Retrospectiva 2013 - O ano de 2013 chegou ao fim sem grandes mudanças no universo pop. Realidade irreversível dos últimos anos, a audição e o consumo de músicas e discos nas plataformas digitais já faz parte do presente há tempos. Ao longo do ano, o som pulsou em portais e canais de música e vídeo, mas o passado assombrou. Tanto que a esperta cantora norte-americana Beyoncé Knowles causou reboliço ao lançar seu bom quinto álbum, Beyoncé, exclusivamente no iTunes, de surpresa, sem aviso prévio, em 13 de dezembro. Os lojistas do mundo físico protestaram contra a primazia digital. E houve até rede que se recusou a pôr o CD em suas prateleiras. E assim caminhou a humanidade musical ao longo deste ano de 2013. Dando um passo para frente e dois para trás. Como o mundo, aliás. O alto consumo de vinis - em rota ascendente no Brasil e no mundo - sinalizou que o apego de uns a sons e a formatos do passado ainda é uma realidade que vai ter conviver com a opção de outros pelo consumo exclusivamente digital (legal ou ilegal) de discos e músicas. O passado também assombrou na quantidade de registros ao vivo de shows de caráter retrospectivo. Sem ter nada de novo a dizer, cantores e grupos reciclaram sucessos em DVDs estéreis com o aval da indústria fonográfica, ainda apegada (por questões financeiras) aos sons e formatos desse passado que espreita a música do presente. Passado que também se manifestou em 2013 na forma de edições comemorativas de álbuns emblemáticos na construção do universo pop. Se um álbum realmente importante completou 20, 30 ou 40 anos de vida, esse disco provavelmente foi embalado em edições luxuosas turbinadas com material adicional para fisgar colecionadores de discos - raça resistente que alimentou a indústria fonográfica em 2013 com o mesmo apetite e voracidade que certamente o fará em 2014. Tudo novo de novo? Nem tanto. E o realmente novo por vezes chegou impregnado de sons do passado - caso do quarto irretocável álbum do duo francês de música eletrônica Daft Punk, Random access memories, um dos grandes discos do ano. A aura retrô do megahit Get lucky envolveu e deliciou o universo pop, revalorizando o guitarrista norte-americano Nile Rodgers, cujo toque chic também ajudou a formatar um outro hit, este restrito a essa terra brasilis, Mandou bem, grande sucesso black em parada nacional dominada por sertanejos de rala pegada pop e por dois funkeiros domesticados pela indústria do disco. Sim, Anitta e Naldo Benny se fizeram ouvir em 2013 (ele no embalo de sucesso que já veio de 2012). Prepare-se: fenômeno nativo do ano, Anitta ainda vai reinar em 2014, gravando em fevereiro DVD que vai ter a participação do rapper norte-americano Pitbull. De olho no futuro, Naldo Benny já mira o mercado externo, mas mostrou fôlego curto para encarar outros verões no segundo registro de show de sua carreira solo. Com a MPB relegada à margem do mercado fonográfico e consumida em nichos que são mais resistentes no Rio de Janeiro (RJ), poucos ouviram o estupendo álbum de inéditas do grupo carioca Boca Livre, Amizade, e o igualmente excelente tributo dos irmãos Danilo Caymmi, Dori Caymmi e Nana Caymmi ao patriarca Dorival Caymmi (1914 - 2008), cujo centenário de nascimento - a ser completado em abril de 2014 - vai motivar a reabertura da cortina do passado no próximo ano. Cortina que se manteve aberta em 2013 com saudações à cantora mineira Clara Nunes (1942 - 1983) - alvo de tributos de várias cantoras, com menção honrosa para o show Canto sagrado, transformado em CD/DVD pela cantora paulista Fabiana Cozza - e ao compositor e poeta carioca Vinicius de Moraes (1913 - 1980). Dos dois discos mais relevantes feitos em tributo ao centenário de nascimento de Vinicius, um (a releitura contemporânea do repertório da Arca de Noé) se mostrou luminoso ao encarar o presente enquanto outro (A vida tem sempre razão, com gravações inéditas de nomes da MPB) se revelou apático, com ar de mofo, pautado pela estética do passado que assombra. Uma sombra desse passado também nublou a bela e melancólica balada, Where are you now?, que anunciou em janeiro a volta e o primeiro álbum em dez anos do então sumido camaleão inglês David Bowie. Apesar do título do álbum The next day sinalizar o futuro, Bowie apresentou um rock atemporal neste disco recorrente nas listas de melhores CDs de 2013. Em outra latitude da esfera internacional, Miley Cyrus sexualizou sua música a ponto de ter sido advertida pela irlandesa Sinéad O' Connor de que estava sendo induzida a se comportar como prostituta - comentário que enfureceu Cyrus e gerou bate-boca público. Aliás, a adolescente neozelandesa Lorde (uma das revelações do ano) chamou a atenção para a frivolidade do universo pop nas músicas de seu incensado álbum Pure heroine. Alheia à tal frivolidade, a cena indie do Brasil caminhou efervescente, por vezes sem estrutura empresarial, mas com gana de espantar o passado. O rapper paulista Emicida deu passo à frente ao lançar (enfim) seu primeiro álbum, O retorno glorioso de quem nunca esteve aqui, enquanto a índia indie Iara Rennó deglutiu influências modernistas em seu segundo álbum solo, I A R A, objeto de culto em nichos específicos dessa multifacetada cena independente movida tanto pelo patrocínio de editais culturais quanto pela mobilização de fãs em plataformas de financiamento coletivo e pela iniciativa privada de empreendedores como o DJ Zé Pedro, que deu em agosto a partida na série de tributos a Cazuza com Agenor, CD de sua gravadora Joia Moderna que mirou o presente, na contramão de outras homenagens calcadas no passado evocado até na forma de holograma. Visando o mainstream, o inspirado Marcelo Jeneci roçou a perfeição pop em primoroso segundo álbum, De graça, enquanto os olhos de farol de Ney Matogrosso focaram o presente em show, Atento aos sinais, de efervescência urbana captada no CD gravado em estúdio com músicas (Incêndio, Rua da passagem), que ganharam sentido adicional a partir de junho, quando manifestações sociais tomaram as ruas do Brasil sem uma trilha sonora - o que sinaliza que, a despeito de ter gerado grandes discos, 2013 chega ao fim sem ter se imposto como ano inesquecível no universo pop.
Guia jornalístico do mercado fonográfico brasileiro com resenhas de discos, críticas de shows e notícias diárias sobre futuros lançamentos de CDs e DVDs. Do pop à MPB. Do rock ao funk. Do axé ao jazz. Passando por samba, choro, sertanejo, soul, rap, blues, baião, música eletrônica e música erudita. Atualizado diariamente. É proibida a reprodução de qualquer texto ou foto deste site em veículo impresso ou digital - inclusive em redes sociais - sem a prévia autorização do editor Mauro Ferreira.
terça-feira, 31 de dezembro de 2013
Retrô 2013: Dez discos internacionais que se destacaram ao longo do ano
1. Random access memories (Sony Music) - Daft Punk
- O duo francês de música eletrônica atingiu o ápice com álbum pop, orgânico e retrô
2. The electric lady (Warner Music) - Janelle Monáe
- Com eletrizante som de preto norte-americano, artista levou adiante sua saga sci-fi
3. The next day (Sony Music) - David Bowie
- Com rock atemporal, o camaleão inglês reapareceu e provou que estava (bem) vivo
4. Volume 3 (Merge Records / Lab 344) - She & Him
- Viagem vintage do duo norte-americano alcançou a perfeição pop em CD delicioso
5. Yeezus (Def Jam / Universal Music) - Kanye West
- Álbum de peso provou que o ego do rapper dos EUA é proporcional ao seu talento
6. Electric (x2 / Sony Music) - Pet Shop Boys
- O produtor Stuart Price reacendeu (alto) a chama do synth-pop do duo britânico
7. Overgrown (Republic Records) - James Blake
- No segundo álbum, o artista britânico delineou com precisão o seu recanto escuro
8. Once I was an eagle (Virgin / EMI Music) - Laura Marling
- O folk da artista britânica atingiu belo ponto de crueza em disco longo e sombrio
9. Matangi (N.E.E.T. Recordings / Interscope Records) - M.I.A.
- A artista inglesa recuperou o foco e a energia com álbum de rap made in Bollywood
10. ...Like clockwork (Matador Records / Lab 344) - Queens of the Stone Age
- O grupo norte-americano suavizou o som, mas deu peso às letras, em grande disco
- O duo francês de música eletrônica atingiu o ápice com álbum pop, orgânico e retrô
2. The electric lady (Warner Music) - Janelle Monáe
- Com eletrizante som de preto norte-americano, artista levou adiante sua saga sci-fi
3. The next day (Sony Music) - David Bowie
- Com rock atemporal, o camaleão inglês reapareceu e provou que estava (bem) vivo
4. Volume 3 (Merge Records / Lab 344) - She & Him
- Viagem vintage do duo norte-americano alcançou a perfeição pop em CD delicioso
5. Yeezus (Def Jam / Universal Music) - Kanye West
- Álbum de peso provou que o ego do rapper dos EUA é proporcional ao seu talento
6. Electric (x2 / Sony Music) - Pet Shop Boys
- O produtor Stuart Price reacendeu (alto) a chama do synth-pop do duo britânico
7. Overgrown (Republic Records) - James Blake
- No segundo álbum, o artista britânico delineou com precisão o seu recanto escuro
8. Once I was an eagle (Virgin / EMI Music) - Laura Marling
- O folk da artista britânica atingiu belo ponto de crueza em disco longo e sombrio
9. Matangi (N.E.E.T. Recordings / Interscope Records) - M.I.A.
- A artista inglesa recuperou o foco e a energia com álbum de rap made in Bollywood
10. ...Like clockwork (Matador Records / Lab 344) - Queens of the Stone Age
- O grupo norte-americano suavizou o som, mas deu peso às letras, em grande disco
'Crazy diamond' reconta vida de Syd Barrett durante (e após) Pink Floyd
Lançado originalmente em 1991, o livro Crazy diamond - Syd Barrett e o surgimento do Pink Floyd, escrito pelos jornalistas ingleses Mike Watkinson e Pete Anderson, foi reeditado em versão revista e ampliada em 2006, ano da morte do cantor, compositor e guitarrista inglês Roger Keith Barrett (6 de janeiro de 1946 - 7 de julho de 2006), o lendário Syd Barrett, eternamente associado ao Pink Floyd, o grupo inglês que Barrett fundou em 1965 e do qual saiu em 1968. É esta versão do livro que chegou ao Brasil neste ano de 2013. Lançado no mercado nacional através da Sonora Editora, especializada em publicações sobre música, o livro Crazy diamond historia o legado de Barrett no Pink Floyd - cujo primeiro álbum de estúdio, o cultuado The piper at the gates of dawn (1967), foi gravado com a colaboração decisiva do fundador do grupo - e investiga sua vida reclusa após sua saída da banda. Isolado do mundo nos últimos anos, sumiço provocado pelo efeito do uso abusivo de drogas alucinógenas, Barrett tem sua história recontada no livro por meio de entrevistas com amigos e familiares. Os autores também dissecam o impacto do álbum The piper at the gates of dawn no universo pop. O título do livro, Crazy diamond, é o nome da caixa tripla de 1993 que embalou os dois únicos álbuns individuais do artista - The Madcap laughs e Barrett, ambos de 1970 - e coletânea de raridades, Opel (1988). Vale ler Crazy diamond - Syd Barrett e o surgimento do Pink Floyd.
Coletânea traz gravações de Daniel Boaventura propagadas em novelas
Ator e cantor baiano contratado pela TV Globo, Daniel Boaventura é nome recorrente em trilhas sonoras de novelas da emissora carioca desde 2009, ano em que lançou seu primeiro disco, Songs 4 U. A coletânea Novelas - recém-posta nas lojas pela Som Livre, gravadora pertencente às Organizações Globo - reúne onze fonogramas do artista propagados nas trilhas sonoras das tramas da emissora. São gravações feitas em inglês e em italiano. Apenas uma música é ouvida em português. Trata-se de São Paulo, São Paulo (Osvaldo Fagnani, Mario Manga, Marcelo Galbertti, Claus Petersen e Wandi Doratiotto, 1984), música do repertório do grupo paulista Premeditando o Breque, regravada por Boaventura para a trilha sonora nacional da novela Guerra dos sexos (2013). A seleção inclui I'm in the mood for love (Jimmy McHugh e Dorothy Fields, 1935) - balada que embalou o romance do casal Maya e Raj em Caminho das índias (2009) - e She (Herbert Kretzmer e Charles Aznavour, 1974), tema da trilha sonora internacional da novela Morde e assopra (2011). A compilação Novelas também rebobina temas em italiano da trilha sonora de Passione (2010) - novela que teve o ator no seu elenco.
segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
Disco calcado no r & b eletrônico, 'Beyoncé' consolida a virada da artista
Resenha de CD
Título: Beyoncé
Artista: Beyoncé Knowles
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * 1/2
Título: Beyoncé
Artista: Beyoncé Knowles
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * 1/2
Para início de conversa, Beyoncé - o quinto álbum de estúdio da cantora e compositora norte-americana Beyoncé Knowles, lançado de surpresa no iTunes na madrugada de 13 de dezembro de 2013 - é inferior ao seu antecessor 4 (2011). Mas consolida a virada que Mrs. Carter ensaiou em 4, seu álbum mais coeso, criado com influências de Fela Kuti (1938 - 1997) e Jackson 5. Em Beyoncé, álbum de tonalidade sensual e por vezes soturna, calcado no r & b eletrônico, a artista tenta se livrar das fórmulas da indústria fonográfica norte-americana, que vem fabricando cantoras em série padronizada. A triste ironia é que inexistem em Beyoncé singles matadores como Halo, If I were a boy e Single ladies, megahits do duplo e irregular I am... Sasha Fierce (2008). Para aplacar a sede insaciável do mercado, a romântica Xo e sobretudo a balada Heaven se insinuam como possíveis sucessos, mas Heaven chega quase ao fim do disco, encerrado com Blue, faixa na qual se ouve a voz de Blue Ivy, a filha de Beyoncé com o rapper Jay-Z. Contudo, Beyoncé - um visual album na concepção da artista, já que há um vídeo para cada música na edição dupla que junta CD (com 14 músicas) e DVD (com 17 clipes) - parece desprezar esse mercado mais imediatista. Ou, ao menos, finge desprezá-lo - a começar pelo fato de ter subvertido as regras do jogo fonográfico ao ser jogado no iTunes de surpresa, sem aviso prévio. O que gerou protestos e até boicoite de redes de lojas dos Estados Unidos contra a primazia digital. Musicalmente, vídeos à parte, salta aos ouvidos a pegada r & b menos industrializada de composições como Rocket e Pretty hurts (crítica ao culto à beleza perfeita que soa falsa). De todo modo, no caso de Beyoncé, os vídeos são parte fundamental do álbum. Os clipes reforçam a carga erótica de músicas Partition e Drunk in love. As doses de sensualidades são tão fartas quanto as de eletrônica, mote de Haunted, Ghost e de outras faixas de Beyoncé. A conexão com o rapper Frank Ocean em Superpower também merece menção. Outro rapper, Drake, aparece em Mine, reforçando a sensação de que, qualquer que seja o jogo, o universo do hip hop jamais pode ser descartado. Enfim, Beyoncé tem o mérito de sacudir a discografia de Beyoncé. Os animadores resultados comerciais iniciais - frutos tanto do impacto com que o álbum foi lançado quanto do interesse do público no visual album da artista - sinalizam que Beyoncé pode estar na direção certa. Mas que faltou o single, faltou...
'Pure heroine' impõe Lorde no universo pop sem (chegar a) ser viciante
Resenha de CD
Título: Pure heroine
Artista: Lorde
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * 1/2
Título: Pure heroine
Artista: Lorde
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * 1/2
Houve um momento neste ano de 2013 em que o universo pop começou a falar de Lorde, apontando a adolescente da Nova Zelândia - de 17 anos completados em novembro - como a sensação do universo pop por conta de seu primeiro álbum, Pure heroine. É aquele momento em que jornais, revistas e blogs musicais começam a falar em bloco de determinado nome, reproduzindo elogios e expandindo culto não raro engendrado por ações do departamento de marketing de alguma gravadora - no caso, a Universal Music. Bastou uma música de Lorde virar viral na rede - Royals, originalmente lançada pela artista no EP The love club, gravado em 2012, mas lançado em março de 2013 - para que a cantora e compositora neozelandesa fosse apontada como a maior revelação pop de todos os tempos daquelas semanas. Incenso de aura mercadológica, desfeita por uma avaliação sensata de Pure heroine. Produzido por Joe Little, o disco é realmente bom sem chegar a ser viciante. A questão é que o art indie pop de Lorde - aditivado com coros em temas como Ribs - soa por vezes monocórdio ao longo das dez faixas do álbum. Há músicas realmente bacanas em Pure heroine, com menções honrosas para Glory and gore e para os singles Royals, Tennis court e Team (de tom tecnopop), mas outras (como White teeth teens e Still sane, por exemplo) passariam batidas não fossem suas letras. A ideologia exposta por Lorde em seus versos é o grande trunfo do disco. Pure heroine versa sobre os desajustes emocionais de uma adolescente face a um mundo consumista, cibernético, em que o próprio universo pop parece conspirar a favor da visão de que, ou você entra na moda e nas ondas, ou é um fracassado, um loser, para usar termo da língua inglesa. Lorde se sentia uma perdedora quando escreveu as letras de músicas como 400 lux e Buzzcut season (a faixa de contorno mais pop). Por isso, sim, Pure heroine impõe o nome de Lorde - cuja voz por ironia se parece com a de sua desafeta Lana Del Rey - como uma das gratas revelações do universo pop neste ano de 2013. Mas é preciso dimensionar o culto a Lorde, artista que expõe emoções e dilemas reais em suas músicas enquanto suas colegas parecem tomar atitudes fabricadas em série para se ajustarem às regras de jogo volátil e voraz - caso de Miley Cyrus. Resta saber se a fama e o triunfo vão alterar a visão de mundo de Lorde nas próximas músicas.
'The electric lady' continua saga de Monáe com eletrizante som de preto
Resenha de CD
Título: The electric lady - Suites IV and V
Artista: Janelle Monáe
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * * * 1/2
Título: The electric lady - Suites IV and V
Artista: Janelle Monáe
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * * * 1/2
Janelle Monáe vem pavimentando obra fonográfica de tom conceitual. Seus álbuns são sequências da história de sci-fi iniciada no primeiro disco da cantora e compositora norte-americana, o EP Metropolis - Suite I - The chase (2007). Ao narrar a saga da androide Cindi Mayweather no mundo humano, Monáe usa a história como metáfora para expor algo podre que há no reino terreno. Já em si interessante, a história é valorizada por sua trilha sonora: um eletrizante som de preto calcado nas tradições do r & b, do funk e do soul norte-americanos, com precisos toques de rap, gênero que dá as cartas no mercado comum da música negra dos Estados Unidos. Segundo álbum de Monáe, The electric lady mantém o nível e o pique de seu antecessor, The ArchaAndroid (2010), ao apresentar a quarta e quinta suítes da narrativa futurista. Os nomes listados na ficha técnica do disco já mostram que Monáe tem moral no meio musical dos EUA. Basta dizer que Prince faz os backing-vocals de Givin em what they love. Erykah Badu entra em cena em Q.U.E.E.N. enquanto Solange Knowles - a irmã cada vez mais incensada de Beyoncé - contribui com o rap da música-título Electric lady. Cortadas por interlúdios que sintonizam fragmentos de programa de rádio, as suítes IV e V são introduzidas por overtures de clima cinematográfico (a da suíte IV é inspirada em tema do compositor italiano Ennio Morricone, mestre das trilhas sonoras de filmes, enquanto a retrô overture da suíte V recicla ideia de Stevie Wonder). Entre os interlúdios, há as músicas, quase todas inspiradas. Primetime é baladão sedutor interpretada por Monáe com o cantor Miguel. Look into my eyes é outra balada, mas de tons menores. Já We were rock & roll insinua vibe roqueira ao mesmo tempo em que evoca de longe uma batida de disco music. Aliás, Dance apocalyptic é mais rock'n'roll em sua vibrante e veloz pegada pop. Sem perder o pique na segunda metade, The electric lady está entranhado do melhor r & b em temas como Ghetto woman, It's code e What an experience. E tem Esperanza Spalding em Dorothy Dandridge eyes. Enfim, sem fazer alarde, Janelle Monáe apresentou um dos grandes álbuns de 2013. O trocadilho é óbvio, mas eletrizante é o adjetivo adequado para caracterizar The electric lady.
'Gentes' resume os 20 anos da militância 'indie' carioca de Luis Carlinhos
No início dos anos 1990, um grupo de reggae surgiu na cidade do Rio de Janeiro (RJ) no embalo da valorização do gênero jamaicano por nomes como o trio carioca Paralamas do Sucesso. Era o já extinto Dread Lion, grupo que trazia o cantor e compositor carioca Luis Carlinhos em sua formação original e com o qual o artista lançou os CDs Porque não paz? (1997) e Já é (2001). Começou naquele momento a militância indie de Carlinhos no universo carioca. Trajetória resumida no CD e DVD Gentes - 20 anos ao vivo, distribuídos pela gravadora Sony Music. Nesta gravação ao vivo, captada em show feito pelo artista em 12 de dezembro de 2012 na Casa Canoa Verde, no Rio de Janeiro (RJ), Luis Carlinhos apresenta três músicas inéditas - o pop reggae Me cura (parceria do compositor com Alvinho Lancellotti), a balada Estranho amor (título inaugural da parceria do artista com Carlinhos Vergueiro) e Chão no pé (de Luis Carlinhos com Gabriel Pondé) - e recicla músicas do Dread Lion e dos repertórios de seus dois álbuns individuais, Rapa da panela (2005) e Muda (2009). Detalhe: Luis Carlinhos integrou - ao lado de Baia, Gabriel Moura e Rogê - o ótimo grupo 4 Cabeça, formado em 2004.
SPC recicla hits entre inéditas de ao vivo que antecipa 25 anos do grupo
Reunido com sua formação original neste ano de 2013, para turnê que realocou Alexandre Pires no posto de vocalista, o grupo mineiro Só pra Contrariar lança CD duplo e DVD com o registro integral do show captado em 11 de agosto no Estádio do Zequinha, em Porto Alegre (RS). Formado em Uberlândia (MG) em 1989, o grupo de pagode tem no currículo o álbum comercialmente mais bem-sucedido da história da indústria fonográfica do Brasil, Só pra Contrariar (1997), CD que vendeu mais de três milhões de cópias (a biografia oficial do grupo alardeia que foram 3,5 milhões de exemplares) em época nababesca do mercado nativo do disco. Lançamento da gravadora Sony Music, o CD/DVD SPC 25 anos - Ao vivo em Porto Alegre arredonda a data da efeméride - afinal, o grupo faz 25 anos de vida somente em 2014 - e rebobina evidentemente os dois megahits do disco milionário de 1997, Depois do prazer e Mineirinho, entre outros sucessos e sete inéditas (A jogada, Ao som do SPC, Me perdoa, Muita calma nessa hora, Não dá para desligar, Se prepare para sofrer e Se você chorar). O primeiro CD do SPC foi lançado há 20 anos, em 1993, e emplacou os hits Que se chama amor e A barata.
domingo, 29 de dezembro de 2013
Retrô 2013: Dez discos brasileiros que se destacaram ao longo deste ano
1. De graça (Slap / Som Livre) - Marcelo Jeneci
- O cantor e compositor paulista roça o pop perfeito entre cordas e camadas de sons
2. Amizade (MP,B Discos / Universal Music) - Boca Livre
- Aos 35 anos de vida, o grupo reaviva as tradições vocais sem repetir a mesma toada
3. Arpoador (Edição independente do artista) - Leo Tomassini
- O artista carioca emerge entre ondas de Caetano Veloso, Chet Baker e João Gilberto
4. Atento aos sinais (Som Livre) - Ney Matogrosso
- Em disco de estúdio, o cantor captou as estranhezas e as urgências de show quente
5. Caymmi (Som Livre) - Danilo Caymmi, Dori Caymmi e Nana Caymmi
- Os irmãos dão belo mergulho nas profundezas do mar do centenário Dorival Caymmi
6. Condição humana (Sobre o tempo) (Coaxo do Sapo / Tratore) - Guilherme Arantes
- O coração do artista paulista volta a bater com vigor pop em disco de tom reflexivo
7. Embalar (Circus / Ná Recors) - Ná Ozzetti
- Um disco de banda e de (excelentes) inéditas reiterou a dádiva da voz de Ná Ozzetti
8. Funky funky boom bom (Sony Music) - Jota Quest
- Delicioso coquetel de sabor black faz deste disco festeiro e feliz o melhor do grupo
9. O retorno glorioso de quem nunca esteve aqui (Laboratório Fantasma) - Emicida
- Em seu primeiro álbum, o rapper expõe os riscos e tensões da glória e dos guetos
10. The mediator between head and hands must be the heart (Substancial Music) - Sepultura
- Com fúria, o grupo metaleiro apresenta seu disco de maior peso com Derrick Green
- O cantor e compositor paulista roça o pop perfeito entre cordas e camadas de sons
2. Amizade (MP,B Discos / Universal Music) - Boca Livre
- Aos 35 anos de vida, o grupo reaviva as tradições vocais sem repetir a mesma toada
3. Arpoador (Edição independente do artista) - Leo Tomassini
- O artista carioca emerge entre ondas de Caetano Veloso, Chet Baker e João Gilberto
4. Atento aos sinais (Som Livre) - Ney Matogrosso
- Em disco de estúdio, o cantor captou as estranhezas e as urgências de show quente
5. Caymmi (Som Livre) - Danilo Caymmi, Dori Caymmi e Nana Caymmi
- Os irmãos dão belo mergulho nas profundezas do mar do centenário Dorival Caymmi
6. Condição humana (Sobre o tempo) (Coaxo do Sapo / Tratore) - Guilherme Arantes
- O coração do artista paulista volta a bater com vigor pop em disco de tom reflexivo
7. Embalar (Circus / Ná Recors) - Ná Ozzetti
- Um disco de banda e de (excelentes) inéditas reiterou a dádiva da voz de Ná Ozzetti
8. Funky funky boom bom (Sony Music) - Jota Quest
- Delicioso coquetel de sabor black faz deste disco festeiro e feliz o melhor do grupo
9. O retorno glorioso de quem nunca esteve aqui (Laboratório Fantasma) - Emicida
- Em seu primeiro álbum, o rapper expõe os riscos e tensões da glória e dos guetos
10. The mediator between head and hands must be the heart (Substancial Music) - Sepultura
- Com fúria, o grupo metaleiro apresenta seu disco de maior peso com Derrick Green
Olhar oficial de 'Gilberto bem perto' distancia Gil do leitor de sua biografia
Resenha de livro
Título: Gilberto bem perto
Autores: Gilberto Gil e Regina Zappa
Editora: Nova Fronteira
Cotação: * *
Título: Gilberto bem perto
Autores: Gilberto Gil e Regina Zappa
Editora: Nova Fronteira
Cotação: * *
Biografia autorizada de Gilberto Gil, Gilberto bem perto foi lançada pouco antes de a discussão sobre a liberação das biografias oficiosas ganhar tom acalorado nas mídias impressa e digital, com ícones da MPB advogando em favor do veto prévio das versões não autorizadas. Associação que acabou rachada quando Roberto Carlos adotou posição mais flexível (embora confusa) diante das câmeras do programa Fantástico, da TV Globo, contrariando parte do grupo (sobretudo Caetano Veloso e Chico Buarque). Gilberto bem perto é o tipo de biografia defendida publicamente pelos ídolos da MPB. Assinado pelo cantor e compositor baiano com a jornalista carioca Regina Zappa, provável responsável pelo tom objetivo e jornalístico do texto, o livro foca Gil pelo olhar oficial sem obviamente ultrapassar o limite da intimidade consentida. E é esse olhar oficial que distancia Gil do leitor em livro ironicamente intitulado Gilberto bem perto. A biografia não chega a ter o formato de almanaque, mas a edição evoca este gênero mais superficial de livro por expor muitas fotos (várias alocadas em páginas inteiras) ao longo da narrativa, cortada também por pequenos boxes que abordam à parte temas como a construção da letra da tropicalista Domingo no parque (1967). A reprodução de depoimentos antigos de Gil e de nomes como Caetano Veloso - falas extraídas de entrevistas a jornais e a revistas e também de livros como o escrito pelo próprio Caetano (Verdade tropical, 1997) - contribui para alimentar a sensação de que Gilberto bem perto é mais uma colagem elegante de dados sobre a vida e a obra de Gil do que propriamente uma biografia que investiga a fundo a trajetória humana e artística do biografado. Extraído de entrevista do artista à revista Isto É Gente, um depoimento de Gil sobre a morte do filho Pedro Gil, em 1990, sintetiza crise pessoal que o livro evita relatar com mais profundidade. Enfim, Gilberto bem perto pode até contentar quem pouco ou nada conhece sobre a vida de Gil. Estão lá relatos da infância vivida na bucólica Ituaçu (cidade do interior da Bahia para onde a família de Gil migrou quando ele ainda era recém-nascido em Salvador), das viagens lisérgicas na época dura do forçado exílio londrino, da atuação política no Ministério da Cultura e do encontro afetivo e profissional com a empresária Flora Gil. As fotos, sobretudo as antigas, valorizam o livro, mas não a ponto de recomendá-lo para quem espera que sua leitura propicie mergulho profundo na mente de um dos gênios da música brasileira, um artista de grande musicalidade, ainda em atividade, aos 72 anos, com inspiração - como provou a canção Joia rara, composta e gravada para a trilha sonora da homônima novela estreada pela TV Globo às 18h neste ano de 2013. Escrita sem alma e sem paixão, a biografia Gilberto bem perto desce leve como um domingo no parque.
Kuarup reedita o álbum que reuniu Dino e Raphael, ases das sete cordas
Em 1991, dois ases brasileiros do violão de sete cordas - o fluminense Raphael Rabello (1962 - 1995) e o carioca Horondino José da Silva (1918 - 2006), conhecido no meio musical pelo nome artístico de Dino 7 Cordas - se encontraram em disco gravado e editado pelo selo Caju Music. Até então raro, o CD Raphael Rabello & Dino 7 Cordas está sendo reposto em catálogo pela reativada gravadora Kuarup no fim deste ano de 2013. No disco, Raphael e Dino tocam dois choros do compositor carioca Ernesto Nazareth (1893 - 1934), Escovado e Odeon, entre quatro temas do violonista e compositor pernambucano João Teixeira Guimarães (1883 - 1947), conhecido como João Pernambuco, de cuja obra os dois ases das sete cordas revivem Graúna, Jongo, Sonho de magia e Sons de carrilhões. O álbum Raphael Rabello & Dino 7 Cordas é aberto com um samba, Conversa de botequim, do compositor carioca Noel Rosa (1910 - 1937).
Álbum de Bruce vaza após ter venda digital antecipada pela loja Amazon
O cronograma da gravadora Columbia Records previa que o 18º álbum solo de estúdio de Bruce Springsteen, High hopes, começasse a ser vendido nos Estados Unidos somente a partir de 14 de janeiro de 2014, mas a oferta antecipada de faixas do disco em MP3 pela loja Amazon - não se sabe se intencional ou acidental - provocou o vazamento do CD em que o cantor e compositor norte-americano recicla repertório antigo na companhia dos músicos de sua E-Street Band e de Tom Morello, guitarrista da banda Rage Against the Machine. A venda digital de faixas avulsas de High hopes na Amazon teve início ontem, 28 de dezembro de 2013, e já foi interrompida - mas não a tempo de evitar o compartilhamento ilegal do álbum na internet.
Mesmo com moral, Vergueiro faz ronda insossa por sambas de Vanzolini
Resenha de CD
Título: Carlinhos Vergueiro interpreta Paulo poeta compositor cientista boêmio Vanzolini
Artista: Carlinhos Vergueiro
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * *
Título: Carlinhos Vergueiro interpreta Paulo poeta compositor cientista boêmio Vanzolini
Artista: Carlinhos Vergueiro
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * *
Carlinhos Vergueiro é homem com moral para fazer disco dedicado à obra do compositor paulistano Paulo Emílio Vanzolini (25 de abril de 1924 - 28 de abril de 2013). Essa moral vem tanto de sua origem também paulistana e do apego ao samba (ritmo predominante no cancioneiro de Paulo Vanzolini) como também - e sobretudo - da grande e real intimidade de Vergueiro com a obra de Vanzolini, de quem foi amigo, tendo dividido palcos e impressões sobre a música e a vida. Contudo, tal intimidade não impede que o CD Carlinhos Vergueiro interpreta Paulo poeta compositor cientista boêmio Vanzolini - tributo do cantor e compositor à memória do amigo zoólogo, morto aos 89 anos em abril deste ano de 2013 - soe insosso. A despeito de já contabilizar 40 anos de carreira fonográfica, iniciada em 1973 com a gravação de dois compactos pela extinta gravadora Chantecler, Vergueiro é intérprete apenas eventualmente expressivo. Neste seu 21º álbum, Vergueiro consegue um ou outro bom momento como cantor, em especial em Boca da noite - bissexta parceria de Toquinho com Vanzolini que foi lançada em festival de 1967 e que deu título ao LP lançado por Toquinho em 1974 - e Juízo final (Paulo Vanzolini, 1967), samba na primeira pessoa em que o compositor faz autoindulgente acerto de contas no último dia de sua vida. Entretanto, no todo, sua ronda pelos sambas de Vanzolini evidencia seus limites como intérprete. Samba popularizado em 1978 na voz da cantora mineira Clara Nunes (1942 - 1983), Mente - parceria de Vanzolini com seu conterrâneo Eduardo Gudin - ressurge em registro pouco luminoso, por exemplo, embora valorizado pelo arranjo de Italo Peron, diretor musical do disco produzido pelo próprio Carlinhos Vergueiro. Assim como a gravação de Volta por cima, samba lançado em 1962 pelo cantor paulista Noite Ilustrada (1928 - 2003) com sucesso que se estendeu pelo ano de 1963, o registro de Mente foi formatado com metais que transportam os dois sambas para um salão de gafieira. Já em José (Paulo Vanzolini, 1966) - samba triste que exemplifica a habilidade do compositor-cronista para perfilar personagens embrutecidas na selva da cidade de São Paulo (SP) - sobressaem o bandolim e o cavaquinho tocados por Henrique Araújo. José foi lançado em disco pela cantora paulista Inezita Barroso, também intérprete original do maior sucesso de Vanzolini, Ronda, samba-canção composto em 1945, mas gravado somente em 1953 (sem repercussão) por Inezita. Mesmo sem reeditar o apuro das melhores gravações do samba-canção (as feitas por Márcia e Maria Bethânia), Vergueiro acerta o tom melancólico de Ronda. Em contrapartida, sambas como Cara limpa e Mulher que não dá samba - ambos gravados em 1974 pelos cantores Carmen Costa (1920 - 2007) e Paulo Marquez no álbum que dedicaram à música de Vanzolini - passam batidos ao longo das 10 músicas reunidas por Vergueiro em repertório formado por nove sambas e uma bonita toada de poesia popular, a Toada de Luiz, exemplo da vertente interiorana da obra de Paulo Vanzolini, compositor que teve quase todo seu cancioneiro inventariado de forma definitiva na caixa de quatro CDs Acerto de contas, editada em 2002 pela mesma gravadora Biscoito Fino que ora põe no mercado esta ronda mais modesta de Vergueiro pelo repertório deste homem de moral no universo do samba paulistano.
sábado, 28 de dezembro de 2013
Retrô 2013: doze belos shows que marcaram a cena multifacetada do ano
Retrô 2013 - Multifacetada como o mercado fonográfico brasileiro, a cena musical de 2013 teve grandes shows ao longo. Notas Musicais lista a seguir doze shows que se destacaram no ano. Eis, por ordem de entrada em cena, os melhores shows de 2013 na avaliação de Notas Musicais dentro do restrito raio de visão do editor do blog, cuja base é o Rio de Janeiro (RJ):
* Tudo esclarecido - Zélia Duncan (em foto de Roberto Setton)
- Entre luzes e sombras, a artista reanimou e aquietou o espírito dessossegado de Itamar Assumpção (1949-2003), reabrindo em cena a janela pop da obra do compositor paulista
* Atento aos sinais - Ney Matogrosso (em foto de Mauro Ferreira)
- Com seus olhos de farol, o camaleão focou compositores da cena 'indie' em show quente
* Os Paralamas do Sucesso 30 anos - Os Paralamas do Sucesso (em foto de Patrick Magalhães)
- Com sua habitual pegada afiada, o grupo carioca revisou 30 anos de coerente carreira
* Wanderléa... Maravilhosa - Wanderléa (em foto de Patrick Magalhães)
- Vivaz, a cantora refez a mistura carnavalizante do álbum de 1972 em que virou o disco
* Piano e voz - Zizi Possi (em foto de Rodrigo Amaral)
- Em show de entressafra, sem novidade no roteiro, Zizi reiterou a precisão de seu canto
* Wrecking ball tour - Bruce Springsteen (em foto de Estácio / Marcus Vini)
- O operário do rock norte-americano demoliu o muro entre astro e plateia no Rock in Rio
* The bridge - Lenine e Martin Fondse Orchestra (em foto de Rodrigo Amaral)
- A ponte erguida entre Brasil e Holanda conduziu a música de Lenine a ponto sublime
* Caymmi 100 anos - Danilo Caymmi, Dori Caymmi e Nana Caymmi (em foto de Rodrigo Amaral)
- Os três irmãos se afinaram ao abrir a festa pelo centenário de nascimento do patriarca da família, Dorival Caymmi (1914 - 2008), com direito a raridades da obra do mestre
* La noche más larga - Buika (em foto de Cristina Granato)
- À flor da pele que habita recantos escuros, a cantora e compositora espanhola acendeu o fogo da plateia do festival Back 2 Black, evocando a Mãe África com o seu flamenco
* Embalar - Ná Ozzetti (em foto de Rodrigo Amaral)
- Com sua voz dadivosa, a cantora bisou em cena a maestria de seu novo CD de inéditas
* Somos todos Amarildo - Caetano Veloso e Marisa Monte (em foto de Rodrigo Amaral)
- Em encontro histórico, os artistas celebraram o Rio de Janeiro com consciência social
* De graça - Marcelo Jeneci (em foto de Rodrigo Amaral)
- O artista reproduziu em cena a atmosfera do belo disco em que roçou a perfeição pop
'Single' de Pharrell Williams, 'Happy' já está à venda no iTunes do Brasil
Música composta e gravada por Pharrell Williams para o CD da trilha sonora de Meu malvado favorito 2, filme que estreou no Brasil em julho, Happy virou single da trilha, colocado à venda no iTunes brasileiro neste mês de dezembro de 2013 pela gravadora Sony Music. Lançada como single nos Estados Unidos em 21 de novembro, Happy é um sacolejante funk-soul que reitera o talento do rapper e produtor norte-americano revelado no duo The Neptunes. Happy vai figurar no repertório do segundo álbum solo do artista, previsto para ser lançado em 2014.
Saulo sobe ladeira na gravação ao vivo que inaugura sua discografia solo
No comando autoral e vocal da Banda Eva em 2012, ano em que o coletivo baiano lançou seu disco mais ambicioso, o duplo CNRT (Conexão nagô - Rede tambor), Saulo Fernandes subiu ladeira e pairou acima da (baixa) média da produção atual dos compositores associados ao som rotulado de axé music. Saulo ao vivo mantém o cantor e compositor baiano no mesmo ponto de subida. Postos nas lojas com distribuição da gravadora Universal Music, o CD e DVD Saulo ao vivo traz a gravação do show feito pelo artista em 6 e 7 de abril de 2013 na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador (BA). Sob a direção artística de Elísio Lopes Júnior, Saulo dá voz a musicas autorais como Raiz de todo bem e Somos a Bahia, recebendo convidados como Alexandre Carlo (O mundo estava em guerra, mas aqui era Carnaval, tema de autoria de Carlo, vocalista da banda brasiliense de reggae Natiruts), Davi Moraes (voz e guitarra em Niuma, parceria de Saulo com Rudson Daniel e Adriano Gaiarsa) e Ivete Sangalo (voz em União, parceria de Saulo com Gigi). Saulo ao vivo totaliza 22 músicas em 18 números.
'Swings both ways' cresce quando Robbie Williams cai de fato no 'swing'
Resenha de CD
Título: Swings both ways
Artista: Robbie Williams
Gravadora: Island Records / Universal Music
Cotação: * * *
Título: Swings both ways
Artista: Robbie Williams
Gravadora: Island Records / Universal Music
Cotação: * * *
Há doze anos, Robbie Williams caiu bem no suingue da era do swing em seu quarto álbum solo, Swing when you're winning (2001). Ação repetida pelo cantor e compositor britânico em seu décimo álbum de estúdio, Swing both ways, talvez pelo fato de seu disco anterior, Take the crown (2012), ter sinalizado a exaustão da fórmula pop de Williams. Projeto de menor risco, Swing both ways resulta bom, ainda que não reedite todo o brilho do álbum de 2001. No atual disco, o astro inglês se cerca de convidados estelares (Kelly Clarkson, Lily Allen, Michael Bublé, Olly Murs e Rufus Wainwright) e se reencontra com o produtor Guy Chambers, com quem não fazia um álbum inteiro desde Escapology (2002). Além de pilotar o disco, Chambers é parceiro de Williams e do cantor e compositor norte-americano Rufus Wainwright na música-título Swing both ways, faixa na qual figura Rufus, artista de alma vintage. Com Chris Heath, Chambers e Williams também assinam músicas como Shine my shoes e Go gentle. Alocadas como as duas primeiras faixas do disco, ambas as músicas já explicitam o tom quente de parte do álbum, cuja temperatura é elevada por conta dos metais em brasa que turbinam as músicas que evocam a era do swing. Há também baladas que diminuem o pique do disco, mesmo com toda a ternura que há na abordagem de Little green apples (Bobby Russell), canção country de 1968, revivida pelo cantor em gracioso dueto com uma contida Kelly Clarkson em regravação que resulta mais satisfatória do que a de If I only had a brain (Harold Arlen e Edgar Yipsel Harburg), tema do filme musical O mágico do Oz (1939) que já ganhou registros mais sedutores. Mesmo ao lado de Lily Allen, Williams tampouco faz algo por Dream a little dream of me (Fabian Andre, Wilbur Schwandt e Gus Khan, 1931). Em contrapartida, a temperatura sobe no pique veloz de Soda pop (Robbie Williams, Kelvin Andrews, Scott Ralph, Rich Scott e Danny Spencer), música que marca o encontro do cantor inglês com seu colega canadense Michael Bublé, crooner que cai no suinge do swing com a habitual habilidade. No fim, No one likes a fat pop star (Chris Heath, Guy Chambers e Robbie Williams) fecha Swing both ways com acidez e em tom operístico, fora do conceito de um álbum que tem seus melhores momentos quando Robbie Williams se deixa realmente levar pelo ritmo contagiante do swing.
Livro '1973' historia discos essenciais que revitalizaram a MPB há 40 anos
Diversos discos fundamentais, que revitalizaram a MPB, vieram ao mundo fongráfico em 1973, ano dos primeiros álbuns de nomes como Fagner, Gonzaguinha (1945 - 1991), João Bosco, Luiz Melodia, Raul Seixas (1945 - 1989), Secos & Molhados, Sérgio Sampaio (1947 - 1994) e Simone. Todos esses álbuns - títulos de discoteca básica que completaram quatro décadas de vida neste ano de 2013 - são historiados e analisados no livro 1973 - O ano que reinventou a MPB. Organizado por Célio Albuquerque, o livro apresenta textos inéditos sobre cada disco, assinados por jornalistas e críticos musicais como Álvaro Costa e Silva, André Cananéa, Antonio Carlos Miguel, Ayrton Mugnaini Jr., Beto Feitosa, José Teles, Luiz Fernando Vianna, Marcelo Fróes, Pedro Só, Regina Zappa, Renato Vieira, Ricardo Schott, Silvio Essinger e Vagner Fernandes. Há também textos assinados por artistas como o compositor carioca Moacyr Luz e o músico, maestro e produtor musical pernambucano Rildo Hora. A seleção de discos inclui Araçá azul (Caetano Veloso), ...Das barrancas do Rio Gavião (Elomar), Canto por um novo dia (Beth Carvalho), Elis (Elis Regina), João Bosco (João Bosco), Krig-ha, bandolo! (Raul Seixas), Luiz Gonzaga do Nascimento Jr. (Gonzaguinha), Matita Perê (Tom Jobim), Nelson Cavaquinho (Nelson Cavaquinho), Nervos de aço (Paulinho da Viola), Novos Baianos F.C. (Novos Baianos), Orgulho de um sambista (Jair Rodrigues), Pérola negra (Luiz Melodia), Quem é quem (João Donato), Simone (Simone) e Todos os olhos (Tom Zé), entre outros. O lançamento de 1973 - O ano que reinventou a MPB - livro que vai ser posto no mercado pela Sonoras, editora especializada em publicações sobre música - ficou para 23 de janeiro de 2014.
sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
Retrô 2013 - Dez músicas que marcaram o ano e que sobreviverão a 2013
Retrô 2013 - Tendência irreversível dos últimos anos, o crescimento contínuo da audição e do consumo de música em formatos e plataformas digitais tem valorizado os singles em detrimento dos álbuns. Com seus lyric videos, vistos tanto nos celulares como no YouTube (portal audiovisual que desbancou a outrora poderosa MTV) e em canais similares, as músicas ganham vida cada vez mais independente dos discos para os quais foram gravadas. Sem falar que muitas são jogadas na rede sem vínculos com álbuns. Em qualquer plataforma, dez músicas lançadas ao longo de 2013 se tornaram irresistíveis. Eis cinco músicas brasileiras e cinco músicas estrangeiras que vão sobreviver ao ano que chega ao fim com hits memoráveis:
As cinco melhores músicas brasileiras de 2013 na avaliação do blog Notas Musicais:
* Irene (Rodrigo Amarante)
- Uma canção linda de doer que cita ao fim a homônima Irene (1969) de Caetano Veloso e que valoriza Cavalo, o primeiro (interiorizado) álbum solo do tristonho cantor e compositor carioca.
* Mandou bem (Gigi, Fábio O'Brian, Márcio Buzelin, Marco Túlio Lara, Paulinho Fonseca, PJ, Rogério Flausino, Jerry Barnes e Nile Rodgers)
- São tantos autores (nove!) que parece até samba-enredo, mas é o hit de Funky funky boom boom, CD do grupo mineiro Jota Quest (em foto de Ricardo Muniz). Um azeitado mix pop de funk, soul e disco music, feito com o toque chic da guitarra do norte-americano Nile Rodgers.
- São tantos autores (nove!) que parece até samba-enredo, mas é o hit de Funky funky boom boom, CD do grupo mineiro Jota Quest (em foto de Ricardo Muniz). Um azeitado mix pop de funk, soul e disco music, feito com o toque chic da guitarra do norte-americano Nile Rodgers.
* Onde estava você? (Guilherme Arantes)
- Se estivéssemos nos anos 1980, a canção de Guilherme Arantes ia tocar direto nas FMs. Mas quem sintonizou o álbum de inéditas lançado este ano pelo cantor e compositor, Condição humana (Sobre o tempo), sabe que o coração paulista voltou a bater com toda sua força pop.
* Temporal (Marcelo Jeneci e Isabel Lenza)
- A sustentável leveza pop de Marcelo Jeneci gerou uma das canções mais sedutoras do segundo álbum do cantor e compositor paulista, De graça. Joia pop do quilate de hit nacional.
- A chapa está quente, mas o rapper paulista é mano antenado, que justificou a fama, a esperteza e o hype com seu primeiro álbum, O retorno glorioso de quem nunca esteve aqui.
As cinco melhores músicas estrangeiras de 2013 na avaliação do blog Notas Musicais:
* Blurred lines (Robin Thicke e Pharrell Williams)
- Pode até ser que tenha sido plágio de temas de Marvin Gaye (1939 - 1984) e George Clinton, como alegam os detratores do cantor e compositor norte-americano, mas o electro-disco-funk que batizou o sexto disco de Robin Thicke (foto) é simplesmente irresistível. Uma obra-prima!
- O duo francês tirou a sorte grande ao compor e gravar, com o toque da guitarra chic de Nile Rodgers, este disco-funk que fez o universo pop se curvar ao seu quarto e mais orgânico álbum.
- Ao reciclar elementos de Chasing sheep is best left to shepherds (1984), tema criado pelo compositor britânico Michael Nyman com base em ária do também britânico Henry Purcell (1659 - 1695), o duo inglês gerou música eletrizante, grande destaque do disco, Electric, que reacendeu a chama synth-pop de Chris Lowe e Neil Tennant. Pet Shop Boys na melhor forma!!!
- A cantora norte-americana afiou as garras e mandou para o topo das paradas este petardo certeiro que iluminou Prism, seu quarto e melhor CD (no confronto com os fracos anteriores).
* Where are we now? (David Bowie)
- O universo pop se rendeu a essa bela balada de cunho reflexivo, cuja letra alude a vários points de Berlim, lançada de surpresa em janeiro pelo então sumido cantor e compositor inglês para anunciar a chegada, em março, de seu primeiro belo álbum em dez anos, The next day.
Coletânea 'Clássicos do charme' rebobina 15 sucessos do r & b dos EUA
Ritmo que designa no Brasil as músicas derivadas da matriz norte-americana do r & b, o charme reinou nos bailes blacks durante os anos 1990. Sucesso da cantora inglesa Lisa Stanfield em 1989, All around the world (Ian Owen Devaney, Andy Morris e Lisa Jane Stanfield) é um dos maiores sucessos do gênero. Por isso, All around the world é um dos 15 fonogramas selecionados pela gravadora Som Livre para figurar no repertório da coletânea Clássicos do charme vol. 1. Sucesso do trio norte-americano TLC em 1999, No scrubs (With RAP) (Kandi Burruss, Kevin Briggs, Tameka Cottle e Lisa Lopes) é outra gravação incluída na compilação. Um dos cantores mais bem-sucedidos no gênero r & b, o norte-americano R. Kelly aparece no CD com seu primeiro single, She's got that vibe, lançado em 1991. Mas o público brasileiro é capaz de lembrar mais de You gotta be (Des'ree Weekes e Ashley Ingram), sucesso da efêmera cantora e compositora britânica Des'ree em 1994. Clássicos do charme vol.1 já está nas lojas.
Compilação lembra o centenário de nascimento do cantor Cyro Monteiro
Pouco ou nada festejado ao longo deste ano de 2013, o centenário de nascimento do cantor e compositor carioca Cyro Monteiro (28 de maio de 2013 - 13 de julho de 1973) foi lembrado pelo selo curitibano Revivendo. Único produto fonográfico idealizado por conta da efeméride (dupla, já que em 2013 a morte do artista completou 40 anos), a coletânea Cyro Monteiro 100 anos reúne 22 gravações deste cantor que caía no samba com suingue e que esteve em evidência na segunda metade da década de 1930 e ao longo de todos os anos 1940. Eis os 22 fonogramas da compilação que chega ao mercado em tempo de celebrar os 100 anos de Cyro:
1. Se acaso você chegasse (Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins)
2. Chamei pelo teu nome – (Haroldo Lobo e Roberto Cunha)
3. Linda Yayá (Jardel Noronha e Célio Ferreira)
4. Ela bateu a Janela (Marino Pinto e Garcez)
5. Ela não teve paciência (Geraldo Pereira e Augusto Garcez)
6. Será possível? (Rubens Campos e Henricão)
7. Não vá atrás de ninguém (Ismael Silva)
8. Ela não compreende (Amaro Silva)
9. Tua beleza (Marques Porto e Waldemar Silva)
10. Tá maluca (Wilson Baptista e Germano Augusto)
11. Perdoa (Kid Pepe e J. Barcellos)
12. Se eu lhe perder (Djalma Esteves, Luiz Soberano e Afonso Teixeira)
13. Quem fica mal sou eu (Zé Pretinho e Mário Amorim)
14. Bonito papel, hein? – (Antônio Nássara e Dunga)
15. Quem gostar de mim (Dunga)
16. Toma o lenço e vai (Juracy de Araújo e Gomes Filho)
17. Acabou a sopa (Garcez e Geraldo Pereira)
18. Sopa de concha (Pedro Caetano e Alcyr Pires Vermelho)
19. Você quis saber da minha vida (Kid Pepe e Paulo Actis)
20. Vida apertada (Cyro de Souza)
21. Dinheiro não é semente (Felisberto Martins e Mutt)
22. A mulher que eu gosto (Wilson Baptista e Cyro de Souza)
Sam Alves vai lançar álbum pela Universal por vencer 2º The voice Brasil
Como prêmio pela vitória na segunda temporada do programa The Voice Brasil, encerrada na noite de 26 de dezembro de 2013, o cantor Sam Alves ganha - além de R$ 500 mil - um contrato com a gravadora Universal Music. O álbum de Sam Alves - cearense de 24 anos que já morou um tempo nos Estados Unidos - vai ser gravado e lançado em 2014. Sam Alves - em foto de Ellen Soares, da TV Globo - venceu a paraibana Lucy Alves, o fluminense Pedro Lima e o catarinense Rubens Daniel. A brasiliense Ellen Oléria foi a vitoriosa da primeira temporada.
2013 chega ao fim sem as prometidas reedições da obra de Clara Nunes
Anunciada originalmente para o segundo semestre de 2012 pela gravadora EMI Music, a reposição em catálogo de Clara - caixa de 2004 que reuniu reedições dos 16 álbuns da discografia da cantora mineira Clara Nunes (1942 - 1983) no formato dois em um - foi posteriormente prometida para o primeiro semestre de 2013. Mas o fato é que 2013 chega ao fim sem que Clara tenha sido reposta nas lojas. A reedição da caixa chegou a ser produzida pela EMI Music, com a correção das distorções da edição original de 2004, mas a compra da gravadora pela Universal Music (anunciada em 2012, mas concretizada em 2013) inviabilizou o lançamento por questões empresariais. Tampouco chegaram às lojas as também prometidas reedições avulsas dos álbuns mais emblemáticos da cantora - em foto de Wilton Montenegro - em embalagem digipack, com direito a faixas-bônus. De todo modo, o rico catálogo de Clara Nunes atualmente está em poder da Universal Music, a gravadora que mais tem mostrado zelo com as reedições de seu acervo, sem recorrer ao econômico e dispensável formato dois em um.
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
Cañas ainda oscila em 'Coração inevitável', o registro de seu show 'Volta'
Resenha de CD e DVD
Título: Coração inevitável
Artista: Ana Cañas
Gravadora: Guela Records / Som Livre
Cotação: * * 1/2
Título: Coração inevitável
Artista: Ana Cañas
Gravadora: Guela Records / Som Livre
Cotação: * * 1/2
Sob a direção e a luz de Ney Matogrosso, Ana Cañas exercitou certa teatralidade no show Volta, estreado em 2012 com base no terceiro álbum da cantora e compositora paulista, também intitulado Volta (Guela Records / Som Livre, 2012). Em cena, Cañas podou excessos autorais de seu repertório desigual e mostrou algum poder de sedução. Contudo, o registro ao vivo do show Volta - captado em apresentação feita em maio deste ano de 2013 no Teatro Geo, em São Paulo (SP) - revela que a discografia de Cañas ainda oscila. Coração inevitável é o título do registro ao vivo editado em CD e DVD com distribuição da gravadora Som Livre. O show visto no vídeo - dirigido com apuro por Vera Egito - tem roteiro levemente diferente do espetáculo apresentado por Cañas no Rio de Janeiro (RJ) em setembro de 2012 (clique aqui para ler a resenha). Aparece em Coração inevitável, por exemplo, abordagem de Codinome Beija-flor (Reinaldo Arias, Cazuza e Ezequiel Neves, 1985) que resulta insossa, sem nada acrescentar ao registro original do cantor e compositor carioca Cazuza (1958 - 1990). À safra autoral de Volta, Cañas adiciona no DVD o inédito blues-rock Traidor. Canção de leveza pop, composta pela artista em memória de seu pai (falecido em 2006), Te ver feliz - inserida como faixa-bônus no CD em gravação de estúdio - é outra novidade, mais agradável aos ouvidos e com cacife para se tornar hit se for inserida na trilha sonora de uma das próximas novelas da TV Globo. Ainda assim, tais inéditas não anulam a impressão persistente de Cañas ser melhor cantora do que compositora. A irregularidade de seu repertório autoral faz oscilar o poder de sedução de Coração inevitável. Acima dessa irregularidde, contudo, paira o virtuosismo vocal da intérprete, capaz de dar voz com segurança a um standard do porte de Stormy weather (Harold Arlen e Ted Koehler, 1933). Entre poemas de sua própria autoria (Amar, A minha vingança é sorrir e Louca, louca, louca), Cañas recebe o cantor e compositor paulista Nando Reis, com quem revive a graciosa canção Pra você guardei o amor - gravada por Cañas em dueto com o autor no oitavo álbum solo de Reis, Drês (2009) - e ao lado de quem apresenta a primeira parceria de ambos, Você bordado, canção de vibe pop roqueira. A entrada em cena de Nando Reis valoriza o show. Boa sacada do roteiro original de 2012, Mulher o suficiente (Alzira Espíndola e Vera Lúcia Motta, 1995) soa infelizmente déjà vu no CD e DVD pelo fato de outra gravação da música - feita pela cantora baiana Simone para seu recente CD É melhor ser (2013) e escolhida como primeiro single do álbum - ter alcançado certa repercussão nos últimos meses. Seja como for, Coração inevitável sinaliza que Ana Cañas ainda precisa ajustar o foco de seu repertório. O mercado fonográfico está cada vez mais segmentado e o fato é que - após três discos de estúdio e um registro de show - a identidade da cantora ainda não está bem delineada, o que pode dificultar a adesão do público ao seu canto multifacetado.
Música 'Escancarado' reabre a parceria de Zélia Duncan com Zeca Baleiro
No embalo dos ensaios do show inédito que vão fazer juntos, em Salvador (BA), em janeiro de 2014, Zélia Duncan e Zeca Baleiro - em fotos de Gal Oppido - fizeram uma segunda música em parceria. Escancarado é a música que reabre a parceria dos compositores, iniciada com Se um dia me quiseres, canção lançada por Zélia no romântico álbum Pelo sabor do gesto (2009).
'O pato' faz quén quén em 'Gilbertos samba', disco em que Gil canta João
Uma das músicas mais identificadas com a voz do cantor baiano João Gilberto, O pato (Jayme Silva e Neuza Teixeira) - composição lançada por João em seu segundo álbum, O amor, o sorriso e a flor (Odeon, 1960) - ganhou registro do cantor e compositor baiano Gilberto Gil. O pato volta a fazer quén quén em Gilbertos samba, disco em que Gil aborda o repertório de João Gilberto sob a produção musical de Bem Gil e Moreno Veloso. O pato integra repertório que inclui o samba-canção Aos pés da cruz (Marino Pinto e Zé da Zilda, 1942) e os sambas Eu sambo mesmo (Janet de Almeida, 1946) e Eu vim da Bahia (Gilberto Gil, 1965). Gilbertos samba já vai ser lançado no primeiro semestre de 2014, entre março e abril, pela Sony Music.
Filha de Vital Farias, Giovanna reedita 'Uyraplural', disco lançado em 2002
♪ Filha de Vital Farias, compositor paraibano que completou 70 anos em 2013, Giovanna Farias reedita seu primeiro álbum, Uyraplural, pela gravadora Kuarup. Embora a gravadora apresente o CD como lançamento, Uyraplural foi editado originalmente em 2002 de forma totalmente independente pelo selo Discos Vital Farias. O compositor de Sete cantigas para voar (1982) e Veja (Margarida) (1975) - músicas popularizadas na voz da cantora paraibana Elba Ramalho e regravadas por Giovanna - é o diretor musical, o produtor e o arranjador do disco. Originalmente um álbum duplo, com 21 músicas, Uyraplural volta ao mercado fonográfico de forma de CD simples com apenas 12 músicas. Vital - autor de 15 das 21 músicas do repertório original de Uyraplural - ainda é o compositor predominante na reedição do disco, que inclui duas faixas captadas ao vivo no Rio de Janeiro (RJ), em junho de 2000, na participação feita pela cantora na apresentação do show Cantoria na casa carioca então denominada ATL Hall. As músicas gravadas ao vivo são Caso você case (Vital Farias, 1976) - canção propagada na trilha sonora da novela Saramandaia (TV Globo, 1976) na voz de Marília Barbosa - e a então inédita Cantiga de passarinho (Vital Farias). O repertório inclui duas músicas do compositor paraense Waldemar Henrique (1905-1995), revivido com Tamba-tajá (1934) e Uirapuru (1934).
Surica vai exaltar o 'poderio' dos bambas da Portela em gravação ao vivo
Dez anos após lançar seu primeiro CD, Surica (Fina Flor / Rob Digital, 2003), a cantora carioca Iranette Ferreira Barcellos - conhecida no meio do samba como Tia Surica - vai gravar seu primeiro DVD, aos 73 anos. A gravação ao vivo vai acontecer no próximo domingo, 29 de dezembro de 2013, no Rio de Janeiro (RJ), em show na quadra da Portela, tradicional escola de samba do Carnaval carioca, da qual Tia Surica é uma das pastoras. Integrante da Velha Guarda da Portela desde 1980, Surica vai dar voz a sambas de compositores da agremiação no CD e DVD intitulados Poderio de Oswaldo Cruz. Oswaldo Cruz é o bairro do subúrbio carioca aonde está localizada, de fato, a Portela - embora nas letras de vários sambas a escola seja situada no vizinho bairro de Madureira. Túlio Feliciano assina a direção do show, que vai ter participações de Diogo Nogueira, Mariene de Castro e da Velha Guarda da Portela. A direção musical é de Paulão Sete Cordas. Estão previstos no roteiro sambas de compositores como Aniceto da Portela (1912 - 1982), Argemiro Patrocínio (1923 - 2003), Alcides Dias Lopes (Alcides Malandro Histórico) (1909 - 1987), Chico Santana (1911 - 1988), Manacéa (1921 - 1995) e Monarco, entre outros bambas portelenses. O ingresso do show é lata de leite em pó.
quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
Sai de cena Yusef Lateef, o músico que uniu a 'música do mundo' ao jazz
William Emanuel Huddleston (20 de outubro de 1920 - 23 de dezembro de 2013) - jazzista norte-americano que adotou o nome de Yusef Abdul Lateef quando se converteu ao islamismo nos anos 1950 e que ficou conhecido no mundo da música como Yusef Lateef - entrou para a história por ter linkado o jazz com o gênero musical genericamente rotulado de world music. Lateef - que saiu de cena nos Estados Unidos, aos 93 anos, provavelmente em decorrência de complicações originadas de câncer de próstata - tocava instrumentos de sopro. Dominava o saxofone, a flauta, o fagote e o oboé. Foi no toque desses instrumentos que Lateef - jazzista formado na escola do Bebop, tendo tocado com gigantes como o trompetista norte-americano Dizzy Gillespie (1917 - 1993) - soprou no jazz os ritmos de diversos países, fazendo som por vezes também rotulado de new age. Sua discografia - especialmente relevante da década de 50 aos anos 1970 - é vasta, incluindo álbuns gravados pelos selos Savoy (de 1957 a 1959), Impulse! (de 1963 a 1966) e Atlantic Records (de 1967 a 1991). O hábil jazzista nasceu em Chattanooga, no Tennessee (EUA), e saiu de cena em Shutesbury, Massachusetts (EUA), em 23 de dezembro de 2013, encerrando caminhada pavimentada pelo pioneirismo no curso do jazz.