Resenha de CD
Título: Sérgio samba Sampaio
Artista: Chico Salles
Gravadora: Zeca PagoDiscos / Universal Music
Cotação: * * 1/2
O cantor e compositor capixaba Sérgio Sampaio (1947 - 1994) soube cair no samba com a consciência social exigida de quem despontou nos anos 1970, década em que, se um artista não era contra, ele podia ser acusado de ser a favor. Sem tom panfletário, Sampaio mandou seu recado velado através de versos metafóricos como "Quem manda em mim sou eu / Quem manda em você é você", do samba Até outro dia (1976). Este samba - o mais inspirado da produção do compositor no gênero - abriu o segundo grande álbum de Sampaio, Tem que acontecer (Continental, 1976), e abre o sexto CD do cantor paraibano Chico Salles, Sergio samba Sampaio (2013), dedicado aos sambas do marginalizado artista. Habituado a um repertório de tom forrozeiro, Salles dilui a densidade do sambas compostos por Sampaio ao agregá-los neste disco editado pelo selo Zeca PagoDiscos, do cantor carioca Zeca Pagodinho. Contudo, mesmo fora do contexto e subtexto originais, os sambas de Sampaio - que entrou na avenida em 1972, com o estouro da marcha Eu quero é botar o meu bloco na rua, e saiu de cena há 20 anos, já esquecido - resistem ao tempo e às interpretações opacas de Salles. Os produtores Henrique Cazes e José Milton acertam ao ambientar em clima de fundo de quintal o medley que aglutina Polícia, bandido, cachorro, dentista - samba do quarto póstumo álbum de Sampaio, Cruel, editado em 2006 - e O que pintar, pintou (1976), partido alto cantado por Salles com Zeca Pagodinho. Outro destaque é Cada lugar na sua coisa (1976), tema inserido em universo seresteiro que condiz com o verso "Lugar de poesia é na calçada". A participação de Raimundo Fagner valoriza a faixa. Recorrente em temas como Nem assim (1983), o adorno seresteiro envolve História de boêmio (Um abraço em Nelson Gonçalves) (1977), recontada por Salles com a adesão do convidado maranhense Zeca Baleiro, artista que reeditou álbuns de Sampaio por seu selo Saravá Discos. Já Cala a boca, Zé Bedeu - samba da lavra do compositor capixaba Raul Sampaio, mas gravado pelo conterrâneo Sérgio no seu primeiro álbum, de 1973 - soaria mais natural na voz e com a verve do partideiro pernambucano Bezerra da Silva (1917 - 2005), mais vocacionado para cantar versos jocosos como "Que mulher danada / Essa que eu arranjei / Ela é uma jararaca, meu Deus / Com ela, eu me casei". Como já explicita seu título, Chorinho inconsequente (Sérgio Sampaio e Erivaldo Santos, 1971) se insinua fora do universo do samba. E o fato é que a maior e melhor parte do repertório de Sérgio Samba Sampaio vem do álbum mais coeso de Sampaio, o já mencionado Tem que acontecer, de cujo repertório Salles rebobina composições como O filho do ovo, Quanto mais e Velho bode (parceria de Sampaio com Sérgio Natureza). Bem mais para a seresta do que para o fundo de quintal, Chico Salles põe o bloco na rua com CD em que a ideia é melhor do que sua realização.
O cantor e compositor capixaba Sérgio Sampaio (1947 - 1994) caiu no samba com a consciência social exigida de quem despontou nos anos 1970, década em que, se um artista não era contra, ele podia ser acusado de ser a favor. Sem tom panfletário, Sampaio mandou seu recado velado através de versos metafóricos como "Quem manda em mim sou eu / Quem manda em você é você", do samba Até outro dia (1976). Este samba - o mais inspirado da produção do compositor no gênero - abriu o segundo grande álbum de Sampaio, Tem que acontecer (Continental, 1976), e abre o sexto CD do cantor paraibano Chico Salles, Sergio samba Sampaio (2013), dedicado aos sambas do marginalizado artista. Habituado a um repertório de tom forrozeiro, Salles dilui a densidade do sambas compostos por Sampaio ao agregá-los neste disco editado pelo selo Zeca PagoDiscos, do cantor carioca Zeca Pagodinho. Contudo, mesmo fora do contexto e subtexto originais, os sambas de Sampaio - que entrou na avenida em 1972, com o estouro da marcha Eu quero é botar o meu bloco na rua, e saiu de cena há 20 anos, já esquecido - resistem ao tempo e às interpretações opacas de Salles. Os produtores Henrique Cazes e José Milton acertam ao ambientar em clima de fundo de quintal o medley que aglutina Polícia, bandido, cachorro, dentista - samba do quarto póstumo álbum de Sampaio, Cruel, editado em 2006 - e O que pintar, pintou (1976), partido alto cantado por Salles com Zeca Pagodinho. Outro destaque é Cada lugar na sua coisa (1976), tema inserido em universo seresteiro que condiz com o verso "Lugar de poesia é na calçada". A participação de Raimundo Fagner valoriza a faixa. Recorrente em temas como Nem assim (1983), o adorno seresteiro envolve História de boêmio (Um abraço em Nelson Gonçalves) (1977), recontada por Salles com a adesão do convidado maranhense Zeca Baleiro, artista que reeditou álbuns de Sampaio por seu selo Saravá Discos. Já Cala a boca, Zé Bedeu - samba da lavra do compositor capixaba Raul Sampaio, mas gravado pelo conterrâneo Sérgio no seu primeiro álbum, de 1973 - soaria mais natural na voz e com a verve do partideiro pernambucano Bezerra da Silva (1917 - 2005), mais vocacionado para cantar versos jocosos como "Que mulher danada / Essa que eu arranjei / Ela é uma jararaca, meu Deus / Com ela, eu me casei". Como já explicita seu título, Chorinho inconsequente (Sérgio Sampaio e Erivaldo Santos, 1971) se insinua fora do universo do samba. E o fato é que a maior e melhor parte do repertório de Sérgio Samba Sampaio vem do álbum mais coeso de Sampaio, o já mencionado Tem que acontecer, de cujo repertório Salles rebobina composições como O filho do ovo, Quanto mais e Velho bode (parceria de Sampaio com Sérgio Natureza). Bem mais para a seresta do que para o fundo de quintal, Chico Salles põe o bloco na rua com CD em que a ideia é melhor do que sua realização.
ResponderExcluirMauro, num trecho do texto você diz que a faixa "Cala A Boca Zé Bedeu" é de autoria do conterrâneo do Sérgio, o Raul. Porém os 2 não são somente conterrâneos, mas sim pai e filho.
ResponderExcluirsenti uma certa má vontade com o disco e o cantor
ResponderExcluir