Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 12 de março de 2014

Reedição de 'Round midnight' expõe grande álbum 'pop' de Betty Carter

Resenha de CD 
Título: 'Round midnight
Artista: Betty Carter
Ano da edição original: 1963
Ano da reedição: 2014
Gravadora: ATCO Records / Atlantic Records / Warner Music
Cotação: * * * * *

Além de oportuna por repor em catálogo no Brasil um título raríssimo no mercado fonográfico nacional, até então disponível somente em arquivos piratas de MP3, a reedição do álbum 'Round midnight pela gravadora Warner Music revive momento iluminado da discografia da cantora norte-americana de jazz Betty Carter (1929 - 1998). Embora não faça parte da santíssima trindade das cantoras de jazz dos Estados Unidos, formada por Billie Holiday (1915 - 1959), Ella Fitzgerald (1917 - 1996) e Sarah Vaughan (1924 - 1990), Carter foi mestra no seu ofício. Tinha voz precisa que funcionava como um instrumento. Emoldurada pelos arranjos orquestrados pelos maestros Claus Ogerman e Oliver Nelson (1932 - 1975), tal voz brilhou neste álbum de 1963. Não é um disco em que Carter mostra de forma plena as suas habilidades como vocalista do estilo de jazz rotulado como be bop, marcado pelos improvisos. Para quem aprecia tais habilidades, que deram fama à cantora a partir dos anos 1970, álbuns como o ao vivo Feed the fire (1993) são mais indicados. 'Round Midnight não deixa de ser um disco jazzístico, como atestam as interpretações de Cal me darling (Dorothy Dick, Mort Fryberg, Rolf Marbet e Bert Reisfeld) e Heart and soul (Frank Loesser e Hoagy Carmichael), mas apresenta também faixas em que Carter canta de forma menos jazzística, mais pop, tornando seu canto mais acessível a ouvidos pouco habituados aos improvisos e modulações do be bop. Nesse sentido, são exemplares as interpretações das baladas Nothing more to look forward to (Richard Adler), When I fall in love (Edward Heyman e Victor Young) e Theme from Dr. Kildare (Three stars will shine tonight) (Jerry Goldsmith, Pete Rugolo e Hal Winn). Embora não raro seja apresentado como título menor da discografia de Betty Carter por críticos de jazz mais puristas, 'Round midnight é álbum que faz jus ao status de obra-prima por expor uma grande cantora dando voz precisa a algumas grandes músicas com grandes arranjos. Uma das músicas - não creditada na econômica reedição brasileira, que se limita a reproduzir em formato digipack a capa e a contracapa da edição original da Atco Records - é One note samba (1963), a versão em inglês do Samba de uma nota só (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1960). Para quem cultua grandes cantoras, mas estranha as liberdades naturais do be bop, 'Round midnight é certeira porta de entrada para obra e voz da imortal Betty Carter.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Além de oportuna por repor em catálogo no Brasil um título raríssimo no mercado fonográfico nacional, até então disponível somente em arquivos piratas de MP3, a reedição do álbum 'Round midnight pela gravadora Warner Music revive momento iluminado da discografia da cantora norte-americana de jazz Betty Carter (1929 - 1998). Embora não faça parte da santíssima trindade das cantoras de jazz dos Estados Unidos, formada por Billie Holiday (1915 - 1959), Ella Fitzgerald (1917 - 1996) e Sarah Vaughan (1924 - 1990), Carter foi mestra no seu ofício. Tinha voz precisa que funcionava como um instrumento. Emoldurada pelos arranjos orquestrados pelos maestros Claus Ogerman e Oliver Nelson (1932 - 1975), tal voz brilhou neste álbum de 1963. Não é um disco em que Carter mostra de forma plena as suas habilidades como vocalista do estilo de jazz rotulado como be bop, marcado pelos improvisos. Para quem aprecia tais habilidades, que deram fama à cantora a partir dos anos 1970, álbuns como o ao vivo Feed the fire (1993) são mais indicados. 'Round Midnight não deixa de ser um disco jazzístico, como atestam as interpretações de Cal me darling (Dorothy Dick, Mort Fryberg, Rolf Marbet e Bert Reisfeld) e Heart and soul (Frank Loesser e Hoagy Carmichael), mas apresenta também faixas em que Carter canta de forma menos jazzística, mais pop, tornando seu canto mais acessível a ouvidos pouco habituados aos improvisos e modulações do be bop. Nesse sentido, são exemplares as interpretações das baladas Nothing more to look forward to (Richard Adler), When I fall in love (Edward Heyman e Victor Young) e Theme from Dr. Kildare (Three stars will shine tonight) (Jerry Goldsmith, Pete Rugolo e Hal Winn). Embora não raro seja apresentado como título menor da discografia de Betty Carter por críticos de jazz mais puristas, 'Round midnight é álbum que faz jus ao status de obra-prima por expor uma grande cantora dando voz precisa a algumas grandes músicas com grandes arranjos. Uma das músicas - não creditada na econômica reedição brasileira, que se limita a reproduzir em formato digipack a capa e a contracapa da edição original da Atco Records - é One note samba (1963), a versão em inglês do Samba de uma nota só (Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça, 1960). Para quem cultua grandes cantoras, mas estranha as liberdades naturais do be bop, 'Round midnight é certeira porta de entrada para obra e voz da imortal Betty Carter.

lurian disse...

Uma das minhas favoritas do jazz, voz macia, interpretações singulares e um fraseado perfeito!