Um dos poetas do samba, o cantor e compositor fluminense Délcio Carvalho (8 de março de 1939 - 12 de novembro de 2013) sai hoje de cena no Rio de Janeiro (RJ), aos 74 anos, vítima de câncer, mas deixa obra coerente, indissociável da produção autoral da compositora carioca Dona Ivone Lara, de quem foi o parceiro mais frequente nos anos 70 e 80. Samba iluminado por esperança de tom melancólico, Alvorecer - lançado pela cantora Clara Nunes (1942 - 1983) no álbum homônimo de 1974 - é um dos muitos exemplos de fina sintonia entre as letras poéticas de Délcio e as melodias sensíveis de Ivone Lara. Acreditar (1976) - sucesso na voz do cantor fluminense Roberto Ribeiro (1940 - 1996) - é outro exemplo dessa perfeita interação entre música e letra, assim como Sonho meu (1978), samba imortalizado em gravação feita por Maria Bethânia em dueto com Gal Costa, e assim como Em cada canto uma esperança (1978), lindo samba que Beth Carvalho reviveu há dois anos no álbum Nosso samba tá na rua (2011). Contudo, seria redutor limitar a produção de Délcio Carvalho às parcerias com Ivone Lara. Desde 1968 (ano em que seu samba Pingo de felicidade, feito em parceria com Dias Soares, foi gravado pela efêmera cantora Christiane), a obra deste artista filho de pai saxofonista - nascido em Campos (RJ), onde se formou nos bailes da vida, mas residente no Rio de Janeiro (RJ) desde 1956 - ganhou diversos parceiros e vozes. A cantora baiana Simone, por exemplo, incluiu Acreditar no repertório de seu recém-lançado álbum É melhor ser (2013). Integrante nos anos 60 do grupo Lá vai samba, Délcio também cantava, mas é como compositor que vai permanecer em lugar de honra na história da música brasileira. O sucesso bateu à porta em 1972 - ano em que o grupo Os Originais do Samba registrou Esperanças perdidas (Délcio Carvalho e Adeilton Alves) - e se manteve ao lado de Délcio ao longo das décadas de 70 e da primeira metade dos anos 80. Parceria com Noca da Portela, Vendaval da vida foi lançada em 1978 pelo cantor carioca Aroldo Santos, mas fez sucesso na voz de Alcione em 1983, ano em que Beth Carvalho lançou Nos combates desta vida, outra obra-prima da parceria de Délcio com Ivone Lara, no álbum Suor no rosto (1983). Com Ivor Lancellotti, Délcio Carvalho fez dois grandes sambas, Clarão e Velha cicatriz, que em 1988 ganharam as vozes robustas de Alcione e Nana Caymmi, respectivamente. Ainda da parceria com Ivor, Quando essa paixão me dominar reiterou - na voz de Beth Carvalho - a poesia, esperança e fé no amor habitualmente embutidas nos versos líricos e quase sempre otimistas (apesar da recorrente melancolia) do compositor. A partir dos anos 90, década em que a música brasileira começou a ganhar ares populistas, Délcio Carvalho emplacou menos sucessos, mas manteve sua produção autoral, documentada no álbum triplo Inédito e eterno (2007), penúltimo título de discografia iniciada em 1979 com a edição do LP Canto de um povo, erguida em selos indies e finalizada neste ano de 2013 com Dois compassos, CD assinado por Délcio com o violonista Marcelo Guima. Enfim, o cancioneiro de Délcio Carvalho vai atravessar anos, modismos e gerações pela perenidade dos sambas que criou com os parceiros afinados com sua sensibilidade e sua poesia.
Um dos poetas do samba, o cantor e compositor fluminense Délcio Carvalho (9 de março de 1939 - 12 de novembro de 2013) sai hoje de cena no Rio de Janeiro (RJ), aos 74 anos, vítima de câncer, mas deixa obra coerente, indissociável da produção autoral da compositora carioca Dona Ivone Lara, de quem foi o parceiro mais frequente nos anos 70 e 80. Samba iluminado por esperança de tom melancólico, Alvorecer - lançado pela cantora Clara Nunes (1942 - 1983) no álbum homônimo de 1974 - é um dos muitos exemplos de fina sintonia entre as letras poéticas de Délcio e as melodias sensíveis de Ivone Lara. Acreditar (1976) - sucesso na voz do cantor fluminense Roberto Ribeiro (1940 - 1996) - é outro exemplo dessa perfeita interação entre música e letra, assim como Sonho meu (1978), samba imortalizado em gravação feita por Maria Bethânia em dueto com Gal Costa, e assim como Em cada canto uma esperança (1978), lindo samba que Beth Carvalho reviveu há dois anos no álbum Nosso samba tá na rua (2011). Contudo, seria redutor limitar a produção de Délcio Carvalho às parcerias com Ivone Lara. Desde 1968 (ano em que seu samba Pingo de felicidade, feito em parceria com Dias Soares, foi gravado pela efêmera cantora Christiane), a obra deste artista filho de pai saxofonista - nascido em Campos (RJ), onde se formou nos bailes da vida, mas residente no Rio de Janeiro (RJ) desde 1956 - ganhou diversos parceiros e vozes. A cantora baiana Simone, por exemplo, incluiu Acreditar no repertório de seu recém-lançado álbum É melhor ser (2013). Integrante nos anos 60 do grupo Lá vai samba, Délcio também cantava, mas é como compositor que vai permanecer em lugar de honra na história da música brasileira. O sucesso bateu à porta em 1972 - ano em que o grupo Os Originais do Samba registrou Esperanças perdidas (Délcio Carvalho e Adeilton Alves) - e se manteve ao lado de Délcio ao longo das décadas de 70 e da primeira metade dos anos 80. Parceria com Noca da Portela, Vendaval da vida foi lançada em 1978 pelo cantor carioca Aroldo Santos, mas fez sucesso na voz de Alcione em 1983, ano em que Beth Carvalho lançou Nos combates desta vida, outra obra-prima da parceria de Délcio com Ivone Lara, no álbum Suor no rosto (1983). Com Ivor Lancellotti, Délcio Carvalho fez dois grandes sambas, Clarão e Velha cicatriz, que em 1988 ganharam as vozes robustas de Alcione e Nana Caymmi, respectivamente. Ainda da parceria com Ivor, Quando essa paixão me dominar reiterou - na voz de Beth Carvalho - a poesia, esperança e fé no amor habitualmente embutidas nos versos líricos e quase sempre otimistas (apesar da recorrente melancolia) do compositor. A partir dos anos 90, década em que a música brasileira começou a ganhar ares populistas, Délcio Carvalho emplacou menos sucessos, mas manteve sua produção autoral, documentada no álbum triplo Inédito e eterno (2007), último título de discografia iniciada em 1979 com a edição do LP Canto de um povo e construída em selos independentes. Enfim, o cancioneiro de Délcio Carvalho vai atravessar o tempo, os modismos e as gerações pela perenidade dos sambas que criou com parceiros afinados com a sua sensibilidade e poesia.
ResponderExcluirPoxa, Mauro. Que triste notícia. Olha, senti falta no texto, mas não sei se você sabe, Délcio lançou há poucos meses, nesse ano de 2013, o álbum "Dois compassos" ao lado do violonista, cantor e compositor Marcelo Guima. Vale conferir. http://www.radio.uol.com.br/#/volume/marcelo-guima-e-delcio-carvalho/dois-compassos/79599 Abs
ResponderExcluirParabéns, Mauro, pela bela resenha.
ResponderExcluirMerecidíssima homenagem a um dos nossos melhores e inesquecíveis compositores.
abração,
Denilson
Realmente, falou-se em Délcio lembra-se da Dona Ivone e vice-versa.
ResponderExcluirUma das mais belas parcerias do samba.
Morre o homem e a obra fica.
Valeu!
Grato pelo toque, Sombaratinho, do último CD. Sabia dele, mas admito que esqueci dele na hora de fazer o texto porque não cheguei a resenhá-lo. Abs, MauroF
ResponderExcluirTriste notícia e perda irreparável para o mundo do Samba. Délcio foi o para Dona Ivone o que Vinícius foi para Tom Jobim.
ResponderExcluirSem dúvida nenhuma um dos maiores compositores do samba, além de um grande cantor.
Parabéns pela bela resenha, meu caro crítico! Por isso que eu não te abandono jamais.
Faltou apenas relatar que Délcio teve na trinca: Beth Carvalho, Roberto Ribeiro e Zeca Pagodinho os artistas que mais o registraram.
Meus sentimentos aos familiares e o mundo do samba está de luto pela perda de um dos seus grandes.
Abs,
Marcelo Barbosa - Brasília (DF)
PS: Ando atrás do dvd dele. Alguém sabe se há o interesse de algum selo/gravadora na distribuição? "Sonho meu", devem estar a procura de novos lixos.