Título: Caminhos de mim
Artista: Ninah Jo
Gravadora: Mills Records
Cotação: * * * 1/2
Cantora e compositora paranaense, radicada no Rio de Janeiro (RJ), Ninah Jo é intérprete expressiva que merecia ser ouvida em todo o Brasil. Jo até ganhou alguma projeção ao cantar com Jorge Vercillo a balada Memória do prazer (Jorge Vercillo e Gabriela Vercillo), destaque do disco e show D.N.A., lançados pelo cantor e compositor carioca em 2010. Decorridos quatro anos, a artista apresenta o álbum Caminhos de mim, batizado com o nome de balada de Dudu Falcão. Neste disco, gravado sob a direção artística de Paulo César Feital (parceiro de Jo em três das 15 músicas do repertório) e com arranjos do violonista Pedro Braga, a cantora confirma a expressividade e afinação de sua voz com interpretações precisas, mas pega atalhos que a chocam com o passado glorioso e imbatível da MPB. Ao regravar músicas já exemplarmente registradas por cantoras como Elis Regina (1945 - 1982), Marisa Gata Mansa (1938 - 2003), Nana Caymmi e Zizi Possi, Jo deixa a sensação de estar seguindo em Caminhos de mim uma trilha já toda pavimentada - o que pode impedir a propagação de seu canto, já que são frágeis os links do disco com o momento presente da música brasileira. Feita tal ressalva, Caminhos de mim tem cacife para fisgar ouvintes identificados com as tradições da MPB. A abertura do disco - feita com Renascer (Camilo Saint-Saens em adaptação e letra de Altay Veloso, 1982) em belo registro de voz e piano (o de Wagner Tiso, arranjador da faixa) - já indica o caminho seguido por Ninah no CD, que prossegue com a sagaz junção de duas parcerias de Milton Nascimento com Márcio Borges, Vera Cruz (1968) e O que foi feito de vera (1978), separadas por uma década, mas unidas na poética e na ideologia. Com vocais de Jorge Vercillo, a gravação de Nina cai no suingue jazzy ao fim. Como sonhar-me (Ninah Jo e Paulo César Feital) se alinha - tanto na música como na temática - com o cancioneiro militante da cantora argentina Mercedes Sosa (1935 - 2009) em conexão latina que se estende em outra música de Jo e Feital - Dolores sin soledad, gravada com a participação do recorrente Vercillo (parceiro de Fátima Guedes na densa Mãe de menina e de Bráulio Tavares em Olhos de nunca mais) - e na regravação do tango Cabaré (João Bosco e Aldir Blanc, 1973), um dos pontos mais altos do disco pela interpretação da cantora e pelo arranjo incisivo que destaca a guitarra de Pedro Braga, músico também habilidoso no toque da viola de 10 cordas que evoca o universo nordestino de Meu cordel (Ninah Jo e Paulo César Feital). Música do compositor paraense Vital Lima que deu nome a álbum lançado por Marisa Gata Mansa em 1982, Leopardo galopa na pegada tradicionalista do disco. Já Fruta mulher (Vevé Calazans, 1985) perdeu o sabor mais intenso da gravação feita por Nana Caymmi para a trilha sonora da novela Roque Santeiro (TV Globo, 1985). Bem menos sedutor em sua segunda metade, o álbum repõe na avenida a marcha Eu quero botar meu bloco na rua (Sérgio Sampaio, 1972) - exemplo de que como Ninah Jo por vezes desperdiça tempo e talento ao dar voz a músicas já gravadas de forma definitiva - e fecha com Amanhã (Guilherme Arantes, 1977) em arranjo que remete, de início, à atmosfera prog da gravação original do artista paulista Guilherme Arantes. Encerramento até irônico para disco calcado no ontem, com links frágeis com o hoje. Tomara que Ninah Jo, cantora das boas, intua que - apesar de hoje - amanhã é a estrada que surge para se trilhar.
8 comentários:
Cantora e compositora paranaense, radicada no Rio de Janeiro (RJ), Ninah Jo é intérprete expressiva que merecia ser ouvida em todo o Brasil. Jo até ganhou alguma projeção ao cantar com Jorge Vercillo a balada Memória do prazer (Jorge Vercillo e Gabriela Vercillo), destaque do disco e show D.N.A., lançados pelo cantor e compositor carioca em 2010. Decorridos quatro anos, a artista apresenta o álbum Caminhos de mim, batizado com o nome de balada de Dudu Falcão. Neste disco, gravado sob a direção artística de Paulo César Feital (parceiro de Jo em três das 15 músicas do repertório) e com arranjos do violonista Pedro Braga, a cantora confirma a expressividade e afinação de sua voz com interpretações precisas, mas pega atalhos que a chocam com o passado glorioso e imbatível da MPB. Ao regravar músicas já exemplarmente registradas por cantoras como Elis Regina (1945 - 1982), Marisa Gata Mansa (1938 - 2003), Nana Caymmi e Zizi Possi, Jo deixa a sensação de estar seguindo em Caminhos de mim uma trilha já toda pavimentada - o que pode impedir a propagação de seu canto, já que são frágeis os links do disco com o momento presente da música brasileira. Feita tal ressalva, Caminhos de mim tem cacife para fisgar ouvintes identificados com as tradições da MPB. A abertura do disco - feita com Renascer (Camilo Saint-Saens em adaptação e letra de Altay Veloso, 1982) em belo registro de voz e piano (o de Wagner Tiso, arranjador da faixa) - já indica o caminho seguido por Ninah no CD, que prossegue com a sagaz junção de duas parcerias de Milton Nascimento com Márcio Borges, Vera Cruz (1968) e O que foi feito de vera (1978), separadas por uma década, mas unidas na poética e na ideologia. Com vocais de Jorge Vercillo, a gravação de Nina cai no suingue jazzy ao fim. Como sonhar-me (Ninah Jo e Paulo César Feital) se alinha - tanto na música como na temática - com o cancioneiro militante da cantora argentina Mercedes Sosa (1935 - 2009) em conexão latina que se estende em outra música de Jo e Feital - Dolores sin soledad, gravada com a participação do recorrente Vercillo (parceiro de Fátima Guedes na densa Mãe de menina e de Bráulio Tavares em Olhos de nunca mais) - e na regravação do tango Cabaré (João Bosco e Aldir Blanc, 1973), um dos pontos mais altos do disco pela interpretação da cantora e pelo arranjo incisivo que destaca a guitarra de Pedro Braga, músico também habilidoso no toque da viola de 10 cordas que evoca o universo nordestino de Meu cordel (Ninah Jo e Paulo César Feital). Música do compositor paraense Vita Lima que deu nome a álbum lançado por Marisa Gata Mansa em 1982, Leopardo galopa na pegada tradicionalista do disco. Já Fruta mulher (Vevé Calazans, 1985) perdeu o sabor mais intenso da gravação feita por Nana Caymmi para a trilha sonora da novela Roque Santeiro (TV Globo, 1985). Bem menos sedutor em sua segunda metade, o álbum repõe na avenida a marcha Eu quero botar meu bloco na rua (Sérgio Sampaio, 1972) - exemplo de que como Ninah Jo por vezes desperdiça tempo e talento ao dar voz a músicas já gravadas de forma definitiva - e fecha com Amanhã (Guilherme Arantes, 1977) em arranjo que remete, de início, à atmosfera prog da gravação original do artista paulista Guilherme Arantes. Encerramento até irônico para disco calcado no ontem, com links frágeis com o hoje. Tomara que Ninah Jo, cantora das boas, intua que - apesar de hoje - amanhã é a estrada que surge para se trilhar.
Brilhará na programação da Nova Brasil FM, a rádio da moderna música brasileira!
O disco é primoroso e percebe-se que foi feito com carinho e cuidado. Amanhã é uma faixa lindíssima!! E Leopardo foi uma redescoberta fantástica, já q foi gravada pela esquecida Marisa Gata Mansa e é uma das mais bonitas do seu repertório. Agora é colocar o pé na estrada e divulgar!!!
Mauro,
Você digitou errado o nome do excelente compositor paraense Vital Lima.
No mais, a Ninah Jo traz sua bela voz e interpretação a clássicos da música brasileira, que estão fora do alcance da grande maioria dos ouvintes. Penso que a Ninah vai emocionar muitas pessoas. A mim, ela emocionou. E muito.
abração,
Denilson
Eu também acredito em versões definitivas.Essa moça mexeu em vespeiro.
Grato, Denilson, pelo toque do erro de digitação no nome do Vital. Desejo sucesso a Ninah, de toda forma. Abs, MauroF
Cd primoroso de cabo a rabo, tanto pela qualidade da cantora, uma emoção na voz e uma interpretação que em minha opinião já não se vê nas cantoras de hoje em dia e nas regravações que estão belíssimas,renovadas e impecáveis, em minha opinião, de muito bom gosto! O cd mais lindo que já ouvi nos últimos anos ! Salve Ninah Jo !
Impressionado e emocionado. Salve Ninah!
Postar um comentário