Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 26 de novembro de 2013

Ferriani se impõe no jorro vertiginosamente livre do primeiro CD autoral

Resenha de CD
Título: Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio
Artista: Verônica Ferriani
Gravadora: Edição independente da artista
Cotação: * * * *
Disco disponibilizado para download gratuito e legalizado no site oficial da artista

É no tom seco de uma cantadora nordestina que Verônica Ferriani dá voz à Lábia palavra, última das onze músicas de seu surpreendente primeiro disco autoral, Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio. Somente o baixo acústico de Marcelo Cabral - produtor do álbum em função dividida com Gustavo Ruiz - acompanha a cantora (e agora compositora) paulista nesta faixa que sela a ótima impressão de CD que, enfim, impõe o nome de Ferriani na cena contemporânea brasileira. Em atividade desde 2004, a cantora debutou no mercado fonográfico nacional cinco anos depois com disco, Verônica Ferriani (independente, 2009), de repertório e interpretações irregulares produzido por BiD. Foi somente ao realçar toda a beleza e esperança contidas na melancólica Manhã de Londres (Taiguara, 1972), em gravação realizada para o tributo A voz da mulher na obra de Taiguara (Joia Moderna, 2011), que Ferriani se revelou uma cantora realmente interessante, embora sua vocação para o canto da MPB já tivesse sido sinalizada em Sobre palavras (Borandá, 2009), CD em que deu voz às parcerias de Chico Saraiva e Mauro Aguiar. Por isso mesmo, nada fazia supor que a guinada dada pela artista em Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio resultasse tão contundente e, sim, interessante. Afinal, a expectativa de um disco de Verônica Ferriani como compositora era baixa, já que em 2012 a artista havia jogado na rede uma música autoral - Tu, neguinha, parceria com a compositora paulista Giana Viscardi - que se mostrara insossa. Mas o fato é que o CD Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio reverte essa baixa expectativa. Sim, é um  disco que merece atenção. Ao assinar sozinha as onze músicas e letras do álbum, Ferriani se revela compositora original no jorro vertiginosamente livre - para aludir a verso de C'est la vie (música composta em português com vocábulos em francês) - da safra autoral de criação aparentemente intuitiva. Nesse ponto, as músicas de Ferriani lembram as de Vanessa da Mata. Embora não haja qualquer parentesco musical entre elas, ambas deixam a salutar impressão de que foram criadas livre de regras, métodos e fórmulas de composição. Parece que vieram ao mundo como um jorro espontâneo e necessário de criação - pista, aliás, dada pelo sugestivo título Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio. E talvez seja por isso que músicas como Estampa e só, Zepelins, De boca cheia, Ele não volta mais e Era preciso saber - as cinco composições alocadas na impactante sequência inicial do álbum - soem tão livres, inusitadas, valorizadas por uma pegada pop contemporânea que também não segue receitas. Uma cuíca introduz e pontua Dança a menina sem deixar a faixa cair no samba. A guitarra roqueira de Guilherme Held eletrifica Não é não sem fazer com que a música soe como um rock. Criativos, os arranjos - criação coletiva de Gustavo Ruiz, Marcelo Cabral, Guilherme Held e Sérgio Machado (arregimentado para pilotar a bateria) - contribuem para a coesão do disco, cuja modernidade já é exposta na instigante capa criada por Mariana Zanetti com base em fotos de Ana Brun. Um exemplo é o arranjo de Esvaziou. Parece que a música flutua num vácuo. Nesse jorro, a sauve balada À segunda vista soa alienígena em repertório tratado com eletricidade e certa intensidade. Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio transborda, projetando Verônica Ferriani com contundência.

6 comentários:

Mauro Ferreira disse...

É no tom seco de uma cantadora nordestina que Verônica Ferriani dá voz à Lábia palavra, última das onze músicas de seu surpreendente primeiro disco autoral, Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio. Somente o baixo acústico de Marcelo Cabral - produtor do álbum em função dividida com Gustavo Ruiz - acompanha a cantora (e agora compositora) paulista nesta faixa que sela a ótima impressão de CD que, enfim, impõe o nome de Ferriani na cena contemporânea brasileira. Em atividade desde 2004, a cantora debutou no mercado fonográfico nacional cinco anos depois com disco, Verônica Ferriani (independente, 2009), de repertório e interpretações irregulares produzido por BiD. Foi somente ao realçar toda a beleza e esperança contidas na melancólica Manhã de Londres (Taiguara, 1972), em gravação realizada para o tributo A voz da mulher na obra de Taiguara (Joia Moderna, 2011), que Ferriani se revelou uma cantora realmente interessante, embora sua vocação para o canto da MPB já tivesse sido sinalizada em Sobre palavras (Borandá, 2009), CD em que deu voz às parcerias de Chico Saraiva e Mauro Aguiar. Por isso mesmo, nada fazia supor que a guinada dada pela artista em Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio resultasse tão contundente e, sim, interessante. Afinal, a expectativa de um disco de Verônica Ferriani como compositora era baixa, já que em 2012 a artista havia jogado na rede uma música autoral - Tu, neguinha, parceria com a compositora paulista Giana Viscardi - que se mostrara insossa. Mas o fato é que o CD Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio reverte essa baixa expectativa. Sim, é um disco que merece atenção. Ao assinar sozinha as onze músicas e letras do álbum, Ferriani se revela compositora original no jorro vertiginosamente livre - para aludir a verso de C'est la vie (música composta em português com vocábulos em francês) - da safra autoral de criação aparentemente intuitiva. Nesse ponto, as músicas de Ferriani lembram as de Vanessa da Mata. Embora não haja qualquer parentesco musical entre elas, ambas deixam a salutar impressão de que foram criadas livre de regras, métodos e fórmulas de composição. Parece que vieram ao mundo como um jorro espontâneo e necessário de criação - pista, aliás, dada pelo sugestivo título Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio. E talvez seja por isso que músicas como Estampa e só, Zepelim, De boca cheia, Ele não volta mais e Era preciso saber - as cinco composições alocadas na impactante sequência inicial do álbum - soem tão livres, inusitadas, valorizadas por uma pegada pop contemporânea que também não segue receitas. Uma cuíca introduz e pontua Dança a menina sem deixar a faixa cair no samba. A guitarra roqueira de Guilherme Held eletrifica Não é não sem fazer com que a música soe como um rock. Criativos, os arranjos - criação coletiva de Gustavo Ruiz, Marcelo Cabral, Guilherme Held e Sérgio Machado (arregimentado para pilotar a bateria) - contribuem para a coesão do disco, cuja modernidade já é exposta na instigante capa criada por Mariana Zanetti com base em fotos de Ana Brun. Um exemplo é o arranjo de Esvaziou. Parece que a música flutua num vácuo. Nesse jorro, a sauve balada À segunda vista soa alienígena em repertório tratado com eletricidade e certa intensidade. Porque a boca fala aquilo do que o coração tá cheio transborda, projetando Verônica Ferriani com contundência.

Fabio disse...

Está disponível de graça no site da cantora!

lurian disse...

Ótimo disco, moderno,com arranjos interessantes. Ao lado do da Iara Rennó foram até agora meus preferidos

Rodrigo Brito disse...

Muuuito bom! Estou encantado com as letras e as melodias. Recomendo!

wash disse...

Veronica é a grande revelação da MPB!
Este disco mostra mais algumas faces de uma artista única, autentica e de um talento infinito.
Não concordo em nada com que escreveu sobre Verônica no início de sua carreira, sempre muito afinada e com uma interpretação magistral, somente quem a conheceu desde seu primeiro trabalho, até a concepção do seu novo disco e viu ao vivo seus shows sabe do talento, do comprometimento e entrega que Verônica dá para todas as músicas que ela canta e encanta.
Esforçada, intuitiva, afinadíssima e de uma voz que soa como um balsamo ela é comparada as divas Zizi Possi, Elis Regina e Gal Costa!
Verônica merece todas as estrelas possíveis e o seu cd de estreia é sim um cd que é necessário ouvir para conhecer e curtir muito esta voz forte, doce e potente.
O cd Sobre Palavras é sem dúvida uma obra prima, onde todas as músicas deveriam ser conhecidas e admiradas, quem ama MPB sabe o quanto este cd representa a nossa cultura.
Mauro, infelizmente achei muito indelicado e infeliz as criticas a Verônica Ferriani, antes de fazer seu veneno e critica, venha assistir um show dela e acompanhar seu trabalho, com certeza vai se tornar fã incondicional desta enorme cantora do nosso Brasil.

Jeferson Garcia disse...

Não sei dizer se é o melhor disco do ano, mas foi o que mais gostei. Surpresa total!