"Esses moços, pobres moços / Ah!... se soubessem o que eu sei / Não amavam". O conselho amargo dado pelo compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (16 de setembro de 1914 - 26 de agosto de 1974) nos versos de seu samba-canção Esses moços, pobres moços - lançado em disco em maio de 1948 pelo cantor carioca Francisco Alves (1898 - 1952) - diz muito sobre a obra do artista que fica centenário neste novo ano de 2014. Assim como a cantora carioca Aracy de Almeida (1914 - 1988) e o compositor baiano Dorival Caymmi (1914 - 2008), Lupicínio veio ao mundo há 100 anos e saiu dele há 40, deixando obra expiada na dor-de-cotovelo. Através de suas músicas, Lupicínio se revelou cronista das dores de amores. Amargura e desilusão são matérias-primas de seu cancioneiro folhetinesco e por vezes machista, criado segundo a moral e os padrões comportamentais de época em que uma mulher separada do marido era marginalizada pela sociedade. Irrompida em 1938, com o sucesso do samba Se acaso você chegasse na voz manemolente do cantor carioca Cyro Monteiro (1913 - 1973), a obra de Lupicínio prioriza o samba-canção, gênero que viveu seu apogeu nos anos 1940 e 1950. Não por acaso, a maioria dos sucessos de Lupicínio - Aves daninhas (1954), Cadeira vazia (1949 - da parceria com Alcides Gonçalves), Ela disse-me assim (1959), Nervos de aço (1947), Vingança (1951), Volta (1957) - vem dessas duas décadas, embora o cancioneiro do compositor tenha desafiado o reinado da Bossa Nova e ainda gerado sucessos eventuais como Exemplo (1960) no início da década seguinte, para citar uma das muitas músicas de Lupicínio propagadas na voz volumosa de Jamelão (1913 - 2008), o cantor carioca que se revelou hábil intérprete das doídas músicas do compositor gaúcho. Pela ótica unilateral desse cancioneiro embebido do orgulho (explicitado nos versos de Nunca, samba-canção de 1952), a mulher é quase sempre a culpada, a traíra, a vítima pelo fracasso da relação amorosa. E, por estar toda enraizada no fracasso, a música de Lupicínio Rodrigues é quase invariavelmente triste. Essa tristeza é senhora até no xote-canção ironicamente intitulado Felicidade (1947). Talvez por isso mesmo, a obra do compositor tenha atravessado várias gerações com suas melodias de arquitetura original e letras que, mesmo enquadradas em já ultrapassados códigos morais, se revelam paradoxalmente atemporais. Mudam os tempos, mas a dor dos cornos permanece a mesma, afinal. E, por tudo isso, é sempre tempo de reviver as canções de Lupicínio Rodrigues, inclusive neste nascente 2014, ano do centenário do compositor de Esses moços, pobres moços.
"Esses moços, pobres moços / Ah!... se soubessem o que eu sei / Não amavam". O conselho amargo dado pelo compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (16 de setembro de 1914 - 26 de agosto de 1974) nos versos de seu samba-canção Esses moços, pobres moços - lançado em disco em maio de 1948 pelo cantor carioca Francisco Alves (1898 - 1952) - diz muito sobre a obra do artista que fica centenário neste novo ano de 2014. Assim como a cantora carioca Aracy de Almeida (1914 - 1988) e o compositor baiano Dorival Caymmi (1914 - 2008), Lupicínio veio ao mundo há 100 anos e saiu dele há 40, deixando obra expiada na dor-de-cotovelo. Através de suas músicas, Lupicínio se revelou cronista das dores de amores. Amargura e desilusão são matérias-primas de seu cancioneiro folhetinesco e por vezes machista, criado segundo a moral e os padrões comportamentais de época em que uma mulher separada do marido era marginalizada pela sociedade. Irrompida em 1938, com o sucesso do samba Se acaso você chegasse na voz manemolente do cantor carioca Cyro Monteiro (1913 - 1973), a obra de Lupicínio prioriza o samba-canção, gênero que viveu seu apogeu nos anos 1940 e 1950. Não por acaso, a maioria dos imortais sucessos de Lupicínio - Ela disse-me assim (1959), Nervos de aço (1947), Vingança (1951) - vem dessas duas décadas, embora o cancioneiro do compositor tenha desafiado o reinado da Bossa Nova e gerado sucessos como Cadeira vazia (1961) e Exemplo (1960) no começo da década seguinte, para citar somente duas músicas propagadas na voz volumosa de Jamelão (1913 - 2008), o cantor carioca que se revelou hábil intérprete das doídas músicas do compositor gaúcho. Pela ótica unilateral desse cancioneiro, a mulher é quase sempre a culpada, a vítima pelo fracasso da relação amorosa. E, por estar enraizada no fracasso, a música de Lupicínio Rodrigues é quase invariavelmente triste. Essa tristeza é senhora até no xote-canção ironicamente intitulado Felicidade (1947). Talvez por isso mesmo, a obra do compositor tenha atravessado gerações com suas melodias de arquitetura original e letras que, mesmo enquadradas em já ultrapassados códigos morais, se revelam paradoxalmente atemporais. Mudam os tempos, mas a dor dos cornos permanece a mesma, afinal. E, por tudo isso, é sempre tempo de reviver as canções de Lupicínio Rodrigues, inclusive neste nascente 2014, ano do centenário do compositor de Esses moços, pobres moços.
ResponderExcluirEu amo as canções de Lupicínio!
ResponderExcluirUma correção, Mauro: "Cadeira vazia" foi lançada por Francisco Alves em 1950. Grandes músicas de Lupi lançadas por Jamelão após o advento da bossa nova foram "Sozinha (Bicho de Pé)", de 1963, e "Torre de Babel", do mesmo ano.
ResponderExcluirTem razão, Clayton. Já corrigi o texto. Abs, obrigado, MauroF
ResponderExcluirLupicínio, um tesouro brasileiro!
ResponderExcluirEsse sim!!! Um grande compositor!!! Tempo bom aonde no Brasil música era com M ...bem maiúsculo!!!
ResponderExcluirMauro, não precisa publica esse comentário, mas não seria 'malemolente' a voz de Cyro Monteiro?
ResponderExcluirFlávio
Flávio, publiquei seu comentário porque essa dúvida pode ser a mesma de outros leitores. O termo original é manemolente (vem de mané mole), mas a tradição oral fez com que malemolente também seja um termo em uso. Mas eu prefiro o original. Abs, obrigado, MauroF
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