Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 18 de março de 2014

Matrizes de álbuns de João devem ficar com quem vai reeditar os discos

Editorial - Por mais que pareça impopular e contrária aos interesses da Arte, a decisão do juiz titular da 2ª Vara Cível do Rio de Janeiro, Sergio Wajzenberg, de devolver à gravadora EMI Music a posse das matrizes dos três fundamentais álbuns iniciais de João - Chega de saudade (1959), O amor, o sorriso e a flor (1960) e João Gilberto (1961) - abre caminho para que estes discos históricos ganhem em breve futuras reedições em CD compatíveis com sua importância. Ainda cabe recurso - o que indica que a briga judicial travada pelo cantor baiano desde 1992 com a companhia fonográfica ainda pode se arrastar por mais algum tempo. De todo modo, o argumento do juiz é preciso: em contrato, as masters são de propriedade da EMI Music (gravadora comprada pela Universal Music em 2013). É fato que a EMI reeditou de forma insensível os fonogramas desses álbuns, agrupados em pobre coletânea intitulada O mito (1988). João Gilberto tem toda a razão ao protestar contra a forma precária dessa reedição inicial de gravações tão fundamentais. Só que essa coletânea infeliz foi fruto de momento de transição do LP para o CD - época em que a indústria do disco ainda engatinhava no formato digital. Ao partir para a briga na Justiça, o cantor acabou privando o mundo de ouvir tais álbuns em decentes edições em CD. Afinal, o fato concreto é que essa pendenga judicial tem impedido, ao longo dos últimos 22 anos, quaisquer reedições dessas três obras-primas. Se as matrizes dos álbuns ficarem em poder de João, é provável que tais discos jamais sejam reeditados, deixando o público consumidor de discos à mercê de edições oficiosas como as que vem sendo produzidas por selos europeus com base em lei estrangeira de direito autoral. É preciso levar em conta que o perfeccionismo extremado do cantor - já a caminho dos 83 anos, a serem completados em 10 junho de 2014 - pode impedir que estes discos venham à tona da forma (correta) como a indústria do disco tem reeditado atualmente as obras de seus artistas mais importantes. Caixas com obras de grandes nomes como as postas periodicamente pela Universal Music nas lojas - assim como a recente série Tons, da mesma gravadora - mostram que a indústria do disco, mesmo a passos lentos, tem aprendido a valorizar seu acervo. É melhor que estes discos fiquem com a EMI - ou seja, com a Universal Music - para que sejam reeditados em futuro breve. Se as matrizes ficarem com João, é bem provável que se inicie nova (e longa) novela para negociar as reedições dos discos com outros selos. Novela que pode nem ter fim. Os discos devem ficar com quem (de fato) vai reeditá-los.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Editorial - Por mais que pareça impopular e contrária aos interesses da Arte, a decisão do juiz titular da 2ª Vara Cível do Rio de Janeiro, Sergio Wajzenberg, de devolver à gravadora EMI Music a posse das matrizes dos três fundamentais álbuns iniciais de João - Chega de saudade (1959), O amor, o sorriso e a flor (1960) e João Gilberto (1961) - abre caminho para que estes discos históricos ganhem em breve futuras reedições em CD compatíveis com sua importância. Ainda cabe recurso - o que indica que a briga judicial travada pelo cantor baiano desde 1992 com a companhia fonográfica ainda pode se arrastar por mais algum tempo. De todo modo, o argumento do juiz é preciso: em contrato, as masters são de propriedade da EMI Music (gravadora comprada pela Universal Music em 2013). É fato que a EMI reeditou de forma insensível os fonogramas desses álbuns, agrupados em coletânea intitulada O mito (1988). João Gilberto tem toda a razão ao protestar contra a forma precária dessa reedição inicial de gravações tão fundamentais. Só que essa coletânea infeliz foi fruto de momento de transição do LP para o CD - época em que a indústria do disco ainda engatinhava no formato digital. Ao partir para a briga na Justiça, o cantor acabou privando o mundo de ouvir tais álbuns em decentes edições em CD. Afinal, o fato concreto é que essa pendenga judicial tem impedido, ao longo dos últimos 22 anos, quaisquer reedições dessas três obras-primas. Se as matrizes dos álbuns ficarem em poder de João, é provável que tais discos jamais sejam reeditados, deixando o público consumidor de discos à mercê de edições oficiosas como as que vem sendo produzidas por selos europeus com base em lei estrangeira de direito autoral. É preciso levar em conta que o perfeccionismo extremado do cantor - já a caminho dos 83 anos, a serem completados em 10 junho de 2014 - pode impedir que estes discos venham à tona da forma (correta) como a indústria do disco tem reeditado atualmente as obras de seus artistas mais importantes. Caixas com obras de grandes nomes como as postas periodicamente pela Universal Music nas lojas - assim como a recente série Tons, da mesma gravadora - mostram que a indústria do disco, mesmo a passos lentos, tem aprendido a valorizar seu acervo. É melhor que estes discos fiquem com a EMI - ou seja, com a Universal Music - para que sejam reeditados em futuro breve. Se as matrizes ficarem com João, é bem provável que se inicie nova (e longa) novela para negociar as reedições dos discos com outros selos. Novela que pode nem ter fim. Os discos devem ficar com quem (de fato) vai reeditá-los.

Telmo disse...

Aguardamos então a posição da Universal sobre a reedição dos discos de João Gilberto, finda a disputa judicial. Temos visto sucessivas reedições das caixas (Vinicius, Bethânia, Chico, etc), o que indica um público atento para a história da música brasileira. Mesmo a série Tons, de objetivo mais modesto, tem sido um sucesso de vendas, com sucessivas reedições. Esperamos que as gravadoras sejam mais ousadas nos (re) lançamentos.

Denilson Santos disse...

O curioso é que já foi lançada uma coletânea desses 3 discos pela EMI em LP, com o nome "A Arte de João Gilberto", sem que ele tenha sequer se incomodado. Creio que o tempo, ao invés de sabedoria, trouxe mais ranzizice para esse artista tão fantástico. Enquanto isso, perdemos nós e a música.
Abração
Denilson

ADEMAR AMANCIO disse...

Este homem tem fama de ser chato,e é;mas prefiro não contestar o seu ouvido absoluto,o meu é relativo demais.