Mauro Ferreira no G1

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domingo, 5 de janeiro de 2014

Cantor popular de voz grande e tom triste, Nelson Ned sai de cena aos 66

Nelson Ned d'Ávila Pinto (Ubá, 2 de março de 1947 - São Paulo, 5 de janeiro de 2014) - o cantor e compositor mineiro conhecido apenas como Nelson Ned no Brasil e em vários outros países da América Latina - ostentava uma voz volumosa, usada por Ned a plenos pulmões para interpretar canções e boleros de tons grandiloquentes e letras tristes. O que torna tristemente irônico o fato de complicações derivadas de pneumonia terem provocado a saída de cena do artista na manhã deste domingo, 5 de janeiro de 2014, aos 66 anos, em hospital de São Paulo (SP). Único artista brasileiro do gênero rotulado como brega que obteve grande e contínua popularidade fora do Brasil, tendo chegado a se apresentar no palco do Carnegie Hall com casa lotada e plateia arrebatada, Ned se orgulha de seus feitos no universo da canção sentimental popular. A julgar pelo título da biografia que lançou em 1996, O pequeno gigante da canção, esse orgulho era tão grande quanto sua voz. O título aludia ao fato de Ned medir 1,12 metro. Sua baixa estatura fez de Ned o único anão a elevar a voz com tamanho sucesso no mercado fonográfico brasileiro e nos países de língua hispânica. Nascido em Ubá, terra mineira que também legou ao Brasil o compositor Ary Barroso (1903 - 1964), Nelson Ned iniciou sua carreira nos anos 1960, década em que emplacou seu maior sucesso, Tudo passará, música de autoria do artista, lançada em 1969. Assim como outros cantores do gênero tido como cafona, Ned teve sua produção minimizada pelos críticos musicais atuantes no período de seu auge artístico. Contudo, assim como outros cantores do gênero, Ned também sempre explicitou desprezo pelos críticos. "O artista popular da minha linha, da linha de um Agnaldo Timóteo, não tem que se preocupar com a imprensa. Quem tem que se preocupar com a imprensa é Djavan, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Chico Buarque, porque eles vivem de imprensa. Nós, não. Nós somos cantores de AM, somos cantores de rádio, somos homens do povo", disse Ned certa vez em entrevista, em depoimento reproduzido pelo escritor Paulo César de Araújo em seu definitivo livro Eu não sou cachorro, não (2002), tratado sobre a música popular dita cafona. Embora tal depoimento deixasse entrever certa mágoa e desdém com a crítica musical, a fala do artista enfatizou a conexão de Ned com o homem do povo, triste e frustrado (afetivamente) como o cantor parecia se sentir quando dava voz a músicas como A cigana (1970). Em seu período de maior visibilidade, os anos 1960 e 1970, Ned vivenciou o sucesso não somente como cantor, mas também como compositor. Sua música Se eu pudesse conversar com Deus, de 1969, foi lançada com êxito na voz do cantor paulista Antonio Marcos (1945 - 1992), intérprete de repertório triste como o de Ned. Como cantor, o artista lançou seu primeiro álbum, Um show de noventa centímetros, em 1964, via Polydor, selo popular da gravadora Philips. Mas foi na companhia carioca Copacabana que o artista consolidou sua carreira a partir de 1969 com LPs como Tudo passará (1969), Eu também sou sentimental e Nelson Ned, estes dois últimos lançados em 1970. A partir de 1993, Ned aderiu à música evangélica, lançando vários discos no segmento até que um AVC sofrido em 2003 limitou a atuação artística do cantor. Ao contrário do que apregoa no título a canção mais conhecida do repertório do artista, Tudo passará, a música de artistas populares como Nelson Ned ficam entranhadas na memória afetiva do povo para o qual ele cantou com forte sentimento popular.

8 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Nelson Ned d'Ávila Pinto (Ubá, 2 de março de 1947 - São Paulo, 5 de janeiro de 2014) - o cantor e compositor mineiro conhecido apenas como Nelson Ned no Brasil e em vários outros países da América Latina - tinha voz volumosa, usada por Ned a plenos pulmões para interpretar canções e boleros de tons grandiloquentes e letras tristes. O que torna tristemente irônico o fato de complicações derivadas de pneumonia terem provocado a saída de cena do artista na manhã deste domingo, 5 de janeiro de 2014, aos 66 anos, em hospital de São Paulo (SP). Único artista brasileiro do gênero rotulado como brega que obteve grande e contínua popularidade fora do Brasil, tendo chegado a se apresentar no palco do Carnegie Hall com casa lotada e plateia arrebatada, Ned se orgulha de seus feitos no universo da canção sentimental popular. A julgar pelo título da biografia que lançou em 1996, O pequeno gigante da canção, esse orgulho era tão grande quanto sua voz. O título aludia ao fato de Ned medir 1,12 metro. Sua baixa estatura fez de Ned o único anão a elevar a voz com tamanho sucesso no mercado fonográfico brasileiro e nos países de língua hispânica. Nascido em Ubá, terra mineira que também legou ao Brasil o compositor Ary Barroso (1903 - 1964), Nelson Ned iniciou sua carreira nos anos 1960, década em que emplacou seu maior sucesso, Tudo passará, música de autoria do artista, lançada em 1969. Assim como outros cantores do gênero tido como cafona, Ned teve sua produção minimizada pelos críticos musicais atuantes no período de seu auge artístico. Contudo, assim como outros cantores do gênero, Ned também sempre explicitou desprezo pelos críticos. "O artista popular da minha linha, da linha de um Agnaldo Timóteo, não tem que se preocupar com a imprensa. Quem tem que se preocupar com a imprensa é Djavan, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Chico Buarque, porque eles vivem de imprensa. Nós, não. Nós somos cantores de AM, somos cantores de rádio, somos homens do povo", disse Ned certa vez em entrevista, em depoimento reproduzido pelo escritor Paulo César de Araújo em seu definitivo livro Eu não sou cachorro, não (2002), tratado sobre a música popular dita cafona. Embora tal depoimento deixasse entrever certa mágoa e desdém com a crítica musical, a fala do artista enfatizou a conexão de Ned com o homem do povo, triste e frustrado (afetivamente) como o cantor parecia se sentir quando dava voz a músicas como A cigana (1970). Em seu período de maior visibilidade, os anos 1960 e 1970, Ned vivenciou o sucesso não somente como cantor, mas também como compositor. Sua música Se eu pudesse conversar com Deus, de 1969, foi lançada com êxito na voz do cantor paulista Antonio Marcos (1945 - 1992), intérprete de repertório triste como o de Ned. Como cantor, o artista lançou seu primeiro álbum, Um show de noventa centímetros, em 1964, via Polydor, selo popular da gravadora Philips. Mas foi na companhia carioca Copacabana que o artista consolidou sua carreira a partir de 1969 com LPs como Tudo passará (1969), Eu também sou sentimental e Nelson Ned, estes dois últimos lançados em 1970. Nos anos 1990, Ned aderiu à música evangélica, lançando vários discos no segmento até que um AVC sofrido em 2003 limitou a atuação artística do cantor. Ao contrário do que apregoa no título a canção mais conhecida do repertório do artista, Tudo passará, a música de artistas populares como Nelson Ned ficam entranhadas na memória afetiva do povo para o qual ele cantou com forte sentimento popular.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Nelson Ned teve a chance de interpretar uma das mais doloridas canções de Tom Jobim, "Demais", e que tinha tudo a ver com a vida louca que Ned levava na juventude.

http://youtu.be/ocpG2R5ntQg

ADEMAR AMANCIO disse...

Eu ia fazer um comentário,mas prefiro não iniciar outro debate sobre preconceito cultural.

SOUNDTRACK BRASIL disse...

justa homenagem, parabéns pelo texto

Rafael disse...

Por mais que ele fosse um cantor denominado "brega", era inevitável o seu talento e vozeirão. Foi publicada uma entrevista no mês passado no jornal "O Tempo", de que ele estava praticamente cego e com problemas de saúde. É triste envelhecer nessa situação. Que descanse em paz.

Rafael disse...

Por mais que ele fosse um cantor denominado "brega", era inevitável o seu talento e vozeirão. Foi publicada uma entrevista no mês passado no jornal "O Tempo", de que ele estava praticamente cego e com problemas de saúde. É triste envelhecer nessa situação. Que descanse em paz.

Portugal Gay Romeu disse...

Vocês brasileiros desprezaram o cantor Nelson Ned durante anos...foi obrigado a ir para o exterior onde foi Rei!!! Quanto a musica brega que vocês falam tanto sobre o Nelson Ned, ele tem uma boa frase sobre isso.