Resenha de musical
Título: Zé Trindade - A última chanchada
Texto: Artur Xexéo
Direção: João Fonseca
Direção musical: João Bittencourt
Elenco: Paulo Mathias Jr. (como Zé Trindade), Alice Borges, Rodrigo Nogueira,
Helga Nemeczyk, Rodrigo Fagundes, Alexandre Pinheiro, Nêga e Luisa Viotti
Foto: Bianca Pimenta
Cotação: * * 1/2
Musical em cartaz no Centro Cultural dos Correiros, no Rio de Janeiro (RJ)
Imortalizado com o nome artístico de Zé Trindade, adotado em 1935 quando ainda morava na Salvador natal (BA), o artista baiano Milton da Silva Bittencourt (18 de abril de 1915 - 1º de maio de 1990) foi multimídia antes de o termo sequer existir. Talvez ele seja mais lembrado, quando é lembrado, por suas atuações em chanchadas do cinema brasileiro dos anos 40 e 50. Contudo, além de ator, Zé Trindade foi também cantor e compositor, tendo gravado marchas, quadrilhas, xotes e sambas em discos de 78 rotações por minuto editados pela gravadora Columbia entre a segunda metade da década de 50 e a primeira dos anos 60. Sua esquecida obra musical - composta e cantada com a verve que caracterizava a imagem do comediante popularizado no rádio, no cinema e na TV de sua época áurea - é (re)posta em cena no espetáculo Zé Trindade - A última chanchada, em cartaz no Rio de Janeiro (RJ). Encarnado de forma perfeita pelo ator Paulo Mathias Jr., sem traços caricaturais, Zé Trindade ressurge neste misto de chanchada e musical que o junta no palco com a escrachada atriz fluminense Dercy Gonçalves (1907 - 2008), interpretada de forma igualmente luminosa por Alice Borges. Recorrendo ao humor popular das chanchadas (mas com algumas piadas de compreensão limitada a quem convive no meio teatral carioca), o texto metalinguístico do dramaturgo Artur Xexéo salpica dados biográficos de Zé Trindade e, apesar do tom narrativo de algumas falas iniciais do protagonista, foge do didatismo cronológico. Favorecido pela atuação de elenco exemplar, o texto alcança maior amplitude na segunda parte da ação, passada na terra (a primeira, passada no céu, está mais centrada no encontro de Trindade com Dercy Gonçalves). É quando o ator escalado para fazer Zé Trindade na fictícia peça abordada na peça - Rodrigo Fagundes, excelente comediante - questiona os limites do talento de Zé Trindade, ator capaz de fazer rir somente com seus bordões e seus trejeitos, mas sem grandes preocupações com o texto. É também quando o elenco canta marchas como Cobra que não anda (Zé Trindade e Valter Levita, 1959), Maria manda brasa (Zé Trindade e Waldir Ferreira, 1964), O negócio é perguntar pela Maria (Zé Trindade e Elias Soares, 1959) e Marcha do divórcio (Zé Trindade e Valdir Ferreira, 1963). Até um samba assinado por Trindade com o compositor carioca Moreira da Silva (1902 - 2000) - 1296 mulheres, gravado em 1953 por Moreira - reaparece em cena, ajudando a moldar o perfil do sedutor artista multimídia. Cada vez mais envolvido com a arquitetura de musicais de espírito brasileiro, distantes do padrão norte-americano, o diretor João Fonseca - responsável pelas encenações de blockbusters como Tim Maia - Vale tudo (2011) e o atual Cazuza - Pro dia nascer feliz (2013) - respeita o tom popular de Zé Trindade - A última chanchada. Tom reforçado pela lembrança de músicas gaiatas como Vou pra Maragojipe (Zé Trindade e Niquinho) - tema de pegada nordestina que cita no título a cidade do interior baiano que o soteropolitano Zé Trindade dizia ser sua cidade natal para reforçar o folclore em torno de sua figura - e Quadrilha dos políticos (Zé Trindade), a mais atual das 13 músicas do roteiro do espetáculo, valorizado pela atuação excepcional de Paulo Mathias. Zé Trindade - A última chanchada tem, acima de tudo, o grande mérito de reavivar a memória, a carreira e a importância de um artista até então esquecido por mídia e público.
Imortalizado com o nome artístico de Zé Trindade, adotado em 1935 quando ainda morava na Salvador natal (BA), o artista baiano Milton da Silva Bittencourt (18 de abril de 1915 - 1º de maio de 1990) foi multimídia antes de o termo sequer existir. Talvez ele seja mais lembrado, quando é lembrado, por suas atuações em chanchadas do cinema brasileiro dos anos 40 e 50. Contudo, além de ator, Zé Trindade foi também cantor e compositor, tendo gravado marchas, quadrilhas, xotes e sambas em discos de 78 rotações por minuto editados pela gravadora Columbia entre a segunda metade da década de 50 e a primeira dos anos 60. Sua esquecida obra musical - composta e cantada com a verve que caracterizava a imagem do comediante popularizado no rádio, no cinema e na TV de sua época áurea - é (re)posta em cena no espetáculo Zé Trindade - A última chanchada, em cartaz no Rio de Janeiro (RJ). Encarnado de forma perfeita pelo ator Paulo Mathias Jr., sem traços caricaturais, Zé Trindade ressurge neste misto de chanchada e musical que o junta no palco com a escrachada atriz fluminense Dercy Gonçalves (1907 - 2008), interpretada de forma igualmente luminosa por Alice Borges. Recorrendo ao humor popular das chanchadas (mas com algumas piadas de compreensão limitada a quem convive no meio teatral carioca), o texto metalinguístico do dramaturgo Artur Xexéo salpica dados biográficos de Zé Trindade e, apesar do tom narrativo de algumas falas iniciais do protagonista, foge do didatismo cronológico. Favorecido pela atuação de elenco exemplar, o texto alcança maior amplitude na segunda parte da ação, passada na terra (a primeira, passada no céu, está mais centrada no encontro de Trindade com Dercy Gonçalves). É quando o ator escalado para fazer Zé Trindade na fictícia peça abordada na peça - Rodrigo Fagundes, excelente comediante - questiona os limites do talento de Zé Trindade, ator capaz de fazer rir somente com seus bordões e seus trejeitos, mas sem grandes preocupações com o texto. É também quando o elenco canta marchas como Cobra que não anda (Zé Trindade e Valter Levita, 1959), Maria manda brasa (Zé Trindade e Waldir Ferreira, 1964), O negócio é perguntar pela Maria (Zé Trindade e Elias Soares, 1959) e Marcha do divórcio (Zé Trindade e Valdir Ferreira, 1963). Até um samba assinado por Trindade com o compositor carioca Moreira da Silva (1902 - 2000) - 1296 mulheres, gravado em 1953 por Moreira - reaparece em cena, ajudando a moldar o perfil do sedutor artista multimídia. Cada vez mais envolvido com a arquitetura de musicais de espírito brasileiro, distantes do padrão norte-americano, o diretor João Fonseca - responsável pelas encenações de blockbusters como Tim Maia - Vale tudo (2011) e o atual Cazuza - Pro dia nascer feliz (2013) - respeita o tom popular de Zé Trindade - A última chanchada. Tom reforçado pela lembrança de músicas gaiatas como Vou pra Maragojipe (Zé Trindade e Niquinho) - tema de pegada nordestina que cita no título a cidade do interior baiano que o soteropolitano Zé Trindade dizia ser sua cidade natal para reforçar o folclore em torno de sua figura - e Quadrilha dos políticos (Zé Trindade), a mais atual das 13 músicas do roteiro do espetáculo, valorizado pela atuação excepcional de Paulo Mathias. Zé Trindade - A última chanchada tem, acima de tudo, o grande mérito de reavivar a memória, a carreira e a importância de um artista até então esquecido por mídia e público.
ResponderExcluirQue legal. Me deu mais vontade ainda de assistir.
ResponderExcluirEspero ansioso a resenha do Mauro para o musical sobre Elis Regina que estreia amanhã.
abração
Denilson
Esse Xexéo ainda vive, minha gente? Uau.
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