Resenha de CD
Título: Amizade, Boca Livre
Artista: Boca Livre
Gravadora: MP,B Discos / Universal Music
Cotação: * * * * *
Dá para identificar facilmente o d.n.a. vocal do Boca Livre nos uníssonos de cada uma das oito faixas de Amizade, Boca Livre, primeiro álbum sem caráter retrospectivo do grupo - surgido em 1978 no Rio de Janeiro (RJ) - desde Americana (1995). Contudo, o CD produzido pelo próprio quarteto - ora formado por Zé Renato (1ª voz e violões), Lourenço Baeta (2ª voz, flautas e violão), David Tygel (3ª voz e viola) e Maurício Maestro (4ª voz, baixo e violão) - aponta novos caminhos harmônicos e vocais. Em essência, o Boca Livre se abre para o futuro sem renegar seu honroso passado. A precisão da releitura do Baião do acordar (Novelli, 1974) sinaliza, já na abertura, o frescor e a grandeza de Amizade, Boca Livre, disco que se impõe instantaneamente como um dos melhores dos 35 anos de vida do quarteto e também deste multifacetado 2013. Na sequência, Tempestade - parceria do estupendo violonista e compositor paulista Chico Pinheiro com o xará paraibano Chico César, lançada por Pinheiro em disco de 2005 - evoca a ancestral negritude africana nos vocais do grupo e no toque dos tambores percutidos por Armando Marçal. Esse tom afro se harmoniza com os sopros da flauta de Danilo Caymmi e do duduk (instrumento da Europa Oriental e do Oriente Médio) de Zé Nogueira. Após Tempestade, vem a bonança de ouvir uma grande e desconhecida música de Edu Lobo, composta nos anos 90 (com letra precisa do poeta Paulo César Pinheiro) para peça infantil sobre Peter Pan encenada no Rio de Janeiro (RJ). Até então inédita em disco, Terra do Nunca é o grande achado do repertório de Amizade, Boca Livre. Com seus vocais sempre harmoniosos, o Boca Livre se embrenha em estado de graça pelas trilhas de Terra do Nunca, realçando toda a beleza sublime do tema do genial Edu Lobo. Sem perder o pique, o grupo desvenda novamente Mistério do prazer (Zé Renato, Claudio Nucci e Juca Filho, 1986) - melódica balada lançada na voz límpida de Zizi Possi - e se joga nos afluentes melódicos da caudalosa Rio Amazonas (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, 1991) antes de emergir com a mesma harmonia em Água clara, guarânia inédita da lavra do componente Maurício Maestro (criador dos arranjos vocais) cuja gravação irmana toques andinos (soprados pelas flautas de Lourenço Baeta) e rurais (por conta da viola de David Tygel). Entre a jobiniana Rio Amazonas (faixa cujos excepcionais vocais e arranjo evocam sons da gênese do Brasil) e Água clara, o Boca Livre reafirma sem nostalgia a crença na música das Geraes em Paixão e fé, parceria dos mineiros Tavinho Moura e Fernando Brant, lançada por Simone no álbum Face a face (1977). No fim, a música-título Amizade - parceria de Marcos Valle (que toca piano na faixa) com Maurício Maestro - prega o companheirismo com o frescor que pauta este renovador disco do Boca Livre, hábil ao reavivar tradições vocais sem repetir a mesma toada.
Dá para identificar facilmente o d.n.a. vocal do Boca Livre nos uníssonos de cada uma das oito faixas de Amizade, Boca Livre, primeiro álbum sem caráter retrospectivo do grupo - surgido em 1978 no Rio de Janeiro (RJ) - desde Americana (1995). Contudo, o CD produzido pelo próprio quarteto - ora formado por Zé Renato (1ª voz e violões), Lourenço Baeta (2ª voz, flautas e violão), David Tygel (3ª voz e viola) e Maurício Maestro (4ª voz, baixo e violão) - aponta novos caminhos harmônicos e vocais. Em essência, o Boca Livre se abre para o futuro sem renegar seu honroso passado. A precisão da releitura do Baião do acordar (Novelli, 1974) sinaliza, já na abertura, o frescor e a grandeza de Amizade, Boca Livre, disco que se impõe instantaneamente como um dos melhores dos 35 anos de vida do quarteto e também deste multifacetado 2013. Na sequência, Tempestade - parceria do estupendo violonista e compositor paulista Chico Pinheiro com o xará paraibano Chico César, lançada por Pinheiro em disco de 2005 - evoca a ancestral negritude africana nos vocais do grupo e no toque dos tambores percutidos por Armando Marçal. Esse tom afro se harmoniza com os sopros da flauta de Danilo Caymmi e do duduk (instrumento da Europa Oriental e do Oriente Médio) de Zé Nogueira. Após Tempestade, vem a bonança de ouvir uma grande e desconhecida música de Edu Lobo, composta nos anos 90 (com letra precisa do poeta Paulo César Pinheiro) para peça infantil sobre Peter Pan encenada no Rio de Janeiro (RJ). Até então inédita em disco, Terra do Nunca é o grande achado do repertório de Amizade, Boca Livre. Com seus vocais sempre harmoniosos, o Boca Livre se embrenha em estado de graça pelas trilhas de Terra do Nunca, realçando toda a beleza sublime do tema do genial Edu Lobo. Sem perder o pique, o grupo desvenda novamente Mistério do prazer (Zé Renato, Claudio Nucci e Juca Filho, 1986) - melódica balada lançada na voz límpida de Zizi Possi - e se joga nos afluentes melódicos da caudalosa Rio Amazonas (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, 1991) antes de emergir com a mesma harmonia em Água clara, guarânia inédita da lavra do componente Maurício Maestro (criador dos arranjos vocais) cuja gravação irmana toques andinos (soprados pelas flautas de Lourenço Baeta) e rurais (por conta da viola de David Tygel). Entre a jobiniana Rio Amazonas (faixa cujos excepcionais vocais e arranjo evocam sons da gênese do Brasil) e Água clara, o Boca Livre reafirma sem nostalgia a crença na música das Geraes em Paixão e fé, parceria dos mineiros Tavinho Moura e Fernando Brant, lançada por Simone no álbum Face a face (1977). No fim, a música-título Amizade - parceria de Marcos Valle (que toca piano na faixa) com Maurício Maestro - prega o companheirismo com o frescor que pauta este renovador disco do Boca Livre, hábil ao reavivar tradições vocais sem repetir a mesma toada.
ResponderExcluirE eu achando que aquela volta de 2006 que rendeu o disco ao vivo era só para reunir a formação clássica do grupo, mas não daria em volta definitiva, até por elementos como a consistente carreira solo de Zé Renato...
ResponderExcluirÓtimo saber que o Boca está aí pra ficar. Um dos grandes grupos vocais da história da música brasileira, sem dúvida. O primeiro disco é quase irretocável.
Felipe dos Santos Souza