Título: Sambas de enredo - Carnaval de 2014 Série A
Artista: vários
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * *
Até os melhores sambas de enredo da safra 2014 da Série A do Carnaval do Rio de Janeiro sucumbem ao confronto com os três clássicos do gênero reeditados pelas escolas Em Cima da Hora, Paraíso do Tuiuti e Tradição. Permitida pela Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Lierj), associação que organiza o Grupo de Acesso na folia carioca, a reedição de sambas antigos possibilitou, por exemplo, a decisão da Em Cima da Hora de repor na avenida um dos melhores sambas de enredo de todos os tempos, Os sertões (Edeor de Paula), obra-prima lançada pela própria Em Cima da Hora no Carnaval de 1976. Da safra desse mesmo ano de 1976, a Tradição revive Sonhar com rei dá leão, belo (mas datado) samba de Neguinho da Beija-Flor (regravado com a participação do cantor e compositor) que representou ponto de virada na trajetória da Beija-Flor de Nilópolis. Já a Paraíso do Tuiuti vai reviver na avenida Marquês de Sapucaí um samba de enredo que - tal como Os sertões - figura em qualquer antologia do gênero. Trata-se de Kizomba, festa da raça (Jonas, Luiz Carlos da Vila e Rodolpho), samba que ajudou a Unidos de Vila Isabel a conquistar seu primeiro campeonato em 1988. E o fato é que, ouvidos no CD recém-lançado pela gravadora Som Livre com os 17 sambas das escolas da Série A, os três antigos sambas de enredo evidenciam a decadência do gênero. Há bons sambas inéditos entre os 17 ouvidos no disco? Sim, há. Mas nenhum com cacife para atravessar outros Carnavais na memória afetiva do folião. Feita tal ressalva, vale mencionar que, mesmo com enredo confuso que faz (patrocinada) homenagem à cidade de Angra dos Reis com alusão aos três Reis Magos, o Império Serrano apresenta bom samba, Angra com os Reis (Paulinho Valença, Henrique Hoffmann, Popeye, Victor Alves, Filipe Araújo, Tião Pinheiro, J. Centeno e Beto do Império). Com enredo africano de caráter tradicional, a Unidos de Jacarepaguá faz ainda mais bonito com samba, Os Yorubás – A história do povo Nagô (Allexandre Valle, Dona Ivanísia, Neyzinho do Cavaco, Mariano Araújo, James Bernardes e Girão), em que melodia e letra se afinam com perfeição. Na mesma linha afro, a Acadêmicos do Cubango apresenta samba, Continente Negro – Uma epopeia africana (Sardinha, Diego Moura, Wagner Medeiros, Deigre Silva, Junior Fionda, Igor Leal e Lequinho), que se impõe fácil entre os melhores títulos da Série A. Em tom mais contemporâneo, mas igualmente belo, é o samba Sacopenapã (Edvander, Gabriel Fraga, Márcio André Filho, Adelson, Virgínia e Telmo Augusto), com o qual a escola Alegria da Zona Sul reverencia o bairro de Copacabana. No mais, nada soa realmente memorável na safra 2014 do Grupo de Acesso, embora o refrão embriagante de Na garrafa ou no barril, salve a cachaça! Patrimônio cultural do Brasil (Washington, Junior Bebezão, Thiago Silveira, Fael Cachinho, Vagner Silva, Bola, Pitimbu, Dudu, Zé Luís e Cláudio Russo) possa fazer crescer na avenida o samba da União do Parque Curicica. Mesmo assim, a audição do disco de sambas de enredo da Série A reitera a sensação de que, nos últimos tempos, há mais inspiração nas alas de compositores das escolas do Grupo de Acesso do que no disputado time que cria os sambas do sempre ambicionado Grupo Especial.
4 comentários:
Até os melhores sambas de enredo da safra 2014 da Série A do Carnaval do Rio de Janeiro sucumbem ao confronto com os três clássicos do gênero reeditados pelas escolas Em Cima da Hora, Paraíso do Tuiuti e Tradição. Permitida pela Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Lierj), associação que organiza o Grupo de Acesso na folia carioca, a reedição de sambas antigos possibilitou, por exemplo, a decisão da Em Cima da Hora de repor na avenida um dos melhores sambas de enredo de todos os tempos, Os sertões (Edeor de Paula), obra-prima lançada pela própria Em Cima da Hora no Carnaval de 1976. Da safra desse mesmo ano de 1976, a Tradição revive Sonhar com rei dá leão, belo (mas datado) samba de Neguinho da Beija-Flor (regravado com a participação do cantor e compositor) que representou ponto de virada na trajetória da Beija-Flor de Nilópolis. Já a Paraíso do Tuiuti vai reviver na avenida Marquês de Sapucaí um samba de enredo que - tal como Os sertões - figura em qualquer antologia do gênero. Trata-se de Kizomba, festa da raça (Jonas, Luiz Carlos da Vila e Rodolpho), samba que ajudou a Unidos de Vila Isabel a conquistar seu primeiro campeonato em 1988. E o fato é que, ouvidos no CD recém-lançado pela gravadora Som Livre com os 17 sambas das escolas da Série A, os três antigos sambas de enredo evidenciam a decadência do gênero. Há bons sambas inéditos entre os 17 ouvidos no disco? Sim, há. Mas nenhum com cacife para atravessar outros Carnavais na memória afetiva do folião. Feita tal ressalva, vale mencionar que, mesmo com enredo confuso que faz (patrocinada) homenagem à cidade de Angra dos Reis com alusão aos três Reis Magos, o Império Serrano apresenta bom samba, Angra com os Reis (Paulinho Valença, Henrique Hoffmann, Popeye, Victor Alves, Filipe Araújo, Tião Pinheiro, J. Centeno e Beto do Império). Com enredo africano de caráter tradicional, a Unidos de Jacarepaguá faz ainda mais bonito com samba, Os Yorubás – A história do povo Nagô (Allexandre Valle, Dona Ivanísia, Neyzinho do Cavaco, Mariano Araújo, James Bernardes e Girão), em que melodia e letra se afinam com perfeição. Na mesma linha afro, a Acadêmicos do Cubango apresenta samba, Continente Negro – Uma epopeia africana (Sardinha, Diego Moura, Wagner Medeiros, Deigre Silva, Junior Fionda, Igor Leal e Lequinho), que se impõe fácil entre os melhores títulos da Série A. Em tom mais contemporâneo, mas igualmente belo, é o samba Sacopenapã (Edvander, Gabriel Fraga, Márcio André Filho, Adelson, Virgínia e Telmo Augusto), com o qual a escola Alegria da Zona Sul reverencia o bairro de Copacabana. No mais, nada soa realmente memorável na safra 2014 do Grupo de Acesso, embora o refrão embriagante de Na garrafa ou no barril, salve a cachaça! Patrimônio cultural do Brasil (Washington, Junior Bebezão, Thiago Silveira, Fael Cachinho, Vagner Silva, Bola, Pitimbu, Dudu, Zé Luís e Cláudio Russo) possa fazer crescer na avenida o samba da União do Parque Curicica. Mesmo assim, a audição do disco de sambas de enredo da Série A reitera a sensação de que, nos últimos tempos, há mais inspiração nas alas de compositores das escolas do Grupo de Acesso do que no disputado time que cria os sambas do sempre ambicionado Grupo Especial.
Parabéns pelo espaço que deu no seu blog para essas escolas que carecem de uma maior divulgação, Mauro! O cd é MUITO BOM, bem melhor do que o do Especial e você soube perfeitamente destacar os três melhores inéditos da safra.
Realmente os sambas da União de Jacarepaguá, do Império Serrano e da Acadêmicos do Cubango são os meslhores. Acrescentaria nessa sua lista também os sambas da Inocentes de Belford Roxo ("Maria mineira, hoje os tambores anunciam tão belas notas....") e o da Estácio de Sá ("firma a gira no batuque babalorixá, encorpora a negritude no terreiro de alabá..."). Ambos lindos também.
Abraços e valeu muito pela crítica e pelo espaço.
Marcelo Barbosa - Brasília (DF)
Parabéns pelo espaço que deu no seu blog para essas escolas que carecem de uma maior divulgação, Mauro! O cd é MUITO BOM, bem melhor do que o do Especial e você soube perfeitamente destacar os três melhores inéditos da safra.
Realmente os sambas da União de Jacarepaguá, do Império Serrano e da Acadêmicos do Cubango são os meslhores. Acrescentaria nessa sua lista também os sambas da Inocentes de Belford Roxo ("Maria mineira, hoje os tambores anunciam tão belas notas....") e o da Estácio de Sá ("firma a gira no batuque babalorixá, encorpora a negritude no terreiro de alabá..."). Ambos lindos também.
Abraços e valeu muito pela crítica e pelo espaço.
Marcelo Barbosa - Brasília (DF)
A cachaça é patrimônio nacioanal? e é mesmo,mas que horror.
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