Resenha de CD
Título: Na medida do impossível
Artista: Fernanda Takai
Gravadora: Deck
Cotação: * * * * 1/2
Fernanda Takai vai direto ao ponto na terna letra que escreveu para a versão em português de Dulce compañia, canção pop de Julieta Venegas, lançada pela estrela mexicana em seu álbum Limón y sal (2006). "Não quero nada mudar / Quero ficar bem tranquila / E saborear esta paz", avisa a cantora e compositora do Pato Fu em Doce companhia, primeira das 13 músicas de seu quarto álbum fora do grupo mineiro. Com lançamento programado pela gravadora Deck para 18 de março de 2014, Na medida do impossível cativa sem provocar abalos ou rupturas no universo pop. É um grande disco solo de Takai na medida da possibilidade pop da artista de origem amapaense e vivência mineira. Takai sai volta e meia do Pato Fu, mas o Pato Fu nunca sai dela. A produção de John Ulhoa faz com que Na medida do impossível soe como um disco do Pato Fu sem rocks e sem guitarras proeminentes. Um disco pop, como sinalizam os refrões aguçados de Doce companhia e de De um jeito ou de outro (2000), parceria de Takai com Marcelo Bonfá, apresentada sem repercussão pelo legionário em disco solo editado há 14 anos. Um disco pop cheio de barulhinhos bons inseridos por Ulhoa nas 13 faixas. Sem prejuízo da unidade, Takai consegue irmanar músicas de épocas e universos distintos, indo de Benito Di Paula a George Michael, passando por Leno (da dupla Leno & Lilian, projetada no reinado pop sessentista da Jovem Guarda). De Benito, cantor e compositor fluminense que logo escalou as paradas nos anos 1970 com seu sambão joia calcado no seu piano cheio de suingue, a artista dá voz a Como dizia o mestre (1975), tirando a música do universo do samba em releitura que prima por realçar a letra que versa sobre a queda da valentia masculina quando a mulher que o homem ama vai embora. Do britânico Michael, Takai canta versão em português de Heal the pain (1990), escrita por Ulhoa. Intitulada Para curar essa dor e gravada por Takai com o cantor e compositor mineiro Samuel Rosa, a versão representa pico de sedução pop neste disco que acena para o mercado sem se deixar enredar pelas emoções baratas da música populista. Como Adriana Calcanhotto e como Caetano Veloso, por exemplo, Takai consegue apreender as emoções reais (no caso, até pueris) de uma canção singela como A pobreza (Renato Barros, 1968) - sucesso de Leno após o fim da Jovem Guarda - sem soar trivial e sem desrespeitar a arquitetura original da canção. Nesse sentido, a abordagem de Mon amour, meu bem, ma femme (Cleide, 1972) - feita em dueto com a cantora e compositora fluminense Zélia Duncan - é perfeita. São três minutos e sete segundos de pura sedução feminina em arranjo que embute leve toque de latinidade e citação instrumental de La vie en rose (Edith Piaf, Louiguy e Marguerite Monnot, 1945). Tudo a ver, já que o sucesso do cantor pernambucano Reginaldo Rossi (1944 - 2013) exalta o poder de sedução da mulher. Coeso, Na medida do impossível é disco pautado por contínuo tempo de delicadeza. Nem a conexão de Takai com a densa Marina Lima - coautora (ao lado de Climério Ferreira) da inédita Quase desatento - desvia o álbum de seu suave trilho pop. Com letra em inglês de Charles Di Pinto (conhecido no meio musical como Cholly), You and me and the bright blue sky é linda balada de espírito folk que adensa o disco sem pesar a mão. Tudo soa leve no CD. O que valoriza a pregação de Amar como Jesus amou (José Fernandes de Oliveira, 1974). Sucesso na voz do padre cantor Zezinho há 40 anos, a faixa vem sendo alvo de idiota patrulha ideológica na internet, mas, para quem tem fé nas possibilidades da música pop, é impossível não se converter ao arranjo cheio de sons de videogames criados pelo músico japonês Toshiyuki Yasuda, produtor da faixa gravada por Takai em (fra)terno dueto com padre Fábio de Melo. Grande sacada do repertório, Liz (Robson e César de Merces, 1971) - balada do repertório do Trio Ternura - expia a dor da ausência do ser amado em fina sintonia com Partida, melancólica balada inédita da lavra solitária de Takai, que abre parceria com a roqueira baiana Pitty em Seu tipo, canção de bom acabamento pop. No fim, entre ruídos eletrônicos, Depois que o sol brilhar (Mary) - versão de Zélia Duncan para canção lançada em 2005 pelo cantautor francês Yann Pierre Tiersen - volta a iluminar o disco com ecos melódicos do pop sessentista dos Beatles e a luz da esperança do reencontro amoroso ao fim do trilho seguido pelo trem azul de tons pastéis. Enfim, Fernanda Takai prova com este excelente disco solo que é possível ser popular na medida do bom gosto.
Fernanda Takai vai direto ao ponto na terna letra que escreveu para a versão em português de Dulce compañia, canção pop de Julieta Venegas, lançada pela estrela mexicana em seu álbum Limón y sal (2006). "Não quero nada mudar / Quero ficar bem tranquila / E saborear esta paz", avisa a cantora e compositora do Pato Fu em Doce companhia, primeira das 13 músicas de seu quarto álbum fora do grupo mineiro. Com lançamento programado pela gravadora Deck para 18 de março de 2014, Na medida do impossível cativa sem provocar abalos ou rupturas no universo pop. É um grande disco solo de Takai na medida da possibilidade pop da artista de origem amapaense e vivência mineira. Takai sai volta e meia do Pato Fu, mas o Pato Fu nunca sai dela. A produção de John Ulhoa faz com que Na medida do impossível soe como um disco do Pato Fu sem rocks e sem guitarras proeminentes. Um disco pop, como sinalizam os refrões aguçados de Doce companhia e de De um jeito ou de outro (2007), parceria de Takai com Marcelo Bonfá, apresentada sem repercussão pelo legionário em disco solo editado há sete anos. Um disco pop cheio de barulhinhos bons inseridos por Ulhoa nas 13 faixas. Sem prejuízo da unidade, Takai consegue irmanar músicas de épocas e universos distintos, indo de Benito Di Paula a George Michael, passando por Leno (da dupla Leno & Lilian, projetada no reinado pop sessentista da Jovem Guarda). De Benito, cantor e compositor fluminense que logo escalou as paradas nos anos 1970 com seu sambão joia calcado no seu piano cheio de suingue, a artista dá voz a Como dizia o mestre (1975), tirando a música do universo do samba em releitura que prima por realçar a letra que versa sobre a queda da valentia masculina quando a mulher que o homem ama vai embora. Do britânico Michael, Takai canta versão em português de Heal the pain (1990), escrita por Ulhoa. Intitulada Para curar essa dor e gravada por Takai com o cantor e compositor mineiro Samuel Rosa, a versão representa pico de sedução pop neste disco que acena para o mercado sem se deixar enredar pelas emoções baratas da música populista. Como Adriana Calcanhotto e como Caetano Veloso, por exemplo, Takai consegue apreender as emoções reais (no caso, até pueris) de uma canção singela como A pobreza (Renato Barros, 1968) - sucesso de Leno após o fim da Jovem Guarda - sem soar trivial e sem desrespeitar a arquitetura original da canção. Nesse sentido, a abordagem de Mon amour, meu bem, ma femme (Cleide, 1972) - feita em dueto com a cantora e compositora fluminense Zélia Duncan - é perfeita. São três minutos e sete segundos de pura sedução feminina em arranjo que embute leve toque de latinidade e citação instrumental de La vie en rose (Edith Piaf, Louiguy e Marguerite Monnot, 1945). Tudo a ver, já que o sucesso do cantor pernambucano Reginaldo Rossi (1944 - 2013) exalta o poder de sedução da mulher.
ResponderExcluirCoeso, Na medida do impossível é disco pautado por contínuo tempo de delicadeza. Nem a conexão de Takai com a densa Marina Lima - coautora (ao lado de Climério Ferreira) da inédita Quase desatento - desvia o álbum de seu suave trilho pop. Com letra em inglês de Charles Di Pinto (conhecido no meio musical como Cholly), You and me and the bright blue sky é linda balada de espírito folk que adensa o disco sem pesar a mão. Tudo soa leve no CD. O que valoriza a pregação de Amar como Jesus amou (José Fernandes de Oliveira, 1974). Sucesso na voz do padre cantor Zezinho há 40 anos, a faixa vem sendo alvo de idiota patrulha ideológica na internet, mas, para quem tem fé nas possibilidades da música pop, é impossível não se converter ao arranjo cheio de sons de videogames criados pelo músico japonês Toshiyuki Yasuda, produtor da faixa gravada por Takai em (fra)terno dueto com padre Fábio de Melo. Grande sacada do repertório, Liz (Robson e César de Merces, 1971) - balada do repertório do Trio Ternura - expia a dor da ausência do ser amado em fina sintonia com Partida, melancólica balada inédita da lavra solitária de Takai. No fim, entre ruídos eletrônicos, Depois que o sol brilhar (Mary) volta a iluminar o disco com ecos melódicos do pop sessentista dos Beatles e a luz da esperança do reencontro amoroso ao fim do trilho seguido pelo trem azul de tons pastéis. Enfim, Fernanda Takai prova com este excelente disco solo que é possível ser popular na medida do bom gosto.
ResponderExcluirTá madura,consistente e deliciosa essa Takai.Grande momento dela!
ResponderExcluirQuando comercial é sinônimo de bom gosto. Salve Takai
ResponderExcluirMauro, "De Um Jeito Ou De Outro" é música do disco "O Barco Além Do Sol", lançado pelo Bonfá em 2000.
ResponderExcluirMauro, "De Um Jeito Ou De Outro" é música do disco "O Barco Além Do Sol", lançado pelo Bonfá em 2000.
ResponderExcluirSinceramente, não entendo essa "patrulha ideológica" que a Fernanda Takai vem sofrendo, por conta da gravação da música do Padre Zezinho. Por que ninguém nunca se voltou contra a Bethânia, quando ela canta que é o raio de Iansã? Ou contra a então Rita Ribeiro, que jogou na pista sua Tecnomacumba. Ou ainda para as muitas e muitas canções religiosas de Roberto Carlos. Manifestações de religiosidade sempre aconteceram na MPB. Mais cedo ou mais tarde ela também chegaria à música Pop made in Brasil.
ResponderExcluirOuvi trechos no Itunes e achei o disco lindo. Sou suspeito pra falar, pois tenho todos os cds do grupo Pato Fu, mas esse realmente vale a pena comprar. Está lindo demais. E a música com o padre Fábio de Melo, ficou com um arranjo maravilhoso.
ResponderExcluirA voz de Takai é tão suave, minimalista e econômica que zzzZzZzzzzzz.
ResponderExcluirFernanda tem uma voz linda e muito bom gosto no repertório. Quem dorme não sabe o que é bom...;)
ResponderExcluirei mauro,
ResponderExcluirgostei muito de sua percepção sobre o disco.
é importante demais pra mim quando escrevem a respeito de uma nova etapa de carreira como esta.
acho que ela me representa de uma forma mais completa.
muito obrigada!
Grato, Takai, e parabéns pelo disco! Que venha o show! Bjs, MauroF
ResponderExcluirEmanuel Andrade disse
ResponderExcluirFernanda Takai é uma das melhores coisas dessa MPB contemporânea. Seus discos são sempre pérolas para os ouvidos e pra alma. Jovem muito antenada. Mas a turma da grande mídia só amplia espaços pro lixo do mais do mesmo.
Super bacana o CD! Ótima crítica, Mauro.
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