Mauro Ferreira no G1

Aviso aos navegantes: desde 6 de julho de 2016, o jornalista Mauro Ferreira atualiza diariamente uma coluna sobre o mercado fonográfico brasileiro no portal G1. Clique aqui para acessar a coluna. O endereço é http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/


sábado, 15 de março de 2014

Caixa embala reedições de álbuns da fase em que Moraes subiu a ladeira

Resenha de caixa de CDs
Título: Moraes Moreira Anos 70
Artista: Moraes Moreira
Gravadora: Discobertas
Cotação da caixa: * * * 1/2
Cotação do álbum Moraes Moreira (Som Livre, 1975): * * * 1/2
Cotação do álbum Cara e coração (Som Livre, 1977): * * * 1/2
Cotação do álbum Alto falante (Som Livre, 1978): * * * * 
Cotação do álbum Lá vem o Brasil descendo a ladeira (Som Livre, 1979): * * * * *

Chegou a hora dessa gente bronzeada que cultua o som dos Novos Baianos dar o devido valor à discografia solo de Moraes Moreira, principal compositor da fase inicial do grupo. Produzida pelo selo carioca Discobertas, a edição da caixa Moraes Moreira Anos 70 é oportuna por repor em catálogo no Brasil os quatro primeiros álbuns pós-Novos Baianos lançados pelo cantor e compositor, pela gravadora Som Livre, entre 1975 e 1979. Embora as reedições se limitem a reproduzir a arte gráfica das capas e encartes dos LPs originais, sem acréscimo de faixas-bônus e sem textos que contextualizem os álbuns na discografia de Moraes e na MPB, a caixa tem valor documental e musical. Até porque revitaliza uma obra que plantou as sementes do elétrico som pop baiano que iria germinar nos anos 1980, gerando a carnavalesca música rotulada como axé music, gênero cuja pré-história passa pela discografia deste baiano de Ituaçu batizado Antonio Carlos Moreira Pires. Moraes Moreira (1975), Cara e coração (1977), Alto falante (1978) e Lá vem o Brasil descendo a ladeira (1979) são álbuns de tons distintos, mas que dialogam entre si. Até pelo fato de os três primeiros terem sido gravados com os músicos - Armandinho Macedo (bandolim, guitarra e guitarra baiana), Dadi Carvalho (baixo), Mu Carvalho (piano) e Gustavo Schroeter (bateria) - que formariam A Cor do Som, grupo nascido do espírito comunitário dos Novos Baianos. O primeiro, Moraes Moreira (1975), já tinha sido editado em CD no Japão, mas era inédito no Brasil no formato. É um disco de clima roqueiro, novo baiano, cujo repertório - não tão inspirado quanto o cancioneiro posterior do compositor - inclui sobras da parceria de Moraes com Galvão (Chinelo do meu avô e Anda, Nega). Alinhada com o espírito do disco, a regravação do rock Se você pensa (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1968) sobressai em repertório que destacou a música Guitarra baiana (Moraes Moreira), propagada na trilha sonora da novela Gabriela (TV Globo, 1975) em registro diferente. Outra novela global, Sem lenço, sem documento (1977), traria o primeiro grande hit de Moraes em sua carreira solo, Pombo correio, versão com letra (escrita por Moraes) do tema instrumental Double morse, da pioneira dupla baiana Dodô e Osmar. Moraes Moreira começava a eletrificar o som dos trios. Pombo correio figura no repertório do segundo álbum da caixa, Cara e coração (1977), disco mais voltado para o samba, sem pegada roqueira, que já havia merecido paupérrima edição em CD pela Som Livre nos anos 1990. Um desses sambas, Às 3 da manhã, é da lavra do compositor fluminense Herivelto Martins (1912 - 1992). Detalhe: outro samba, O que é... o que é..., composto por Moraes, abre o disco com título similar ao samba que seria lançado em 1982 com sucesso pelo compositor carioca Luiz Gonzaga do Nascimento Jr. (1945 - 1991), o Gonzaguinha. Na sequência, o ótimo álbum Alto falante (1978) reverberou a nascente parceria de Moraes com o poeta cearense Fausto Nilo, parceiro do baiano em seis das 12 músicas do disco. Até então inédito no formato de CD, Alto falante é o álbum que também apresenta a parceria de Moraes com outro poeta compositor, o fluminense Abel Silva, coautor de Espírito esportivo. Com Fausto Nilo e Abel Silva, Moraes iria compor grandes hits ao longo dos anos de 1980, década de maturação já evidenciada no quarto e melhor título da caixa, Lá vem o Brasil descendo a ladeira (1979), disco carnavalesco que destacou o samba que lhe dá título - composto por Moraes com Pepeu - e Chão da praça, parceria com Fausto Nilo. Com repertório primoroso, que inclui joias como Pelas Capitais (parceria de Moraes com Jorge Mautner), Lá vem o Brasil descendo a ladeira - título já disponibilizado em CD em reedição remasterizada produzida com apuro por Charles Gavin em 2006 - amplificou o elétrico som solo de Moraes Moreira, cantor e compositor que soube subir a ladeira, abrindo habilmente caminho para a folia fonográfica da década de 1980.

5 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Chegou a hora dessa gente bronzeada que cultua o som dos Novos Baianos dar o devido valor à discografia solo de Moraes Moreira, principal compositor da fase inicial do grupo. Produzida pelo selo carioca Discobertas, a edição da caixa Moraes Moreira Anos 70 é oportuna por repor em catálogo no Brasil os quatro primeiros álbuns pós-Novos Baianos lançados pelo cantor e compositor, pela gravadora Som Livre, entre 1975 e 1979. Embora as reedições se limitem a reproduzir a arte gráfica das capas e encartes dos LPs originais, sem acréscimo de faixas-bônus e sem textos que contextualizem os álbuns na discografia de Moraes e na MPB, a caixa tem valor documental e musical. Até porque revitaliza uma obra que plantou as sementes do elétrico som pop baiano que iria germinar nos anos 1980, gerando a carnavalesca música rotulada como axé music, gênero cuja pré-história passa pela discografia deste baiano de Ituaçu batizado Antonio Carlos Moreira Pires. Moraes Moreira (1975), Cara e coração (1977), Alto falante (1978) e Lá vem o Brasil descendo a ladeira (1979) são álbuns de tons distintos, mas que dialogam entre si. Até pelo fato de os três primeiros terem sido gravados com os músicos - Armandinho Macedo (bandolim, guitarra e guitarra baiana), Dadi Carvalho (baixo), Mu Carvalho (piano) e Gustavo Schroeter (bateria) - que formariam A Cor do Som, grupo nascido do espírito comunitário dos Novos Baianos. O primeiro, Moraes Moreira (1975), já tinha sido editado em CD no Japão, mas era inédito no Brasil no formato. É um disco de clima roqueiro, novo baiano, cujo repertório - não tão inspirado quanto o cancioneiro posterior do compositor - inclui sobras da parceria de Moraes com Galvão (Chinelo do meu avô e Anda, Nega). Alinhada com o espírito do disco, a regravação do rock Se você pensa (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1968) sobressai em repertório que destacou a música Guitarra baiana (Moraes Moreira), propagada na trilha sonora da novela Gabriela (TV Globo, 1975) em registro diferente. Outra novela global, Sem lenço, sem documento (1977), traria o primeiro grande hit de Moraes em sua carreira solo, Pombo correio, versão com letra (escrita por Moraes) do tema instrumental Double morse, da pioneira dupla baiana Dodô e Osmar. Moraes Moreira começava a eletrificar o som dos trios. Pombo correio figura no repertório do segundo álbum da caixa, Cara e coração (1977), disco mais voltado para o samba, sem pegada roqueira, que já havia merecido paupérrima edição em CD pela Som Livre nos anos 1990. Um desses sambas, Às 3 da manhã, é da lavra do compositor fluminense Herivelto Martins (1912 - 1992). Detalhe: outro samba, O que é... o que é..., composto por Moraes, abre o disco com título similar ao samba que seria lançado em 1982 com sucesso pelo compositor carioca Luiz Gonzaga do Nascimento Jr. (1945 - 1991), o Gonzaguinha. Na sequência, o ótimo álbum Alto falante (1978) reverberou a nascente parceria de Moraes com o poeta cearense Fausto Nilo, parceiro do baiano em seis das 12 músicas do disco. Até então inédito no formato de CD, Alto falante é o álbum que também apresenta a parceria de Moraes com outro poeta compositor, o fluminense Abel Silva, coautor de Espírito esportivo. Com Fausto Nilo e Abel Silva, Moraes iria compor grandes hits ao longo dos anos de 1980, década de maturação já evidenciada no quarto e melhor título da caixa, Lá vem o Brasil descendo a ladeira (1979), disco carnavalesco que destacou o samba que lhe dá título - composto por Moraes com Pepeu - e Chão da praça, parceria com Fausto Nilo. Com repertório primoroso, que inclui joias como Pelas Capitais (parceria de Moraes com Jorge Mautner), Lá vem o Brasil descendo a ladeira - título já disponibilizado em CD em reedição remasterizada produzida com apuro por Charles Gavin em 2006 - amplificou o elétrico som solo de Moraes Moreira, cantor e compositor que soube subir a ladeira, abrindo habilmente caminho para a folia fonográfica da década de 1980.

Coisas do Sertão disse...

Marcelo Caxias


Resenha bem coerente para com a trajetória de MM. Esses discos de fato são relevantes, mas é fato que a boa inspiração de Moraes Moreira foi ate o disco Cidadão de 1991. De lá para cá, coisas escassas. ocorre que Moraes se continuou se estrelando, onde chega dificulta contato com jornalistas do interior que querem dar uma forcinha no rádios e nas redes. Chegou até a esnobar um profissional. A coisa já anda feia, assim, fica difícil. Mas viva Moraes um artista absoluto, grande poeta. Vou comprar sim essa caixa!

Fernando Lima disse...

Que maravilha!! Espero que lançam um box anos 80 também!!
Mauro, existe alguma informação sobre box de discos dos Mutantes ou Novos Baianos?

Maria disse...

Concordo Mauro! embora ouça mais o Moraes nos Novos Baianos, sua obra solo também merece reverência pelo artista talentoso que é.

Márcio disse...

Para mim desde já o relançamento do ano, ainda que sem o apuro que a obra de Moraes merece. O nível das compoosições aqui é tão bom quanto o que ele manteve nos Novos Baianos.

Espero que, como mencionou Fernando, venha em seguida uma caixa com a obra do homem de Ituaçu nos anos 80, principalmente por conta de "Bazer Brasileiro", meu trabalho preferido de Moraes, que ali conseguiu, como nenhum outro antes ou depois dele, fazer a fusão do frevo trieletrizado com a levada do ijexá e outros ritmos afro-brasileiros.

Acho em geral subestimado o trabalho de Moraes Moreira como compositor. Pode-se até procurar, mas dificilmente vai-se encontrar por aí um cara que tenha músicas com a qualidade e pertinência das suas.