Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 19 de março de 2014

Ninah pega atalhos em 'Caminhos de mim' que a chocam com o passado

Resenha de CD
Título: Caminhos de mim
Artista: Ninah Jo
Gravadora: Mills Records
Cotação: * * * 1/2

Cantora e compositora paranaense, radicada no Rio de Janeiro (RJ), Ninah Jo é intérprete expressiva que merecia ser ouvida em todo o Brasil. Jo até ganhou alguma projeção ao cantar com Jorge Vercillo a balada Memória do prazer (Jorge Vercillo e Gabriela Vercillo), destaque do disco e show D.N.A., lançados pelo cantor e compositor carioca em 2010. Decorridos quatro anos, a artista apresenta o álbum Caminhos de mim, batizado com o nome de balada de Dudu Falcão. Neste disco, gravado sob a direção artística de Paulo César Feital (parceiro de Jo em três das 15 músicas do repertório) e com arranjos do violonista Pedro Braga, a cantora confirma a expressividade e afinação de sua voz com interpretações precisas, mas pega atalhos que a chocam com o passado glorioso e imbatível da MPB. Ao regravar músicas já exemplarmente registradas por cantoras como Elis Regina (1945 - 1982), Marisa Gata Mansa (1938 - 2003), Nana Caymmi e Zizi Possi, Jo deixa a sensação de estar seguindo em Caminhos de mim uma trilha já toda pavimentada - o que pode impedir a propagação de seu canto, já que são frágeis os links do disco com o momento presente da música brasileira. Feita tal ressalva, Caminhos de mim tem cacife para fisgar ouvintes identificados com as tradições da MPB. A abertura do disco - feita com Renascer (Camilo Saint-Saens em adaptação e letra de Altay Veloso, 1982) em belo registro de voz e piano (o de Wagner Tiso, arranjador da faixa) - já indica o caminho seguido por Ninah no CD, que prossegue com a sagaz junção de duas parcerias de Milton Nascimento com Márcio Borges, Vera Cruz (1968) e O que foi feito de vera (1978), separadas por uma década, mas unidas na poética e na ideologia. Com vocais de Jorge Vercillo, a gravação de Nina cai no suingue jazzy ao fim. Como sonhar-me (Ninah Jo e Paulo César Feital) se alinha - tanto na música como na temática - com o cancioneiro militante da cantora argentina Mercedes Sosa (1935 - 2009) em conexão latina que se estende em outra música de Jo e Feital - Dolores sin soledad, gravada com a participação do recorrente Vercillo (parceiro de Fátima Guedes na densa Mãe de menina e de Bráulio Tavares em Olhos de nunca mais) - e na regravação do tango Cabaré (João Bosco e Aldir Blanc, 1973), um dos pontos mais altos do disco pela interpretação da cantora e pelo arranjo incisivo que destaca a guitarra de Pedro Braga, músico também habilidoso no toque da viola de 10 cordas que evoca o universo nordestino de Meu cordel (Ninah Jo e Paulo César Feital). Música do compositor paraense Vital Lima que deu nome a álbum lançado por Marisa Gata Mansa em 1982, Leopardo galopa na pegada tradicionalista do disco. Já Fruta mulher (Vevé Calazans, 1985) perdeu o sabor mais intenso da gravação feita por Nana Caymmi para a trilha sonora da novela Roque Santeiro (TV Globo, 1985). Bem menos sedutor em sua segunda metade, o álbum repõe na avenida a marcha Eu quero botar meu bloco na rua (Sérgio Sampaio, 1972) - exemplo de que como Ninah Jo por vezes desperdiça tempo e talento ao dar voz a músicas já gravadas de forma definitiva - e fecha com Amanhã (Guilherme Arantes, 1977) em arranjo que remete, de início, à atmosfera prog da gravação original do artista paulista Guilherme Arantes. Encerramento até irônico para disco calcado no ontem, com links frágeis com o hoje. Tomara que Ninah Jo, cantora das boas, intua que - apesar de hoje - amanhã é a estrada que surge para se trilhar.  

8 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Cantora e compositora paranaense, radicada no Rio de Janeiro (RJ), Ninah Jo é intérprete expressiva que merecia ser ouvida em todo o Brasil. Jo até ganhou alguma projeção ao cantar com Jorge Vercillo a balada Memória do prazer (Jorge Vercillo e Gabriela Vercillo), destaque do disco e show D.N.A., lançados pelo cantor e compositor carioca em 2010. Decorridos quatro anos, a artista apresenta o álbum Caminhos de mim, batizado com o nome de balada de Dudu Falcão. Neste disco, gravado sob a direção artística de Paulo César Feital (parceiro de Jo em três das 15 músicas do repertório) e com arranjos do violonista Pedro Braga, a cantora confirma a expressividade e afinação de sua voz com interpretações precisas, mas pega atalhos que a chocam com o passado glorioso e imbatível da MPB. Ao regravar músicas já exemplarmente registradas por cantoras como Elis Regina (1945 - 1982), Marisa Gata Mansa (1938 - 2003), Nana Caymmi e Zizi Possi, Jo deixa a sensação de estar seguindo em Caminhos de mim uma trilha já toda pavimentada - o que pode impedir a propagação de seu canto, já que são frágeis os links do disco com o momento presente da música brasileira. Feita tal ressalva, Caminhos de mim tem cacife para fisgar ouvintes identificados com as tradições da MPB. A abertura do disco - feita com Renascer (Camilo Saint-Saens em adaptação e letra de Altay Veloso, 1982) em belo registro de voz e piano (o de Wagner Tiso, arranjador da faixa) - já indica o caminho seguido por Ninah no CD, que prossegue com a sagaz junção de duas parcerias de Milton Nascimento com Márcio Borges, Vera Cruz (1968) e O que foi feito de vera (1978), separadas por uma década, mas unidas na poética e na ideologia. Com vocais de Jorge Vercillo, a gravação de Nina cai no suingue jazzy ao fim. Como sonhar-me (Ninah Jo e Paulo César Feital) se alinha - tanto na música como na temática - com o cancioneiro militante da cantora argentina Mercedes Sosa (1935 - 2009) em conexão latina que se estende em outra música de Jo e Feital - Dolores sin soledad, gravada com a participação do recorrente Vercillo (parceiro de Fátima Guedes na densa Mãe de menina e de Bráulio Tavares em Olhos de nunca mais) - e na regravação do tango Cabaré (João Bosco e Aldir Blanc, 1973), um dos pontos mais altos do disco pela interpretação da cantora e pelo arranjo incisivo que destaca a guitarra de Pedro Braga, músico também habilidoso no toque da viola de 10 cordas que evoca o universo nordestino de Meu cordel (Ninah Jo e Paulo César Feital). Música do compositor paraense Vita Lima que deu nome a álbum lançado por Marisa Gata Mansa em 1982, Leopardo galopa na pegada tradicionalista do disco. Já Fruta mulher (Vevé Calazans, 1985) perdeu o sabor mais intenso da gravação feita por Nana Caymmi para a trilha sonora da novela Roque Santeiro (TV Globo, 1985). Bem menos sedutor em sua segunda metade, o álbum repõe na avenida a marcha Eu quero botar meu bloco na rua (Sérgio Sampaio, 1972) - exemplo de que como Ninah Jo por vezes desperdiça tempo e talento ao dar voz a músicas já gravadas de forma definitiva - e fecha com Amanhã (Guilherme Arantes, 1977) em arranjo que remete, de início, à atmosfera prog da gravação original do artista paulista Guilherme Arantes. Encerramento até irônico para disco calcado no ontem, com links frágeis com o hoje. Tomara que Ninah Jo, cantora das boas, intua que - apesar de hoje - amanhã é a estrada que surge para se trilhar.

Raffa disse...

Brilhará na programação da Nova Brasil FM, a rádio da moderna música brasileira!

Marcelo disse...

O disco é primoroso e percebe-se que foi feito com carinho e cuidado. Amanhã é uma faixa lindíssima!! E Leopardo foi uma redescoberta fantástica, já q foi gravada pela esquecida Marisa Gata Mansa e é uma das mais bonitas do seu repertório. Agora é colocar o pé na estrada e divulgar!!!

Denilson Santos disse...

Mauro,

Você digitou errado o nome do excelente compositor paraense Vital Lima.

No mais, a Ninah Jo traz sua bela voz e interpretação a clássicos da música brasileira, que estão fora do alcance da grande maioria dos ouvintes. Penso que a Ninah vai emocionar muitas pessoas. A mim, ela emocionou. E muito.

abração,
Denilson

ADEMAR AMANCIO disse...

Eu também acredito em versões definitivas.Essa moça mexeu em vespeiro.

Mauro Ferreira disse...

Grato, Denilson, pelo toque do erro de digitação no nome do Vital. Desejo sucesso a Ninah, de toda forma. Abs, MauroF

renata hennig disse...

Cd primoroso de cabo a rabo, tanto pela qualidade da cantora, uma emoção na voz e uma interpretação que em minha opinião já não se vê nas cantoras de hoje em dia e nas regravações que estão belíssimas,renovadas e impecáveis, em minha opinião, de muito bom gosto! O cd mais lindo que já ouvi nos últimos anos ! Salve Ninah Jo !

Rubens Lisboa disse...

Impressionado e emocionado. Salve Ninah!