domingo, 20 de outubro de 2013

Victor & Leo se distanciam do sertão em CD pop que frustra expectativas

Resenha de CD
Título: Viva por mim
Artista: Victor & Leo
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * 

Não fosse pela canção Tudo bem (Victor Chaves), exaltação à vida simples no campo gravada com a voz e a viola de Almir Sater, seria difícil identificar qualquer traço caipira no 11º CD de Victor & Leo, Viva por mim, álbum que marca a estreia dos irmãos mineiros na gravadora Som Livre após vitoriosa passagem pela Sony Music. Tampouco é fácil detectar as influências de r & b, rock e blues alardeadas pela dupla durante a gravação do disco pilotado por Leo Chaves com Beto Rosa na coprodução. De todo modo, é fato que Viva por mim distancia Victor & Leo do sertão por conta dos arranjos de tom pop contemporâneo que, dentro do universo sertanejo, soam inusitados. Basta perceber a disposição em paralelo das vozes de Victor & Leo e de Bruno & Marrone - dupla convidada de Eu vim pra te buscar (Beto Rosa e Leo Chaves) - para atestar a salutar tentativa da dupla de renovar seu som. A instrumentação soa pouco usual, embora paradoxalmente recicle cânones da orquestração da música brega reinante nas paradas da década de 80, como deixa claro o solo de guitarra de Só quero amor (Beto Rosa, Leo Chaves e André Olivério). A outra novidade de Viva por mim - e também o maior problema do disco - é o destaque maior dado a Leo Chaves como compositor. Sozinho ou com parceiros, Leo assina oito das 13 músicas do álbum sem mostrar a inspiração de Victor, com quem assina O tempo não paga e Faz bem se apaixonar. A superioridade de Victor como compositor fica nítida quando ele assina sozinho Nem sei, canção que começa em clima folk até ganhar o toque da guitarra de Beto Rosa. Contudo, justiça seja feita, a safra de Leo inclui uma canção de sedutora moldura pop, Tudo com você (Leo Chaves, Juliano Tchula e Gabriel Agra). Mesmo assim, do ponto de vista autoral, Viva por mim é o mais fraco disco de estúdio dessa dupla que arejou a música sertaneja com discos de tom mais feliz e menos lacrimoso. É sintomática, aliás, que o primeiro single do álbum seja justamente a única música sem a assinatura de um dos dois irmãos, Na linha do tempo (Marcelo Martins e Sérgio Porto), baladão com jeito de hit. Mas é claro que, em 2014, Guerreiro (Leo Chaves, Juliano Tchula e Gabriel Agra) - faixa sobre futebol arquitetada para ser uma das trilhas sonoras da Copa do Mundo do Brasil - vai entrar em campo com sua animação artificial calcada em mistura de ritmos que inclui vanerão, samba e forró. A animação também se faz presente em Amor.com (Leo Chaves e Gabriel Agra) e em Conheço pelo cheiro (Victor Chaves), músicas que roçam o nível rasteiro da atual música sertaneja. Enfim, Viva por mim representa quase um ponto de ruptura na discografia de Victor & Leo e talvez descontente admiradores de álbuns como Borboletas (2008), Boa sorte pra você (2010) - o melhor da dupla - e o forrozeiro Amor de alma (2011). Na intenção de caminhar para frente, sem olhar para trás, os irmãos acabaram se distanciando demais do sertão feliz de outrora. Talvez seja hora de dar uns passos para trás.

2 comentários:

  1. Não fosse pela canção Tudo bem (Victor Chaves), exaltação à vida simples no campo gravada com a voz e a viola de Almir Sater, seria difícil identificar qualquer traço caipira no 11º CD de Victor & Leo, Viva por mim, álbum que marca a estreia dos irmãos mineiros na gravadora Som Livre após vitoriosa passagem pela Sony Music. Tampouco é fácil detectar as influências de r & b, rock e blues alardeadas pela dupla durante a gravação do disco pilotado por Leo Chaves com Beto Rosa na coprodução. De todo modo, é fato que Viva por mim distancia Victor & Leo do sertão por conta dos arranjos de tom pop contemporâneo que, dentro do universo sertanejo, soam inusitados. Basta perceber a disposição em paralelo das vozes de Victor & Leo e de Bruno & Marrone - dupla convidada de Eu vim pra te buscar (Beto Rosa e Leo Chaves) - para atestar a salutar tentativa da dupla de renovar seu som. A instrumentação soa pouco usual, embora paradoxalmente recicle cânones da orquestração da música brega reinante nas paradas da década de 80, como deixa claro o solo de guitarra de Só quero amor (Beto Rosa, Leo Chaves e André Olivério). A outra novidade de Viva por mim - e também o maior problema do disco - é o destaque maior dado a Leo Chaves como compositor. Sozinho ou com parceiros, Leo assina oito das 13 músicas do álbum sem mostrar a inspiração de Victor, com quem assina O tempo não paga e Faz bem se apaixonar. A superioridade de Victor como compositor fica nítida quando ele assina sozinho Nem sei, canção que começa em clima folk até ganhar o toque da guitarra de Beto Rosa. Contudo, justiça seja feita, a safra de Leo inclui uma canção de sedutora moldura pop, Tudo com você (Leo Chaves, Juliano Tchula e Gabriel Agra). Mesmo assim, do ponto de vista autoral, Viva por mim é o mais fraco disco de estúdio dessa dupla que arejou a música sertaneja com discos de tom mais feliz e menos lacrimoso. É sintomática, aliás, que o primeiro single do álbum seja justamente a única música sem a assinatura de um dos dois irmãos, Na linha do tempo (Marcelo Martins e Sérgio Porto), baladão com jeito de hit. Mas é claro que, em 2014, Guerreiro (Leo Chaves, Juliano Tchula e Gabriel Agra) - faixa sobre futebol arquitetada para ser uma das trilhas sonoras da Copa do Mundo do Brasil - vai entrar em campo com sua animação artificial calcada em mistura de ritmos que inclui vanerão, samba e forró. A animação também se faz presente em Amor.com (Leo Chaves e Gabriel Agra) e em Conheço pelo cheiro (Victor Chaves), músicas que roçam o nível rasteiro da atual música sertaneja. Enfim, Viva por mim representa quase um ponto de ruptura na discografia de Victor & Leo e talvez descontente admiradores de álbuns como Borboletas (2008), Boa sorte pra você (2010) - o melhor da dupla - e o forrozeiro Amor de alma (2011). Na intenção de caminhar para frente, sem olhar para trás, os irmãos acabaram se distanciando demais do sertão feliz de outrora. Talvez seja hora de dar uns passos para trás.

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  2. Sigo essa dupla há muito tempo e queria também expor minha (pequenina) resenha sobre o álbum. Pois bem, após ouvir o cd desde setembro tenho uma melhor visão que tinha antes do cd. Como gosto muito dessa pegada pop da dupla bem demonstrada no cd "boa sorte pra você", achei interessante e desconstrutor de rótulos o "viva por mim". A dupla ficou marcada por cantar a simplicidade e a exaltação do sertão mineiro, então, esse cd vem mostrar com mais força o lado folk e pop-rock da dupla. "Tudo com você" foi uma boa canção de Leo, boa sonoridade e intensa, "eu vim pra te buscar" é uma das top5 do cd, a guitarra fala muito bem e a voz imponente de Bruno caiu muito bem. "O tempo não apaga" outra bela canção e com maior participação de Victor, a suavidade inicial da música soa bem aos meus ouvidos e o refrão forçando o agudos é interessante. "Nem sei" é uma música bem "planejada" sua primeira parte é praticamente voz, isso é algo bastante positivo, mostrando que a dupla se reinventa, ao chegar na segunda parte a guitarra e bateria aparecem com bela harmonia. "Guerreiro" tem seu intuito e como este é bem claro, a participação de uma das duplas que mais faz sucesso seria imprescindível para tal objetivo, a mistura de vários ritmos reforça o seu objetivo. "Na linha do tempo" vem como o hit, a música chiclete, a balada romântica já se espalhou como viral por todo Brasil. A música "Viva por mim" e seu tom misterioso me agradam, essa coisa da morte na música me agrada também rs, como se fosse um carta do morto para seu amor rs. "Tudo bem" (a melhor do álbum) é marca registrada da dupla e por músicas dessas características que acompanho a dupla até hoje, Sater tem a alma da música e ninguém cantaria tão bem quanto ele ao lado de Victor. "Só quero amor" vem com que o álbum propõe e segue a linha de desconstrução de rótulo. "Amor.com" mescla vanerão e um pouco do que as novas duplas e cantores do sertanejo trazem, letras e repetitivas, não gosto disso. "Conheço pelo cheiro" tem toda alma brega, algo até interessante, principalmente pela harmonia da guitarra e da sanfona, mas a letra não me agradou, 1 pelas rimas pobres, 2 não gosto de refrões curtos e repetitivos."Faz bem se apaixonar" a suavidade inicial dá música é algo que sempre me agrada, a letra tem boa proposta e a música segue na linha de desconstrução. "O que tens" (a segunda que mais gostei) demonstra que a essência de sua música se mantém, normalmente quando Victor interpreta na primeira voz, sempre vem algo poético, sereno e/ou reflexivo. Então acho que a proposta de dar uma chance a Leo como compositor é válida, a dupla conseguiu desrotular algumas coisas, mas é nítida sua essência. Então, essa é minha pequena resenha. rs

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