Resenha de CD
Título: As melhores marchinhas do Carnaval 2014
Artista: vários
Gravadora: Bolacha Discos
Cotação: * * *
O gigante pode ter pegado no sono novamente, mas seu breve despertar em junho de 2013 contagiou os compositores de marchinhas na disputa pela vitória na 9ª edição do Concurso nacional de marchinhas carnavalescas, promovido anualmente pela Fundição Progresso, no Rio de Janeiro (RJ), em ação do agitador cultural Perfeito Fortuna. Reunidas no CD As melhores marchinhas do Carnaval 2014 (lançado com baile de confete e serpentina programado pela Fundição para esta quinta-feira, 16 de janeiro), as dez finalistas mostram que os compositores brincam o Carnaval com temas normalmente tratados com seriedade como a homofobia, a violência e a legalização da maconha. Mas há quem exalte tão somente a própria brincadeira, o Carnaval em si. Os cariocas Edu Krieger e Pedro Hollanda seguem esse bloco lírico com suas melodiosas marchas Colorindo a praça (com clima de frevo-canção) e É hoje, respectivamente. Com ou sem temas politizados, todos entram no clima da folia. Pseudônimo do músico e produtor Henrique Cazes, Jota Canalha - também do Rio de Janeiro (RJ) - segue a animada Marcha da maconha, defendendo a droga com versos como "Com três tapinhas, nós fazemos um Carnaval / Não tem Lei Seca que segure o pessoal". Já o compositor fluminense Sergio Mouzinho, de Niterói (RJ), tenta fazer graça com Baba do quiabo enquanto o também fluminense Felipe Guanará, de Parati (RJ), esboça um duplo sentido em Lenço de cetim que não chega a animar o baile. No terreno do duplo sentido, ao qual os compositores de músicas de Carnaval recorrem desde que o samba é samba, o destaque é Aplicando na poupança - marcha composta e cantada pelo paulista Rafael Júnior - com versos malandros como "Abre a poupança, meu amor / Que eu vou fazer a aplicação / Eu sou um bom investidor / E sei que o meu negócio vai crescer na sua mão". Das mais atuais da safra 2014, a marchinha Menina black bloc, do carioca Oswaldo G. Pereira, tem arranjo maroto, aberto e encerrado com citação da vinheta de plantão do jornalismo da TV Globo. Também no bloco dos temas atuais, mas no caso de alcance restrito ao público carioca, os compositores niteroienses Cássio Tucunduva e Rita Tucunduva alfinetam o prefeito da cidade do Rio de Janeiro (RJ), Eduardo Paes, na marchinha Cadê a viga?, que versa maliciosamente sobre as reformas na zona portuária do Rio. Com a mesma malícia, o curitibano Hardy Guedes tira sarro do homofóbico Marco Feliciano em Sauna gay, marchinha mediana defendida por Alfredo Del Penho. Por fim, os compositores Dudi Baratz, Luciana Coló, Raphael Gemal e Ricardo Szpilman - turma representante do Rio de Janeiro (RJ) - jogam todos os temas espinhosos no salão em Eu quero é ficar off para ressaltar que querem esquecer tudo para brincar o Carnaval. Folia da qual Marlene - cantora paulista (atualmente 91 anos) homenageada na atual edição do concurso da Fundição Progresso - é rainha vitalícia. Criação da agência Binky, a capa do CD, aliás, é inspirada na arte do LP Vamos dançar com Marlene e seus sucessos (Sinter, 1956). O tributo a Marlene se estende às faixas que abrem e fecham o CD. Na abertura, time de intérpretes defende medley costurado por Marlene, meu bem (Mário Lago, 1955), valsa inserida no clima da folia. No fecho, a cantora carioca Áurea Martins põe na rua o Bloco da Solidão (Jair Amorim e Evaldo Gouveia, 1971), no ritmo da marcha-rancho, com a voz que falta à maioria dos intérpretes das 10 marchinhas finalistas do nono concurso da Fundição Progresso. O fato de os compositores geralmente entrarem no salão como cantores desanima eventualmente o baile, mas não a ponto de fazer o gigante adormecer. O folião está acordado.
O gigante pode ter pegado no sono novamente, mas seu breve despertar em junho de 2013 contagiou os compositores de marchinhas na disputa pela vitória na 9ª edição do Concurso nacional de marchinhas carnavalescas, promovido anualmente pela Fundição Progresso, no Rio de Janeiro (RJ), em ação do agitador cultural Perfeito Fortuna. Reunidas no CD As melhores marchinhas do Carnaval 2014 (lançado com baile de confete e serpentina programado pela Fundição para esta quinta-feira, 16 de janeiro), as dez finalistas mostram que os compositores brincam o Carnaval com temas normalmente tratados com seriedade como a homofobia, a violência e a legalização da maconha. Mas há quem exalte tão somente a própria brincadeira, o Carnaval em si. Os cariocas Edu Krieger e Pedro Hollanda seguem esse bloco lírico com suas melodiosas marchas Colorindo a praça (com clima de frevo-canção) e É hoje, respectivamente. Com ou sem temas politizados, todos entram no clima da folia. Pseudônimo do músico e produtor Henrique Cazes, Jota Canalha - também do Rio de Janeiro (RJ) - segue a animada Marcha da maconha, defendendo a droga com versos como "Com três tapinhas, nós fazemos um Carnaval / Não tem Lei Seca que segure o pessoal". Já o compositor fluminense Sergio Mouzinho, de Niterói (RJ), tenta fazer graça com Baba do quiabo enquanto o também fluminense Felipe Guanará, de Parati (RJ), esboça um duplo sentido em Lenço de cetim que não chega a animar o baile. No terreno do duplo sentido, ao qual os compositores de músicas de Carnaval recorrem desde que o samba é samba, o destaque é Aplicando na poupança - marcha composta e cantada pelo paulista Rafael Júnior - com versos malandros como "Abre a poupança, meu amor / Que eu vou fazer a aplicação / Eu sou um bom investidor / E sei que o meu negócio vai crescer na sua mão". Das mais atuais da safra 2014, a marchinha Menina black bloc, do carioca Oswaldo G. Pereira, tem arranjo maroto, aberto e encerrado com citação da vinheta de plantão do jornalismo da TV Globo. Também no bloco dos temas atuais, mas no caso de alcance restrito ao público carioca, os compositores niteroienses Cássio Tucunduva e Rita Tucunduva alfinetam o prefeito da cidade do Rio de Janeiro (RJ), Eduardo Paes, na marchinha Cadê a viga?, que versa maliciosamente sobre as reformas na zona portuária do Rio. Com a mesma malícia, o curitibano Hardy Guedes tira sarro do homofóbico Marco Feliciano em Sauna gay, marchinha mediana defendida por Alfredo Del Penho. Por fim, os compositores Dudi Baratz, Luciana Coló, Raphael Gemal e Ricardo Szpilman - turma representante do Rio de Janeiro (RJ) - jogam todos os temas espinhosos no salão em Eu quero é ficar off para ressaltar que querem esquecer tudo para brincar o Carnaval. Folia da qual Marlene - cantora paulista (atualmente 91 anos) homenageada na atual edição do concurso da Fundição Progresso - é rainha vitalícia. Criação da agência Binky, a capa do CD, aliás, é inspirada na arte do LP Vamos dançar com Marlene e seus sucessos (Sinter, 1956). O tributo a Marlene se estende às faixas que abrem e fecham o CD. Na abertura, time de intérpretes defende medley costurado por Marlene, meu bem (Mário Lago, 1955), valsa inserida no clima da folia. No fecho, a cantora carioca Áurea Martins põe na rua o Bloco da Solidão (Jair Amorim e Evaldo Gouveia, 1971), no ritmo da marcha-rancho, com a voz que falta à maioria dos intérpretes das 10 marchinhas finalistas do nono concurso da Fundição Progresso. O fato de os compositores geralmente entrarem no salão como cantores desanima eventualmente o baile, mas não a ponto de fazer o gigante adormecer. O folião está acordado.
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