terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Na velocidade do rock, Fuzzcas arranca com o álbum 'Feliz dia de hoje'

Resenha de CD
Título: Feliz dia de hoje
Artista: Fuzzcas
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * *

Terreno de posse (ainda) predominantemente masculina, o rock veicula testosterona pela própria natureza sexual. Mas não é de hoje que as mulheres contestam tal supremacia e delimitam seu espaço nesse território com voz ativa. Na estrada desde 2006, a banda carioca Fuzzcas é conduzida pelos vocais de Carol Lima, compositora de todas as onze inéditas músicas ouvidas no primeiro álbum do grupo, Feliz dia de hoje. A maioria é assinada com Pedro Dias, o produtor do CD que chegou ao mercado fonográfico neste mês de janeiro de 2014 de forma independente. Parceiro de Carol em músicas como Se uma boba eu for e Viva la vida, o onipresente Dias parece ser o quinto integrante do quarteto formado por Carol com Fabiano Parracho (baixo), Leandro Souto Maior (guitarra) e Lucas Leão (bateria). Grupo que, com a edição desse álbum, dá a partida para valer na carreira. Após EP editado em 2008, Fuzzcas arranca na velocidade de um rock que soa tão pop quanto vintage, ainda que a sonoridade do álbum seja atual, sintonizada com o seu título Feliz dia de hoje. A textura pop é sentida especialmente na moldura folk da faixa Se a saudade bater (Carol Lima e Pedro Dias). Já a atmosfera vintage é detectada, por exemplo, na também pop Tic tac do amor, música vocacionada para o sucesso popular que ecoa influências da cantora paulista Celly Campello (1942 - 2003) - a primeira voz feminina a se impor no universo pop nacional, ainda na pré-história do rock made in Brasil - e da Jovem Guarda, remetendo também, no balanço das horas, a Tudo pode mudar (Joe Euthanazia e Ronaldo Santos, 1985), sucesso da banda paulista Metrô. Também ambientado em clima retrô, o rock Hey hey baby (Carol Lima e Lucas Leão) dá marcha à ré, direcionando Fuzzcas para o caminho do rock'n'roll dos anos 1950. Fiel ao nome Fuzzcas, obtido a partir da junção das palavras fusca e fuzz (pedal de distorção conhecido pelos meninos que habitam o mundo das guitarras), o grupo fez álbum de som roqueiro que vai direto ao ponto. Sem firulas, Feliz dia de hoje enfileira onze músicas em meros 27 minutos. Música que já ganhou clipe posto em rotação em 2012, Acorde mais cedo (Carol Lima e Pedro Dias) abre o CD com o toque de um despertador. Tema que já expõe no título seu tom lúdico, Vamos brincar de roda (Carol Lima e Pedro Dias) fecha o álbum com letra que termina com um "boa noite". Tal disposição das faixas esboça conceito para o álbum, como se Feliz dia de hoje concentrasse em 11 músicas os sentimentos e os fatos de um período de 24 horas. Um dia de rock ao som de Helter skelter (John Lennon e Paul McCartney, 1968), como canta Carol Lima em Bad girl (Carol Lima, Luiz Lopez e Pedro Dias). "Sou uma bad girl, mas às vezes choro", pontua a vocalista. Valsa triste (Carol Lima e Pedro Dias) reforça que um dia também é feito de melancolia. Mas a felicidade é senhora neste disco em que a pegada azeitada do Fuzzcas - perceptível na passagem instrumental ouvida ao fim de E você ia voltar, sem o cheiro de cigarro, comendo algodão doce (Carol Lima) - se impõe sobre o repertório autoral, nem sempre à altura do toque da banda. Mas o Fuzzcas já parece saber que, como sentenciou o poeta carioca Cazuza (1958-1990), viver é bom nas curvas da estrada.

2 comentários:

  1. Terreno de posse (ainda) predominantemente masculina, o rock veicula testosterona pela própria natureza sexual. Mas não é de hoje que as mulheres contestam tal supremacia e delimitam seu espaço nesse território com voz ativa. Na estrada desde 2006, a banda carioca Fuzzcas é conduzida pelos vocais de Carol Lima, compositora de todas as onze inéditas músicas ouvidas no primeiro álbum do grupo, Feliz dia de hoje. A maioria é assinada com Pedro Dias, o produtor do CD que chegou ao mercado fonográfico neste mês de janeiro de 2014 de forma independente. Parceiro de Carol em músicas como Se uma boba eu for e Viva la vida, o onipresente Dias parece ser o quinto integrante do quarteto formado por Carol com Fabiano Parracho (baixo), Leandro Souto Maior (guitarra) e Lucas Leão (bateria). Grupo que, com a edição desse álbum, dá a partida para valer na carreira. Após EP editado em 2008, Fuzzcas arranca na velocidade de um rock que soa tão pop quanto vintage, ainda que a sonoridade do álbum seja atual, sintonizada com o seu título Feliz dia de hoje. A textura pop é sentida especialmente na moldura folk da faixa Se a saudade bater (Carol Lima e Pedro Dias). Já a atmosfera vintage é detectada, por exemplo, na também pop Tic tac do amor, música vocacionada para o sucesso popular que ecoa influências da cantora paulista Celly Campello (1942 - 2003) - a primeira voz feminina a se impor no universo pop nacional, ainda na pré-história do rock made in Brasil - e da Jovem Guarda, remetendo também, no balanço das horas, a Tudo pode mudar (Joe Euthanazia e Ronaldo Santos, 1985), sucesso da banda paulista Metrô. Também ambientado em clima retrô, o rock Hey hey baby (Carol Lima e Lucas Leão) dá marcha à ré, direcionando Fuzzcas para o caminho do rock'n'roll dos anos 1950. Fiel ao nome Fuzzcas, obtido a partir da junção das palavras fusca e fuzz (pedal de distorção conhecido pelos meninos que habitam o mundo das guitarras), o grupo fez álbum de som roqueiro que vai direto ao ponto. Sem firulas, Feliz dia de hoje enfileira onze músicas em meros 27 minutos. Música que já ganhou clipe posto em rotação em 2012, Acorde mais cedo (Carol Lima e Pedro Dias) abre o CD com o toque de um despertador. Tema que já expõe no título seu tom lúdico, Vamos brincar de roda (Carol Lima e Pedro Dias) fecha o álbum com letra que termina com um "boa noite". Tal disposição das faixas esboça conceito para o álbum, como se Feliz dia de hoje concentrasse em 11 músicas os sentimentos e os fatos de um período de 24 horas. Um dia de rock ao som de Helter skelter (John Lennon e Paul McCartney, 1968), como canta Carol Lima em Bad girl (Carol Lima, Luiz Lopez e Pedro Dias). "Sou uma bad girl, mas às vezes choro", pontua a vocalista. Valsa triste (Carol Lima e Pedro Dias) reforça que um dia também é feito de melancolia. Mas a felicidade é senhora neste disco em que a pegada azeitada do Fuzzcas - perceptível na passagem instrumental ouvida ao fim de E você ia voltar, sem o cheiro de cigarro, comendo algodão doce (Carol Lima) - se impõe sobre o repertório autoral, nem sempre à altura do toque da banda. Mas o Fuzzcas já parece saber que, como sentenciou o poeta carioca Cazuza (1958-1990), viver é bom nas curvas da estrada.

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