Mauro Ferreira no G1

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domingo, 29 de dezembro de 2013

Olhar oficial de 'Gilberto bem perto' distancia Gil do leitor de sua biografia

Resenha de livro
Título: Gilberto bem perto
Autores: Gilberto Gil e Regina Zappa
Editora: Nova Fronteira
Cotação: * *

Biografia autorizada de Gilberto Gil, Gilberto bem perto foi lançada pouco antes de a discussão sobre a liberação das biografias oficiosas ganhar tom acalorado nas mídias impressa e digital, com ícones da MPB advogando em favor do veto prévio das versões não autorizadas. Associação que acabou rachada quando Roberto Carlos adotou posição mais flexível (embora confusa) diante das câmeras do programa Fantástico, da TV Globo, contrariando parte do grupo (sobretudo Caetano Veloso e Chico Buarque). Gilberto bem perto é o tipo de biografia defendida publicamente pelos ídolos da MPB. Assinado pelo cantor e compositor baiano com a jornalista carioca Regina Zappa, provável responsável pelo tom objetivo e jornalístico do texto, o livro foca Gil pelo olhar oficial sem obviamente ultrapassar o limite da intimidade consentida. E é esse olhar oficial que distancia Gil do leitor em livro ironicamente intitulado Gilberto bem perto. A biografia não chega a ter o formato de almanaque, mas a edição evoca este gênero mais superficial de livro por expor muitas fotos (várias alocadas em páginas inteiras) ao longo da narrativa, cortada também por pequenos boxes que abordam à parte temas como a construção da letra da tropicalista Domingo no parque (1967). A reprodução de depoimentos antigos de Gil e de nomes como Caetano Veloso - falas extraídas de entrevistas a jornais e a revistas e também de livros como o escrito pelo próprio Caetano (Verdade tropical, 1997) - contribui para alimentar a sensação de que Gilberto bem perto é mais uma colagem elegante de dados sobre a vida e a obra de Gil do que propriamente uma biografia que investiga a fundo a trajetória humana e artística do biografado. Extraído de entrevista do artista à revista Isto É Gente, um depoimento de Gil sobre a morte do filho Pedro Gil, em 1990, sintetiza crise pessoal que o livro evita relatar com mais profundidade. Enfim, Gilberto bem perto pode até contentar quem pouco ou nada conhece sobre a vida de Gil. Estão lá relatos da infância vivida na bucólica Ituaçu (cidade do interior da Bahia para onde a família de Gil migrou quando ele ainda era recém-nascido em Salvador), das viagens lisérgicas na época dura do forçado exílio londrino, da atuação política no Ministério da Cultura e do encontro afetivo e profissional com a empresária Flora Gil. As fotos, sobretudo as antigas, valorizam o livro, mas não a ponto de recomendá-lo para quem espera que sua leitura propicie mergulho profundo na mente de um dos gênios da música brasileira, um artista de grande musicalidade, ainda em atividade, aos 72 anos, com inspiração - como provou a canção Joia rara, composta e gravada para a trilha sonora da homônima novela estreada pela TV Globo às 18h neste ano de 2013. Escrita sem alma e sem paixão, a biografia Gilberto bem perto desce leve como um domingo no parque.

Um comentário:

Mauro Ferreira disse...

Biografia autorizada de Gilberto Gil, Gilberto bem perto foi lançada pouco antes de a discussão sobre a liberação das biografias oficiosas ganhar tom acalorado nas mídias impressa e digital, com ícones da MPB advogando em favor do veto prévio das versões não autorizadas. Associação que acabou rachada quando Roberto Carlos adotou posição mais flexível (embora confusa) diante das câmeras do programa Fantástico, da TV Globo, contrariando parte do grupo (sobretudo Caetano Veloso e Chico Buarque). Gilberto bem perto é o tipo de biografia defendida publicamente pelos ídolos da MPB. Assinado pelo cantor e compositor baiano com a jornalista carioca Regina Zappa, provável responsável pelo tom objetivo e jornalístico do texto, o livro foca Gil pelo olhar oficial sem obviamente ultrapassar o limite da intimidade consentida. E é esse olhar oficial que distancia Gil do leitor em livro ironicamente intitulado Gilberto bem perto. A biografia não chega a ter o formato de almanaque, mas a edição evoca este gênero mais superficial de livro por expor muitas fotos (várias alocadas em páginas inteiras) ao longo da narrativa, cortada também por pequenos boxes que abordam à parte temas como a construção da letra da tropicalista Domingo no parque (1967). A reprodução de depoimentos antigos de Gil e de nomes como Caetano Veloso - falas extraídas de entrevistas a jornais e a revistas e também de livros como o escrito pelo próprio Caetano (Verdade tropical, 1997) - contribui para alimentar a sensação de que Gilberto bem perto é mais uma colagem elegante de dados sobre a vida e a obra de Gil do que propriamente uma biografia que investiga a fundo a trajetória humana e artística do biografado. Extraído de entrevista do artista à revista Isto É Gente, um depoimento de Gil sobre a morte do filho Pedro Gil, em 1990, sintetiza crise pessoal que o livro evita relatar com mais profundidade. Enfim, Gilberto bem perto pode até contentar quem pouco ou nada conhece sobre a vida de Gil. Estão lá relatos da infância vivida na bucólica Ituaçu (cidade do interior da Bahia para onde a família de Gil migrou quando ele ainda era recém-nascido em Salvador), das viagens lisérgicas na época dura do forçado exílio londrino, da atuação política no Ministério da Cultura e do encontro afetivo e profissional com a empresária Flora Gil. As fotos, sobretudo as antigas, valorizam o livro, mas não a ponto de recomendá-lo para quem espera que sua leitura propicie mergulho profundo na mente de um dos gênios da música brasileira, um artista de grande musicalidade, ainda em atividade, aos 72 anos, com inspiração - como provou a canção Joia rara, composta e gravada para a trilha sonora da homônima novela estreada pela TV Globo às 18h neste ano de 2013. Escrita sem alma e sem paixão, a biografia Gilberto bem perto desce leve como um domingo no parque.