Título: Titãs inédito
Artista: Titãs (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Circo Voador (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 14 de dezembro de 2013
Cotação: * * * *
"A gente vai tocar uma música para vocês acalmarem um pouco... e a gente também", anunciou Branco Mello ao voltar para o primeiro dos dois bis da estreia carioca do show Titãs inédito. O quarteto então tocou Marvin, a versão em português de Patches (Ronald Dunbar e General Johnson, 1970), feita por Nando Reis e Sergio Britto para ser gravada pela banda paulista em seu primeiro álbum, Titãs (Warner Music, 1984). Marvin foi raro instante pop - por assim dizer - de show quente, feito na pressão, no Circo Voador, na madrugada deste sábado, 14 de dezembro de 2013. Ao tocarem as 23 músicas anteriores, em roteiro coeso que enfileirou dez inéditas já de cara, os Titãs mostraram que o pulso ainda pode pulsar. Motes do show, as dez inéditas - compostas para o 19º álbum da banda, previsto para ser gravado em 2014 (não necessariamente com esse repertório, como os músicos frisam em entrevistas) - devolveram aos Titãs a energia e o peso guardados no seu anterior álbum de inéditas, Sacos plásticos (Arsenal Music / Universal Music, 2009), disco equivocado em que o grupo aderiu à artificial fórmula de sucesso do produtor Rick Bonadio. Reviver o repertório ardente do álbum que consagrou a banda, Cabeça dinossauro (Warner Music, 1986), em show - perpetuado em DVD e CD ao vivo lançados em 2012 - deve ter semeado no grupo a vontade de retomar o espírito crítico e contestador dos áureos tempos. Atualmente reduzido a um quarteto (metade de sua formação original) integrado por Branco Mello (voz e baixo), Paulo Miklos (voz e guitarra), Sérgio Britto (voz, teclado e baixo) e Tony Bellotto (guitarra), os longevos Titãs apresentaram no Rio de Janeiro (RJ) um show explosivo, pesado, heavy mesmo, que não perdeu o pique ao apresentar, de uma tacada só, as dez inéditas guardadas na manga para o próximo disco que, se dependesse da vontade da banda, seria produzido por Andreas Kisser (o guitarrista recusou o convite por conta de compromissos assumidos com seu grupo Sepultura). Já na primeira das dez inéditas, Eu me sinto bem (Paulo Miklos, Sergio Britto e Tony Bellotto), ficou claro que Titãs inédito é show de rock pesado, sem firulas. As letras vão direto ao ponto, às vezes de forma ainda pouco burilada. Os versos de Renata (Paulo Miklos, Sergio Britto e Tony Bellotto), por exemplo, soam bem óbvios ao enfatizar o caráter falastrão da personagem-título, que fala muito sem ter nada a dizer. Mais significante, Terra à vista - tema assinado pelo titã Branco Mello com dois parceiros intrusos (o ator e diretor de teatro Aderbal Freire-Filho, pernambucano radicado no Rio de Janeiro, e o guitarrista paulista Emerson Villani) - versa critica e ironicamente sobre o descobrimento e os signos do Brasil, país perfilado com o mesmo teor crítico em República dos bananas (Branco Mello, Angeli, Hugo Possolo e Emerson Villani). Destaque entre as inéditas (todas de bom nível, embora nenhuma com cara de um clássico imediato), Senhor (Tony Bellotto) reza em tom punk pela cartilha do prazer sem culpa religiosa. "Não me livre do pecado, me livre da culpa / Não me livre da loucura, me livre do remédio", dizem versos da letra que evoca os petardos disparados pelos Titãs contra as instituições sociais em seus antológicos álbuns Cabeça dinossauro (1986) e Jesus não tem dentes no país dos banguelas (1987), discos cujos repertórios foram a base explosiva da segunda parte do show, dedicada às músicas antigas. Outro trunfo da safra inédita, Baião de dois - composta e cantada por Paulo Miklos - é rockaço que evita os clichês da fusão rock com música nordestina, citando o baião Bim bom (1959), composto e lançado por João Gilberto. Miklos é, dos três vocalistas atuais dos Titãs, o mais carismástico e o que mais parece ter nascido para cantar músicas como Mensageiro da desgraça (Paulo Miklos, Sergio Britto e Tony Bellotto), rock que cospe sentimentos de ódio e vingança na primeira pessoa em flash urbano da violência cotidiana ocorrida na selva de São Paulo (SP), cidade natal da banda que, em sua fase como quarteto, incorpora o eficiente baterista Mario Fabre como músico convidado. Após Mensageiro da desgraça, Sergio Britto assumiu o microfone para dar voz à sua composição Quem são os animais?, rock de explícito espírito questionador que cita significados pejorativos de nomes de animais - viado, macaco - para remexer na ferida dos preconceitos sexual, racial e social. Outra música da lavra solitária de Britto, cantada pelo próprio autor, Não pode questiona com virulência punk as proibições que cerceiam liberdades e vontades cotidianas. Completando as dez inéditas, Flores para ela (Mario Fabre e Sergio Britto) - música cantada por Miklos - cai no suingue, sem perder o peso, com letra que versa sobre contradições masculinas na forma machista como o homem (ainda) se relaciona com a mulher amada. Enfim, com essa safra de inéditas, que podem até ser descartadas na seleção final do repertório do vindouro álbum, os Titãs procuram recuperar uma energia e um espírito que foram se perdendo ao longo da longa caminhada do grupo, já com 31 anos de estrada. Por mais que as músicas antigas sejam imbatíveis, como percebido na catártica segunda parte da estreia carioca do show Titãs inédito, as novas mostram uma banda com tesão, com vontade de acertar e de reavivar a pegada diluída em Sacos plásticos. Pelo que se viu e ouviu no Circo Voador no início da madrugada de 14 de dezembro de 2013, o pulso ainda pode pulsar. Os gritos de "Titãs! Titãs!" - proferidos no início, no meio e no fim da apresentação por plateia jovem - provaram que, sim, os Titãs (ainda) têm um público disposto a ouvir suas boas novas.
3 comentários:
"A gente vai tocar uma música para vocês acalmarem um pouco... e a gente também", anunciou Branco Mello ao voltar para o primeiro dos dois bis da estreia carioca do show Titãs inédito. O quarteto então tocou Marvin, a versão em português de Patches (Ronald Dunbar e General Johnson, 1970), feita por Nando Reis e Sergio Britto para ser gravada pela banda paulista em seu primeiro álbum, Titãs (Warner Music, 1984). Marvin foi raro instante pop - por assim dizer - de show quente, feito na pressão, no Circo Voador, na madrugada deste sábado, 14 de dezembro de 2013. Ao tocarem as 23 músicas anteriores, em roteiro coeso que enfileirou dez inéditas já de cara, os Titãs mostraram que o pulso ainda pode pulsar. Motes do show, as dez inéditas - compostas para o 19º álbum da banda, previsto para ser gravado em 2014 (não necessariamente com esse repertório, como os músicos frisam em entrevistas) - devolveram aos Titãs a energia e o peso guardados no seu anterior álbum de inéditas, Sacos plásticos (Arsenal Music / Universal Music, 2009), disco equivocado em que o grupo aderiu à artificial fórmula de sucesso do produtor Rick Bonadio. Reviver o repertório ardente do álbum que consagrou a banda, Cabeça dinossauro (Warner Music, 1986), em show - perpetuado em DVD e CD ao vivo lançados em 2012 - deve ter semeado no grupo a vontade de retomar o espírito crítico e contestador dos áureos tempos. Atualmente reduzido a um quarteto (metade de sua formação original) integrado por Branco Mello (voz e baixo), Paulo Miklos (voz e guitarra), Sérgio Britto (voz, teclado e baixo) e Tony Bellotto (guitarra), os longevos Titãs apresentaram no Rio de Janeiro (RJ) um show explosivo, pesado, heavy mesmo, que não perdeu o pique ao apresentar, de uma tacada só, as dez inéditas guardadas na manga para o próximo disco que, se dependesse da vontade da banda, seria produzido por Andreas Kisser (o guitarrista recusou o convite por conta de compromissos assumidos com seu grupo Sepultura). Já na primeira das dez inéditas, Eu me sinto bem (Paulo Miklos, Sergio Britto e Tony Bellotto), ficou claro que Titãs inédito é show de rock pesado, sem firulas. As letras vão direto ao ponto, às vezes de forma ainda pouco burilada. Os versos de Renata (Paulo Miklos, Sergio Britto e Tony Bellotto), por exemplo, soam bem óbvios ao enfatizar o caráter falastrão da personagem-título, que fala muito sem ter nada a dizer. Mais significante, Terra à vista - tema assinado pelo titã Branco Mello com dois parceiros intrusos (o ator e diretor de teatro Aderbal Freire-Filho, pernambucano radicado no Rio de Janeiro, e o guitarrista paulista Emerson Villani) - versa critica e ironicamente sobre o descobrimento e os signos do Brasil, país perfilado com o mesmo teor crítico em República dos bananas (Branco Mello, Angeli, Hugo Possolo e Emerson Villani). Destaque entre as inéditas (todas de bom nível, embora nenhuma com cara de um clássico imediato), Senhor (Tony Bellotto) reza em tom punk pela cartilha do prazer sem culpa religiosa. "Não me livre do pecado, me livre da culpa / Não me livre da loucura, me livre do remédio", dizem versos da letra que evoca os petardos disparados pelos Titãs contra as instituições sociais em seus antológicos álbuns Cabeça dinossauro (1986) e Jesus não tem dentes no país dos banguelas (1987), discos cujos repertórios foram a base explosiva da segunda parte do show, dedicada às músicas antigas. Outro trunfo da safra inédita, Baião de dois - composta e cantada por Paulo Miklos - é rockaço que evita os clichês da fusão rock com música nordestina, citando o baião Bim bom (1959), composto e lançada por João Gilberto.
Miklos é, dos três vocalistas atuais dos Titãs, o mais carismástico e o que mais parece ter nascido para cantar músicas como Mensageiro da desgraça (Paulo Miklos, Sergio Britto e Tony Bellotto), rock que cospe sentimentos de ódio e vingança na primeira pessoa em flash urbano da violência cotidiana ocorrida na selva de São Paulo (SP), cidade natal da banda que, em sua fase como quarteto, incorpora o eficiente baterista Mario Fabre como músico convidado. Após Mensageiro da desgraça, Sergio Britto assumiu o microfone para dar voz à sua composição Quem são os animais?, rock de explícito espírito questionador que cita significados pejorativos de nomes de animais - viado, macaco - para remexer na ferida dos preconceitos sexual, racial e social. Outra música da lavra solitária de Britto, cantada pelo próprio autor, Não pode questiona com virulência punk as proibições que cerceiam liberdades e vontades cotidianas. Completando as dez inéditas, Flores para ela (Mario Fabre e Sergio Britto) - música cantada por Miklos - cai no suingue, sem perder o peso, com letra que versa sobre contradições masculinas na forma machista como o homem (ainda) se relaciona com a mulher amada. Enfim, com essa safra de inéditas, que podem até ser descartadas na seleção final do repertório do vindouro álbum, os Titãs procuram recuperar uma energia e um espírito que foram se perdendo ao longo da longa caminhada do grupo, já com 31 anos de estrada. Por mais que as músicas antigas sejam imbatíveis, como percebido na catártica segunda parte da estreia carioca do show Titãs inédito, as novas mostram uma banda com tesão, com vontade de acertar e de reavivar a pegada diluída em Sacos plásticos. Pelo que se viu e ouviu no Circo Voador no início da madrugada de 14 de dezembro de 2013, o pulso ainda pode pulsar. Os gritos de "Titãs! Titãs!" - proferidos no início, no meio e no fim da apresentação por plateia jovem - provaram que, sim, os Titãs (ainda) têm um público disposto a ouvir suas boas novas.
Os motes para as músicas novas me parecem bons.
Será?
Seria um fantasma?
Esfreguei os olhos e... sumiram!
Cadê? rsrrsr
Yo no creo em brujas, pero que las hay, las hay.
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