terça-feira, 14 de janeiro de 2014

'High hopes' junta 'tijolos' do som do 'operário' Bruce sem constituir obra

Resenha de CD
Título: High hopes
Artista: Bruce Springsteen
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * *

Lançado nos Estados Unidos nesta terça-feira, 14 de janeiro de 2014, High hopes é album fora do padrão de qualidade do operário Bruce Springsteen. Colagem de músicas compostas em diversas épocas, o CD junta tijolos do cancioneiro do cantor e compositor norte-americano - entre três covers - sem constituir obra conceitual nos moldes habituais do disco do artista. O traço mais sólido de união entre as músicas acaba sendo o toque distorcido da guitarra de Tom Morello, posto em boa parte dessas músicas, mais precisamente em oito das 12 faixas. A inclusão de Morello na E-street Band é notável já na abertura do 18º disco solo de estúdio do Chefe - quando se ouve o cover da música-título High hopes, composta por Tim Scott McConnell em 1987, gravada em 1990 pela banda de McConnell, a Havalinas, e já abordada por Bruce em EP de 1995  - e altera a dinâmica do som de Bruce, mas não a ponto de dar ao álbum a habitual solidez sonora e temática da discografia do artista. Bruce, afinal, atravessou os anos 2000 pavimentando grandes obras, como o álbum The rising (2002). Deste inventário emocional feito a partir dos escombros de 11 de setembro de 2011, aliás, High hopes recicla duas sobras, Down in the hole (Bruce Springsteen) e Harry's place (Bruce Sprigsteen). São sobras, mais adequadas para turbinar com material adicional coletâneas ou edições comemorativas daquele disco de 2002. Mas entram em High hopes com o status de músicas inéditas. Como a faixa-título, Dream baby dream (Martin Rev e Alan Vega) e Just like fire would (Chris J. Bailey) são (bons) covers. A primeira composição é do duo norte-americano Suicide, pioneiro ao cruzar o punk com a música eletrônica no início dos anos 1970. A segunda é da lavra da banda australiana The Saints, também associada ao punk e à década de 1970. Já Heaven’s wall e This is your sword são temas da lavra do próprio Bruce, criadas para álbum de gospel nunca concluído pelo artista. A primeira vai converter admiradores de artista. Mas a música no qual todo ouvinte de High hopes deve pôr mais fé é American skin (41 shots), o melhor momento do disco, a faixa na qual dá para identificar o velho Bruce de guerra. A música foi composta pelo Boss em 2000, um ano após um imigrante ganês ter sido morto em Nova York (EUA) om 41 tiros disparados por policiais à paisana. E por falar em Guerra, The wall é homenagem - menos tocante - de Bruce a um músico norte-americano que perdeu a vida ao lutar no Vietnã. Enfim, há em High hopes fragmentos sólidos da obra de Bruce Springsteen, mas nem tudo dá liga como a regravação de The ghost of Tom Joad (Bruce Springsteen), música que batizou álbum lançado pelo artista em 1995. Nesta faixa, High hopes reitera que a improvável união do Chefe com Tom Morello é o traço mais forte da arquitetura deste álbum pautado pela reciclagem, erguido fora do (rígido) padrão de qualidade do artista. 

Um comentário:

  1. Lançado nos Estados Unidos nesta terça-feira, 14 de janeiro de 2014, High hopes é album fora do padrão de qualidade do operário Bruce Springsteen. Colagem de músicas compostas em diversas épocas, o CD junta tijolos do cancioneiro do cantor e compositor norte-americano - entre três covers - sem constituir obra conceitual nos moldes habituais do disco do artista. O traço mais sólido de união entre as músicas acaba sendo o toque distorcido da guitarra de Tom Morello, posto em boa parte dessas músicas, mais precisamente em oito das 12 faixas. A inclusão de Morello na E-street Band é notável já na abertura do 18º disco solo de estúdio do Chefe - quando se ouve o cover da música-título High hopes, composta por Tim Scott McConnell em 1987, gravada em 1990 pela banda de McConnell, a Havalinas, e já abordada por Bruce em EP de 1995 - e altera a dinâmica do som de Bruce, mas não a ponto de dar ao álbum a habitual solidez sonora e temática da discografia do artista. Bruce, afinal, atravessou os anos 2000 pavimentando grandes obras, como o álbum The rising (2002). Deste inventário emocional feito a partir dos escombros de 11 de setembro de 2011, aliás, High hopes recicla duas sobras, Down in the hole (Bruce Springsteen) e Harry's place (Bruce Sprigsteen). São sobras, mais adequadas para turbinar com material adicional coletâneas ou edições comemorativas daquele disco de 2002. Mas entram em High hopes com o status de músicas inéditas. Como a faixa-título, Dream baby dream (Martin Rev e Alan Vega) e Just like fire would (Chris J. Bailey) são (bons) covers. A primeira composição é do duo norte-americano Suicide, pioneiro ao cruzar o punk com a música eletrônica no início dos anos 1970. A segunda é da lavra da banda australiana The Saints, também associada ao punk e à década de 1970. Já Heaven’s wall e This is your sword são temas da lavra do próprio Bruce, criadas para álbum de gospel nunca concluído pelo artista. A primeira vai converter admiradores de artista. Mas a música no qual todo ouvinte de High hopes deve pôr mais fé é American skin (41 shots), o melhor momento do disco, a faixa na qual dá para identificar o velho Bruce de guerra. A música foi composta pelo Boss em 2000, um ano após um imigrante ganês ter sido morto em Nova York (EUA) om 41 tiros disparados por policiais à paisana. E por falar em Guerra, The wall é homenagem - menos tocante - de Bruce a um músico norte-americano que perdeu a vida ao lutar no Vietnã. Enfim, há em High hopes fragmentos sólidos da obra de Bruce Springsteen, mas nem tudo dá liga como a regravação de The ghost of Tom Joad (Bruce Springsteen), música que batizou álbum lançado pelo artista em 1995. Nesta faixa, High hopes reitera que a improvável união do Chefe com Tom Morello é o traço mais forte da arquitetura deste álbum pautado pela reciclagem, erguido fora do (rígido) padrão de qualidade do artista.

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