Resenha de livro
Título: Wilson Baptista - O samba foi sua glória!
Artista: Rodrigo Alzuguir
Editora: Leya / Casa da Palavra
Cotação: * * * * *
Por conta do faro apurado do cantor e compositor carioca Paulinho da Viola para detectar grandes sambas do passado, muitos ouvintes de discos descobriram que a obra do compositor fluminense Wilson Baptista (1913 - 1968) não se restringe aos sambas pouco inspirados da malandra disputa musical (e não uma briga movida a ódio, como tem se propagado erroneamente) travada em 1933 com o compositor carioca Noel Rosa (1910 - 1937) - luta na qual Baptista foi nocauteado pelo genial Noel. Ao dar voz na primeira metade da década de 1970 a obras-primas como Meu mundo é hoje (Eu sou assim) (Wilson Baptista e José Baptista, 1965) e Nega Luzia (Wilson Baptista e Jorge de Castro, 1956), regravadas nos seus álbuns A dança da solidão (1972) e Nervos de aço (1973) respectivamente, Paulinho da Viola jogou luz sobre a inspiração de um grande compositor que saíra de cena em 1968, pobre e esquecido, sem receber as flores em vida. Um compositor trabalhador, que deixou cerca de 600 músicas feitas entre as décadas de 1930 e 1960. Várias foram vendidas no comércio informal instituído entre compositores com músicas (mas sem dinheiro às vezes para as necessidades mais básicas) e aproveitadores sem inspiração (mas com dinheiro suficiente para comprar a alheia). A vida de Wilson Baptista rendeu livro à altura da importância e da grandiosidade de sua obra. Wilson Baptista - O samba foi sua glória! é biografia alentada. Em empreitada de fôlego, que consumiu uma década de pesquisa sobre a vida e obra do compositor nascido em família musical de Campos de Goytacazes (RJ), o escritor, músico, ator e compositor carioca Rodrigo Alzuguir apresenta a biografia definitiva de Wilson Baptista. Além de ser dono de texto estiloso e fluente, o autor teve o zelo de não apresentar verdades absolutas - pecado de vários biógrafos. Quando há mais de uma versão sobre um fato, e não é possível apurar qual a verdadeira (sobretudo nas até então desconhecidas passagens da infância de Baptista em Campos e da sua vinda para o Rio na década de 1920, aos 13 anos, como viajante clandestino em trem que transportava vacas), Alzuguir tem o cuidado de expor todas elas. E de admitir eventualmente a incapacidade de elucidar uma questão, como a possível rusga entre Baptista e a cantora carioca Aracy de Almeida (1914 - 1988), intérprete original do samba Louco (Ela é seu mundo) (Wilson Baptista e Henrique de Almeida, 1947). O livro é extremamente bem escrito. Abstêmio e sem conexão com a vida do morro, o que contraria dois estereótipos associados aos sambistas surgidos no Rio de Janeiro (RJ) nos anos 1930, Baptista teve que se virar no ambiente malandro do Centro da cidade em que amargou misérias, mas também conheceu a glória a partir do sucesso de seu samba Oh, seu Oscar!, composto em parceria com o compositor mineiro Ataulfo Alves (1909 - 1969) e lançado em 1939 na voz do cantor carioca Cyro Monteiro (1913 - 1973). O foco do livro é sempre Wilson Baptista, mas, ao reconstituir os passos de seu biografado, Alzuguir acaba montando sedutor painel do boêmio Rio de Janeiro do teatro de revista, da mítica Lapa e da era dourada do rádio e da implantação da indústria do disco. O inventário completo da ainda pouco conhecida obra do compositor de Chico Brito (Wilson Baptista e Afonso Teixeira, 1950) e Emília (Wilson Baptista e Haroldo Lobo, 1941) - entre outros sambas que fizeram crônicas de personagens e costumes do Rio de Janeiro do bamba Wilson Baptista - valoriza (ainda mais) uma das melhores biografias publicadas no Brasil.
Por conta do faro apurado do cantor e compositor carioca Paulinho da Viola para detectar grandes sambas do passado, muitos ouvintes de discos descobriram que a obra do compositor fluminense Wilson Baptista (1913 - 1968) não se restringe aos sambas pouco inspirados da malandra disputa musical (e não uma briga movida a ódio, como tem se propagado erroneamente) travada em 1933 com o compositor carioca Noel Rosa (1910 - 1937) - luta na qual Baptista foi nocauteado pelo genial Noel. Ao dar voz na primeira metade da década de 1970 a obras-primas como Meu mundo é hoje (Eu sou assim) (Wilson Baptista e José Baptista, 1965) e Nega Luzia (Wilson Baptista e Jorge de Castro, 1956), regravadas nos seus álbuns A dança da solidão (1972) e Nervos de aço (1973) respectivamente, Paulinho da Viola jogou luz sobre a inspiração de um grande compositor que saíra de cena em 1968, pobre e esquecido, sem receber as flores em vida. Um compositor trabalhador, que deixou cerca de 600 músicas feitas entre as décadas de 1930 e 1960. Várias foram vendidas no comércio informal instituído entre compositores com músicas (mas sem dinheiro às vezes para as necessidades mais básicas) e aproveitadores sem inspiração (mas com dinheiro suficiente para comprar a alheia). A vida de Wilson Baptista rendeu livro à altura da importância e da grandiosidade de sua obra. Wilson Baptista - O samba foi sua glória! é biografia alentada. Em empreitada de fôlego, que consumiu uma década de pesquisa sobre a vida e obra do compositor nascido em família musical de Campos de Goytacazes (RJ), o escritor, músico, ator e compositor carioca Rodrigo Alzuguir apresenta a biografia definitiva de Wilson Baptista. Além de ser dono de texto estiloso e fluente, o autor teve o zelo de não apresentar verdades absolutas - pecado de vários biógrafos. Quando há mais de uma versão sobre um fato, e não é possível apurar qual a verdadeira (sobretudo nas até então desconhecidas passagens da infância de Baptista em Campos e da sua vinda para o Rio na década de 1920, aos 13 anos, como viajante clandestino em trem que transportava vacas), Alzuguir tem o cuidado de expor todas elas. E de admitir eventualmente a incapacidade de elucidar uma questão, como a possível rusga entre Baptista e a cantora carioca Aracy de Almeida (1914 - 1988), intérprete original do samba Louco (Ela é seu mundo) (Wilson Baptista e Henrique de Almeida, 1947). O livro é extremamente bem escrito. Abstêmio e sem conexão com a vida do morro, o que contraria dois estereótipos associados aos sambistas surgidos no Rio de Janeiro (RJ) nos anos 1930, Baptista teve que se virar no ambiente malandro do Centro da cidade em que amargou misérias, mas também conheceu a glória a partir do sucesso de seu samba Oh, seu Oscar!, composto em parceria com o compositor mineiro Ataulfo Alves (1909 - 1969) e lançado em 1939 na voz do cantor carioca Cyro Monteiro (1913 - 1973). O foco do livro é sempre Wilson Baptista, mas, ao reconstituir os passos de seu biografado, Alzuguir acaba montando sedutor painel do boêmio Rio de Janeiro do teatro de revista, da mítica Lapa e da era dourada do rádio e da implantação da indústria do disco. O inventário completo da ainda pouco conhecida obra do compositor de Chico Brito (Wilson Baptista e Afonso Teixeira, 1950) e Emília (Wilson Baptista e Haroldo Lobo, 1941) - entre outros sambas que fizeram crônicas de personagens e costumes do Rio de Janeiro do bamba Wilson Baptista - valoriza (ainda mais) uma das melhores biografias publicadas no Brasil.
ResponderExcluirAdoro biografias de artistas brasileiros. Com elas, é possível aprender muito sobre a história não oficial do Brasil.
ResponderExcluirValeu pela dica, Mauro.
abração,
Denilson
Em meio a tantas biografias mal escritas ou superficiais, como é bom saber sobre o lançamento de desta! Vou ler! Obrigado pela dica, Mauro!
ResponderExcluirAdoro biografias.
ResponderExcluirBoa resenha, me convenceu a comprar o livro. Existem muitas biografias ruins no mercado, eu seleciono apenas as boas.
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