Resenha de show
Título: Dois violões
Artista: Arnaldo Antunes (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Theatro Net Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 11 de março de 2014
Cotação: * * * *
Não são exatamente dois violões, como diz o título do show com o qual Arnaldo Antunes vem rodando o Brasil há cerca de um ano. No palco, conta-se cinco violões, tocados de forma alternada por, isso sim, dois excelentes músicos, Betão Aguiar e Chico Salem. Mas a obra é uma só. Um cancioneiro de grande força poética e apelo pop. Sim, Arnaldo Antunes é pop. Despidas de seus habituais ornamentos, as canções deste titã do pop nativo se desnudam em toda sua grandeza diante de uma plateia embevecida. Foi assim na noite de ontem, 11 de março de 2014, quando o cantor e compositor paulista voltou à cidade do Rio de Janeiro (RJ) com seu show Dois violões, inaugurando o projeto Palco Petrobrás Premmia no Theatro Net Rio. Mesmo sem ser exatamente um show de hits, Dois violões tem roteiro - aberto com a pouco ouvida Fim do dia (Arnaldo Antunes e Paulo Miklos, 1998) - que concentra sucessos. Melhor dizendo: músicas que se tornaram sucessos para o público que ouve atentamente o cancioneiro deste artista multimídia. O show tem dinâmica, escapando da perigosa linearidade ao expandir as possibilidades do formato. Além de tocar os violões, os dois músicos contribuem com harmoniosos vocais em músicas como Sem você (Busy man) (Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, 1998), número arrematado com citação de Preta pretinha (Moraes Moreira e Galvão, 1972). A elétrica movimentação de Arnaldo em cena - ora sentado no banquinho, ora de pé no palco, ora até no meio da plateia - potencializa a carga do show, sublinhando eventualmente o sentido das músicas com gestos e coreografias. Às vezes, o próprio canto do artista diferencia os matizes dos 21 números do roteiro. O tom cavernoso impresso em Cabimento (Arnaldo Antunes e Paulo Tatit, 2004) dá tom dark a este tema do álbum Saiba (2004), também representado no roteiro por sua música-título e por Consumado (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte, 2004) - o número em que o cantor se embrenha pela plateia em momento que reforça a comunhão entre artista e público. O som das cordas de Aguiar e Salem também tem matizes diferenciados. Aguiar tira sons de guitarra em Invejoso (Arnaldo Antunes e Liminha, 2009), hit do álbum mais pop jovem-guardista de Arnaldo, Iê iê iê (2009). Já Até o fim (Arnaldo Antunes e Cézar Mendes, 2009) - balada lançada por Maria Bethânia no álbum Tua (2009) e cantada por Arnaldo em tons ternos - é introduzida por tons ruralistas que remetem aos sons do interior do Brasil. No roteiro, caracterizado em cena pelo cantor como "um apanhado meio livre da minha carreira", a arquitetura melódica e poética das canções fica mais evidenciada, atestando o óbvio: Arnaldo Antunes já tem obra que lhe garante lugar de honra no primeiro time dos compositores brasileiros de todos os tempos. De sua geração, ele se encontra entre os cinco mais importantes, ombreando com Cazuza (1958 - 1990), Herbert Vianna, Lulu Santos e Renato Russo (1960 - 1996). Irmanadas no toque dos dois violões, a pegada roqueira de Não vou me adaptar (Arnaldo Antunes, 1985), a poesia que emerge na uterina Debaixo d'água (Arnaldo Antunes, 2001), a urgência sensorial de Socorro (Arnaldo Antunes e Alice Ruiz, 1994) e a aconchegante levada tribalista de Passe em casa (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte e Margareth Menezes, 2002) reiteram em cena a maestria de um compositor que ampliou seu raio de ação na música brasileira ao longo de seus 32 anos de diversificada carreira. O pulso criativo de Arnaldo Antunes ainda pulsa firme.
Não são exatamente dois violões, como diz o título do show com o qual Arnaldo Antunes vem rodando o Brasil há cerca de um ano. No palco, conta-se cinco violões, tocados de forma alternada por, isso sim, dois excelentes músicos, Betão Aguiar e Chico Salem. Mas a obra é uma só. Um cancioneiro de grande força poética e apelo pop. Sim, Arnaldo Antunes é pop. Despidas de seus habituais ornamentos, as canções deste titã do pop nativo se desnudam em toda sua grandeza diante de uma plateia embevecida. Foi assim na noite de ontem, 11 de março de 2014, quando o cantor e compositor paulista voltou à cidade do Rio de Janeiro (RJ) com seu show Dois violões, inaugurando o projeto Palco Petrobrás Premmia no Theatro Net Rio. Mesmo sem ser exatamente um show de hits, Dois violões tem roteiro - aberto com a pouco ouvida Fim do dia (Arnaldo Antunes e Paulo Miklos, 1998) - que concentra sucessos. Melhor dizendo: músicas que se tornaram sucessos para o público que ouve atentamente o cancioneiro deste artista multimídia. O show tem dinâmica, escapando da perigosa linearidade ao expandir as possibilidades do formato. Além de tocar os violões, os dois músicos contribuem com harmoniosos vocais em músicas como Sem você (Busy man) (Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, 1998), número arrematado com citação de Preta pretinha (Moraes Moreira e Galvão, 1972). A elétrica movimentação de Arnaldo em cena - ora sentado no banquinho, ora de pé no palco, ora até no meio da plateia - potencializa a carga do show, sublinhando eventualmente o sentido das músicas com gestos e coreografias. Às vezes, o próprio canto do artista diferencia os matizes dos 21 números do roteiro. O tom cavernoso impresso em Cabimento (Arnaldo Antunes e Paulo Tatit, 2004) dá tom dark a este tema do álbum Saiba (2004), também representado no roteiro por sua música-título e por Consumado (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte, 2004) - o número em que o cantor se embrenha pela plateia em momento que reforça a comunhão entre artista e público. O som das cordas de Aguiar e Salem também tem matizes diferenciados. Aguiar tira sons de guitarra em Invejoso (Arnaldo Antunes e Liminha, 2009), hit do álbum mais pop jovem-guardista de Arnaldo, Iê iê iê (2009). Já Até o fim (Arnaldo Antunes e Cézar Mendes, 2009) - balada lançada por Maria Bethânia no álbum Tua (2009) e cantada por Arnaldo em tons ternos - é introduzida por tons ruralistas que remetem aos sons do interior do Brasil. No roteiro, caracterizado em cena pelo cantor como "um apanhado meio livre da minha carreira", a arquitetura melódica e poética das canções fica mais evidenciada, atestando o óbvio: Arnaldo Antunes já tem obra que lhe garante lugar de honra no primeiro time dos compositores brasileiros de todos os tempos. De sua geração, ele se encontra entre os cinco mais importantes, ombreando com Cazuza (1958 - 1990), Herbert Vianna, Lulu Santos e Renato Russo (1962 - 1996). Irmanadas no toque dos dois violões, a pegada roqueira de Não vou me adaptar (Arnaldo Antunes, 1985), a poesia que emerge na uterina Debaixo d'água (Arnaldo Antunes, 2001), a urgência sensorial de Socorro (Arnaldo Antunes e Alice Ruiz, 1994) e a aconchegante levada tribalista de Passe em casa (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte e Margareth Menezes, 2002) reiteram em cena a maestria de um compositor que ampliou seu raio de ação na música brasileira ao longo de seus 32 anos de diversificada carreira. O pulso criativo de Arnaldo Antunes ainda pulsa firme.
ResponderExcluirMuito boa sua crítica Mauro, não pelo fato de ter elogiado o Arnaldo, mas por reiterar o pulso criativo deste artista que desde a época dos Titãs é sensacional! Em todas as fases e nesta atual tem sempre algo a dizer!
ResponderExcluirCaro Mauro, Renato Russo nasceu em 1960, não em 1962.
ResponderExcluirSobre o que o show parece ter sido: Arnaldo sempre foi pop. Discos como "Um som" e "Paradeiro" têm coisas inegavelmente pop. Aliás, acho que até "Ninguém" já tem um pé nessa canoa. Só não vê (e ouve) quem não quer.
Ah, sim: uma pena ver como os egressos dos Titãs ainda têm algo a dizer (até Charles, que nunca foi cantor nem se notabilizou por compor, mesmo tendo feito "Estado Violência"). Já a banda...
Felipe dos Santos Souza
Felipe, grato pelo toque e pela atenção de sempre. Abs, obrigado, MauroF
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