Resenha de show
Título: Amizade
Artista: Boca Livre (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Rival (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 18 de janeiro de 2014
Cotação: * * * * 1/2
Parafraseando os versos melancólicos de Diana (Toninho Horta e Fernando Brant, 1979), o Boca Livre reinventa segredos novos e antigos no show Amizade, velha farra para admiradores desse grupo vocal que está na estrada desde 1978. Diana foi a música cantada pelo quarteto carioca no bis da apresentação de Amizade que lotou o Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ), na noite de 18 de janeiro de 2014. Na melhor das formas, vigor já atestado pelo recente álbum Amizade (MP,B Discos, 2013), David Tygel, Lourenço Baeta, Maurício Maestro e Zé Renato deram show de musicalidade e harmonia vocal, coadjuvados pelo pianista João Carlos Coutinho e pelo baterista Rafael Barata. A rigor, não havia segredos a serem desvendados pelo público, que parecia conhecer toda a trajetória do grupo. Tanto que, ao encerrar o show, introduzida em cena por solo vocal de Zé Renato, Ponta de areia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1974) amarrou mais uma vez toda a história desse quarteto, cujas vozes conservam o mesmo frescor do álbum de estréia. Disco que continha Diana e Ponta de areia e que foi marco do mercado fonográfico brasileiro independente ao ser lançado em 1979 com vendas expressivas, alavancadas em 1980 pela inclusão das músicas-hits Toada (Na direção do dia) (Zé Renato, Claudio Nucci e Juca Filho, 1979) e Quem tem a viola (Cecília) (Zé Renato, Claudio Nucci, Juca Filho e Xico Chaves, 1979) em trilhas sonoras de novelas da TV Globo. No disco Amizade, o Boca Livre reforçou seu d.n.a. vocal ao mesmo tempo em que se abriu para sons mais contemporâneos (como o toque da guitarra de JR Tostoi) e para a produção mais recente de compositores como o paulista Chico Pinheiro, parceiro do paraibano Chico César em Tempestade, que caiu logo no início do show, após a inventiva abordagem de Oriente (Gilberto Gil, 1972). Somada à harmoniosa combinação das quatro vozes do grupo, a exuberância dos arranjos resultou em show primoroso. Mesmo sem contar em cena com o time de músicos virtuosos reunidos no CD, o Boca Livre roçou no show a perfeição do disco. Se a onírica Terra do nunca (Edu Lobo e Paulo César Pinheiro, 2013) perdeu um pouquinho do seu encanto, talvez pela ausência dos cellos de Yuri Ranevsky, Rio Amazonas (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, 1991) desaguou em cena com a mesma força do disco, com a flauta de Lourenço Baeta soprando sons da floresta e dos índios na épica introdução. Música que batizou o terceiro álbum do grupo, Folia (Lourenço Baeta e Xico Chaves, 1981) teve o toque da sanfona do pianista João Carlos Coutinho, hábil em todos os teclados. O belo desenho de luz do show delineia tanto os solos vocais - como o feito por Maurício Maestro no início da balada Mistérios (Joyce Moreno e Maurício Maestro, 1978) - quanto os uníssonos do quarteto em temas como Bicicleta (Zé Renato, 1980), música-título do segundo álbum do Boca Livre que prescinde de palavras. E assim o grupo seguiu sua toada em cena, imerso no refinado universo de uma MPB em que leves canções bucólicas se harmonizam com temas mais pesados e embebidos na mineirice atemporal dos compositores do Clube da Esquina, aos quais o Boca Livre sempre deu abrigo em sua discografia. Parafraseando os versos atentos de Cruzada (Márcio Borges e Tavinho Moura, 1978), David Tygel, Lourenço Baeta, Maurício Maestro e Zé Renato sabem do perigo (comercial) que os rodeia por seguir caminhos melódicos e harmônicos pouco ou nada valorizados na cena contemporânea. Mas o abrigo do abraço amigo de seu público, cúmplice das velhas farras, parece acalentar e incendiar em cena a alma desse valoroso quarteto vocal.
Parafraseando os versos melancólicos de Diana (Toninho Horta e Fernando Brant, 1979), o Boca Livre reinventa segredos novos e antigos no show Amizade, velha farra para admiradores desse grupo vocal que está na estrada desde 1978. Diana foi a música cantada pelo quarteto carioca no bis da apresentação de Amizade que lotou o Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ), na noite de 18 de janeiro de 2014. Na melhor das formas, vigor já atestado pelo recente álbum Amizade (MP,B Discos, 2013), David Tygel, Lourenço Baeta, Maurício Maestro e Zé Renato deram show de musicalidade e harmonia vocal, coadjuvados pelo pianista João Carlos Coutinho e pelo baterista Rafael Barata. A rigor, não havia segredos a serem desvendados pelo público, que parecia conhecer toda a trajetória do grupo. Tanto que, ao encerrar o show, introduzida em cena por solo vocal de Zé Renato, Ponta de areia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1974) amarrou mais uma vez toda a história desse quarteto, cujas vozes conservam o mesmo frescor do álbum de estréia. Disco que continha Diana e Ponta de areia e que foi marco do mercado fonográfico brasileiro independente ao ser lançado em 1979 com vendas expressivas, alavancadas em 1980 pela inclusão das músicas-hits Toada (Na direção do dia) (Zé Renato, Claudio Nucci e Juca Filho, 1979) e Quem tem a viola (Cecília) (Zé Renato, Claudio Nucci, Juca Filho e Xico Chaves, 1979) em trilhas sonoras de novelas da TV Globo. No disco Amizade, o Boca Livre reforçou seu d.n.a. vocal ao mesmo tempo em que se abriu para sons mais contemporâneos (como o toque da guitarra de JR Tostoi) e para a produção mais recente de compositores como o paulista Chico Pinheiro, parceiro do paraibano Chico César em Tempestade, que caiu logo no início do show, após a inventiva abordagem de Oriente (Gilberto Gil, 1972). Somada à harmoniosa combinação das quatro vozes do grupo, a exuberância dos arranjos resultou em show primoroso. Mesmo sem contar em cena com o time de músicos virtuosos reunidos no CD, o Boca Livre roçou no show a perfeição do disco. Se a onírica Terra do nunca (Edu Lobo e Paulo César Pinheiro, 2013) perdeu um pouquinho do seu encanto, talvez pela ausência dos cellos de Yuri Ranevsky, Rio Amazonas (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, 1991) desaguou em cena com a mesma força do disco, com a flauta de Lourenço Baeta soprando sons da floresta e dos índios na épica introdução. Música que batizou o terceiro álbum do grupo, Folia (Lourenço Baeta e Xico Chaves, 1981) teve o toque da sanfona do pianista João Carlos Coutinho, hábil em todos os teclados. O belo desenho de luz do show delineia tanto os solos vocais - como o feito por Maurício Maestro no início da balada Mistérios (Joyce Moreno e Maurício Maestro, 1978) - quanto os uníssonos do quarteto em temas como Bicicleta (Zé Renato, 1980), música-título do segundo álbum do Boca Livre que prescinde de palavras. E assim o grupo seguiu sua toada em cena, imerso no refinado universo de uma MPB em que leves canções bucólicas se harmonizam com temas mais pesados e embebidos na mineirice atemporal dos compositores do Clube da Esquina, aos quais o Boca Livre sempre deu abrigo em sua discografia. Parafraseando os versos atentos de Cruzada (Márcio Borges e Tavinho Moura, 1978), David Tygel, Lourenço Baeta, Maurício Maestro e Zé Renato sabem do perigo (comercial) que os rodeia por seguir caminhos melódicos e harmônicos pouco ou nada valorizados na cena contemporânea. Mas o abrigo do abraço amigo de seu público, cúmplice das velhas farras, parece acalentar e incendiar em cena a alma desse valoroso quarteto vocal.
ResponderExcluirEmanuel Andrade
ResponderExcluirMauro, vc sabe de esse show terá temporada ou foi só um dia?
Estou ouvindo,legal.
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