segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Alceu (re)abre janelas e portas da memória foliã no álbum 'Amigo da arte'

Resenha de CD
Título: Amigo da arte
Artista: Alceu Valença
Gravadora: Deck
Cotação: * * * * 1/2

Amigo da arte, o 29º álbum de Alceu Valença, alinha composições antigas e recentes do repertório autoral do cantor e compositor. Como a costura é nova, o CD - gravado entre 2001 e 2002, tendo sido retocado em 2013 com a refazenda de bases e vozes - se impõe como mais um belo conceitual disco de carreira na obra fonográfica do artista pernambucano. Conduzido pela saudade, Alceu reabre portas e janelas da memória foliã em cancioneiro que traça o roteiro do Carnaval de Olinda (PE), com escala em Recife (PE). É estratégico que Olinda (Alceu Valença, 1985) - música lançada pelo cantor no álbum Estação da luz (1985) - abra Amigo da arte com a expectativa da folia vindoura, com os batuques que evocam as ladeiras da cidade que dá nome à composição e com o toque mouro que sublinha a influência da música árabe na Nação Nordestina. É também estratégico que a também olindense Sonhos de valsa (Alceu Valença, 1985) - outra música extraída do álbum Estação da luz - feche Amigo da arte em tom onírico, já nas cinzas de quarta-feira, com a memória dessa folia ainda embriagada pelo éter do Carnaval. Fio condutor da memória foliã, a saudade - explicitada em releitura do Frevo nº 1 do Recife (Antônio Maria, 1951) que embute a melancolia do fado no arranjo e na voz da cantora portuguesa Carminho, convidada da faixa  - é corroída pela brasa dos metais que seguem o passo arretado do Frevo da lua (Alceu Valença, Gabriel Moura e Maurício Oliveira, 2010). No mesmo passo, Frevo dengoso (Alceu Valença e Don Tronxo) mantém a temperatura aquecida no calor das ladeiras de Olinda, cidade por onde circula o bloco natal O homem da meia-noite com seus bonecos gigantes. Parceria de Alceu com o compositor pernambucano Carlos Fernando (1937 - 2013), a quem o disco é dedicado, o lúdico frevo O homem da meia-noite (1975) descreve com versos imagéticos a folia do bloco de bonecos gigantes nas ladeiras de Olinda. Da mesma safra seminal de frevos, Sou eu teu amor (Alceu Valença e Carlos Fernando, 1979) preserva a força de seu explosivo refrão. Caboclinho lançado pelo artista no álbum De janeiro a janeiro (2002), Nas asas de um passarinho (Alceu Valença e Don Tronxo) representa no disco uma pausa para respiro na folia enquanto outro caboclinho, Amigo da arte (Alceu Valença, 1986), do álbum Rubi (1986), reforça a influência moura nos sons da Nação Nordestina. Maracatu - composto por Alceu a partir de poema do pernambucano Ascenso Ferreira (1895 - 1965) e lançado no álbum Cavalo de pau (1982) - evidencia a força do batuque do ritmo homônimo que também sobe e desce pelas ladeiras olindenses. Já Ciranda da aliança (Alceu Valença e Emanuel Cavalcanti) ganha força no roteiro pela adesão do coro de lavadeiras típico da ilha de Lia de Itamaracá, pioneira cultuadora do gênero. De volta a Olinda, Pirata José (Alceu Valença, 2002) - outra música do pouco ouvido álbum independente De janeiro a janeiro (2002) - reaviva a alegria urbana das ruas ao passo que a regravação do frevo-canção Voltei, Recife (Luiz Bandeira,1959) põe no roteiro carnavalesco de Amigo da arte a capital de Pernambuco. É escala na viagem de atmosfera olindense que conduz Alceu Valença por memórias e músicas antigas que o artista, hábil folião, recicla com propriedade em belo disco que soa fresco como as lembranças carnavalescas de uma quarta-feira de cinzas.

5 comentários:

  1. Amigo da arte, o 29º álbum de Alceu Valença, alinha composições antigas e recentes do repertório autoral do cantor e compositor. Como a costura é nova, o CD - gravado entre 2001 e 2002, tendo sido retocado em 2013 com a refazenda de bases e vozes - se impõe como mais um belo conceitual disco de carreira na obra fonográfica do artista pernambucano. Conduzido pela saudade, Alceu reabre portas e janelas da memória foliã em cancioneiro que traça o roteiro do Carnaval de Olinda (PE), com escala em Recife (PE). É estratégico que Olinda (Alceu Valença, 1985) - música lançada pelo cantor no álbum Estação da luz (1985) - abra Amigo da arte com a expectativa da folia vindoura, com os batuques que evocam as ladeiras da cidade que dá nome à composição e com o toque mouro que sublinha a influência da música árabe na Nação Nordestina. É também estratégico que a também olindense Sonhos de valsa (Alceu Valença, 1985) - outra música extraída do álbum Estação da luz - feche Amigo da arte em tom onírico, já nas cinzas de quarta-feira, com a memória dessa folia ainda embriagada pelo éter do Carnaval. Fio condutor da memória foliã, a saudade - explicitada em releitura do Frevo nº 1 do Recife (Antônio Maria, 1951) que embute a melancolia do fado no arranjo e na voz da cantora portuguesa Carminho, convidada da faixa - é corroída pela brasa dos metais que seguem o passo arretado do Frevo da lua (Alceu Valença, Gabriel Moura e Maurício Oliveira, 2010). No mesmo passo, Frevo dengoso (Alceu Valença e Don Tronxo) mantém a temperatura aquecida no calor das ladeiras de Olinda, cidade por onde circula o bloco natal O homem da meia-noite com seus bonecos gigantes. Parceria de Alceu com o compositor pernambucano Carlos Fernando (1937 - 2013), a quem o disco é dedicado, o lúdico frevo O homem da meia-noite (1979) descreve com versos imagéticos a folia do bloco de bonecos gigantes nas ladeiras de Olinda. Da mesma safra seminal de frevos, Sou eu teu amor (Alceu Valença e Carlos Fernando, 1979) preserva a força de seu explosivo refrão. Caboclinho lançado pelo artista no álbum De janeiro a janeiro (2002), Nas asas de um passarinho (Alceu Valença e Don Tronxo) representa no disco uma pausa para respiro na folia enquanto outro caboclinho, Amigo da arte (Alceu Valença, 1986), do álbum Rubi (1986), reforça a influência moura nos sons da Nação Nordestina. Maracatu - composto por Alceu a partir de poema do pernambucano Ascenso Ferreira (1895 - 1965) e lançado no álbum Cavalo de pau (1982) - evidencia a força do batuque do ritmo homônimo que também sobe e desce pelas ladeiras olindenses. Já Ciranda da aliança (Alceu Valença e Emanuel Cavalcanti) ganha força no roteiro pela adesão do coro de lavadeiras típico da ilha de Lia de Itamaracá, pioneira cultuadora do gênero. De volta a Olinda, Pirata José (Alceu Valença, 2002) - outra música do pouco ouvido álbum independente De janeiro a janeiro (2002) - reaviva a alegria urbana das ruas ao passo que a regravação do frevo-canção Voltei, Recife (Luiz Bandeira,1959) põe no roteiro carnavalesco de Amigo da arte a capital de Pernambuco. É escala na viagem de atmosfera olindense que conduz Alceu Valença por memórias e músicas antigas que o artista, hábil folião, recicla com propriedade em belo disco que soa fresco como as lembranças carnavalescas de uma quarta-feira de cinzas.

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  2. O disco expõe a riqueza e a pluralidade do clima carnavalesco de Recife-Olinda, pontuada pelo imaginário do mago Alceu Valença. Uma maravilha e não podia ser diferente.
    Em tempo "De janeiro a Janeiro" Pra mim é um dos melhores discos de Alceu, pena realmente ter sido na época vendido em bancas, e por isso, mal divulgado.

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  3. O título do CD é "Amigo da Arte" e não "Amigo da Tarde", como foi divulgado no blog.

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  4. O título do CD é "Amigo da Arte" e não "Amigo da Tarde", como foi publicado no blog.

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  5. Grato pelo toque, Paulinho, o nome do CD está correto no texto. Mas, de fato, no título da resenha, saiu errado. Abs, obrigado, MauroF

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