá, cai para cá que fez jus ao título do samba lançado pelo cantor Jorge Goulart (1926 - 2012), mas também gravado com propriedade pela Divina. Sim, a participação de Áurea Martins foi luxo só - com direito a números individuais como a luminosa abordagem de Janelas abertas (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958) - mas Teresa Cristina ombreou a categoria vocal da veterana colega. Ora cheia de graça, como no buliçoso samba Camisa amarela (Ary Barroso, 1939), ora cheia de emoção, como no magoado samba-canção Sim (Cartola e Oswaldo Martins, 1952), Teresa Cristina ainda caiu perfeita Na cadência do samba (Ataulfo Alves e Paulo Gesta, 1962), honrando o rico legado de Elizeth Cardoso em um show divino que merece ficar em cena além dessa única apresentação programada para marcar a abertura de exposição sobre essa cantora realmente magnífica, divina, que (ainda hoje) é um dos padrões e uma das referências de canto feminino no Brasil.
ResponderExcluirDigo sempre e não me canso de repetir: AMO TERESA!
ResponderExcluirSimples, educada, elegante, charmosa, talentosa, bonita, ótima compositora, voz de mel.
Para mim é a melhor cantora dos anos 2000.
E por falar em Elizeth ...
ResponderExcluirSerá que algum dia alguém vai resgatar para o Brasil o álbum duplo gravado no Japão em 1982?
E por falar em Elizeth ...
ResponderExcluirSerá que algum dia alguém vai resgatar para o Brasil o álbum duplo gravado no Japão em 1982?
Que lindo isso, gente! Não tava sabendo desse show. Teresa cantando Elizeth! Tomara que a Teresa consiga trazer esse show para São Paulo.
ResponderExcluirValeu Mauro pela resenha.
Teresa é uma dos sublimes motivos que embelezam minhaa vida e alma.
ResponderExcluirDelicada. Inteligente e, sai de baixo.
Amo
Ricardo Sérgio
Não entendo porque Elizeth começou gravar tão tarde,se começou a carreira tão cedo.
ResponderExcluirElizeth Cardoso por Teresa Cristina é o Céu na Terra.
ResponderExcluirTeresa fará este show no Sesc Bom Retiro em SP, entre 23 e 25 de maio. Imperdível.
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