Resenha de CD
Título: The Chico Buarque experience
Artista: Vários
Gravadora: Edição independente de O. J. Castro
Cotação: * * *
Embora Chico Buarque seja um dos maiores compositores brasileiros do gênero rotulado como MPB, a música do compositor carioca nunca obteve no exterior a visibilidade obtida pelas obras de colegas como o também carioca Ivan Lins e o alagoano Djavan. Além de o cancioneiro de Chico ter diálogo nulo com o jazz (porta que abriu o mercado do exterior para Djavan, por exemplo), as letras de suas músicas são pontos fortes e indissociáveis de sua obra. Produzido pelo poeta brasileiro O. J. Castro de forma independente, o inusitado CD The Chico Buarque experience tenta heroicamente reverter essa situação ao apresentar versões em inglês de dez músicas do compositor, a maioria lançada nos anos 1960 e 1970, décadas do auge produtivo do autor. Autorizadas por Chico, as dez versões são assinadas por Castro. Em tese, o disco de título em inglês pode abrir os ouvidos de dois bilhões de pessoas para a obra de Chico. Ouvintes em potencial que se comunicam em inglês e que são refratários a músicas feitas em português, língua de alcance e entendimento reduzidos em esfera planetária. As versões em si são boas. A autorização de Chico para a edição do disco não veio à toa. Castro procurou - e conseguiu - preservar o sentido e a poesia de versos de músicas como a lírica As vitrines (1981), rebatizada Gallery na versão gravada por Altay Veloso. Mesmo diante da eventual impossibilidade de fazer tradução literal, o versionista persegue o significado das letras sempre precisas de Chico. Por mais que as versões soem estranhas e antinaturais para ouvidos brasileiros, o problema do álbum não reside nelas. São as interpretações - corretas do ponto de vista técnico, mas geralmente sem alma - que esfriam a experiência de ouvir Chico Buarque em inglês. O dueto de Ithamara Koorax e Zé Luiz Mazziotti em Lounger boy - versão de Sem fantasia (1967) - exemplifica com perfeição essa frieza técnica que faz com que o disco soe asséptico demais. Produzido por Castro sob a direção musical de Afonso Machado, o CD The Chico Buarque experience foi formatado com arranjos do maestro Leonardo Bruno. Piano e cordas pontuam esses arranjos com intervenções eventuais de sopros como o sax soprano de Dirceu Leite, ouvido em Love list - a versão de Folhetim (1977 1978) defendida por Clarisse Grova - e em What might it be (Prime skin), título em inglês da versão de O que será (À flor da pele) que abre o disco na voz de Cris Delanno. Ambientados na atmosfera clássica das orquestrações do disco, os cantores Jorge Vercillo e Zé Renato se destacam no elenco de afinados intérpretes justamente porque conseguiram imprimir em suas interpretações algum sentimento, artigo indispensável na abordagem de um cancioneiro que se ajusta com mais facilidade a cantores que soltam sua voz à flor da pele - como Maria Bethânia, a grande intérprete das músicas de Chico (é difícil ouvir Staring each other, a versão de Olhos nos olhos cantada por Cely Curado, sem lembrar da emblemática gravação feita por Bethânia em 1976). Vercillo consegue resolver bem a equação técnica + emoção ao dar voz a All the feelings, versão de Todo o sentimento (Cristóvão Bastos e Chico Buarque, 1987). Zé Renato imprime em Grove and love - versão de Até pensei (1968) - a melancolia embutida pelo compositor neste bela canção que descende das modinhas dos tempos imperiais. Enfim, The Chico Buarque experience é tentativa válida de dar alguma visibilidade à obra do compositor no mundo que se comunica somente em inglês, ditando as regras do sucesso no universo pop.
Embora Chico Buarque seja um dos maiores compositores brasileiros do gênero rotulado como MPB, a música do compositor carioca nunca obteve no exterior a visibilidade obtida pelas obras de colegas como o também carioca Ivan Lins e o alagoano Djavan. Além de o cancioneiro de Chico ter diálogo nulo com o jazz (porta que abriu o mercado do exterior para Djavan, por exemplo), as letras de suas músicas são pontos fortes e indissociáveis de sua obra. Produzido pelo poeta brasileiro O. J. Castro de forma independente, o inusitado CD The Chico Buarque experience tenta heroicamente reverter essa situação ao apresentar versões em inglês de dez músicas do compositor, a maioria lançada nos anos 1960 e 1970, décadas do auge produtivo do autor. Autorizadas por Chico, as dez versões são assinadas por Castro. Em tese, o disco de título em inglês pode abrir os ouvidos de dois bilhões de pessoas para a obra de Chico. Ouvintes em potencial que se comunicam em inglês e que são refratários a músicas feitas em português, língua de alcance e entendimento reduzidos em esfera planetária. As versões em si são boas. A autorização de Chico para a edição do disco não veio à toa. Castro procurou - e conseguiu - preservar o sentido e a poesia de versos de músicas como a lírica As vitrines (1981), rebatizada Gallery na versão gravada por Altay Veloso. Mesmo diante da eventual impossibilidade de fazer tradução literal, o versionista persegue o significado das letras sempre precisas de Chico. Por mais que as versões soem estranhas e antinaturais para ouvidos brasileiros, o problema do álbum não reside nelas. São as interpretações - corretas do ponto de vista técnico, mas geralmente sem alma - que esfriam a experiência de ouvir Chico Buarque em inglês. O dueto de Ithamara Koorax e Zé Luiz Mazziotti em Lounger boy - versão de Sem fantasia (1967) - exemplifica com perfeição essa frieza técnica que faz com que o disco soe asséptico demais. Produzido por Castro sob a direção musical de Afonso Machado, o CD The Chico Buarque experience foi formatado com arranjos do maestro Leonardo Bruno. Piano e cordas pontuam esses arranjos com intervenções eventuais de sopros como o sax soprano de Dirceu Leite, ouvido em Love list - a versão de Folhetim (1977 1978) defendida por Clarisse Grova - e em What might it be (Prime skin), título em inglês da versão de O que será (À flor da pele) que abre o disco na voz de Cris Delanno. Ambientados na atmosfera clássica das orquestrações do disco, os cantores Jorge Vercillo e Zé Renato se destacam no elenco de afinados intérpretes justamente porque conseguiram imprimir em suas interpretações algum sentimento, artigo indispensável na abordagem de um cancioneiro que se ajusta com mais facilidade a cantores que soltam sua voz à flor da pele - como Maria Bethânia, a grande intérprete das músicas de Chico (é difícil ouvir Staring each other, a versão de Olhos nos olhos cantada por Cely Curado, sem lembrar da emblemática gravação feita por Bethânia em 1976). Vercillo consegue resolver bem a equação técnica + emoção ao dar voz a All the feelings, versão de Todo o sentimento (Cristóvão Bastos e Chico Buarque, 1987). Zé Renato imprime em Grove and love - versão de Até pensei (1968) - a melancolia embutida pelo compositor neste bela canção que descende das modinhas dos tempos imperiais. Enfim, The Chico Buarque experience é tentativa válida de dar alguma visibilidade à obra do compositor no mundo que se comunica somente em inglês, ditando as regras do sucesso no universo pop.
ResponderExcluirO álbum pode ser comprado aqui:
ResponderExcluirhttp://www.ojcastro.com.br/the-chico-buarque-experience-pr-2-365794.htm
No site do O. J. Castro ele passa uma informação incorreta. Ele diz que este é o primeiro álbum de versões em inglês de canções do Chico, porém isto não é verdade. No site da loja estrangeira CD Baby já existe um disco com canções com versões em inglês de canções do Chico cantadas por artistas independentes dos EUA e pelo guitarrista brasileiro Rafael Moreira. O disco se chama "The Chico Buarque Project, Vol. 1" e o link do disco, de 2012, é esse:
http://www.cdbaby.com/cd/thechicobuarqueprojectvo
Pode ser comprado no site.
Ainda não conferi o resultado final desse disco, porém estou curioso para saber como ficaram tais versões das canções do Chico. No mínimo curioso esse projeto.
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