Título: Sambas de Luiz
Artista: Dorina
Gravadora: Rob Digital
Cotação: * * * 1/2
"Nós iremos achar o tom / Um acorde com lindo som / O show tem que continuar". Com a citação a capella de versos de O show tem que continuar (Arlindo Cruz, Sombrinha e Luiz Carlos da Vila, 1988), sucesso dos áureos tempos do grupo carioca Fundo de Quintal, Dorina introduz Por um dia de graça (1984) - o samba-enredo que exala a paz universal, conhecido na voz de Simone - e abre seu oitavo CD, Sambas de Luiz, dedicado à obra do compositor carioca Luiz Carlos da Vila (21 de outubro de 1949 - 20 de outubro de 2008). Um dos maiores poetas do samba, Luiz Carlos Baptista - que agregou o Da Vila ao sobrenome em alusão tanto ao fato de ter morado em Vila da Penha, bairro do subúrbio do Rio de Janeiro (RJ), como por ter integrado a ala de compositores da escola Unidos de Vila Isabel, para a qual ajudou a compor o vitorioso samba-enredo Kizomba, a festa da raça (1988) - firmou parcerias com importantes nomes do samba carioca, bambas da geração 80 projetados na aglutinadora quadra do bloco Cacique de Ramos. Mas o traço diferencial deste Sambas de Luiz - o que eleva a importância do disco - é reunir somente sambas que o compositor fez sozinho, assinando letra e melodia. Sambas, em sua maioria, pouco ouvidos porque gravados pelo próprio Luiz Carlos da Vila em discos de reduzido alcance popular. Tal como Sambas de Almir (2003), disco ao vivo dedicado por Dorina ao repertório de Almir Guineto, a cantora carioca celebra a obra de Luiz Carlos da Vila em registro de show captado no Centro Municipal de Referência da Música Carioca Artur da Távola, no Rio de Janeiro (RJ), em 27 de outubro de 2012, sob produção de Alessandro Cardozo e Claudio Jorge. À vontade no fundo do quintal humanista do poeta, Dorina acha o tom de pérolas raras como Graça do mundo, samba que prega generosidade, lançado pelo Conjunto Nosso Samba em 1978, quando o compositor ainda era pouco conhecido entre os bambas. "A vida é um diamante / Que fica ou não mais brilhante / Depende do nosso viver", ponderou o poeta através de versos encorajadores de Diamante (1985), instante de maior introspecção de disco que recupera vários sambas do pouco ouvido segundo álbum de Luiz Carlos, Pra esfriar a cabeça (Arca Som, 1985), do qual Dorina pesca Braços de lã, Flor da esperança (Força e magia), Das origens - partido alto em que Vila mostrou ser legítimo herdeiro de Candeia (1935 - 1978) - e Você não é boa atriz, além de Morro molhado, samba em que o poeta expressou consciência social ao relatar sem tom panfletário as atribulações provocadas pelas chuvas na favela. A herança de Candeia aparece também na liberdade apregoada no animado Meu canto, samba do primeiro disco do compositor, Luiz Carlos da Vila (RCA, 1983), do qual Sambas de Luiz reproduz também os tons menores de Terceiro ato (1983). É claro que nem todos estes (bons) sambas estão à altura das obras-primas do compositor, caso do samba-enredo Nas veias do Brasil (1986), lançado por Beth Carvalho e revivido por Dorina no seu quintal, no qual acha o exato tom lírico de Doce refúgio (1981), samba lançado pelo grupo Fundo de Quintal. Doce refúgio é obra-prima que, por si só, hasteia alta a bandeira do samba de Luiz Carlos da Vila, compositor que jogou bem com as palavras em temas como Duas saudades (de seu álbum Benza, Deus, lançado em 2004), música que encerra Sambas de Luiz, disco em que a suburbanista Dorina reitera a filosofia de seu samba pelas palavras quase sempre líricas de um bamba humanista e otimista. Nesse sentido, Sambas de Luiz é doce e belo refúgio para quem prefere se abrigar nos quintais mais nobres do samba.
2 comentários:
"Nós iremos achar o tom / Um acorde com lindo som / O show tem que continuar". Com a citação a capella de versos de O show tem que continuar (Arlindo Cruz, Sombrinha e Luiz Carlos da Vila, 1988), sucesso dos áureos tempos do grupo carioca Fundo de Quintal, Dorina introduz Por um dia de graça (1984) - o samba-enredo que exala a paz universal, conhecido na voz de Simone - e abre seu oitavo CD, Sambas de Luiz, dedicado à obra do compositor carioca Luiz Carlos da Vila (21 de outubro de 1949 - 20 de outubro de 2008). Um dos maiores poetas do samba, Luiz Carlos Baptista - que agregou o Da Vila ao sobrenome em alusão tanto ao fato de ter morado em Vila da Penha, bairro do subúrbio do Rio de Janeiro (RJ), como por ter integrado a ala de compositores da escola Unidos de Vila Isabel, para a qual ajudou a compor o vitorioso samba-enredo Kizomba, a festa da raça (1988) - firmou parcerias com importantes nomes do samba carioca, bambas da geração 80 projetados na aglutinadora quadra do bloco Cacique de Ramos. Mas o traço diferencial deste Sambas de Luiz - o que eleva a importância do disco - é reunir somente sambas que o compositor fez sozinho, assinando letra e melodia. Sambas, em sua maioria, pouco ouvidos porque gravados pelo próprio Luiz Carlos da Vila em discos de reduzido alcance popular. Tal como Sambas de Almir (2003), disco ao vivo dedicado por Dorina ao repertório de Almir Guineto, a cantora carioca celebra a obra de Luiz Carlos da Vila em registro de show captado no Centro Municipal de Referência da Música Carioca Artur da Távola, no Rio de Janeiro (RJ), em 27 de outubro de 2012, sob produção de Alessandro Cardozo e Claudio Jorge. À vontade no fundo do quintal humanista do poeta, Dorina acha o tom de pérolas raras como Graça do mundo, samba que prega generosidade, lançado pelo Conjunto Nosso Samba em 1978, quando o compositor ainda era pouco conhecido entre os bambas. "A vida é um diamante / Que fica ou não mais brilhante / Depende do nosso viver", ponderou o poeta através de versos encorajadores de Diamante (1985), instante de maior introspecção de disco que recupera vários sambas do pouco ouvido segundo álbum de Luiz Carlos, Pra esfriar a cabeça (Arca Som, 1985), do qual Dorina pesca Braços de lã, Flor da esperança (Força e magia), Das origens - partido alto em que Vila mostrou ser legítimo herdeiro de Candeia (1935 - 1978) - e Você não é boa atriz, além de Morro molhado, samba em que o poeta expressou consciência social ao relatar sem tom panfletário as atribulações provocadas pelas chuvas na favela. A herança de Candeia aparece também na liberdade apregoada no animado Meu canto, samba do primeiro disco do compositor, Luiz Carlos da Vila (RCA, 1983), do qual Sambas de Luiz reproduz também os tons menores de Terceiro ato (1983). É claro que nem todos estes (bons) sambas estão à altura das obras-primas do compositor, caso do samba-enredo Nas veias do Brasil (1986), lançado por Beth Carvalho e revivido por Dorina no seu quintal, no qual acha o exato tom lírico de Doce refúgio (1981), samba lançado pelo grupo Fundo de Quintal. Doce refúgio é obra-prima que, por si só, hasteia alta a bandeira do samba de Luiz Carlos da Vila, compositor que jogou bem com as palavras em temas como Duas saudades (de seu álbum Benza, Deus, lançado em 2004), música que encerra Sambas de Luiz, disco em que a suburbanista Dorina reitera a filosofia de seu samba pelas palavras quase sempre líricas de um bamba humanista e otimista. Nesse sentido, Sambas de Luiz é doce e belo refúgio para quem prefere se abrigar nos quintais mais nobres do samba.
O show foi incrível. Não tinha ninguém parado. Todo mundo cantando junto e feliz!
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