segunda-feira, 31 de março de 2014

Galo, Gil e Juçara lançam os três melhores CDs brasileiros do trimestre

Editorial - O primeiro trimestre de 2014 chega hoje ao fim, deixando como legado três álbuns brasileiros que já estão garantidos na lista de melhores discos do ano, com fôlego para serem cultuados no futuro. Três álbuns de universos musicais distintos, mas que têm em comum o fato de terem merecido a cotação máxima de Notas musicais. Três CDs que fizeram jus às cinco estrelas por fazerem a diferença em mercado fonográfico viciado em redundantes registros ao vivo e em fórmulas fáceis. Asa - o primeiro disco solo do cantautor paulistano Gustavo Galo, integrante da Trupe Chá de Boldo - saiu em fevereiro com som cru, minimalista, contemporâneo. Um disco embebido em poesia e melodia. Também em fevereiro, a cantora paulista Juçara Marçal debutou solo com seu já antológico Encarnado. Um disco que cospe sangue ao encarar a morte, provando que a cena indie paulistana está bem viva. Na ótima companhia das guitarras cortantes de Kiko Dinucci e Rodrigo Campos, Juçara apresentou álbum feito no fio da navalha. Um imediato clássico instantâneo que joga expectativa sobre o show programado para estrear em São Paulo (SP) em 15 de abril. Por fim, em março, Gilberto Gil mostrou aos críticos o álbum - também já antológico - que vai chegar oficialmente ao mercado fonográfico a partir de 1º de abril via Sony Music. Ao abordar o repertório de João Gilberto em Gilbertos samba, o artista baiano roçou a perfeição atingida por seu mestre, gravando um disco lindo e leve no qual tudo está no seu lugar. Um disco para ser entendido e apreciado por quem entende e aprecia João. Ao lado de Galo e de Juçara, Gil mostrou neste primeiro trimestre de 2014 que o pulso da música brasileira ainda pulsa em nichos do mercado.

'Xscape', CD com oito registros inéditos de Michael, sai em maio via Sony

A Epic Records - gravadora vinculada à multinacional Sony Music - anunciou hoje, 31 de março de 2014, a edição do segundo álbum póstumo do cantor e compositor norte-americano Michael Jackson (1958 - 2009), Xscape. Com lançamento mundial agendado pela Sony Music para 13 de maio, Xscape vai apresentar oito gravações inéditas do artista que se autointitulou o Rei do Pop. O disco teve produção capitaneada por Timbaland nos EUA, com colaborações adicionais de produtores como Jerome Harmon, John McClain, Rodney Jerkins e StarGate. O projeto de Xscape é de L.A.Reid, presidente da Epic Records. A música-título Xscape é composição feita por Michael com Rodney Jerkins, que formatou com o cantor a até então inédita gravação da música. A gravadora não revelou os nomes das oito músicas de Xscape, álbum que já vai entrar em pré-venda a partir de amanhã, 1º de abril. Mas, além da faixa-título, o repertório inclui Slave to the rhythm, música homônima da composição lançada pela cantora jamaicana Grace Jones em 1985. Trecho curto de Slave to the rhythm vazou na web neste mês de março.

Jota faz festa com discotecagem pop do show 'Funky funky boom boom'

Resenha de show
Título: Funky funky boom boom
Artista: Jota Quest (em foto de Ricardo Muniz)
Local: Fundição Progresso (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 30 de março de 2014
Cotação: * * * *

É significativo que o Jota Quest tenha acionado o DJ e produtor norte-americano Babey Drew - residente em Atlanta (EUA) - para criar as bases do show Funky funky boom boom, idealizado com inspiração no homônimo álbum de inéditas lançado pela banda em 2013. No show, o grupo mineiro segue a pista de seu melhor disco - CD voltado para o suingue black que fez germinar a semente plantada pelo revigorante álbum La plata (2008) - e faz a festa com sua discotecagem pop. Na estreia oficial do espetáculo, iniciado no Rio de Janeiro (RJ) já na madrugada de 30 de março de 2014, Babey Drew podia ser visto no palco carioca da Fundição Progresso juntamente com Marcio Buzelin (teclados), Marco Túlio Lara (guitarra), PJ (baixo), Paulinho Fonseca (bateria) e Rogério Flausino (voz). Reforçando a trupe, havia à esquerda poderoso trio de backing-vocals - Dri Moreira, Play e T-Bless - e, no canto direito de quem olha o palco, trio de metais recrutado no coletivo paulista Funk Como Le Gusta. Nas pistas, arquibancadas e frisas da Fundição, uma multidão - devota da banda, como sinalizou o espontâneo coro popular feito em músicas como a balada Só hoje (Rogério Flausino e Fernanda Mello, 2002) - fez sua parte, marcando com palmas o refrão de Já foi (Marco Túlio Lara, Marcio Buzelin, Paulinho Fonseca, PJ, Rogério Flausino e Wilson Sideral, 2005), por exemplo, o que deixou a festa quase sempre animada. Em essência, o Jota Quest filtra o soul e o funk por ótica escancaradamente pop, o que nunca confinou o som da banda ao gueto black. Adicione a essa habilidade para esbranquiçar a música preta boa dose de palatáveis baladas e um som power pop. A soma resulta em show festeiro e feliz como o disco que o originou. A calorosa apresentação de duas horas na Fundição Progresso deu o start oficial na turnê nacional do show Funky funky boom boom, mostrando que, mesmo sem o toque chic da guitarra do norte-americano Nile Rodgers (ouvida no disco), Mandou bem (Gigi, Fábio O'Brian, Marcio Buzelin, Marco Túlio Lara, Paulinho Fonseca, PJ, Rogério Flausino, Jerry Barnes e Nile Rodgers, 2013) é grande música que vai permanecer entre os maiores sucessos da banda. O clima de discotecagem domina o show, mas sem fechar espaços para a exposição de dotes individuais. Logo na segunda música, Na moral (Marco Túlio Lara, Play, Rogério Flausino e Wilson Sideral, 2002), solo matador de Marco Túlio Lara enfatiza o papel de guitar hero exercido pelo músico na banda. A pegada do show injeta pressão até nas baladas como Mais uma vez (PJ, Rogério Flausino e Fernanda Mello, 2005) e Dentro de um abraço (PJ, Rogério Flausino e Jerry Barnes a partir de texto de Martha Medeiros, 2013). Mas a base do show Funky funky boom boom é o groove - o que renova a cara de velhos sucessos como Encontrar alguém (Rogério Flausino e Marco Túlio Lara, 1996), aditivado com citação de Got to be real (Cheryl Lynn, David Paich e David Foster, 1978), hit da cantora norte-americana Cheryl Lynn nos tempos da discoteca. Nesses embalos de sábado a noite, a banda cai bonito no suingue de É de coração (Xande de Pilares, Marcio Buzelin, Marco Túlio Lara, Paulinho Fonseca, PJ, Rogério Flausino e Wilson Sideral, 2013) - uma das músicas inéditas do CD Funky funky boom boom - e improvisa inédito tema funk-rap provisoriamente intitulado Groove baile da pesada, fruto da criação coletiva dos músicos. Sim, o Jota Quest está na área, como canta Flausino nessa jam. Ou melhor, continua na área já há quase 20 anos, com a justa fama de ser boa de palco. O show Funky funky boom boom reitera o alto padrão técnico das apresentações da banda, perceptível em sutilezas como a iluminação que expõe as cores (vermelho, verde e amarelo) da bandeira da Jamaica quando o grupo invade a praia daquele país em Reggae town (Marcio Buzelin, Marco Túlio Lara, Paulinho Fonseca, PJ, Rogério Flausino, Marco A.S. e Pedro Turra, 2013). Música lançada pela banda mineira Tianastácia em 2003, O sol (Antonio Júlio Nastácia) já parece ser do Jota Quest desde 2005 e continua incendiando plateias, sendo que, nesse show, O sol é iluminado também pelo vocal soul dos backings da banda. No fim, Waiting for you (Jerry Barnes, Quiana Space, Márcio Buzelin, Marco Túlio Lara, Paulinho Fonseca, PJ e Rogério Flausino, 2013) tem as duas versões do disco, Shine on, shine on e Party on, alocadas lado a lado no roteiro, sendo que Party on viabiliza o clima de jam para a apresentação dos músicos, tanto os integrantes fixos da banda  como os convidados deste show. No bis, antes de retomar a festa com o cover de Tempos modernos (Lulu Santos), Flausino fica a sós no palco com o tecladista Marcio Buzelin para dar voz às baladas O vento (Marcio Buzelin, 1998) e Amor maior (Rogério Flausino, 2003). Instante mela-cueca no baile cheio de groove do Jota Quest, grupo habilidoso que sempre faz a festa e manda muito bem ao discotecar em cena seu pop variado.

Roteiro do show 'funky' do Jota Quest tem citação de Titãs e hit de Lulu

O grupo Jota Quest refaz sua festa em cena no show Funky funky boom boom sem recorrer a repertório alheio. Breve menção a uma música dos Titãs - Homem primata (Ciro Pessoa, Marcelo Fromer, Sergio Britto e Nando Reis, 1986), sagazmente citada ao fim do sucesso autoral De volta ao planeta (Marco Túlio Lara, PJ e Rogério Flausino, 1998) - e a já conhecida abordagem de Tempos modernos (Lulu Santos, 1982) foram os poucos momentos em que o quinteto mineiro saiu de seu trilho, se descontada a meteórica reprodução de groove de Got to be real (Cheryl Lynn, David Paich e David Foster, 1978), hit da cantora norte-americana Cheryl Lynn na era da disco music, durante Encontrar alguém (Rogério Flausino e Marco Túlio Lara, 1996). Inspirado pelo álbum de inéditas Funky funky boom boom (Sony Music, 2013), o melhor disco do Jota Quest, o homônimo show teve sua estreia oficial já na madrugada de 30 de março de 2014, em apresentação que lotou a Fundição Progresso, no Rio de Janeiro (RJ). Como o dançante disco que o gerou, o show foi calcado no groove que deu o tom black do som inicial da banda nos anos 1990. As presenças do DJ e produtor norte-americano Babey Drew, de trio de metais do coletivo paulista Funk Como Le Gusta e do trio de backing-vocals Dri Moreira, Play e T-Blass amplificaram o suingue ao longo das duas horas de show. Mas, no bis, houve momento mais intimista em que o vocalista Rogério Flausino ficou a sós com o tecladista Marcio Buzelin - como mostra a foto extraída do Instagram do Jota Quest - para rebobinar as baladas românticas O vento (Marcio Buzelin, 1998) e Amor maior (Rogério Flausino, 2003). Eis o roteiro seguido pelo grupo Jota Quest na estreia oficial de seu show Funky funky boom boom:

1. Mandou bem (Gigi, Fábio O'Brian, Marcio Buzelin, Marco Túlio Lara, Paulinho Fonseca,
    PJ, Rogério Flausino, Jerry Barnes e Nile Rodgers, 2013)
2. Na moral (Marco Túlio Lara, Play, Rogério Flausino e Wilson Sideral, 2002)
3. Um tempo de paz (Rogério Flausino, 2013)
4. Já foi (Marco Túlio Lara, Marcio Buzelin, Paulinho Fonseca, PJ, Rogério Flausino
    e Wilson Sideral, 2005)
5. Mais uma vez (PJ, Rogério Flausino e Fernanda Mello, 2005)
6. Ela é do Rio (Marcio Buzelin, Rogério Flausino, Marco A.S, Pedro Turra, Play, Jerry
    Barnes, Pretinho da Serrinha e Leandro Fab, 2013)
7. Encontrar alguém (Rogério Flausino e Marco Túlio Lara, 1996)
    - com citação de Got to be real (Cheryl Lynn, David Paich e David Foster, 1978)
8. É de coração (Xande de Pilares, Marcio Buzelin, Marco Túlio Lara, Paulinho Fonseca,
    PJ, Rogério Flausino e Wilson Sideral, 2013)
9. Groove baile da pesada (criação coletiva da banda) - tema criado para o show
10. Sempre assim (Marcio Buzelin, Marco Túlio Lara, Paulinho Fonseca, PJ e Rogério
      Flausino, 1998)
11. Reggae town (Marcio Buzelin, Marco Túlio Lara, Paulinho Fonseca, PJ, Rogério
      Flausino, Marco A.S. e Pedro Turra, 2013)
12. Tudo está parado (Humberto Gessinger e Rogério Flausino, 2012)
13. O sol (Antonio Júlio Nastácia, 2003) 
14. De volta ao planeta (Marco Túlio Lara, PJ e Rogério Flausino, 1998)
      - com citação de Homem primata (Ciro Pessoa, Marcelo Fromer, Sergio Britto e Nando
 Reis, 1986)
15. Só hoje (Rogério Flausino e Fernanda Mello, 2002)
16. Dentro de um abraço (PJ, Rogério Flausino e Jerry Barnes a partir de texto de Martha
      Medeiros, 2013)
17. Waiting for you (Shine on, shine on) (Jerry Barnes, Quiana Space, Márcio Buzelin,
      Marco Túlio Lara, Paulinho Fonseca, PJ e Rogério Flausino, 2013)
18. Waiting for you (Party on) (Jerry Barnes, Quiana Space, Márcio Buzelin, Marco Túlio
      Lara, Paulinho Fonseca, PJ e Rogério Flausino, 2013)
19. Do seu lado (Nando Reis, 2003)
Bis:

20. O vento (Marcio Buzelin, 1998)
21. Amor maior (Rogério Flausino, 2003)
22. Tempos modernos (Lulu Santos, 1982)
23. Mandou bem (Gigi, Fábio O'Brian, Marcio Buzelin, Marco Túlio Lara, Paulinho
     Fonseca, PJ, Rogério Flausino, Jerry Barnes e Nile Rodgers, 2013)

Gravação de Shakira com Brown vai ser 'single' de álbum oficial da Copa

Com entrada no campo fonográfico prevista para 26 de maio de 2014, em jogada de alcance planetário orquestrada pela gravadora Sony Music com a FIFA, o álbum oficial da Copa do Mundo de 2014 - supostamente intitulado FIFA world cup Brasil - All in one rhythm - vai ser promovido com gravação feita por Shakira com o cantor, compositor e percussionista baiano Carlinhos Brown. Intitulada La la la (Brazil 2014), a faixa é um remake de Dare (La la la) (Shakira, Jay Singh, Lukasz Gottwald, Mathieu Jomphe-Lepine, Max Martin, Henry Walter, Raelene Arreguin e John Conte Jr.), música do repertório de Shakira, o recém-lançado décimo álbum de estúdio da cantora e compositora colombiana. O disco da Copa vai reunir 12 músicas.

domingo, 30 de março de 2014

Renegado lança DVD dirigido por Liminha com a participação de Flausino

Primeiro DVD do rapper mineiro Flávio Renegado, #suaveaovivo perpetua show feito pelo artista no Parque Municipal de Belo Horizonte (MG) em 2013. Previsto para chegar ao mercado fonográfico em maio de 2014, mas já com exibição para convidados programada para 3 de abril no Rio de Janeiro (RJ), o DVD tem a participação do cantor e compositor mineiro Rogério Flausino - vocalista do grupo Jota Quest - na música A coisa é séria. O produtor Liminha assina a direção musical de #suaveaovivo. O cenário do show gravado pelo rapper é de Gringo Cardia.

Eis a capa de 'Raiz', CD de Joyce que vai ser lançado em junho no Japão

Esta é a capa de Raiz, CD de bossa nova gravado por Joyce Moreno em fevereiro deste ano de 2014, no Rio de Janeiro (RJ), para o mercado japonês. O disco - gravado pela cantora, compositora e violonista carioca com os músicos Hélio Alves (piano), Rodolfo Stroeter (baixo) e Tutty Moreno (bateria) - tem lançamento agendado para 14 de junho pelo selo Omagatoki. O repertório - divulgado pela artista antes das gravações em seu blog Outras bossas - inclui músicas como Cartão de visita (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, 1964), Desafinado (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1959), Madame quer sambar (Roberto Menescal, Carlos Lyra e Joyce Moreno, 2013), O barquinho (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, 1961), O morro não tem vez (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1963) e Tamba (Luiz Eça, 1952). Luxo só!

Com o bom EP 'Palafita', Volker tenta lugar ao sol no eterno verão do pop

Resenha de EP
Título: Palafita
Artista: Mariana Volker
Gravadora: Edição da artista
Cotação: * * *

Quase dois anos após ter entrado no estúdio carioca Nas Nuvens, em maio de 2012, para começar a gravar seu primeiro disco solo sob a produção certeira do tarimbado Liminha, Mariana Volker apresenta o CD. Trata-se de EP Palafita, disponível nas plataformas digitais a partir deste mês de março de 2014. A produção de Liminha - que, além de assinar a direção musical do disco, toca baixo e guitarra (instrumento também pilotado por Felipe Magalhães) - garante o perfeito acabamento técnico da gravação das cinco músicas reunidas pela cantora carioca no EP. O timbre da voz de Volker lembra o de Maria Gadú, mas a praia musical é outra. Com Palafita, Volker tenta lugar ao sol no eterno verão do pop. Parceria de Graça Motta com Victor Dornelles, Eterno verão é a melhor música do EP. É um pop ensolarado, com toque de reggae, que mereceu o investimento em clipe dirigido por Fernanda Teixeira e posto em rotação na web em janeiro deste ano. A mesma dupla de compositores assina Someblue, balada de tom bluesy que também se destaca em repertório que inclui Canção do amor perfeito (Victor Dornelles), tema romântico de leveza pop, já lançado pela artista em março de 2013 como o primeiro single de Palafita. Jogada na praia do reggae, a música-título Palafita (Victor Dornelles) embute leve psicodelia no arranjo, arrematando o disco com coesão. Egressa da extinta banda carioca Unidade Imaginária, na qual atuou de 2006 a 2011, Volker assina com Paula Santa Rosa a música menos sedutora e de clima mais roqueiro do CD, Ventania, o que sinaliza que a artista deve investir em repertório alheio, aproveitando a boa impressão erguida pelo EP Palafita. Ao apostar em Volker, Liminha confirma o faro aguçado.

Primeiro angustiado álbum de Sky Ferreira ganha edição tardia no Brasil

Lançado nos Estados Unidos em 29 de outubro de 2013, via Capitol Records, o primeiro álbum de Sky Ferreira - cantora, compositora, atriz e modelo norte-americana que debutou no mercado fonográfico em 2011 com a edição do EP As if - se impôs como um dos melhores discos do ano passado. Por isso mesmo é lamentável que, por conta dos entraves burocráticos resultantes da compra da EMI Music (gravadora à qual a Capitol esteve vinculada até 2013) pela Universal Music, o álbum Night time, my time esteja sendo editado no Brasil com atraso de seis meses - delay que parece amplificado em tempos digitais. Seja como for, a tardia edição nacional de Night time, my time - CD distribuído no Brasil via Universal Music - põe no mercado fonográfico nacional um disco interessante que expõe vulnerabilidades da artista em músicas confessionais como Nobody asked me (If I was okay). Confiada a Ariel Rechtshaid e a Justin Raisen, a produção de Night time, my time transita pelo indie pop e pelo indie rock sem seguir fórmulas batidas, valorizando músicas como Boys24 hours, Omanko e Kristine. A expressiva foto da capa do álbum - clicada pelo cineasta argentino Gaspar Noé - traduz em imagem a solidão e as angústias expostas no repertório deste disco cinzento, noturno, sincero.

Em família, o baixista Thiago Espírito Santo anima sua 'Alma de músico'

Fruto da união do multi-instrumentista Arismar do Espirito Santo com a pianista Silvia Goes, o contrabaixista Thiago Espirito Santo conta com a família no seu quinto álbum solo, Alma de músico, lançado neste mês de março de 2014. Arismar toca guitarra em Sonhando acordado, tema de sua autoria. Já Silvia toca piano elétrico na faixa E foi, é?, composição de sua própria lavra. Alma de músico alinha nove faixas gravadas por Thiago Espírito Santo em formação de trio, completado com Mestrinho (no acordeom) e com Fábio Peron (no bandolim). Os três músicos assinam a composição Agora pense. As músicas foram captadas ao vivo em sessões de gravação no Estúdio Guaruba, em São Paulo (SP), em outubro de 2013. Embebido em brasilidade, o repertório apresenta temas autorais do baixista como Contemplando, Waltz for Todd e Pastorius's victory. Em parceria com Rogério Caetano, Thiago assina Goiás - São Paulo.

sábado, 29 de março de 2014

Miloš toca obra-prima de Joaquín Rodrigo para guitarra no CD 'Aranjuez'

Jovem guitarrista iugoslavo que vem se destacando no universo da música erudita, Miloš Karadaglić se volta para as obras de dois compositores espanhóis, Joaquín Rodrigo (1901 - 1999) e Manuel de Falla (1876 - 1946), em seu terceiro álbum, Aranjuez, lançado pela gravadora alemã Deutsche Grammophon neste anos de 2014, com distribuição mundial da Universal Music, e recém-editado no Brasil. O título Aranjuez se refere ao célebre Concierto de Aranjuez (1939), composto por Rodrigo para guitarra e orquestra.  Na boa companhia da London Philharmonic Orchestra, regida pelo maestro franco-canadense Yannick Nézet-Séguin, Karadaglić toca a obra-prima de Rodrigo, realçando a beleza sublime de Adagio, segundo dos três movimentos do concerto. De Rodrigo, o guitarrista também toca Fantasía para un gentilhombre (1954) e Invocación y danza, tema com o qual Joaquín Rodrigo homenageia Manuel de Falla, compositor de quem Karadaglić toca Homenaje - tema para guitarra composto em 1920 em memória do então recém-falecido compositor francês Claude Debussy (1862 - 1902) - e Danza del molinero, composição do balé El sombrero de tres picos (1919).

CD 'Megatamainho' conecta Gero Camilo a Caldas, Criolo, Otto e Vanessa

Artista cearense que ganhou projeção como ator em filmes como Bicho de sete cabeças (2001) e Carandiru (2003), Gero Camilo é também cantor e compositor. Seis anos após apresentar seu primeiro CD, Canções de invento (2008), Camilo lança um segundo CD, Megatamainho, que o conecta de forma surpreendente a nomes de universo musicais distintos como o rapper paulista Criolo, o cantor baiano Luiz Caldas, o compositor e percussionista pernambucano Otto e a cantora mato-grossense Vanessa da Mata. Se Criolo é o compositor de Chuchuzeiro, música inédita ambientada em clima de forró romântico, Luiz Caldas é parceiro de Camilo em música, Meu diadorim, de tom roqueiro e poética afinada com o espírito brasileiro do disco. Já Vanessa da Mata assina com o ator-cantor uma música que cai no samba, embora o título Cordel em desacordo sugira tema de pegada nordestina. A presença do nome de Otto na ficha técnica - como parceiro de Camilo em O amor a fonte a poesia - é menos inusitada porque quem assina a produção do CD é Mestre Bactéria, o Bac, nome ligado ao universo do Mangue Beat, de onde vem também músicos como o percussionista Toca Ogan, que bate seu tambor em temas de autoria de Camilo como Infinito meu e A mensagem (parceria com o cantor e compositor Rubi). A cantoria que abre o disco, introduzindo Catarina (Gero Camilo), dá a pista do tom interiorano que caracteriza o repertório de Megatamainho, ainda que caibam samba, rock e forró no eclético universo musical do multimídia Gero Camilo.

Cezzinha fica à sombra de Dominguinhos em CD que tem Alcione e Zélia

O cantor, compositor e sanfoneiro pernambucano Cézar Thomas Silveira - mais conhecido no universo musical nordestino como Cezzinha - tem timbre semelhante ao de seu conterrâneo Dominguinhos (1941 - 2013). No registro do show perpetuado no CD e DVD Cezzinha & convidados ao vivo, lançados pela gravadora Som Livre neste mês de março de 2014, tal semelhança é enfatizada pelo artista na seleção e interpretação de repertório que prioriza os xotes de tonalidades românticas. Como indica o título do CD e DVD, a gravação ao vivo - feita em show apresentado por Cezzinha no Chevrolet Hall, no Recife (PE), em 10 de maio de 2013 - é pontuada por intervenções do time de convidados ligados, quase todos, à música nordestina. Entram em cena Alcione, André Rio, Jorge de Altinho, Maciel Melo, Nando Cordel - com quem Cezzinha revive Você endoideceu meu coração, sucesso da obra autoral de Cordel lançado pelo compositor pernambucano em 1986 e também conhecido na voz de Fagner por conta da gravação feita no ano seguinte pelo cantor cearense - e Terezinha do Acordeom, além de Elba Ramalho, cantora que deu projeção nacional a Cezzinha ao se unir afetiva e musicalmente ao sanfoneiro nos anos 2000. Com Elba, Cezzinha rebobina duas parcerias de Dominguinhos com Nando Cordel, a já exaurida De volta pro aconchego (1985) e Minha vida é te amar (1993). À vontade nesse universo romântico, a maranhense Alcione faz dueto com Cezzinha em Um anjo para cuidar de mim, parceria do artista com o recorrente Nando Cordel. Estranha no ninho nordestino, a fluminense Zélia Duncan logo se ambienta ao dividir com o anfitrião Porque tem que ser assim, parceria de Cezzinha com Chico Pessoa que batiza o disco autoral lançado pelo artista em 2013 e que reitera o tom ameno de gravação ao vivo que deixa dúvidas se Cezzinha vai conseguir delinear sua própria identidade artística à sombra de (seu) mestre Dominguinhos.

Até mesmo Dominguinhos, Roberto e Waldick viram samba no CD de Jair

Resenha de CD
Título: Samba mesmo 2
Artista: Jair Rodrigues
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * *


O segundo volume de Samba mesmo - disco duplo gravado por Jair Rodrigues, sob produção de seu filho Jair Oliveira, e posto nas lojas pela gravadora Som Livre neste mês de março de 2014 - parece contradizer o título do projeto. Afinal, com arranjos dos violonistas Paulo Dáfilin e Swami Jr., o cantor paulista traz para o universo do samba-canção até sucessos de Dominguinhos (1941 - 2013), Roberto Carlos e Waldick Soriano (1933 - 2008). De volta pro aconchego (Dominguinhos e Nando Cordel, 1985), Como é grande o meu amor por você (Roberto Carlos, 1967) e Tortura de amor (Waldick Soriano, 1962) são envoltos por sons que evocam os conjuntos regionais que davam o tom da música brasileira pré-Bossa Nova, com melhor resultado para o hit de Seu Domingos. Só que o título Samba mesmo não é o que parece. À primeira leitura, sugere recado para pagodeiros sem estirpe que nunca acertam a cadência bonita do gênero dominante nas 13 músicas do CD. Na verdade, o projeto duplo ganhou esse nome porque, quando gravava os dois discos, Jair sempre repetia no estúdio a fala 'Essa é samba mesmo' quando seu filho produtor lhe sugeria a gravação de determinada música. De todo modo, Samba mesmo 2 repete erros e acertos do primeiro volume. Quando a seleção do repertório patina no óbvio, como em Trem das onze (Adoniran Barbosa), Jair funciona como mero crooner em registros que evidenciam perdas e danos na voz de 75 anos. Em contrapartida, quando consegue surpreender, como ao cantar à capella Eu não existo sem você (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958) em afetivo tributo ao cantor paulista Agostinho dos Santos (1932 - 1973), Jair deixa entrever ecos do grande cantor que seduziu plateias nos seus áureos anos 1960 e 1970. Da década de 1970, aliás, mais precisamente de 1974, vem a única música inédita de Samba mesmo 2. Trata-se do samba Força da natureza, composto há 40 anos por Jair com Orlando Marques e Carlos Odilon, mas até então nunca registrado em disco. No mais, Jair transita por temas como A noite do meu bem (Dolores Duran, 1959), Apesar de você (Chico Buarque, 1970) e O mundo é um moinho (Cartola, 1976) nos tons outonais que pontuam este disco duplo. Com Jair, (quase) tudo vira mesmo samba...

'Asas do etéreo' mostra que Tetê ainda guarda uns pássaros na garganta

Resenha de CD
Título: Asas do etéreo
Artista: Tetê Espíndola
Gravadora: Selo Sesc
Cotação: * * * *
Álbum comercializado em edição dupla que inclui o álbum Pássaros da garganta (1982)

Tetê Espíndola ainda guarda pássaros na garganta privilegiada. Basta ouvir Passarinhão (Tetê Espíndola e Marta Catunda, 2006) - música que abre Asas do etéreo, o primeiro álbum de inéditas da artista de Mato Grosso desde E va por ar (Luz Azul, 2007) - para perceber a revoada que sai em disparada. Comercializado pelo Selo Sesc em luxuosa edição dupla que inclui o álbum Pássaros da garganta (Som da Gente, 1982), clássico da discografia de Tetê pela primeira vez reeditado em CD, Asas do etéreo voa com segurança pelo universo habitual do som da cantora e compositora. O diálogo com o disco de 1982 é feito através da craviola - instrumento de 12 cordas criado por Paulinho Nogueira que funde o cravo com a viola caipira e cujo som é recorrente nos dois álbuns - e da evocação de sons de um Brasil de dentro. Grande parte da obra de Tetê está enraizada no sertão do Centro-Oeste, na Chapada dos Guimarães (MT), em conexão com matas, bichos, rios e cachoeiras. É com os pés nesse solo de natureza tão rica que Asas do etéreo voa mais alto em canções Acácias (Tetê Espíndola e Marta Catunda, 2011) - música gravada com o piano límpido de Egberto Gismonti - e Trigo do amor (Tetê Espíndola, 1984), faixa na qual o cantor e compositor paulista Dani Black (filho de Tetê) toca guitarra acústica e faz contracanto que valoriza a gravação. A seleção de canções autorais - compostas por Tetê em diversas épocas - é boa, tirando do baú algumas joias, como a bela música-título Asas do etéreo (Tetê Espíndola, 2011), gravada no tempo de delicadeza que pontua o disco produzido por Tetê com Paulo LePetit, dono do contrabaixo ouvido em Canção (Tetê e Bené Fonteles, 2008). A adesão de instrumentistas diferentes em cada faixa torna o disco mais especial. O toque personalíssimo do trombone de Bocato dá o colorido de Amarelando (Tetê Espíndola, 1987), composição que pode ser caracterizada como canção romântica dentro do espírito indomado da música de Tetê. Ninguém menos do que Hermeto Pascoal toca escaleta em Crisálida-borboleta (Tetê Espíndola e Carlos Rennó, 1984) - o que evidencia o prestígio de Tetê no meio musical. Canções como Triste acauã (Tetê Espíndola e Breno Ruiz, 2006) - que conta melancólica saga de amor sertanejo entrecortada pela percussão corporal de Marcelo Pretto - e Aos elementais (Tetê Espíndola e Luhli, 1987) desnudam a beleza entranhada em um Brasil rural ignorado pelos centros urbanos que ditam a produção musical do país. Brasil sintetizado na garganta - ainda repleta de pássaros - de Tetê Espíndola.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Dom Paulinho Lima regrava 11 clássicos do soul em seu primeiro álbum

A capa retrô do primeiro álbum do cantor paulista Dom Paulinho Lima está em sintonia com o repertório de regravações do CD que chega às lojas a partir de 1º de abril de 2014 em edição da Universal Music. Em atividade profissional desde 1981, Lima lança seu sonhado primeiro disco no rastro da projeção nacional alcançada em 2013 ao participar da segunda temporada do programa The voice Brasil. No álbum, intitulado Dom Paulinho Lima, o cantor dá voz a clássicos do soul nacional e estrangeiro, popularizados em sua maioria nos anos 1960 e 1970. O álbum alinha regravações de músicas como Let's get it on (Marvin Gaye e Ed Townsend, 1973), Let's stay together (Al Green, Willie Mitchell e Al Jackson Jr., 1971), I heard it through the grapevine (Norman Whitfield e Barrett Strong, 1966), Georgia on my mind (Hoagy Carmichael e Stuart Gorrell, 1930), Me and mrs. Jones (Kenny Gamble, Leon Huff e Cary Gilbert, 1972), Gostava tanto de você (Edson Trindade, 1973) - samba-soul que fez sucesso em 1973 na voz do cantor carioca Tim Maia (1942  -  1998) - e BR-3 (Tibério Gaspar e Antonio Adolfo, 1971).

Armandinho assina com a Biscoito Fino para editar o CD 'Guitarra baiana'

O compositor e músico baiano Armandinho Macedo assinou contrato com a Biscoito Fino para a edição do álbum Guitarra baiana. Na foto, postada na sua página oficial da gravadora carioca no Facebook, o artista posa na assinatura do contrato com Diego Lara, produtor da gravadora.

Álbum da Copa vai ter hino gravado por Santana, Wyclef, Avicii e Pires

Foi anunciada nesta sexta-feira, 28 de março de 2014, mais uma faixa do álbum oficial da Copa do Mundo de 2014. Trata-se de Dar um jeito (We find a way), o Hino Oficial da Copa do Mundo, gravado nos estúdios PRMD em Estocolmo, na Suécia, pelo guitarrista mexicano Carlos Santana e pelo rapper norte-americano Wycelf Jean com as participações do DJ sueco Avicii e do cantor brasileiro Alexandre Pires. Criação de Arnon Woolfson e Ash Pournouri, a composição foi produzida por Pournouri, Carl Falk, Rami Yacoub e Wyclef Jean. Dar um jeito (We find a way) se junta no disco à canção oficial da Copa do Mundo - Nós somos um (Olê olá), composta pelo rapper norte-americano Pitbull e gravada pela cantora norte-americana Jennifer Lopez e a cantora brasileira Claudia Leitte - e à música intitulada Vida, gravada pelo cantor porto-riquenho Ricky Martin. Outra faixa já confirmada no álbum da Copa - que vai ser editado pela gravadora Sony Music - é Tatu bom de bola, música oficial do mascote da Copa do Mundo do Brasil FIFA 2014, composta por Arlindo Cruz com Rogê e Arlindo Neto. Cruz é o cantor do tema.

Ney faz a gravação ao vivo do show 'Atento aos sinais' em junho, em SP

Ney Matogrosso agendou para 8 de junho de 2014 a gravação ao vivo de Atento aos sinais, show que estreou em 28 de fevereiro de 2013, em Juiz de Fora (MG), e que está percorrendo o Brasil em turnê nacional. A gravação vai ser feita em apresentação na casa HSBC Brasil, em São Paulo (SP), para edição de DVD. Em 2013, o cantor - em foto de Mauro Ferreira - já editou CD gravado em estúdio com registro parcial do show, um dos melhores do ano passado.

Ao ensaiar para DVD, Beth remexe em obra repleta de sambas que ficam

Resenha de show
Título: Ensaio aberto
Artista: Beth Carvalho (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Centro Cultural João Nogueira - Imperator (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 26 de março de 2014
Cotação: * * * 1/2

"Essa fica", avalizou o público após Beth Carvalho cantar Pandeiro e viola, samba de Gracia do Salgueiro que deu título ao seu quarto álbum, o último dos três LPs lançados pela cantora carioca pela gravadora brasileira Tapecar entre 1973 e 1975. A plateia do Imperator - casa de shows do Centro Cultural João Nogueira, situada no subúrbio do Rio de Janeiro (RJ) - queria dizer que Pandeiro e viola, segundo dos 36 números do show feito por Beth na casa em 26 de março de 2014, deveria ficar no repertório do DVD que a sambista ia gravar três dias depois, em 29 de março, no Parque de Madureira, também no subúrbio carioca. A apresentação do Imperator se chamava Ensaio aberto justamente porque, nela, Beth testava junto ao (seu) público o roteiro que pretendia eternizar no quinto registro audiovisual de sua carreira. A ideia (boa) era evitar os sucessos batidos, já registrados em seu primeiro DVD de caráter retrospectivo, A madrinha do samba ao vivo convida (Indie Records, 2004). Mas foi difícil eleger o que de fato vai entrar no seu próximo DVD. De acordo com a sentença do público, quase todos os 36 números do longo roteiro tinham que ficar. O que também tinha sua razão de ser, pois Beth estava remexendo em obra repleta de sambas que ficaram na memória popular. Mesmo os (aparentemente) esquecidos - como Senhora rezadeira (Dedé da Portela e Dia, 1979) e o partido alto Ô Isaura (Rubens da Mangueira, 1978) - são sambas de qualidade perene. Sob a direção musical do maestro Ivan Paulo, criador dos arranjos tão funcionais quanto convencionais, Beth passou em revista uma discografia das mais dignas e coerentes da música brasileira, com justa ênfase nas músicas de seu último disco de inéditas, Nosso samba tá na rua (EMI Music, 2011), e na produção autoral do compositor carioca, autor de pérolas do pagode como Coisa de pele (Jorge Aragão e Acyr Marques, 1986), Lucidez (Jorge Aragão e Cleber Augusto, 1991), Tendência (Ivone Lara e Jorge Aragão, 1991) e do carnavalesco Toque de malícia (Jorge Aragão, 1984). Novidade na voz de Beth, O meu lugar (Arlindo Cruz e Mauro Diniz, 2005) tinha mesmo lugar no roteiro por ser samba que celebra Madureira, bairro carioca escolhido para ser o cenário da gravação do DVD. Das duas inéditas, Se a fila andar (Toninho Geraes e Paulinho Rezende) - número pontuado pelo clarinete de Dirceu Leite - é samba triste que versa sobre o fim de um caso de amor. Também para baixo, Parada errada (Serginho Meriti, Rogê e Rodrigo Leite) - escrito sob a ótica de mãe esperançosa de tirar o filho do vício do crack - é samba com letra mais forte do que a melodia. Já Estranhou o quê? - samba de Moacyr Luz que, embora apresentado como inédito por Beth, já ganhou registro fonográfico no CD / DVD Moacyr Luz e Samba do Trabalhador - Ao vivo no Renascença Clube (Lua Music, 2013) - é o provável futuro sucesso da gravação ao vivo que vai ter Zeca Pagodinho em Arrasta a sandália (Dayse do Banjo e Luana Carvalho, 2011) e Lu Carvalho, sobrinha de Beth. O refrão "Estranhou o quê? / Preto pode ter o mesmo que você" é curto, grosso e contagiante. No mais, Beth cantou samba à moda baiana de Ivone Lara, Alguém me avisou (1980), entre sucessos acumulados em (49) anos de carreira que vai ficar para sempre.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Beth adianta roteiro de DVD que terá inéditas e 'coisas não muito óbvias'

"O critério deste DVD foi cantar coisas não muito óbvias", explicou Beth Carvalho ao público que lotou o Imperator - casa de shows do Centro Cultural João Nogueira, no Rio de Janeiro (RJ) - na noite de 26 de março de 2014 para assistir ao ensaio aberto do show que vai ser gravado ao vivo no Parque de Madureira, na mesma Zona Norte carioca, em 29 de março. Por "coisas não muito óbvias", entenda-se sambas como Pandeiro e viola (Gracia do Salgueiro) - música que deu título ao álbum lançado pela cantora carioca em 1975 - e Senhora rezadeira (Dedé da Portela e Dida, 1979), sucesso do álbum No pagode (RCA, 1979). São sambas que ficaram de fora do primeiro DVD de Beth, A madrinha do samba ao vivo convida (Indie Records, 2004). Mas que estarão no quinto DVD da artista ao lado de inéditas como Se a fila andar (Toninho Geraes e Toninho Nascimento) e Parada errada (Serginho Meriti, Rogê e Rodrigo Leite). Outra novidade - na voz de Beth - é Estranhou o quê?, samba de Moacyr Luz que, embora apresentado como inédito por Beth, já ganhou registro fonográfico, na voz do percussionista Álvaro Santos, no CD / DVD Moacyr Luz e Samba do Trabalhador - Ao vivo no Renascença Clube (Lua Music, 2013). Eis o roteiro seguido por Beth Carvalho - em foto de Mauro Ferreira - no ensaio aberto do belo show que vai ser perpetuado em DVD e CD ao vivo:

1. O show tem que continuar (Arlindo Cruz, Sombrinha e Luiz Carlos da Vila, 1988)
2. Pandeiro e viola (Gracia do Salgueiro, 1975)
3. Senhora rezadeira (Dedé da Portela e Dida, 1979)
4. Ô Isaura (Rubens da Mangueira, 1978)
5. Nosso samba tá na rua (Roberto Lopes, Alamir, Canário e Nilo Penetra, 2011)
6. Colabora (Serginho Meriti, 2011)
7. Coisa de pele (Jorge Aragão e Acyr Marques, 1986)
8. Lucidez (Jorge Aragão e Cleber Augusto, 1991)
9. Tendência (Ivone Lara e Jorge Aragão, 1991)
10. Cantiga por Luciana (Edmundo Souto e Paulinho Tapajós, 1969) - citação
11. Devotos do samba (Serginho Meriti e Rodrigo Leite, 2013) - Lu Carvalho
12. Dança da solidão (Paulinho da Viola, 1972)
13. O sol nascerá (Cartola e Elton Medeiros, 1964)
14. Minha festa (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, 1973)
15. Se a fila andar (Toninho Geraes e Paulinho Rezende) - inédita
16. Ainda é tempo de ser feliz (Arlindo Cruz, Sombra e Sombrinha, 1998)
17. Parada errada (Serginho Meriti, Rogê e Rodrigo Leite) - inédita
18. Alguém me avisou (Ivone Lara, 1980)
19. Volta por cima (Paulo Vanzolini, 1962)
20. Camarão que dorme a onda leva (Arlindo Cruz, Beto Sem Braço e Zeca Pagodinho, 1983) /
21. São José de Madureira (Beto Sem Braço e Zeca Pagodinho, 1984) /
22. Dor de amor (Arlindo Cruz, Acyr Marques e Zeca Pagodinho, 1986) /
23. Deixa a vida me levar (Eri do Cais e Serginho Meriti, 2002)
24. Arrasta a Sandália (Dayse do Banjo e Luana Carvalho, 2011) - com Luana Carvalho
25. O meu lugar (Arlindo Cruz e Mauro Diniz, 2006)
26. Estranhou o quê? (Moacyr Luz, 2013)
27. Tristeza (Niltinho Tristeza e Haroldo Lobo, 1966)
28. Toque de malícia (Jorge Aragão, 1984)
29. A chuva cai (Casquinha e Argemiro Patrocínio, 1980)
30. Chega (Rafael dos Santos e Leandro Fregonesi, 2011)
31. Firme e forte (Efson e Nei Lopes, 1983)
32. Pot-pourri de marchinhas:

      Toque de clarins (tema tradicional) /
      Ô abre alas (Chiquinha Gonzaga, 1901) /
      O teu cabelo não nega (Lamartine Babo e Irmãos Valença, 1932) /
      Linda morena (Lamartine Babo, 1933) /
      Pierrot apaixonado (Noel Rosa e Heitor dos Prazeres, 1936) /
      Mamãe, eu quero (Jararaca e Vicente Paiva, 1937) /
      Yes, nós temos banana (João de Barro e Alberto Ribeiro, 1938) /
      A jardineira (Benedito Lacerda e Humberto Porto, 1939) /
      Alá-lá-ô (Haroldo Lobo e Antônio Nássara, 1941) /
      Eu brinco (Pedro Caetano e Claudionor Cruz, 1944) /
      Saca-rolha (Zé da Zilda, Zilda do Zé e Waldir Machado, 1954) /
      Quem sabe sabe (Joel de Almeida e Carvalhinho, 1956) /
      Guará (tema tradicional) /
      Me dá um dinheiro aí (Ivan Ferreira, Homero Ferreira e Glauco Ferreira,1960) /
      Índio quer apito (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, 1961) /
      Marcha do cordão do Bola Preta (Nelson Barbosa e Vicente Paiva, 1962) /
      Marcha do remador (Se a canoa não virar) (Antônio Almeida e Oldemar Magalhães, 1964) /
      Chuva, suor e cerveja (Caetano Veloso, 1969) /
      Cidade maravilhosa (André Filho, 1934) /

33. Caciqueando (Noca da Portela, 1983)
Bis:
34. Água de chuva no mar (Carlos Caetano, Wanderley Monteiro e Gerson Gomes, 2000)
35. Coisinha do pai (Jorge Aragão, Almir Guineto e Luiz Carlos, 1979)
36. Vou festejar (Jorge Aragão, Dida e Neoci, 1978)

Exposição documenta, com fotos e textos, trajetória fonográfica de Beth

A foto acima faz parte da exposição Beth Carvalho - A madrinha do samba, inaugurada em 26 de março de 2014, no Centro Cultural João Nogueira, no Rio de Janeiro (RJ), dentro da série Permanências, idealizada pelos curadores Marcio Debellian e Miguel Jost. A exposição documenta a trajetória musical e fonográfica de Beth Carvalho através da exibição de fotos (legendadas pela própria cantora carioca), discos (relacionados em ordem cronológica, sendo que alguns são lembrados com capas e com curiosidades de bastidores) e vídeos. Na foto que ilustra este post, Beth é vista em estúdio com a cantora carioca Elizeth Cardoso (1920 - 1990) durante a gravação do samba Sorriso de criança (Ivone Lara e Délcio Carvalho) para o álbum Saudades da Guanabara, lançado pela sambista em 1989. Os textos da exposição foram escritos na primeira pessoa, tendo sido redigidos pelos curadores com base nas entrevistas feitas com Beth. Ao comentar o álbum Traço de união (1982), por exemplo, Beth revela que a melodia composta por Nelson Cavaquinho (1911 - 1986) era para ter sido letrada por Chico Buarque, que travou, sem conseguir criar versos para a música, que acabou intitulada Coração de poeta ao ganhar letra do compositor carioca Paulinho Tapajós (1945 - 2013). Detalhe pequeno em meio à grandeza da obra da artista: a coletânea Beth Carvalho canta Cartola - produzida em 2003 pelo pesquisador carioca Rodrigo Faour para a gravadora BMG - está erroneamente apresentada como um disco de carreira da artista, que já caminha para os 50 anos de trajetória musical, a serem comemorados em 2015. Mesmo com um ou outro erro, a exposição revela fatos relevantes sobre essa longa caminhada da eterna Enamorada do sambão.

Rapper Renegado grava participação no quarto disco solo de Paula Toller

"Estou tão RAP", brincou Paula Toller ao postar na sua página oficial no Facebook uma foto ao lado de Flávio Renegado, informando que o rapper mineiro gravou participação em seu quarto álbum solo, produzido por Liminha no estúdio Nas Nuvens, no Rio de Janeiro (RJ), desde 2013. A participação de Renegado foi gravada na noite de ontem, 26 de março de 2014. A cantora e compositora carioca - vista com Renegado na foto de Daniel Alcoforado - revelou em post posterior que Já chegou a hora - parceria inédita de Toller com Liminha - é o nome da música aditivada com o rap do artista no CD, já em fase de mixagem, em Los Angeles (EUA), a cargo do engenheiro de som Brad Gilderman, que já mixou álbum de Michael Jackson (1958 - 2009).

Na onda tecnopop dos anos 1980, 'Vista pro mar' já põe Silva no devido lugar

Resenha de CD
Título: Vista pro mar
Artista: Silva
Gravadora: Slap / Som Livre
Cotação: * * 1/2

 "Quem quiser ir além-mar / Vai se deixar levar no mar / Pro seu lugar", adverte Silva através de versos de Maré, última das onze músicas autorais do segundo álbum do cantor e compositor capixaba. Repleto de sons que o põem na onda tecnopop dos anos 1980, elevada à potência máxima na faixa Disco novo, Vista pro mar leva Lúcio Silva de Souza para o seu devido lugar na cena pop contemporânea. E esse lugar é o de um compositor ainda em busca de uma batida pop, sem uma produção autoral relevante que justifique o hype alimentado em torno de seu nome no volátil universo indie. Vista pro mar alinha onze parcerias do artista com seu irmão Lucas Silva no repertório inteiramente inédito e autoral. A (boa) ideia foi fazer um álbum mais orgânico, dando ênfase à construção das melodias para não deixar Vista pro mar calcado mais na sonoridade do que nas músicas em si - como aconteceu com Claridão (Slap / Som Livre, 2012), o primeiro álbum de Silva, sucessor do EP jogado pelo artista na rede em outubro de 2011. Só que jamais emerge uma grande música desse mar de canções, jogando a ideia por água abaixo. Aquecida com trio de metais, a música-título Vista pro mar é a que mais se aproxima da perfeição pop. Mas fica no meio caminho, assim como Janeiro, outro destaque de repertório irregular que, a rigor, não chega a empolgar. Produzido pelo próprio Silva, que pilota sintetizadores entre outros cinco instrumentos, Vista pro mar soa até coeso ao roçar um conceito sonoro e poético. Muitas letras falam de mar, a exemplo de É preciso dizer, música cuja introdução remete a new age. Há sons de ondas em Entardecer. Só que, no caso, a coesão deságua em linearidade. Se o mar de Silva soasse um pouco revolto, o álbum talvez crescesse. Contudo, as músicas soam uniformes como o canto do artista, por mais que haja dose maior de eletrônica em Capuba e por mais que a arquitetura de Universo acene descaradamente - sem apelo - para o pop radiofônico. Em sintonia com essas águas plácidas, o canto suave de Fernanda Takai em Okinawa se afina com o universo de Silva neste álbum que faz marola, levando o artista para seu devido lugar e afundando a intenção de torná-lo o artesão pop...

Mars prepara terceiro CD de estúdio com produtores como Mark Ronson

Bruno Mars já começou a trabalhar em seu terceiro álbum de estúdio. O cantor e compositor havaiano - um dos artistas de maior força comercial atualmente na indústria musical dos Estados Unidos -  já escalou Jeff Bhasker e Mark Ronson para integrar o time de produtores de Unorthodox jukebox (Atlantic Records, 2012). Previsto para ser lançado no fim deste ano de 2014, também via Atlantic Records, o disco vai ter repertório essencialmente inédito e autoral.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Gil sustenta leveza genial de João em CD que sintetiza a música do Brasil

Resenha de CD
Título: Gilbertos samba
Artista: Gilberto Gil
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * * *

"Aparece a cada cem anos um mestre da canção no país /  ... / E a cada vinte e cinco um aprendiz", contabiliza Gilberto Gil em versos de Gilbertos, samba inédito de sua autoria, composto para arrematar Gilbertos samba, álbum em que o cantor, compositor e músico baiano celebra o legado de seu conterrâneo João Gilberto Prado Pereira de Oliveira, baiano genial que deu choque de ordem na música brasileira em 1958 ao sintetizar a cadência do samba na batida diferente de seu violão, em revolução estética rotulada como Bossa Nova. Já a caminho dos 83 anos, João é o mestre que bebeu nas águas de outros mestres que o antecederam, como o compositor (também) baiano Dorival Caymmi (1914 - 2008), não por acaso citado por Gil em verso de Gilbertos, samba gravado com o toque do violão de Dori Caymmi neste disco primoroso que tem lançamento agendado para a próxima terça-feira, 1º de abril de 2014. Gilbertos samba mostra que, de embevecido aprendiz de João, Gil se transformou ele próprio em mestre. Produzido por Bem Gil e Moreno Veloso, sob a direção musical do próprio Gilberto Gil, o CD Gilbertos samba sustenta a leveza genial de João - sem cair na tentação vã de reproduzir o som e o canto irreproduzíveis do artista que reverencia - e, de certa forma, sintetiza em suas 12 faixas os caminhos trilhados pela música brasileira ao longo de quase cem anos. Estão em perfeita harmonia no disco alguns sambas da fase pré-Bossa Nova, a própria Bossa Nova (representada por alguns standards do gênero e pela própria presença simbólica de seu papa João), a voz e o violão de Gil - símbolos emblemáticos da MPB cristalizada na era pós-bossa dos festivais dos anos 1960 - e músicos que, a partir dos anos 2000, fizeram uma revolução silenciosa na música brasileira, renovando timbres e sonoridades. A integração desses elementos - ajustados num todo harmônico que honra o legado de João - faz com que Gilbertos samba seja sedutora "experiência de densa textura histórica", como conceitua Caetano Veloso no preciso texto reproduzido no encarte do disco, que vai ser lançado em CD e no formato de vinil. Somente a inserção em Desafinado (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1959) - hino da bossa depurado por João em seu álbum Chega de saudade (Odeon, 1959) - dos efeitos e ruídos da guitarra de Pedro Sá já garante ao disco um papel histórico na música brasileira. Porque nada soa fora da ordem ou de lugar em Gilbertos samba. Ao contrário: tudo soa rigorosamente em seu devido lugar - como em qualquer gravação de João, aliás. Já na primeira faixa do disco, Aos pés da cruz (Marino Pinto e Zé da Zilda, 1942), samba purificado por João no seu histórico primeiro álbum de 1959, salta aos ouvidos a coesão do arranjo da gravação. A voz de Gil e o toque de seu violão - de uma bossa toda própria - se harmonizam com a suave percussão eletrônica de Domenico Lancellotti. Nada sobra. Nada falta. Na sequência, Eu sambo mesmo (Janet de Almeida, 1946) - música que soou como carta de princípios na abertura do álbum João (PolyGram, 1991) e que uma geração mais nova conheceu na voz de Roberta Sá - reitera o acerto de Gil. O toque sutil da flauta de Danilo Caymmi sublinha a sensação de que músicos e cantor trabalharam unicamente a serviço da canção, como ensinou o mestre João. Mesmo quando os arranjos são encorpados com sopros e cordas - como em Você e eu (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, 1961), samba lançado no álbum João Gilberto (Odeon, 1961) - a leveza é senhora neste disco em que Gil dá voz a Desde que o samba é samba (Caetano Veloso, 1993), tema que abriu o álbum João, voz e violão (Universal Music, 2000). Dentro dessa atmosfera harmoniosa, O pato (Jaime Silva e Neusa Teixeira, 1960) volta a fazer qüen qüen com propriedade. Desde o fim dos anos 1940, este samba fazia parte do repertório dos Garotos da Lua, grupo carioca do qual João foi crooner, mas ficou definitivamente associado a João por conta da gravação do LP O amor, o sorriso e a flor (Odeon, 1960). Deste segundo álbum de João, Gil pescou também Doralice (1945), samba feito por Dorival Caymmi em parceria com o compositor carioca Antonio Almeida (1911 - 1985) e lançado em agosto de 1945 pelo conjunto Anjos do Inferno, do qual João é devoto. Na abordagem de Gilbertos samba, Doralice ganha também o toque do acordeom de Mestrinho e a pulsação do violino de Nicolas Krassik sem que um instrumento queira ser mais importante do que o outro. Completando o naipe de faixas que envolvem Caymmi e seu legado perpetuado pelos filhos Danilo e Dori, Milagre (Dorival Caymmi, 1977) é cortado pela faca e pelo prato de Moreno Veloso em evocação do samba da terra natal que o baiano Caymmi mitificou em sua obra. Fazer Milagre (Dorival Caymmi, 1977) em Gilbertos samba tem sentido pelo fato de o tema remeter à união de João com Gil e com Caetano Veloso no disco Brasil (Warner Music, 1981). É como se Gil estivesse simultaneamente trilhando os caminhos que deram na bossa de João e os caminhos que, a partir de João, deram em Gil. Ambientado em clima de samba-choro, o tema instrumental Um abraço no João (Gilberto Gil, 1997) é elo com Um abraço no Bonfá, música que João Gilberto compôs e que gravou em 1960 para saudar o compositor e violonista carioca Luiz Bonfá (1922 - 2001). A busca pelo essencial da canção faz com que o samba Tim tim por tim tim (Haroldo Barbosa e Geraldo Jacques, 1951) - gravado por João no seu melhor álbum pós-Bossa Nova, Amoroso (Warner Music, 1977) - permaneça em sintonia com o universo do samba mesmo quando se ouve o triângulo percutido por Rodrigo Amarante, em eco do legado do mestre Luiz Gonzaga (1912-1989). Com a voz em registros normalmente graves, Gil parece amarrar todas as pontas de sua estrela quando volta ao seu samba Eu vim da Bahia, lançado por Gal Costa em 1965 e revivido por João Gilberto em álbum de 1973. Toda a dimensão histórica de Gilbertos samba - grande álbum do aprendiz que virou mestre - fica explícita com a nova abordagem de Eu vim da Bahia, feito quando Gil já absorvia as lições de João. O reencontro dos Gilbertos deu samba.

Alaíde finaliza em SP álbum autoral gravado com o piano de Peranzzetta

Reverenciada como cantora desde que surgiu na era da Bossa Nova, Alaíde Costa sempre foi compositora bissexta, tendo parcerias com grandes nomes da música brasileira como Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994), Geraldo Vandré, Johnny Alf (1929 - 2010) e Vinicius de Moraes (1913 - 1980). Com registros até então dispersos, a produção autoral da artista carioca - que inclui músicas inéditas em disco como Apesar de tudo (Alaíde Costa e João Magalhães), Banzo (Alaíde Costa e João Márcio Pereira) e Qual a palavra? (Alaíde Costa) - foi reunida em CD gravado em São Paulo (SP) com produção de Thiago Marques Luiz. Já finalizado, o álbum vai ser lançado neste ano de 2014 pelo selo Nova Estação - aberto por Marques Luiz em 2013 - e tem participações da cantora carioca Adyel Silva e do pianista carioca Gilson Peranzzetta (com Alaíde em estúdio, na foto). Intitulado Canções de Alaíde, o álbum reúne 14 músicas da compositora. Eis o repertório do disco, que vai ser lançado antes do CD gravado em 2012 por Alaíde, com o violonista mineiro Toninho Horta, para celebrar os 40 anos do Clube da Esquina:

1. Meu sonho (Alaíde Costa e Johnny Alf)
2. Saída (Alaíde Costa)
3. Cadarços (Alaíde Costa e Hermínio Bello de Carvalho)
4. Canção do amor sem fim (Alaíde Costa e Geraldo Vandré)
5. Você é amor (Alaíde Costa e Tom Jobim)
6. Amigo amado (Alaíde Costa e Vinícius de Moraes)
7. Afinal (Alaíde Costa)
8. Tudo o que é meu (Alaíde Costa e Vinícius de Moraes)
9. Qual a palavra? (Alaíde Costa)
10. Choro (Alaíde Costa)
11. Apesar de tudo (Alaíde Costa e João Magalhães)
12. Ternura (Alaíde Costa e Geraldo Julião)
13. Tempo calado (Alaíde Costa e Paulo Alberto Ventura)
14. Banzo (Alaíde Costa e João Márcio Pereira)

Skank reúne BNegão, Lia Paris e Nando Reis no nono álbum de inéditas

"Não queremos sobreviver / Queremos viver", brada BNegão em rap posto numa das músicas inéditas do 14º álbum do Skank. Projetado no grupo Planet Hemp, o rapper carioca Bernardo Santos, o BNegão, é um dos convidados do nono álbum de inéditas do grupo mineiro. A foto acima flagra BNegão na gravação da faixa, ao lado do baterista Haroldo Ferretti (à esquerda) e do baterista Henrique Portugal, dois dos quatro músicos do Skank. Já em fase de mixagem no Estúdio Máquina, em Belo Horizonte (MG), o 14º CD do Skank também traz os cantores e compositores paulistas Lia Paris e Nando Reis, parceiro do vocalista e guitarrista Samuel Rosa em algumas músicas do repertório inteiramente inédito e autoral. Trata-se do primeiro álbum de inéditas do Skank em seis anos. O último, Estandarte, foi lançado em 2008 via Sony Music.

Grupo The Smashing Pumpkins anuncia a edição de dois álbuns em 2015

Grupo norte-americano movido por seu mentor e líder Billy Corgan, The Smashing Pumpkins anunciou a edição de dois álbuns em 2015. Intitulados Day for light e Monuments to an elegy, os discos serão gravados sob a produção de Howard Willing, que trabalhou com a banda em álbuns como Adore (1998). O último álbum do Smashing Pumpkins foi Oceania (2012), o primeiro gravado por Billy Corgan com o guitarrista Jeff Schroeder, o baterista Mike Byrne e a baixista Nicole Fiorentino. O quarteto planeja o lançamento de single ainda neste ano de 2014.

Ausência de informações desvaloriza a compilação romântica de Sinatra

Lançada nos Estados Unidos em janeiro de 2014, via Universal Music, a coletânea Sinatra with love ganha edição no Brasil neste mês de março. Explorando o rico acervo da Capitol Records, recém-adquirido através da compra da EMI Music, a gravadora Universal Music produziu a compilação com 16 gravações de tom romântico do cantor norte-americano Frank Sinatra (1915 - 1998). A ausência de informações sobre a procedência dos fonogramas desvaloriza a coletânea, cujo encarte se limita a reproduzir os nomes e os compositores das composições. De todo modo, Sinatra with love apresenta seleção irretocável que reitera a maestria da voz referencial do cantor. Quase todos os arranjos são do maestro norte-americano Nelson Riddle (1921-1985). Eis as 16 belas gravações reunidas no CD Sinatra with love, já à venda no Brasil:

1. Moonlight becomes you (Johnny Burke e Jimmy Van Heusen, 1942)
2. Love is here to stay (George Gershwin e Ira Gershwin, 1938)
3. Just one of those things (Cole Porter, 1935)
4. Misty (Erroll Garner e Johnny Burke, 1954)
5. Nice 'n' easy (Alan Bergman, Marilyn Keith e Lew Spence, 1960)
6. It could happen to you (Johnny Burke e Van Heusen, 1944)
7. The way you look tonight (Jerome Kern e Dorothy Fields, 1936)
8. Love looks so well on you (Lew Spence, Marilyn Keith e Alan Bergman, 1962)
9. (Love is) The tender trap (Sammy Cahn e Van Heusen, 1955)
10. I love you (Cole Porter, 1944)
11. The look of love (Sammy Cahn e Van Heusen, 1964)
12. Something's gotta give (Johnny Mercer, 1954)
13. From this moment on (Cole Porter, 1950)
14. Wave (Antonio Carlos Jobim, 1967)
15. It had to be you (Isham Jones e Gus Kahn, 1924)
16. My foolish heart (Ned Washington e Victor Young, 1949)

terça-feira, 25 de março de 2014

CD 'Coração a batucar' mostra que o samba de Maria Rita é bom, sim, senhor

Resenha de álbum
Título: Coração a batucar
Artista: Maria Rita
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * 1/2

"Mais uma vez / 
Aqui estou /
Não vou negar /
Eu vou representar com todo meu amor /
Cantando por aí /
Levando a alegria pro meu povo /
Não há nada que me faça mais feliz /
É tão encantador /
Meu samba, sim, senhor..."

 Ao abrir seu segundo álbum de samba com os versos de Meu samba, sim, senhor (Fred Camacho, Marcelinho Moreira e Leandro Fab, 2014), no toque do surdo e da cuíca, Maria Rita busca a conexão imediata entre Coração a batucar - disco lançado hoje, 25 de março de 2014, no iTunes - e Samba meu, o CD de 2007 que rejuvenesceu seu público e com o qual a cantora paulistana cortou o cordão umbilical que a ligava à sua mãe Elis Regina (1945 - 1982). Ao subir o morro, levada por seu então produtor Leandro Sapucahy, Maria Rita fez um disco pagodeiro, de pé no chão. Nas lojas em edição física a partir de 8 de abril, Coração a batucar vem ao mundo sete anos após Samba meu, com menos pé no chão. Entre um e outro álbum de samba, a artista lançou CD de entressafra - Elo (2011), produto que selou o fim de sua passagem pela Warner Music - e religou o cordão umbilical em tributo a Elis prestado em controvertido show perpetuado no CD, DVD e blu-ray Redescobrir (2012). Com a cotação ainda alta no mercado fonográfico, mas sem o prestígio e o status alcançados de forma instantânea com a edição de seu primeiro álbum, Maria Rita (2003), a cantora se refugia mais uma vez no samba. Mas seu coração batuca em cadência menos pagodeira neste disco gravado entre novembro e dezembro de 2013 sob a direção musical da própria Maria Rita e com arranjos confiados a um pianista, Jota Moraes, habituado a tocar em discos de MPB. Como já sinalizara o single Rumo ao infinito (Arlindo Cruz, Marcelinho Moreira e Fred Camacho, 2014), um dos três belos sambas fornecidos pelo bamba carioca Arlindo Cruz (nome recorrente no CD, mas sem a onipresença de Samba meu), Coração a batucar se ambienta entre o fundo de um quintal e o interior de uma boate. Dividida entre André Siqueira e Marcelinho Moreira, a percussão alcança destaques variados ao longo das 13 músicas do CD (a edição digital jà à venda no iTunes traz duas faixas-bônus). Em Saco cheio (Dona Fia e Marcos Antônio, 1981), sucesso da fase inicial da carreira fonográfica do cantor e compositor carioca Almir Guineto, a percussão é fundamental para simular clima de terreirão do samba no início e no fim da faixa. A interpretação irreverente da cantora acentua o deboche contido nos versos que brincam com o hábito do povo brasileiro de invocar Deus a todo momento. Uma das três regravações do disco, Fogo no paiol (Rodrigo Maranhão, 2010) é apagado pelo arranjo de clima menos quente. Esperto, o piano de Rannieri Oliveira se insinua ligeiramente jazzy em trecho instrumental deste tema lançado pelo cantor e compositor Rodrigo Maranhão em seu segundo disco, Passageiro (2010). Músicos orquestrados por Jota Moraes, mentor de todos os arranjos, o baixista Alberto Continentino, o guitarrista Davi Moraes e o baterista Wallace Santos armam  cama segura para que Maria Rita caia no samba sem perder a pose de grande dama da MPB. Mas tal pose cai quando a artista dá a decisão em malandro esperto quando canta No meio do salão (Magnu Souza, Maurílio de Oliveira e Everson Pessoa, 2014), samba da turma do paulistano Quinteto em Branco e Preto. "Comigo não tem malandragem / Se o bicho pegar desta vez / Vai sobrar para você", enquadra, tal qual uma Anitta do samba. Do salão, o disco cai para Abismo (Thiago Silva, Lele e Davi dos Santos, 2014), bonito pagode romântico que, no registro refinado de Maria Rita, cresce e se torna um dos trunfos do repertório nem sempre à altura da voz da cantora. Fiel ao compromisso da artista de levar alegria para o povo, firmado nos versos iniciais de Meu samba, sim, senhorAbismo contemporiza a dor de amor. Dor da qual o samba é o mensageiro em Vai meu samba (Noca da Portela e Sérgio Fonseca, 2011), um dos pontos mais altos do disco. Maria Rita regrava o samba de Noca da Portela em andamento lento e em clima cool de tom ritualístico. Samba mais expansivo, Abre o peito e chora (Serginho Meriti, Rodrigo Leite e Cauíque, 2014) trata a dor com a esperança de que novo sorriso vai gerar outro despertar para o amor e a vida. No mesmo tom positivista, Bola pra frente (Xande de Pilares e Gilson Bernini, 2014) prega resistência em tempos existencialmente noturnos. "Deixa clarear / Que a luz do dia vai brilhar", receita a cantora neste samba menor, do tamanho de Nunca se diz nunca (Xande de Pilares, Charlles André e Leandro Fab, 2014). Contudo, antes que o disco balance e caia, Arlindo Cruz e Joyce Moreno salvam a pátria. Cria da Bossa Nova, a compositora carioca fornece uma das melhores músicas do disco, No mistério do samba, tema feliz, iluminado, cheio de suingue. Um samba que celebra a alegria de poder fazer e cantar samba. Em tom terno e grato, Mainha me ensinou (Arlindo Cruz, Xande de Pilares e Gilson Bernini, 2014) festeja o ensinamento que passa de mãe para filha. Com contracanto que valoriza a gravação, Maria Rita dá sua receita de paz, amor e harmonia no habitual tom leve e para cima do disco - o que justifica a alocação como bônus, exclusivo da edição digital de Coração a batucar, das regravações dos dois sambas do compositor carioca Luiz Gonzaga do Nascimento Jr. (1945 - 1991), o sempre questionador Gonzaguinha. Comportamento geral (1972) e Um sorriso nos lábios (1972) são sambas pesados, asfixiados pelas amarras da ditadura instaurada no Brasil em 1964. No fim, É corpo, é alma, é religião (Arlindo Cruz, Rogê e Arlindo Neto, 2014) põe no quintal o samba batido na palma da mão, fechando disco que, embora deixe a sensação de que Rita pode mais por ser a grande cantora que sempre foi, supera Samba meu, provando que o samba da filha de Elis é bom, sim, senhor. Como diria Chico Buarque, deixe a menina sambar em paz...