Resenha de peça de teatro
Título: Callas
Texto: Fernando Duarte
Direção: Marília Pêra
Elenco: Silvia Pfeifer e Cássio Reis
Cotação: * * 1/2
Espetáculo em cartaz no Teatro do Leblon, no Rio de Janeiro, de quinta-feira a domingo
A vida de Maria Callas (2 de dezembro de 1923 - 16 de setembro de 1977) daria uma ópera das mais dramáticas entre as encenadas por essa cantora norte-americana de ascendência grega, dona de imortal voz de soprano. Tanto que volta e meia Callas é revividas nos palcos. Em 1996, a atriz Marília Pêra encarnou a cantora no espetáculo Master class, de bela memória. Decorridos 18 anos, a trajetória de Marília volta a cruzar o mito da artista em palcos brasileiros com o espetáculo Callas. Desta vez, Marília é a diretora. Quem dá vida a Callas é a atriz gaúcha Silvia Pfeifer, protagonista do texto escrito pelo dramaturgo Fernando Duarte - autor, a propósito, de um outro texto sobre a cantora, Orgulhosa demais, frágil demais, encenado na mesma cidade do Rio de Janeiro em que Callas ocupa a Sala Marília Pêra do Teatro do Leblon, de quinta-feira a domingo. Em Callas, o dramaturgo apresenta a cantora em 15 de setembro de 1977, véspera de sua morte precoce, provocada por ataque cardíaco fulminante. Com tom expositivo, o texto reencena o crepúsculo dessa deusa do Bel Canto. Divina como cantora, mortal (e orgulhosa) como qualquer ser humano. Só que não há em Callas uma ação dramática propriamente dita, sobretudo no início da peça, povoado por falas de caráter didático, distante da coloquialidade do cotidiano. O texto é centrado no encontro da cantora com o jornalista e amigo John Adams (Cássio Reis) para acertar detalhes da exposição sobre a vida e obra de Callas. O fato de John ter sido amigo de Callas acentua a artificialidade dos diálogos escritos com o objetivo de informar o espectador sobre os feitos da cantora dentro e fora dos palcos. O uso recorrente de projeções em vídeos - com fotos, informações e frases de e sobre La Divina - ressalta o cunho expositivo do texto. Contudo, o autor jamais se porta no papel de fã da artista. Através da conversa de Callas com John, o espectador é informado do temperamento competitivo e das baixezas da cantora, amada pelos fãs e odiada pelos colegas na mesma intensa proporção. Mas o fato é que, quando se esboça enfim uma ação dramática, à medida que a conversa avança e reforça os laços emocionais entre Callas e John, a peça acaba. Com porte esguio e altivo, herdado do ofício de modelo, Silvia Pfeifer jamais desafina na pele de Callas. O tom ligeiramente empostado de sua fala acaba realçando a distância que separa os simples mortais dessa deusa da ópera, àquela altura da vida já bastante fragilizada e solitária. Cássio Reis compõe um John igualmente crível, com discreto traço gay que jamais ganha adorno caricatural. O desfile de portentosos figurinos - apresentados como vestidos usados por Callas em cena - contribui para a harmonia do quadro cênico habilmente desenhado por Marília Pêra. A diretora conseguiu driblar os limites da (falta de) ação do texto. O resultado é espetáculo simpático que pode contentar quem desconhece a tragédia íntima e pessoal de Maria Callas, cuja vida renderia uma ópera das mais dramáticas...
Mauro querido, obrigada pelo espaço e pelas palavras. Não sei se te deram nosso programa onde digo que a ideia é um documentário vivo.
ResponderExcluirComo você apontou o texto como didático, fiquei preocupada, pois foram minhas todas as sugestões de fotos, filmes e comentários da imprensa internacional sobre nossa amada Callas, assim como determinei o tempo do espetáculo, uma hora, parecendo um áudio visual.
Só pra você saber e aliviiar suas impressões sobre o didaticismo do texto do Fernando. Mea culpa! Beijos. Marília Pêra
Mauro querido, obrigada pelo espaço e pelas palavras. Não sei se te deram nosso programa onde digo que a ideia é um documentário vivo.
ResponderExcluirComo você apontou o texto como didático, fiquei preocupada, pois foram minhas todas as sugestões de fotos, filmes e comentários da imprensa internacional sobre nossa amada Callas, assim como determinei o tempo do espetáculo, uma hora, parecendo um áudio visual.
Só pra você saber e aliviiar suas impressões sobre o didaticismo do texto do Fernando. Mea culpa! Beijos. Marília Pêra
Oi, Marília, bem-vinda aqui nesse espaço virtual. Sim, a assessoria do espetáculo me deu o programa. Grato pelos esclarecimentos! Sucesso para "Callas". Bjs, Mauro Ferreira
ResponderExcluir