sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Discobertas encaixota mais sete álbuns de Pery, cobrindo fase 1967-1972

Dando continuidade à oportuna revitalização da discografia do cantor carioca Pery Ribeiro (27 de outubro de 1937 - 24 de fevereiro de 2012), o selo carioca Discobertas manda para as lojas, entre março e abril de 2014, uma segunda caixa com reedições de álbuns do artista. Sucessora da caixa Pery Ribeiro anos 60 (2013), que embalou sete discos do período 1961 - 1966, essa segunda caixa repõe em catálogo mais sete álbuns do cantor, abrangendo fase que vai de 1967 a 1972 - período em que Pery teve discos gravados com os grupos Bossa Rio, Bossa Três e Primo Quinteto. Foi a fase também que a discografia do cantor extrapolou as fronteiras do Brasil. Produzida pelo pesquisador musical Marcelo Fróes, criador do selo Discobertas, a caixa embala os álbuns Gemini V en México (1967), Pery (1968), Bossa Rio (1968), Bossa Rio - Alegria! (1969), o raríssimo Bossa Rio Live in Japan (1970), Pery Ribeiro (1971) - disco cuja capa expõe a foto que ilustra este post - e Pery Ribeiro (1972), álbum turbinado com preciosa e rara música-bônus, Do lado do coração, do cantor e compositor cearense Raimundo Fagner. De compacto, a faixa integrou a trilha sonora da novela Jerônimo, herói do sertão (TV Tupi).

Titãs gravam seu 18º disco em São Paulo com produção de Rafael Ramos

Rafael Ramos é o produtor do 18º álbum da discografia dos Titãs. A informação - tal como a foto acima, que flagra Ramos (de bermuda verde) ao lado de Paulo Miklos, Tony Bellotto, Branco Mello e Sérgio Britto - foi postada pelo grupo paulista em sua página oficial no Facebook. Primeiro álbum de inéditas dos Titãs desde o equivocado Sacos plásticos (2009), o disco começou a ser gravado neste mês de fevereiro de 2014 em estúdio de São Paulo (SP). O repertório inédito e autoral já vinha sendo testado pelo grupo no show Titãs inédito (2013). A safra previamente apresentada pelo quarteto inclui músicas como Eu me sinto bem (Paulo Miklos, Sergio Britto e Tony Bellotto), Renata (Paulo Miklos, Sergio Britto e Tony Bellotto), Terra à vista (Branco Mello, Aderbal Freire Filho e Emerson Villani), Senhor (Tony Bellotto), Baião de dois (Paulo Miklos), Mensageiro da desgraça (Paulo Miklos, Sergio Britto e Tony Bellotto), Quem são os animais? (Sergio Britto), Não pode (Sergio Britto), Flores pra ela (Mario Fabre e Sergio Britto) e República dos bananas (Branco Mello, Angeli, Hugo Possolo e Emerson Villani). O álbum de inéditas do grupo Titãs vai ser lançado pela gravadora Som Livre.

Eis a capa de 'Corazón', álbum de Santana que tem a 'Saideira' do Skank

Esta é a colorida capa de Corazón, o álbum em que o compositor e guitarrista mexicano Carlos Santana se conecta com artistas de países latinos, a grande maioria de língua hispânica. Com lançamento mundial programado pela Sony Music para 6 de maio de 2014, o disco Corazón traz convidados como Diego Torres, Gloria Estefan, Juanes (com quem Santana regravou La flaca, sucesso da banda espanhola de rock Jarabe de Palo na década de 90), Lila Downs, Los Fabulosos Cadillacs e Samuel Rosa, entre outros nomes. A faixa gravada por Santana com o vocalista e guitarrista do grupo mineiro Skank - Saideira (Samuel Rosa e Rodrigo Leão, 1998), sucesso do quarto álbum do Skank - está em alta rotação no canal de Santana no portal Vevo.

Registros com Naldo e Buchecha ligam 'rapper' Flor Rida ao funk nacional

O rapper norte-americano Flor Rida vem registrando suas conexões com cantores brasileiros de funk. Além de figurar em faixa de Adesivo, disco de inéditas lançado pelo cantor fluminense Buchecha neste mês de fevereiro de 2014, pondo seu rap no funk Baile em Miami, Flo Rida gravou com Naldo Benny. Com o funkeiro carioca, o artista registrou em janeiro nova versão de Maluquinha, música de autoria de Naldo, lançada pelo cantor carioca em seu CD e DVD Multishow ao vivo Naldo Benny (2013). O duo de Naldo e Flo Rida chega às rádios em março.

Cantora do rádio e do samba, Violeta Cavalcanti sai de cena em silêncio

É injusto o silêncio em torno da saída de cena da cantora Violeta Cavalcanti (1º de julho de 1923 - 14 de fevereiro de 2014). Nascida em Manaus (AM), mas radicada na cidade do Rio de Janeiro (RJ) ainda na infância, Violeta Cavalcanti foi uma cantora da era dourada do rádio, tendo integrado o elenco estelar da Rádio Nacional de 1941 a 1957. Foi uma voz do samba e do samba-canção. Viveu seu auge artístico nos anos 1940 e 1950, mas saboreou um revival na década de 1990, quando o grupo As Cantoras do Rádio - formado em 1987 com Violeta e outras divas da época como a carioca Nora Ney (1922 - 2003) e a mineira Zezé Gonzaga (1926 - 2008) - alcançou projeção na mídia carioca, chegando a gravar três CDs ao longo dos anos 1990. Nos shows do grupo, Violeta - que saiu de cena aos 90 anos, no Rio de Janeiro (RJ), vítima do Mal de Alzheimer - mostrou alegria contagiante por ter estar retomando com sucesso de público e crítica a carreira que interrompera voluntariamente em fins dos anos 1950 para se dedicar ao seu casamento. Aliás, quando se retirou dos estúdios de gravação e dos auditórios das rádios, a cantora já tinha inscrito seu nome na história da música brasileira. Iniciada na Victor em 1940, com a edição do disco de 78 rotações que trazia a marchinha Vou sair de Pai João (Leonel Azevedo e J. Cascata), a carreira fonográfica de Violeta Cavalcanti inclui discos lançados pelas extintas gravadoras Continental, Sinter e Star, mas deslanchou mesmo na Odeon, nos anos 1950, década em que Violeta deu voz em disco a músicas como o samba-canção Cartas (Antônio Maria e Ismael Netto, 1955) e o samba Fita meu olhos (Peter Pan, 1956). Herdeira do estilo vivaz da pioneira Carmen Miranda (1909 - 1955), Violeta Cavalcanti cantou com destreza sambas de Ary Barroso (1903 - 1964) e Dorival Caymmi (1914 - 2008), compositores não por acaso recorrentes no repertório do primeiro álbum da cantora, Exaltação à Bahia (Odeon, 1956). Por tudo isso, é triste que a definitiva saída de cena de Violeta Cavalcanti - ocorrida há duas semanas - tenha sido feita com absoluto silêncio na mídia.

Revelada nos anos 1950, voz acariciante de Rosana Toledo se cala no Rio

Nem a heroica tentativa do pesquisador carioca Rodrigo Faour de fazer o Brasil lembrar da voz de Rosana Toledo (29 de setembro de 1934 - 9 de fevereiro de 2014) - através da produção de coletânea dedicada à esquecida cantora mineira na série Super divas, editada em 2012 pela gravadora EMI Music - evitou que a saída de cena da intérprete no Rio de Janeiro (RJ), aos 79 anos, tenha transcorrido sem repercussão na mídia. Batizada Maria da Conceição Toledo, Rosana formou na virada dos anos 1940 para os 1950 o duo Irmãs Toledo com a mana Maria Helena. A dupla se fez ouvir nas rádios de Belo Horizonte (MG) até 1955, ano em que Rosana iniciou carreira solo. A estreia em disco aconteceu em 1957 com a edição, via Polydor, de disco de 78 rotações que trouxe uma das primeiras gravações da valsa Chove lá fora, sucesso do modernista cantor e compositor mineiro Tito Madi. Com timbre semelhante ao da cantora paulista Maysa (1936 - 1977), Rosana gravou discos de 1957 a 1964, período em que deu voz a músicas de compositores associados à Bossa Nova. Tinha voz aconchegante, como sentenciou o título de seu primeiro álbum, A voz acariciante de Rosana (Odeon, 1960), ao qual se seguiram - entre discos de 78 rotações e compactos - Sorriso e lágrimas (RCA-Victor, 1961), ... E a vida continua (RGE, 1963), A voz do amor (RGE, 1963) e Momento novo (Philips, 1964). Após este álbum, a cantora abandonou a carreira e, pelo que deixou entrever na entrevista concedida a Rodrigo Faour durante a produção da coletânea Super Divas, seu indomado temperamento artístico destoava da vivência de época em que as cantoras eram geralmente guiadas por gravadoras. O que gerou o esquecimento de Rosana Toledo pelo Brasil. 

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Música de Yanni ganha letras e vozes emblemáticas no álbum 'Inspirato'

Originalmente instrumental, a música do pianista e compositor grego Yanni ganha letras e vozes emblemáticas do universo musical erudito - como as de Placido Domingo, Renée Fleming, Rolando Villazón, Katherine Jenkins, Vittorio Grigolo, Russell Watson, Micaela Oeste, Nathan Pacheco, Chloe Lowery, Lauren Jelencovich, Placido Domingo Jr. e Pretty Yende - no álbum Inspirato. Programado pela Sony Music para ser lançado em escala mundial em 29 de abril de 2014, Inspirato apresenta as versões cantadas de temas como End of august - rebatizado Ode alla Grecia na versão com letra - e Flower duet, que virou Ode a l'humanite ao ganhar versos.

Samba cantado com Céu batiza 'Imune', segundo álbum de Diogo Poças

Já em rotação na internet, Imune - estilizado samba de gafieira composto por Diogo Poças com Marcos Tanaka e Jesse Santo - dá nome ao segundo álbum de Poças. No single, o cantor e compositor paulista faz dueto com sua irmã Céu. O samba tem sopros orquestrados por Leonardo Mendes e Paulo Malheiros. Mendes, aliás, é o produtor do disco Imune, sucessor de Tempo (Warner Music, 2009). Imune - o álbum - vai ser lançado por Poças em março de 2014.

Volume 2 de 'Barzinho novela anos 80' segue trilhas de Arantes e Djavan

Nas lojas neste mês de fevereiro de 2014 nos formatos de CD e DVD, em edição do selo Zeca PagoDiscos distribuída pela gravadora Universal Music, o segundo e último volume do projeto Um barzinho, um violão - Novelas anos 80 com mais 21 números extraídos da gravação ao vivo feita em dois shows fechados em hotel do Rio de Janeiro (RJ) em 17 e 18 de junho de 2013. Formado por 20 cantores e uma dupla sertaneja, o elenco deu voz a músicas propagadas em trilhas sonoras de novelas exibidas pela TV Globo nos anos 1980. Os compositores Djavan e Guilherme Arantes são nomes recorrentes no repertório. Eis as músicas (e intérpretes) do DVD:

1. Faltando um pedaço (Djavan, 1981) - Michel Teló
    (Sétimo sentido, 1982)
2. Tempo de Don Don (Nei Lopes, 1987) - Zeca Pagodinho
    (Mandala, 1987)

3. Meu bem querer (Djavan, 1979) - Sandy
    (Coração alado, 1980)
4. Deixa chover (Guilherme Arantes, 1981) - Ivete Sangalo
    (Baila comigo, 1981)
5. O que é que há? (Fábio Jr. e Sérgio Sá, 1982) - Alexandre Pires
    (Final feliz, 1982)
6. Luiza (Antonio Carlos Jobim, 1981) - Jorge Vercillo
    (Brilhante, 1981)

7. Meia lua inteira (Carlinhos Brown, 1989) - Ellen Oléria
    (Tieta, 1989)
8. Muito estranho (Cuida bem de mim) (Dalto e Claudio Rabello, 1982) - Toni Garrido
    (Sol de verão, 1982)

9. No rancho fundo (Ary Barroso e Lamartine Babo, 1931) - Paula Fernandes
    (Tieta, 1989)
10. Malandro sou eu (Arlindo Cruz, Sombrinha e Franco, 1985) - Xande de Pilares
     (Roque Santeiro, 1985)

11. Dona (Luiz Carlos Sá e Gutenberg Guarabyra, 1985) - Thiaguinho
     (Roque Santeiro, 1985)
12. Fullgás (Marina Lima e Antonio Cícero, 1984) - Fernanda Abreu

      (Vereda tropical, 1984)
13. Desesperar, jamais (Ivan Lins e Vitor Martins, 1980) - Mariene de Castro
      (Água Viva, 1980)
14. Enredo do meu samba (Ivone Lara e Jorge Aragão, 1984) - Mumuzinho
      (Partido Alto, 1984)

15. Você (Tim Maia, 1971) - Liah
      (Roda de fogo, 1986)
16. Bem te vi (Renato Terra) - Chitãozinho & Xororó
      (O amor é nosso!, 1981)

17. Um dia, um adeus (Guilherme Arantes, 1987) - Marina Elali
      (Mandala, 1987)
18. As vitrines (Chico Buarque, 1982) - Vander Lee
      (Sétimo sentido, 1982)

19. Nem um toque (Michael Sullivan & Paulo Massadas, 1986) - José Augusto
      (Roda de fogo, 1986)
20. Você é linda (Caetano Veloso, 1983) - Alex Cohen
      (Eu prometo, 1983)

21. Raça de heróis (Guilherme Arantes, 1989) - Guilherme Arantes
      (Que rei sou eu?, 1989)

Toni Garrido tenta voltar a campo com regravação do samba 'Tô voltando'

Vocalista da resistente banda de reggae Cidade Negra, para a qual voltou em 2011, o cantor fluminense Toni Garrido - em foto de Pedro Carrilho - tenta retorno ao campo musical com gravação de Tô voltando, samba dos compositores cariocas Maurício Tapajós (1943-1995) e Paulo César Pinheiro que, ao ser gravado em 1979 pela cantora baiana Simone, se tornou um dos hinos da anistia concedida aos presos políticos da ditadura de 1964. A regravação de Tô voltando foi feita por Garrido para campanha publicitária da marca de cerveja citada na letra. A ideia é pôr o samba em outro contexto social, celebrando a volta da Copa do Mundo ao Brasil.

Tania Mara lança 'single' com tema da trilha sonora da novela 'Em família'

Presença certeira nas trilhas sonoras das novelas dirigidas na TV Globo por seu marido, Jayme Monjardim, a cantora brasiliense Tania Mara lança via Som Livre o single Só vejo você. Música composta pela própria artista em parceria com Thiago Gimenez, Só vejo você figura na trilha sonora da novela Em família, estreada neste mês de fevereiro de 2014 no horário das 21h. A música é o tema do casal lésbico da trama, Clara (Giovana Antonelli) e Marina (Tainá Müller).

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Fruto de vivência carioca, 'Colheita' suaviza baianidade nagô de Mariene

Resenha de CD
Título: Colheita
Artista: Mariene de Castro
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * *

Fruto da vivência carioca de Mariene de Castro, cantora baiana que se radicou na cidade do Rio de Janeiro (RJ), o álbum Colheita suaviza o canto e a baianidade nagô desta intérprete de voz radiante. É com maior leveza no canto - nítida na regravação da balada Impossível acreditar que perdi você (Márcio Greyck e Cobel, 1970) na cadência bonita do samba - que Mariene se equilibra na ponte Bahia-Rio de Janeiro neste disco formatado por Max Pierre, produtor associado a nomes como o cantor carioca Zeca Pagodinho. Não por acaso, Pagodinho participa do CD, cantando (no seu tom habitualmente informal, sem rigor estilístico) Colheita, o samba inédito do compositor baiano Nelson Rufino que dá nome ao CD e que foi gravado com arranjo valorizado pelo realejo de Rildo Hora. Colheita, o disco, insere Mariene de Castro no nobre quintal carioca. Escolhido para promover o disco nas rádios do Rio de Janeiro, o samba Me beija (Arlindo Neto, Marquinhos Nunes e Renato Moraes) é típico fruto desse quintal. Mesmo que o baiano Roque Ferreira seja o compositor mais recorrente no repertório, a cadência do disco pende para o samba do Rio de Janeiro por conta dos arranjos, assinados em sua maioria pelo pianista Júlio Teixeira, a sós ou em parceria com os músicos da banda de Mariene. Basta ouvir Mágoa - samba composto por Roque Ferreira em parceria com o mineiro Toninho Geraes - para perceber que a matriz luminosa do canto da mineira Clara Nunes (1942 - 1983) por vezes ainda guia a baiana em Colheita, revelando a influência do projeto Um ser de luz (Universal Music, 2013), tributo a Clara que ajudou a popularizar o nome de Mariene no ano em que o Brasil lembrou as três décadas da precoce saída de cena da Guerreira. Disco de samba, Colheita atenua a carga afro-brasileira do repertório de Mariene de Castro, ainda que uma esplendorosa gravação de Oxossi (Roque Ferreira e Paulo César Pinheiro, 2004) - feita com o violoncelo de Jaques Morelenbaum e citação de ponto do orixá que nomeia a composição - esteja alocada já na abertura do disco, lembrando a origem e a fé da cantora. Origem reiterada no majestoso dueto com Maria Bethânia em A força que vem da raiz, samba inédito (em disco) de Roque Ferreira, parceiro de Dunga em Tirilê, outra inédita música cheia de baianidade que também conecta Mariene ao seu universo original. Disco que recusa a tristeza, Colheita reafirma a fé de Mariene de Castro no samba, na vida e em dias melhores. Música da cantora e compositora portuguesa Sara Tavares, Balancê (2005) liga o quintal brasileiro à África, em especial no suingue da música de Cabo Verde. Um dos pontos mais altos do disco, o partido Eu carrego patuá - dos compositores cariocas Juninho Thybau, Alexandre Cacrinha e Flavinho Bento - explicita o sincretismo religioso e musical promovido em Colheita. Samba-canção pouco ouvido do compositor carioca Cartola (1908 - 1980), Nós dois (1977) é veículo para Mariene exercitar os tons mais suaves adotados no canto da grande maioria das 14 músicas do álbum. O bandolim virtuoso de Hamilton de Holanda adorna a faixa. Já O que é o amor (Arlindo Cruz, Fred Camacho e Maurição, 2007) soa dispensável no disco porque, embora o registro de Mariene seja bonito como o samba, a recente gravação de Maria Rita ainda está na memória do Brasil. Mais sagaz foi a lembrança da toada-canção Retrato da vida (1998), primeira parceria do pernambucano Dominguinhos (1941 - 2013) com o alagoano Djavan. Pontuada pelo acordeom de Cicinho de Assis, a gravação de Mariene leva a música para outra dimensão, beirando o sublime. E se o samba nasceu na Bahia, como defende o poeta Vinicius de Moraes (1913 - 1980) em verso do Samba da benção (1966), uma das obras-primas que compôs com Baden Powell (1937 - 2000), o samba também floresceu no solo do Rio de Janeiro. O que justifica a benção aos bambas cariocas pedida pela convidada Beth Carvalho na apropriada regravação do Samba da benção. Para Mariene de Castro, sempre foi melhor ser alegre do que triste. Colheita é disco de cores vivas, todas expostas na Aquarela da Amazônia, o sambão de Toninho Geraes e Toninho Nascimento que exalta o Norte do Brasil, fechando o disco no toque caloroso dos ritmistas da bateria da escola de samba carioca Portela. Mesmo sem o tom radiante de Tabaroinha (2012), grande disco produzido por Alê Siqueira, Colheita expõe os bons frutos colhidos por Mariene de Castro em sua vivência carioca.

Álbum de estreia do grupo Oasis volta expandido em edição de 20 anos

Álbum de estreia do desativado grupo inglês Oasis, Definitely maybe (1994) vai ser expandido na edição que festeja os 20 anos de vida do influente disco. Programada para ser lançada no mercado fonográfico em 19 de maio de 2014, em diversos formatos, a The 20th anniversary edition de Definitely maybe abre série de relançamentos do catálogo do grupo liderado pelos irmãos Liam Gallagher e Noel Gallagher. Estão previstas - ainda em 2014 - reedições dos álbuns (What the story) Morning glory? (1995) e Be here now (1995). Definitely maybe vai estar disponível em edição tripla que adiciona raridades da obra fonográfica do Oasis - entre elas, registros ao vivo, demos gravadas em 1993 e versões acústicas das músicas - ao repertório do álbum original. Eis as (44) faixas da tripla The 20th anniversary edition de Definitely maybe:

CD 1
1. Rock'n'roll star
2. Shakermaker
3. Live forever
4. Up in the sky
5. Columbia
6. Supersonic
7. Bring it on down
8. Cigarettes & alcohol
9. Digsy's dinner
10. Slide away
11. Married with children


CD 2
1. Columbia (White label demo)
2. Cigarettes & alcohol (demo)
3. Sad song
4. I will believe (ao vivo)
5. Take me away
6. Alive (demo)
7. D'yer wanna be a spaceman?
8. Supersonic (ao vivo)
9. Up in the sky (versão acústica)
10. Cloudburst
11. Fade away
12. Listen up
13. I am the walrus (Live Glasgow Cathouse June 1994)
14. Whatever
15. (It's good) to be free
16. Half the world away


CD 3
1. Supersonic (Live at Glasgow Tramshed)
2. Rock'n'roll star (demo)
3. Shakermaker (Live Paris in-store)
4. Columbia (Eden Studios mix)
5. Cloudburst (demo)
6. Strange thing (demo)
7. Live forever (Live Paris in-store)
8. Cigarettes & alcohol (Live at Manchester Academy)
9. D'yer wanna be a spaceman? (Live at Manchester Academy)
10. Fade away (demo)
11. Take me away (Live at Manchester Academy)
12. Sad song (Live at Manchester Academy)
13. Half the world away (Live, Tokyo hotel room)
14. Digsy's dinner (Live, Paris in-store)
15. Married with children (demo)
16. Up in the sky (Live Paris in-store
)
17. Whatever (Strings)

Gênio do violão que arejou o flamenco, Paco de Lucía sai de cena aos 66

Gênio do violão, instrumento do qual recebeu as primeiras lições do pai, Francisco Sanchez Gomez (21 de dezembro de 1947 - 26 de fevereiro de 2014) - o músico espanhol conhecido no universo pop como Paco de Lucía - sai hoje de cena, mas fica seu legado inestimável. Lucía expandiu os limites do flamenco, arejando e globalizando o gênero que lhe deu fama, prestígio e reconhecimento em escala mundial. O músico - que saiu de cena no México, aos 66 anos, vítima de enfarte - revitalizou o flamenco ao misturá-lo com o jazz, com o blues, com a música clássica e até com a brasileiríssima bossa nova. Iniciada em 1958, quando o músico tinha apenas 11 anos, a carreira de Lucía alcançou pico de popularidade e aclamação nos anos 1970 quando estava unido ao cantor e músico espanhol Camaron de la Isla (1950 - 1992), em associação iniciada em 1968 que rendeu álbuns como El duende flamenco (1972) e Fuente y caudal (1973). Mas, a rigor, o músico já começara a chamar atenção em 1967 com a edição do álbum La fabulosa guitarra de Paco de Lucía. Nas décadas de 1980 e 1990, Lucía gravou discos com o guitarrista inglês de jazz John McLaughlin. A sós ou em boas companhias, o violonista espanhol encantou o mundo com sua técnica perfeita, com sua fluência no toque do instrumento e com sua capacidade de testar os limites do flamenco com genuíno sentimento de adoração pelo gênero que o projetou. Um sentimento que irmanou Paco de Lucía com os maiores bluesmen. Para esse gênio do violão, gigante imortal da música espanhola, o flamenco foi como o blues: uma música tocada com alma, pela necessidade humana de sobreviver à vida.

Eis as seis capas geradas pelo EP (de cinco músicas) do grupo Fresno

Em vez de um álbum, como chegou a ser divulgado oficialmente, Eu sou a maré viva - o 11º título da discografia do grupo gaúcho Fresno - foi configurado na forma de EP com cinco músicas inéditas. Com lançamento programado para 31 de março de 2014, o EP teve sua capa (no alto) divulgada pela banda na sua página oficial no Facebook. O detalhe é que cada faixa também tem uma capa específica. Eis as cinco músicas do EP Eu sou a maré viva, do Fresno:

1. À prova de balas
2. Manifesto - com Lenine e Emicida
3. Eu sou a maré viva
4. O único a perder
5. Icarus

Guitarrista do Barão, Fernando Magalhães se junta a Lly no solo 'Rock it!'

Segundo disco solo de Fernando Magalhães, guitarrista do grupo carioca Barão Vermelho, Rock it! (Warner Music / Toca Discos, 2013) bem poderia ter sido creditado também a Robert Lly, baixista do desativado grupo carioca Herva Doce (1982 - 1987). Além de ter produzido Rock it! com o guitarrista carioca, o baixista assina todas as dez músicas do sucessor do CD Fernando Magalhães (Warner Music, 2007) - disco solo lançado somente em edição digital - em parceria com o músico titular de Rock it!. Disco instrumental, Rock it! gravita em torno do universo do rock, como mostra a stoniana Púrpura, sem jogar nota fora com solos moldados somente para expor o virtuosismo do guitarrista. Lly toca em todas as dez faixas do CD. Além da fé, Anos luz, Esperando o sol e Sonhando acordado são músicas do álbum solo de Fernando Magalhães.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Inédita viciante de Tulipa, 'Megalomania' está disponível no site da artista

Tulipa Ruiz lança (viciante) música inédita, Megalomania, composta pela artista paulista com os músicos de sua banda (Caio Lopes, Gustavo Ruiz, Luiz Chagas e Márcio Arantes). Disponibilizada para download gratuito no site oficial da cantora a partir de hoje, 25 de fevereiro de 2014, Megalomania foi gravada em 12 de fevereiro no estúdio El Rocha, em São Paulo (SP). Produzida pelo guitarrista Gustavo Ruiz, irmão da cantora, a gravação foi mixada por Gustavo e por Vitor Paranhos no VOP Estúdio, situado na cidade de São Carlos (SP). Já a masterização do single foi feita por Tom Coyne no Sterling Sound Studios, em Nova York (EUA). Caracterizada por Tulipa como "single de verão para tocar em festinha", a música nasceu em 2013 em passagem de som de uma apresentação do show da turnê Tudo tanto. Uma pergunta do baixista Márcio Arantes ao avistar no palco um grande amplificador - "Vocês acham que é muita megalomania usar esse amplificador?" - foi o estopim para a criação da música, já apresentada em shows por Tulipa Ruiz (vista com seus parceiros em Megalomania na foto de Rodrigo Schimidt) no Rio de Janeiro e São Paulo ao longo deste mês de fevereiro.

Anna Ratto grava em estúdio com sua diretora Roberta Sá para extra de DVD

Anna Ratto vai gravar uma música em estúdio com Roberta Sá para os extras de seu primeiro DVD. A ideia inicial é que o dueto na música Nem sequer dormi fosse incluído no roteiro do show gravado ao vivo pela cantora e compositora carioca em 12 de fevereiro de 2014  no Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ), sob a direção de Roberta. Só que Roberta preferiu não conciliar sua estreante função de diretora com a participação especial no show, optando então por registrar posteriormente em estúdio o dueto com Ratto. Lançada em 2012, Nem sequer dormi é (boa) música da lavra de Ratto.

Djavan aloca inédita autoral, gravada em estúdio, como bônus de CD ao vivo

 Djavan gravou uma música inédita - Maledeto, composição de sua autoria - e a incluiu como faixa-bônus do CD Rua dos amores ao vivo. Com capa criada por 6D a partir de foto de Marcos Hermes, o CD e o DVD Rua dos amores ao vivo vão chegar às lojas em março de 2014 - através de parceria da Luanda Records (a gravadora do artista alagoano) com a Sony Music - com o registro do show captado sob a direção de Hugo Prata em 8 e 9 de novembro de 2013, em apresentações feitas por Djavan na casa HSBC Brasil, na cidade de São Paulo (SP). Prata assina a direção do clipe da balada Oceano, extraído da gravação ao vivo e lançado hoje, 25 de fevereiro de 2014, no canal oficial de Djavan na plataforma Vevo. Composição de Djavan que alavancou as vendas do álbum lançado pelo artista em 1989, Oceano foi a mais pedida pelos fãs do cantor - em enquete realizada através de redes sociais - para entrar no CD. Eis as 16 músicas que entraram no CD ao vivo e eis - na sequência - as 24 músicas do DVD  Rua dos amores, produzido e arranjado pelo próprio Djavan:

CD Rua dos amores ao vivo:
1. Pecado (Djavan, 2012)
2. Já não somos dois (Djavan, 2012)
3. Asa (Djavan, 1986)
4. Meu bem querer (Djavan, 1979)
5. Curumin (Djavan, 1989)
6. Irmã de neon (Djavan, 1996)
7. Oceano (Djavan, 1989)
8. Doidice (Djavan, 1987)
9. Ares sutis (Djavan, 2012)
10. Serrado (Djavan, 1978)
11. Flor de lis (Djavan, 1976)
12. Samurai (Djavan, 1982)
13. Seduzir (Djavan, 1981)
14. Se (Djavan, 1992)
15. Sina (Djavan, 1982)
16. Maledeto (faixa-bônus de estúdio) - música inédita

DVD Rua dos amores ao vivo:

1. Rua dos amores (Djavan, 2012)
2. Pecado (Djavan, 2012)
3. Acelerou (Djavan, 1999)
4. Já não somos dois (Djavan, 2012)
5. Asa (Djavan, 1986)
6. Meu bem querer (Djavan, 1979)
7. Vive (Djavan, 2012)
8. Curumim (Djavan, 1989)
9. Mal de mim (Djavan, 1989)
10. Anjo de vitrô (Djavan, 2012)
11. Irmã de neon (Djavan, 1996)
12. Bangalô (Djavan, 2012)
13. Oceano (Djavan, 1989)
14. Doidice (Djavan, 1987)
15. Ares sutis (Djavan, 2012)
16. Retrato da vida (Dominguinhos e Djavan, 1998)
17. Serrado (Djavan, 1978)
18. Flor de lis (Djavan, 1976)
19. Cigano (Djavan, 1989)
20. Samurai (Djavan, 1982)
21. Seduzir (Djavan, 1981)
22. Nem um dia (Djavan, 1996)
23. Se (Djavan, 1992)
24. Sina (Djavan, 1982)

Catto inaugura parceria com Moska com música de batida (e refrão) pop

Cantor e compositor gaúcho radicado em São Paulo (SP), Filipe Catto - em foto de Diego Ciarlariello - é o novo parceiro do cantor e compositor carioca Moska. A primeira música feita pelos artistas, Depois de amanhã, tem batida e refrão pop. Catto já canta a música nos shows da turnê que promove o seu CD ao vivo e DVD Entre cabelos, olhos & furacões (2013).

'Cicatriz' marca início da promoção do álbum de inéditas da Nação Zumbi

Nas rádios de todo o Brasil a partir de hoje, 25 de fevereiro de 2014, a música Cicatriz marca o início dos trabalhos promocionais do primeiro álbum de inéditas da Nação Zumbi desde Fome de tudo (2007). Kassin toca synth na faixa. A música está disponível para download gratuito no site do projeto Natura Musical, cujo patrocínio viabilizou a gravação do disco que reagrupou a Nação Zumbi (em foto de Vítor Salerno) 20 anos após a edição do seminal álbum Da lama ao caos (1994).  Produzido por Berna Ceppas e Kassin, o disco de inéditas da banda se chama Nação Zumbi. Caberá ao selo Slap (via Som Livre) lançar o CD gravado, mixado e masterizado por Daniel Carvalho no estúdio Monoaural, no Rio de Janeiro (RJ). Eis a letra da faixa Cicatriz:

Cicatriz (Jorge Du Peixe, Dengue, Lúcio Maia e Pupillo)

Quando fica a cicatriz
Fica difícil de esquecer

Visível marca de um riscado inesperado
Pra lembrar o que lhe aconteceu
Risível marca de um riscado desesperado

Pra lembrar e nunca mais esquecer

Fica bem desenhado só pra ser bem lembrado
Risco do erro mal-visto e mal-olhado
Quem vê vira a logo a vista para o outro lado
(Não é só um sinal de quem passou por maus bocados)
Mas essa daqui me traz uma boa lembrança
Não preciso esconder
Mas essa daqui me traz uma boa lembrança
Não vou mais esquecer

Seja como for, eu me lembrarei
Seja onde for, não esquecerei

Cicatriz
Quem vê nem diz
Que fizesse tudo isso por um triz
Cicatriz
Nem todo cuidado do mundo

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Eis as 12 músicas do álbum 'Shakira' e a capa do segundo single 'Empire'

Esta é a capa de Empire, segundo single do décimo álbum de estúdio da cantora colombiana Shakira. Intitulado Shakira, o álbum tem lançamento programado para 25 de março de 2014, via Sony Music, e apresenta 12 músicas em seu repertório (essencialmente) inédito e autoral. Empire sucede o single Can't remember to forget you, gravado com Rihanna e lançado no iTunes em 13 de janeiro. Eis, na ordem, as 12 músicas da edição standard do álbum Shakira:

1. Dare (La la la)
2. Can't remember to forget you - com Rihanna
3. Empire
4. You don't care about me
5. Cut me deep - com Magic!
6. 23
7. The one thing
8. Medicine
9. Spotlight
10. Broken record
11. Nunca me acuerdo de olvidarte
12. Loca por ti

Eis a capa de 'Bailar en la cueva', o álbum de Drexler que inclui Caetano

Com capa que expõe ilustração do artista plástico colombiano Mateo Rivano, Bailar en la cueva - primeiro CD de inéditas de Jorge Drexler desde Amar la trama (2010) - tem edição agendada para 25 de março de 2014 pela Warner Music. Gravado pelo cantor e compositor uruguaio entre Bogotá (Colômbia) e Madrid (Espanha), o autoral disco traz o nome do cantor e compositor brasileiro Caetano Veloso na música Bolívia. Décimo álbum de Drexler, Bailar en la cueva tem produção assinada por Carles Campón com Sebastián Merlín. O disco é dançante.

Jota Quest vai lançar em março EP com remixes de seu hit 'Mandou bem'

O grupo mineiro Jota Quest - em foto de Maurício Nahas - vai lançar em março de 2014, via Sony Music, EP com remixes de sua música Mandou bem (Gigi, Fábio O'Brian, Márcio Buzelin, Marco Túlio Lara, Paulinho Fonseca, PJ, Rogério Flausino, Jerry Barnes e Nile Rodgers), um dos maiores hits de 2013. Primeiro irresistível single do álbum de inéditas Funky funky boom boom (Sony Music, 2013), Mandou bem está sendo alvo de remixes. O do DJ português Pete Tha Zouk vai estar disponível no iTunes a partir de amanhã, 25 de fevereiro. Além do remix de Tha Zouk, o EP terá versões de Mandou bem criadas por Adriano Cintra, DJ Hum e Mister Jam.

O sol brilha para Beck na bela onda de melancolia folk de 'Morning phase'

Resenha de CD
Título: Morning phase
Artista: Beck
Gravadora: Capitol Records
Cotação: * * * *

Há luz no fim do túnel que conduz Morning phase - o 12º álbum de estúdio de Beck, lançado oficialmente nesta segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014 - ao seu longínquo antecessor Sea change (2002), o melancólico álbum de espírito folk que serenizou o som do cantor e compositor norte-americano. Primeiro álbum do artista desde Modern guilt (2008), miscigenado disco lançado já há seis anos,  Morning phase mostra que o sol também brilha para Beck entre cordas e camadas que formam a onda psicodélica de Wave, um dos pontos mais altos da inspirada safra de inéditas autorais do disco. O violão introduz e conduz canções como Don't let it go e Country down (música gravada, como sugere seu nome, com acento country aditivado pelo solo de uma gaita), mas não reina sozinho. As cordas orquestradas pelo pai do artista, David Richard Campbell, encorpam o som do álbum e atingem picos de beleza nas faixas-vinhetas instrumentais como Cycle - pequeno grande tema que abre o CD com 40 segundos - e Phase. No mercado fonográfico desde 1993, ano em que editou no formato de cassete seu obscuro álbum de estreia Golden feelings, o camaleônico Beck sempre transitou eventualmente pelo universo folk. Morning phase se impõe dentro desse universo particular do artista, soando brilhante ao conciliar luzes e sombras em repertório cheio de gemas. Waking light e Unforgiven pairam acima de quaisquer comparações com suas majestosas molduras orquestrais. Já Heart is a drum se diferencia no disco pela harmonização dos vocais que remetem ao som do quarteto norte-americano de folk rock Crosby, Stills, Nash & Young. Say goodbye trata a despedida sem peso, evidenciando que o teor melancólico de Morning phase é menor do que o de Sea change. Por mais que o formato desses dois álbuns sejam similares, Beck Hansen já é outro, como já sinalizara o primeiro single de Morning phase, Blue moon, lançado em janeiro. Seja como for, o que importa mesmo é que este 12º álbum de estúdio representa (outro) pico de inspiração na discografia do artista. Morning phase tem luz própria.

Alceu (re)abre janelas e portas da memória foliã no álbum 'Amigo da arte'

Resenha de CD
Título: Amigo da arte
Artista: Alceu Valença
Gravadora: Deck
Cotação: * * * * 1/2

Amigo da arte, o 29º álbum de Alceu Valença, alinha composições antigas e recentes do repertório autoral do cantor e compositor. Como a costura é nova, o CD - gravado entre 2001 e 2002, tendo sido retocado em 2013 com a refazenda de bases e vozes - se impõe como mais um belo conceitual disco de carreira na obra fonográfica do artista pernambucano. Conduzido pela saudade, Alceu reabre portas e janelas da memória foliã em cancioneiro que traça o roteiro do Carnaval de Olinda (PE), com escala em Recife (PE). É estratégico que Olinda (Alceu Valença, 1985) - música lançada pelo cantor no álbum Estação da luz (1985) - abra Amigo da arte com a expectativa da folia vindoura, com os batuques que evocam as ladeiras da cidade que dá nome à composição e com o toque mouro que sublinha a influência da música árabe na Nação Nordestina. É também estratégico que a também olindense Sonhos de valsa (Alceu Valença, 1985) - outra música extraída do álbum Estação da luz - feche Amigo da arte em tom onírico, já nas cinzas de quarta-feira, com a memória dessa folia ainda embriagada pelo éter do Carnaval. Fio condutor da memória foliã, a saudade - explicitada em releitura do Frevo nº 1 do Recife (Antônio Maria, 1951) que embute a melancolia do fado no arranjo e na voz da cantora portuguesa Carminho, convidada da faixa  - é corroída pela brasa dos metais que seguem o passo arretado do Frevo da lua (Alceu Valença, Gabriel Moura e Maurício Oliveira, 2010). No mesmo passo, Frevo dengoso (Alceu Valença e Don Tronxo) mantém a temperatura aquecida no calor das ladeiras de Olinda, cidade por onde circula o bloco natal O homem da meia-noite com seus bonecos gigantes. Parceria de Alceu com o compositor pernambucano Carlos Fernando (1937 - 2013), a quem o disco é dedicado, o lúdico frevo O homem da meia-noite (1975) descreve com versos imagéticos a folia do bloco de bonecos gigantes nas ladeiras de Olinda. Da mesma safra seminal de frevos, Sou eu teu amor (Alceu Valença e Carlos Fernando, 1979) preserva a força de seu explosivo refrão. Caboclinho lançado pelo artista no álbum De janeiro a janeiro (2002), Nas asas de um passarinho (Alceu Valença e Don Tronxo) representa no disco uma pausa para respiro na folia enquanto outro caboclinho, Amigo da arte (Alceu Valença, 1986), do álbum Rubi (1986), reforça a influência moura nos sons da Nação Nordestina. Maracatu - composto por Alceu a partir de poema do pernambucano Ascenso Ferreira (1895 - 1965) e lançado no álbum Cavalo de pau (1982) - evidencia a força do batuque do ritmo homônimo que também sobe e desce pelas ladeiras olindenses. Já Ciranda da aliança (Alceu Valença e Emanuel Cavalcanti) ganha força no roteiro pela adesão do coro de lavadeiras típico da ilha de Lia de Itamaracá, pioneira cultuadora do gênero. De volta a Olinda, Pirata José (Alceu Valença, 2002) - outra música do pouco ouvido álbum independente De janeiro a janeiro (2002) - reaviva a alegria urbana das ruas ao passo que a regravação do frevo-canção Voltei, Recife (Luiz Bandeira,1959) põe no roteiro carnavalesco de Amigo da arte a capital de Pernambuco. É escala na viagem de atmosfera olindense que conduz Alceu Valença por memórias e músicas antigas que o artista, hábil folião, recicla com propriedade em belo disco que soa fresco como as lembranças carnavalescas de uma quarta-feira de cinzas.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Lira arquiteta seu segundo disco solo, de novo com Pupillo na produção

Projetado como vocalista do Cordel do Fogo Encantado, Lira - ou Lirinha, como é conhecido no meio musical o cantor e compositor pernambucano José Paes de Lira, mentor do grupo que desativou em 2010 para partir em carreira solo - já prepara seu segundo álbum individual. Tal como Lira (2010), o segundo álbum solo do artista conta com Pupillo na produção, desta vez dividida com o próprio Lira. A previsão é que o CD seja lançado no segundo semestre de 2014.

Primeiro CD de Thiago Martins vai para a loja em abril via Coqueiro Verde

Nas lojas em abril de 2014 via Coqueiro Verde Records, mas já disponível em edição digital no iTunes, o primeiro álbum de Thiago Martins - ator e cantor carioca que até 2013 integrou o Trio Ternura - está sendo promovido com a música Tira minha paz (Umberto Tavares, Jefferson Junior e Wilson Prateado), faixa na qual Martins soa como versão masculina de Anita. Compositores recorrentes no repertório da musa carioca do funk pop, aliás, Umberto Tavares e Jefferson Junior assinam seis das 15 músicas do CD Thiago Martins. Entre as músicas da lavra da dupla, há Escondidinho, Reprise - faixa que traz a voz da cantora baiana Ivete Sangalo - e Valor. Gravado em 2013, com produção de Wilson Prateado, o disco também tem músicas autorais como Do outro lado do mundo (Thiago Martins, Diney e Dilsinho), Adeus (Thiago Martins e Micael Borges) - uma das composições inspiradas pela favela carioca do Vidigal, habitat do artista - e Passinho (Thiago Martins, Ronaldinho Gaúcho e Alex Nunes), tema de suingue blackPor esse ângulo leva a assinatura de Luiz Cláudio Picolé e Leandro Fab.

Produção de Bonadio acentua os clichês adolescentes do álbum de Gavassi

Resenha de CD
Título: Clichê adolescente
Artista: Manu Gavassi
Gravadora: Midas Music / Sony Music
Cotação: * * 1/2

 Aos 21 anos, completados em janeiro deste ano de 2014, Manoela Latini Gavassi Francisco ainda gravita em torno do universo teen, como já explicita o título de seu segundo álbum, Clichê adolescente (2013). Tanto que o CD traz, além do encarte, poster dessa cantora, compositora e atriz paulistana que pode ser vista atualmente na novela Em família, recém-estreada na TV Globo. A direção artística de Rick Bonadio faz com que o disco - produzido por Bonadio com Fernando Prado - faça jus ao título. O que valoriza o disco é que o repertório autoral - composto por canções levadas ao violão de Fernando Prado com maior ou menor dose das programações e teclados pilotados pelo próprio Bonadio - apresenta músicas com certo faro pop radiofônico. Algo que jamais deve ser desprezado pelo fato de todas as 12 músicas do disco serem assinadas solitariamente por Gavassi, sem parceiros. Duas delas - Conto de fadas (2012) e a canção que batiza o disco, Clichê adolescente (2013) - são alocadas no CD como faixas-bônus em versões acústicas por já terem sido previamente lançadas na internet. Mas Clichê adolescente, a música, também aparece no álbum em registro feito com um toque de country perceptível também em O fim. Sucessor do álbum Manu Gavassi (2010), cujo cancioneiro foi composto quando a artista tinha entre 15 e 16 anos, Clichê adolescente esboça certo crescimento em versos como o da balada Se eu te abraço. Há toques de rock na arquitetura pop de Caminho da vida e - sobretudo - na de Talvez. Mesmo assim, o que se ouve são basicamente canções de amor que versam sobre questões juvenis na voz miúda da cantautora. Umas - casos de Cicatriz e Eu dou risada - fazem saltar a aguçada veia pop da promissora compositora em meio aos arranjos do padrão Bonadio de qualidade. Outras - como Segredo, balada gravada por Gavassi em dueto com o ator e cantor capixaba Chay Suede, ídolo teen projetado via TV Record na novela Rebelde e no reality show Ídolos - se lambuzam no excesso de mel permitido para adolescentes. Entre clichês que até poderiam ter sido atenuados se a  produção evitasse seguir padrões, o álbum deixa entrever o real talento juvenil de Manu Gavassi.

Moyseis vislumbra horizontes em 'Casual solo' sob ótica da própria esquina

Resenha de CD
Título: Casual solo
Artista: Moyseis Marques
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * * 1/2

 É sintomático que, entre as 12 músicas alocadas por Moyseis Marques nas dez faixas de seu quarto álbum, Casual solo, haja Minha esquina, belo e esquecido samba do compositor carioca João Nogueira (1941 - 2000) lançado pelo cantor carioca Emílio Santiago (1946 - 2013) no álbum Comigo é assim (Philips, 1977). Nos versos de Minha esquina, o poeta carioca Paulo César Pinheiro - parceiro de Nogueira no tema - celebra o poder da criação nascida da dor do amor ("... Se Deus concede o dom / A mulher concede a dor"). Mineiro de vivência carioca, Moyseis aborda o amor neste disco de voz & violão gravado de 1 a 4 de setembro de 2013 no estúdio New Improved Recording, em Oakland (Califórnia, EUA), com intervenções eventuais dos músicos norte-americanos. O clarone de Harvey Wainapel, por exemplo, pontua Minha esquina, composição que se ajusta com perfeição ao repertório do álbum porque Moyseis vislumbra horizontes em Casual solo sob a ótica de sua esquina, situada em qualquer rua da Lapa, o bairro do Centro da cidade do Rio de Janeiro (RJ) que deu projeção ao bom cantor no seu boêmio circuito de samba e choro. É por isso que o destino final da viagem Brasil-Estados Unidos é a própria Lapa, focada no jogo de palavras armado pelo letrista Mauro Aguiar em De lupa na Lapa, parceria com Moyseis que alterna ritmos sem perder de vista a cadência bonita do samba. Afinal, o samba é o dom deste cantor cuja voz afinada ecoa com toda sua limpidez ao desvendar Alma de Lia (Marcello Gonçalves e Moyseis Marques) na forma de canção. Por ter o dom, o artista faz até Anjo exterminado (Jards Macalé e Waly Salomão, 1972) cair com naturalidade no samba após tirar do baú reluzente pérola do pagode carioca, Horizonte melhor (1984), samba solar e feliz da lavra de Luiz Carlos da Vila (1949 - 2008) com Adilson Victor. No tom intimista de Casual solo, Horizonte melhor é acoplado com Aqui, oh! (Toninho Horta e Fernando Brant, 1969), valiosa joia guardada em cofres das Geraes. E, como "Bendito é o fruto dessas Minas Gerais", Amor de sol nascente - bela inédita de Moacyr Luz com Moyseis Marques - traz em seu d.n.a. algo da toada mineira. Também situada fora da esquina do samba, a valsa És - outra bela inédita, esta de Moyseis com João Callado - remete nos versos e na arquitetura melódica ao cancioneiro mais recente de Chico Buarque de Hollanda. Neste solo em que Moyseis adota tom mais casual sem diluir o rigor estilístico das interpretações, És é linkada na mesma faixa com The very thought of you (1934), o standard de alma norte-americana do compositor inglês Ray Noble (1903 - 1978). Talvez por ser pouco mais do que uma citação em És, a canção The very thought of you soe no disco com menor poder de sedução do que a regravação de Is this love? (1978), o reggae que Moyseis afasta da praia do cantor e compositor jamaicano Bob Marley (1945 - 1981) até transformá-lo numa canção de amor. Aliás, como o disco  tem espírito romântico, o ponto dissonante do repertório de Casual solo é Nomes de favela (Paulo César Pinheiro, 2004), samba de tonalidade social que contrasta com a poesia vintage da valsa O ciclo da rosa (Vidal Assis e Moyseis Marques), adornada pelo seresteiro violão de sete cordas tocado por Brian Moran. O ciclo da rosa é exemplo da habilidade de Moyseis Marques em contemplar outros horizontes musicais neste CD - que chega às lojas em março - sem se afastar da esquina do samba.

Pixote festeja 20 anos de pagode no retrospectivo DVD 'Sem moderação'

Formado em 1993 por adolescentes que tocavam em praça de São Paulo (SP), o grupo de pagode Pixote festeja duas décadas de vida com o lançamento do 11º título de discografia iniciada em 1995 com o álbum Brilho de cristal, lançado pela gravadora indie Zimbabwe e batizado com o nome do samba de Délcio Luiz e Netinho que virou hit radiofônico, abrindo as portas do mercado de pagode para o grupo. Já nas lojas nos formatos de CD e DVD, com distribuição da Som Livre, Pixote 20 anos - Sem moderação rebobina Brilho de cristal em pot-pourri captado no show gravado ao vivo em 2013 na casa Credicard Hall, em São Paulo (SP). O roteiro alinha 37 músicas em 26 números no roteiro perpetuado na íntegra no DVD (o CD toca 21 músicas em 14 faixas). O carioca Grupo Revelação entra em cena em Atentado ao pudor (Fernando Resende, Jhonatan Alexandre e Mozart do Cavaco). Já Luiz Carlos - o vocalista do grupo paulistano Raça Negra - participa de Insegurança (Valtinho Jota). Nos extras, o DVD apresenta making of, documentário e takes da turnê feito por Pixote na Europa.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Título do terceiro álbum de Lilly Allen alude, 'sem gozação', a CD de West

"É uma homenagem a Kanye West, não uma gozação", se apressou em esclarecer a cantora e compositora britânica Lily Allen ao revelar o título, Sheezus, de seu terceiro álbum. O nome Sheezus alude de forma intencional ao título do recente sexto álbum solo do rapper norte-americano Kanye West, Yeezus (Def Jam, 2013). Com data ainda incerta de lançamento, Sheezus tem três músicas - Air balloon (joia pop de alto quilate), Hard out here e L8 CMMR (tema da trilha sonora da série Girls) - confirmadas em seu repertório essencialmente autoral.

Disco solo de Pharrell reúne Alicia, Daft Punk, Justin Timberlake e Miley

Álbum solo de Pharrell Williams, programado para ser lançado em 3 de março de 2014 pela Columbia Records, G I R L tem a participação do duo francês Daft Punk em música intitulada Gust of wind, bisando a conexão que rendeu o megahit Get lucky, faixa do quarto álbum da dupla, Randon access memories (2013). Além do Daft Punk, Gust of wind foi formatada com a adesão do guitarrista canadense Francesco Yates. O duo francês de música eletrônica integra o estelar time de convidados de G I R L ao lado de nomes norte-americanos como Alicia Keys, Justin Timberlake e Miley Cyrus. A ficha técnica do álbum inclui ainda o nome do compositor alemão Hans Zimmer, aclamado pela criação de trilhas sonoras de filmes norte-americanos. Eis as músicas e convidados de G I R L, primeiro disco solo de Pharrell desde 2006:

1. Marilyn Monroe
2. Brand new - com Justin Timberlake
3. Hunter
4. Gush
5. Happy
6. Come get it Bae - com Miley Cyrus (nos backing-vocals)
7. Gust of wind - com Daft Punk
8. Lost queen
9. FREQ
10. You know who you are - com Alicia Keys
11. It girl

Dudu retorna à avenida com sua (expandida) antologia de sambas-enredo

Em 2007, Dudu Nobre lançou via Universal Music o CD Os mais belos sambas-enredo de todos os tempos, antologia produzida por Rildo Hora com 12 composições do gênero revividas pelo cantor e compositor carioca em três aparições no programa Domingão do Faustão, comandado pelo apresentador Fausto Silva na TV Globo. Sete anos depois, Dudu Nobre volta à avenida e expande sua antologia no DVD e CD ao vivo também intitulados Os mais belos sambas-enredo de todos os tempos e editados pela Radar Records neste mês de fevereiro de 2014. A gravação ao vivo foi feita pelo artista em show na Cidade do Samba, no Rio de Janeiro (RJ), em dezembro de 2012. Com seu canto esfuziante e a presença de convidados como Arlindo Cruz e Monarco, Dudu evidencia a nobreza de 24 sambas-enredo apresentados na avenida entre 1964 e 1993. O roteiro inclui temas instrumentais de Dudu. Eis as faixas do DVD:

1. Batucada (instrumental)
2. É hoje (União Da Ilha Do Governador, 1982)
3. Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós (Imperatriz Leopoldinense, 1989)
4. Kizomba, a festa da raça (Unidos de Vila Isabel, 1988) - com Arlindo Cruz
5. Menininha do Gantois (Mocidade Independente de Padre Miguel, 1976)
6. Festa do Círio de Nazaré (Estácio de Sá, 1975)
7. Contos de areia (Portela, 1984) /
    Ilu Ayê (Terra da vida) (Portela, 1972) - com Monarco e Zeca Pagodinho
8. Domingo (União da Ilha do Governador, 1977)
9. 33 Destino Dom Pedro II (Em Cima da Hora, 1984)
10. E eles verão a Deus (Unidos da Ponte 1983) - com Seu Jorge
11. Bateria de primeira (instrumental)
12. Heróis da liberdade (Império Serrano, 1969)
13.
Bumbum paticumbum prugurundum (Império Serrano, 1982)
- com Velha Guarda do Império Serrano
14. Os sertões (Em Cima da Hora, 1976)
15. Sonho de um Sonho (Unidos de Vila Isabel, 1980)
16. Sonhar não custa nada (Mocidade Independente de Padre Miguel, 1992)
17. Sonhar com rei dá leão (Beija-Flor, 1976) /
      A grande constelação das estrelas negras (Beija-Flor, 1983) - com Neguinho da Beija-Flor
18. 100 anos de liberdade, realidade ou Ilusão ( Estação Primeira de Mangueira, 1988)
19. Bahia de todos os Deuses (Acadêmicos do Salgueiro, 1969)
20. O amanhã (União da Ilha do Governador, 1978)
21. O tititi da Sapoty (Estácio de Sá, 1987) /
      Festa para um rei negro (Pega no ganzé) (Acadêmicos do Salgueiro, 1971) /
      Peguei um ita no Norte (Acadêmicos do Salgueiro, 1993)
22. Aquarela brasileira (Império Serrano, 1964)
23. No batuque, no suingue (instrumental)

Galo canta baixo, mas som cru e roqueiro de 'Asa' atinge o pico da beleza

Resenha de CD
Título: Asa
Artista: Gustavo Galo
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * * * *
Disco disponível para download gratuito e legalizado no site oficial do artista

Já são oito anos de estrada e dois discos gravados com a Trupe Chá de Boldo, mas o nome de Gustavo Galo somente ganha real relevância na cena musical brasileira com o lançamento independente, neste mês de fevereiro de 2014, do primoroso primeiro disco solo do cantor e compositor paulistano, Asa. Galo canta baixo e certamente vai decepcionar ouvidos habituados aos padrões vocais instaurados pela MPB da era dos festivais dos anos 1960, mas o som cru, minimalista e contemporâneo de seu disco atinge o pico da beleza. Tomara (Gustavo Galo e arrudA) arrebata já na abertura do álbum com um azeitado mix de melodia (bonita) e poesia. Gravado em setembro de 2013 no estúdio Submarino Fantástico, em São Paulo (SP), com produção dividida entre Gustavo Ruiz e Tatá Aeroplano, Asa mantém nas alturas o voo solo de Galo ao longo de suas 14 músicas. Os arranjos - executados pela banda formada por Meno Del Picchia (baixo), Pedro Gongom (bateria e percussão), Peri Pane (violoncelo), Tomás Oliveira (piano e rhodes) e Zé Pi (guitarra) - transitam pelo universo indie pop. Por vezes em tom roqueiro - como em (Peri Pane e arrudA), tema que versa sobre a solidão amplificada pela ausência do ser amado - mas por vezes em climas acústicos. Em qualquer tom, Asa poetiza a falência do cotidiano afetivo de forma coloquial. Cantei, cantei (Gustavo Galo e Marcelo Segreto) recorre à metalinguagem para bater na tecla da dor da saudade do ser amado. Dentro desse universo, a sagaz releitura roqueira de Feito gente (Walter Franco, 1975) cai na pista - com distorções roqueiras e timbres eletrônicos - de forma natural. Na vivência do amor, todos são a faca e a ferida, os heróis e os covardes, em mundo pautado por modas e costumes já automatizados. A propósito, Moda (Gustavo Galo e Peri Pane) - uma canção de arquitetura inicialmente delicada que ganha textura mais indie roqueira à medida que avançam os três minutos e nove segundos da faixa - chama atenção, com certa ironia, para tendências que desajustam relacionamentos afetivos. Contudo, o transamba De aeroplano (Gustavo Galo) recusa nostalgias e tristezas, propondo um voo alegre, sem pressa de aterrissar no mundo afetivo real. Delícia pop, Um garoto (Gustavo Galo) versa sobre arroubo adolescente com um pitada de humor. Levada pelo violão de Galo, Seresta (Gustavo Galo) refaz o link amor-poesia com letra que é convite à paixão, reforçado pelo coro que aditiva o tema. Crua em sua mola básica, Cama deita e rola na poesia de Tatá Aeroplano, compositor da música já gravada pelo grupo Cérebro Eletrônico no álbum Deus e o diabo no liquidificador (2010). Nosso amor é uma droga (Gustavo Galo e Peri Pane) é canção que entorpece com seus versos alucinógenos. Lirinha figura nesse urbano cordel encantado. Por fim, a música-título Asa (Galo e Arruda) - gravada com a voz de Ava Rocha - reconecta o disco e o som de Galo à poesia de arrudA. A faixa inicia no tempo da delicadeza, mas ganha progressivas intensidade e pressão, contraste que pauta Asa, belo álbum que agiganta o nome de Gustavo Galo na cena musical brasileira e que já tem o seu lugar precocemente garantido entre os melhores discos de 2014.