Resenha de CD
Título: Enredo
Artista: Martinho da Vila
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * 1/2
♪ Na segunda metade dos anos 1960, Martinho da Vila foi compositor fundamental na renovação do samba de enredo. Ao compor para a escola de samba Unidos de Vila Isabel, situada no bairro carioca cujo primeiro nome foi incorporado pelo bamba Martinho José Ferreira ao seu sobrenome artístico, o artista - fluminense de Duas Barras (RJ) - criou melodias e letras menos caudalosas e rebuscadas, dando tom mais coloquial ao samba-enredo sem desrespeitar as tradições do gênero. Dessa robusta safra inicial composta para a Vila Isabel, Carnaval de ilusões (1967), Quatro séculos de modas e costumes (1968), Yayá do Cais Dourado (1969), Glórias gaúchas (1970) e Onde o Brasil aprendeu a liberdade (1972) são sambas inspirados, ora revividos pelo cantor e compositor no 46º título de sua discografia, Enredo, CD valorizado pela expressiva capa do artista plástico Elifas Andreato, criador de capas antológicas de álbuns gravados por Martinho nos anos 1970. Ao reunir em 14 faixas 24 sambas compostos por Martinho da Vila para as escolas Aprendizes da Boca do Mato e Unidos de Vila Isabel, entre 1957 e 2013, Enredo traça a evolução do samba-enredo de Martinho e do próprio gênero ao longo de 56 anos. Para perceber a evolução, ou involução como alegam detratores dos atuais sambas-enredos, basta comparar o estilo ainda pomposo dos versos do primeiro samba da safra solitária de Martinho - Carlos Gomes, escolhido pela Aprendizes da Boca do Mato para o Carnaval de 1957 - com o tom ágil do último, A Vila canta o Brasil, celeiro do mundo, grande samba que ajudou a Vila Isabel a conquistar a vitória no Carnaval carioca de 2013. E que já flagra Martinho - no caso, com seus parceiros André Diniz, Arlindo Cruz, Leonel e Tunico da Vila - adaptados aos códigos e formatos dos sambas atuais. Pela primeira vez registrado em disco, Carlos Gomes abre Enredo enquanto A Vila canta o Brasil, celeiro do mundo fecha o CD. Mas Martinho abriu mão da ordem cronológica ao dispor no disco os 24 sambas, muitos confiados às vozes de seus filhos Analimar, Juju Ferreirah, Maíra Freitas, Mart'nália, Martinho Tonho e Tunico da Vila. Analimar, Mart'´nália e Martinho Tonho remontam o trio Trinca Própria, criado pelo patriarca do clã nos anos 1980, para repor na avenida sambas como Ai, que saudades que eu tenho (Martinho da Vila, 1977) e Gbala - Viagem ao templo da criação (Martinho da Vila, 1993). Já Maíra Freitas defende Raízes (Martinho da Vila, Ovídio Bessa e Azo, 1987), o samba sem rimas que cita na letra o nome da cantora, compositora e pianista. Entre os 24 sambas, há obras-primas como Sonho de um sonho (Martinho da Vila, Rodolpho e Tião Graúna, 1980) - samba revivido por Martinho com Beth Carvalho em medley que inclui o já citado Onde o Brasil aprendeu a liberdade (1972) - Pra tudo se acabar na quarta-feira (Martinho da Vila, 1984). Mas há também sambas menos inspirados que amargaram merecidas derrotas nas disputas internas da Vila Isabel. São os casos de Vila Isabel anos 30 e Por ti América (2006), dois sambas feitos por Martinho em parceria com o compositor carioca Luiz Carlos da Vila (1949 - 2008), ambos bem abaixo do potencial dos autores. Em contrapartida, emerge em Enredo - com a adesão de Alcione - um dos mais belos e menos ouvidos sambas-enredos da lavra solitária de Martinho, Iemanjá, desperta!, feito para o Carnaval de 1978 da Unidos de Vila Isabel. No todo, Enredo reafirma a força do samba de Martinho. Que poderia soar ainda mais forte no disco se o mix de cordas, percussão e sopros dos arranjos - divididos entre Ivan Paulo, Leonardo Bruno, Maíra Freitas, Rildo Hora e Wanderson Martins - enfatizasse mais o baticum. Os sambas-hits já tiveram registros mais empolgantes. Mesmo assim, Enredo é bom disco cujo prazo de validade não vai acabar na quarta-feira de cinzas.
Na segunda metade dos anos 1960, Martinho da Vila foi compositor fundamental na renovação do samba de enredo. Ao compor para a escola de samba Unidos de Vila Isabel, situada no bairro carioca cujo primeiro nome foi incorporado pelo bamba Martinho José Ferreira ao seu sobrenome artístico, o artista - fluminense de Duas Barras (RJ) - criou melodias e letras menos caudalosas e rebuscadas, dando tom mais coloquial ao samba-enredo sem desrespeitar as tradições do gênero. Dessa robusta safra inicial composta para a Vila Isabel, Carnaval de ilusões (1967), Quatro século de modas e costumes (1968), Yayá do Cais Dourado (1969), Glórias gaúchas (1970) e Onde o Brasil aprendeu a liberdade (1972) são sambas inspirados, ora revividos pelo cantor e compositor no 44º título de sua discografia, Enredo, CD valorizado pela expressiva capa do artista plástico Elifas Andreato, criador de capas antológicas de álbuns gravados por Martinho nos anos 1970. Ao reunir em 14 faixas 24 sambas compostos por Martinho da Vila para as escolas Aprendizes da Boca do Mato e Unidos de Vila Isabel, entre 1957 e 2013, Enredo traça a evolução do samba-enredo de Martinho e do próprio gênero ao longo de 56 anos. Para perceber a evolução, ou involução como alegam detratores dos atuais sambas-enredos, basta comparar o estilo ainda pomposo dos versos do primeiro samba da safra solitária de Martinho - Carlos Gomes, escolhido pela Aprendizes da Boca do Mato para o Carnaval de 1957 - com o tom ágil do último, A Vila canta o Brasil, celeiro do mundo, grande samba que ajudou a Vila Isabel a conquistar a vitória no Carnaval carioca de 2013. E que já flagra Martinho - no caso, com seus parceiros André Diniz, Arlindo Cruz, Leonel e Tunico da Vila - adaptados aos códigos e formatos dos sambas atuais. Pela primeira vez registrado em disco, Carlos Gomes abre Enredo enquanto A Vila canta o Brasil, celeiro do mundo fecha o CD. Mas Martinho abriu mão da ordem cronológica ao dispor no disco os 24 sambas, muitos confiados às vozes de seus filhos Analimar, Juju Ferreirah, Maíra Freitas, Mart'nália, Martinho Tonho e Tunico da Vila. Analimar, Mart'´nália e Martinho Tonho remontam o trio Trinca Própria, criado pelo patriarca do clã nos anos 1980, para repor na avenida sambas como Ai, que saudades que eu tenho (Martinho da Vila, 1977) e Gbala - Viagem ao templo da criação (Martinho da Vila, 1993). Já Maíra Freitas defende Raízes (Martinho da Vila, Ovídio Bessa e Azo, 1987), o samba sem rimas que cita na letra o nome da cantora, compositora e pianista. Entre os 24 sambas, há obras-primas como Sonho de um sonho (Martinho da Vila, Rodolpho e Tião Graúna, 1980) - samba revivido por Martinho com Beth Carvalho em medley que inclui o já citado Onde o Brasil aprendeu a liberdade (1972) - Pra tudo se acabar na quarta-feira (Martinho da Vila, 1984). Mas há também sambas menos inspirados que amargaram merecidas derrotas nas disputas internas da Vila Isabel. São os casos de Vila Isabel anos 30 e Por ti América (2006), dois sambas feitos por Martinho em parceria com o compositor carioca Luiz Carlos da Vila (1949 - 2008), ambos bem abaixo do potencial dos autores. Em contrapartida, emerge em Enredo - com a adesão de Alcione - um dos mais belos e menos ouvidos sambas-enredos da lavra solitária de Martinho, Iemanjá, desperta!, feito para o Carnaval de 1978 da Unidos de Vila Isabel. No todo, Enredo reafirma a força do samba de Martinho da Vila. Que poderia soar ainda mais forte no disco se o mix de cordas, percussão e sopros dos arranjos - divididos entre Ivan Paulo, Leonardo Bruno, Maíra Freitas, Rildo Hora e Wanderson Martins - tivesse dado mais ênfase ao baticum. Os sambas-hits já tiveram registros mais empolgantes. Mesmo assim, Enredo é bom disco cujo prazo de validade não acaba na quarta-feira de cinzas.
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