Dorival Caymmi (30 de abril de 1914 - 16 de agosto de 2008) fundou um mar ao compor um cancioneiro que dividiu e espalhou águas profundas na música brasileira. Cancioneiro que nunca envelhece. O compositor - vindo da mítica e sincrética Bahia de todos os santos e orixás - fica centenário a partir desta quarta-feira, 30 de abril de 2014, mas continua jovem o repertório que Caymmi moldou com a paciência de um ourives e a paz de um buda nagô. O mar aberto por Caymmi na música brasileira pré-Bossa Nova - da qual ele antecipou modernidades em obra que parece simples, mas tem construção requintada - é extenso, gerando ondas firmes como o cancioneiro do compositor baiano Roque Ferreira, único possível seguidor de certa face da obra de um compositor que permanece único e singular no momento em que o Brasil festeja (com injusta discrição) seu centenário de nascimento. É fato que as canções praieiras e os sambas buliçosos demarcaram dois estilos, criando um modo Caymmi de fazer música que identifica de imediato o compositor na música brasileira. Mas também é fato relevante que, já em 1932, Caymmi compôs seu primeiro samba-canção, Adeus, anunciando devoção ao gênero que seria explicitada a partir de sua vinda em 1938 para o Rio de Janeiro (RJ), cidade aonde conheceu o sucesso e obteve o merecido reconhecimento quando suas músicas ganharam vozes ilustres como a da cantora portuguesa (de criação brasileira) Carmen Miranda (1909 - 1955). Os três gêneros - os sambas, as marítimas e os sambas-canção - constituem a matéria-prima de seu cancioneiro. E o que é que Caymmi tem que seus sambas, canções praieiras e sambas-canção lhe dão o merecido status de gênio da música brasileira? Tem uma obra até pequena em quantidade - cerca de 120 músicas - mas imensurável em qualidade. Sem se inserir em nenhuma corrente da música brasileira, a música de Caymmi - nascida na segunda metade nos anos 20, com a composição de toada intitulada No sertão - se impôs por si só, escorada em sua originalidade. Tal obra parece simples como uma cantiga popular perpetuada pela tradição oral, mas prima pelo requinte e exala uma modernidade que já estava em intuitiva sintonia com as conquistas estilísticas da Bossa Nova, o que explica a imediata adesão do também baiano João Gilberto ao seus sambas e o p.s. Caymmi tem acha escrito por Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) na contracapa do primeiro álbum de João (Chega de saudade, Odeon, 1959). Só que sofisticação, no caso de Caymmi, nunca foi sinônimo de rebuscamento. Seu cancioneiro ostenta a simplicidade refinada somente alcançada pelos gênios. Dentro desta obra atemporal, os temas praieiros são especialmente originais com suas imagens poéticas que descrevem todo o encanto do mar através de versos minimalistas e precisos. São nas canções praieiras que a voz grave de Caymmi - doce e profunda como o próprio mar - sobressai mais sedutora, carregada de aura de ancestralidade que parece envolver o compositor baiano em aura de divindade. São também nas inebriantes marinhas que o violão de Caymmi - aprendido na juventude de forma autodidata - se revela especialmente inventivo. Por outro lado, seus sambas buliçosos - urdidos e sacudidos com uma manemolência toda própria - são o retrato definitivo da velha Bahia, com suas pretas do acarajé, suas 365 igrejas e as musas como Adalgisa. As mulheres, aliás, são temas recorrentes na obra sensual de Dorival Caymmi. A morena Marina (1947), por exemplo, veio ao mundo em época machista em que o compositor privilegiava os sambas-canção, inebriado com a atmosfera enfumaça das boates cariocas. Mas Caymmi caiu no samba-canção sem dramaticidade ou sentimentalismo. O amor - ou a falta de - foi abordado com a costumeira elegância pelo mestre em músicas como Nem eu (1954) e Só louco (1955). Mais do que sempre moderno, contudo, Dorival Caymmi já se provou eterno.
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quarta-feira, 30 de abril de 2014
Tocando de Jacob a Guinga, Antonio Adolfo abre série de discos de piano
Em 2013, ao reformar e ampliar seu estúdio Tambor, como parte das celebrações por seus 15 anos de vida, a gravadora carioca Deck adquiriu diretamente da fábrica Yamaha, no Japão, um grand piano acústico. A aquisição desse instrumento motivou a criação da série O piano de..., formada por discos instrumentais gravados por pianistas virtuosos. O primeiro CD da série é do compositor, pianista e arranjador carioca Antonio Adolfo. Lançado neste mês de abril de 2014, o CD O piano de Antonio Adolfo alinha 14 temas em repertório dominado por clássicos da música brasileira. A felicidade (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959), Canção que morre no ar (Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli, 1961), Catavento e girassol (Guinga e Aldir Blanc, 1993), Copacabana (João de Barro e Alberto Ribeiro, 1946), Doce de coco (Jacob do Bandolim, 1951), Insensatez (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1961), Retrato em Branco e Preto (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1968) e Teletema (Antonio Adolfo e Tibério Gaspar, 1969) figuram na seleção de Adolfo. A canção norte-americana All the things you are (Jerome Kern e Oscar Hammerstein II, 1939) é o único tema estrangeiro do CD O piano de Antonio Adolfo, no qual o músico toca recente tema de sua autoria, Chora baião.
Pianista coreana evoca Liszt em álbum em que conecta Ravel e Scriabin
Uma das maiores sensações recentes do universo da música erudita, a jovem pianista coreana (de criação francesa) HJ Lim - projetada em 2010, quando tinha somente 22 anos - tem lançado no Brasil, dentro da série Warner Classics, álbum de 2013 em que ecoa sua influência do compositor e pianista húngaro Franz Liszt (1811 - 1866) ao entrelaçar temas de dois compositores clássicos, o russo Alexander Scriabin (1872 - 1915) e o francês Maurice Ravel (1875 - 1937), em repertório dominado por valsas e sonatas para piano. O CD já está à venda.
Coletânea de Al Green é lançada no Brasil sem adições da edição em CD
Lançada originalmente nos Estados Unidos em abril de 1975, via Hi Records, a compilação Al Green - Greatest hits está sendo editada no Brasil, via Deck, neste mês de abril de 2014. A edição reposta em catálogo no mercado nacional é fiel à edição norte-americana de 1977, que incluiu a música Love and happiness (Al Green e Teenie Hodgers, 1972) - um hit nos EUA na época - no lugar de How can you mend a broken heart (Barry Gibb e Robin Gibb, 1971), uma das dez faixas da edição original de 1975. Vale ressaltar que, ao relançar no Brasil Al Green - Greatest hits, a Deck ignora as cinco faixas adicionadas em 1995 à coletânea por ocasião da primeira edição em CD do best of do cantor e compositor norte-americano de soul e r & b. Eis as 10 ótimas músicas alinhadas na reedição brasileira da compilação Al Green - Greatest hits:
1. Tired of being alone (Al Green, 1971)
2. Call me (Come back home) (Al Green, Al Jackson Jr. e Willie Mitchell, 1973)
3. I'm still in love with you (Al Green, Al Jackson Jr. e Willie Mitchell, 1972)
4. Here I am (Come and take me) (Al Green e Teenie Hodgers, 1973)
5. Love and happiness (Al Green e Teenie Hodgers, 1972)
6. Let's stay together (Al Green, Al Jackson Jr. e Willie Mitchell, 1971)
7. I can't get next to you (Norman Whitfield e Barrett Strong, 1969)
8. You ought to be with me (Al Green, Al Jackson Jr. e Willie Mitchell, 1973)
9. Look what you done for me (Al Green, Al Jackson Jr. e Willie Mitchell, 1972)
10. Let's get married (Al Green)
Biquini registra quatro inéditas e recria 'Sobradinho' no DVD dos 30 anos
Sucesso da dupla Sá & Guarabyra, lançado em álbum de 1977, Sobradinho (Luiz Carlos Sá e Guttemberg Guarabyra) vai ser reerguido pelo Biquini Cavadão no DVD, blu-ray e CD ao vivo que o grupo carioca - surgido em 1985 - vai lançar no fim deste ano de 2014, dando início às comemorações de seus 30 anos de carreira. Já registrada anteriormente pela banda no CD Um barzinho, um violão (2001), a música de Sá & Guarabyra consta do roteiro do show que o quarteto vai gravar ao vivo no Palácio da Música Oscar Niemeyer, em Goiânia (GO), em 31 de maio de 2014. Entre sucessos acumulados nestas três décadas de vida, o Biquini Cavadão vai apresentar quatro inéditas no disco produzido por Carlos Coelho (guitarrista da banda) com Marcelo Magal (músico contratado para tocar baixo). As novidades são Deixar tudo pra trás (parceria do grupo com neozelandês Simon Spire), Livre (parceria com o norte-americano Eric Silver), No mesmo lugar e Pequeno romance, estas duas assinadas somente por músicos do Biquini Cavadão, cujo último álbum, Roda-gigante, foi lançado em abril de 2013, pela Warner.
terça-feira, 29 de abril de 2014
Documentário 'Olho nu' enxerga Ney por frestas de palcos, casas e matas
Título: Olho nu (com Ney Matogrosso)
Direção e roteiro: Joel Pizzini
Produção: Paloma Cinematográfica e Canal Brasil
Cotação: * * * *
Filme com estreia programada nos cinemas para 15 de maio de 2014
É pelas frestas - dos palcos, das casas e das matas da mãe natureza - que Olho nu enxerga Ney Matogrosso. Não a ponto de decifrar inteiramente a alma desse enigmático sujeito estranho, mas com foco suficiente para retratar com nitidez a na tela personagem documentada com riqueza de imagens (novas e antigas) e sem os robotizados depoimentos típicos dos filmes que procuram entronizar o artista enfocado. Desde 2013 exibido em concorridas sessões avulsas de festivais, o documentário Olho nu entra em cartaz nos cinemas a partir de 15 de maio com cacife para atrair admiradores deste cantor mato-grossense que há 41 anos desafia seu público com um olhar provocativo sobre a vida, expressado através de seu canto. Com o aval de Ney, coprodutor do filme, o diretor e roteirista Joel Pizzini confronta imagens do passado e do presente em Olho nu, espreitando Ney através de câmeras que investigam os ambientes filmados para o documentário. Penetrar por casas e matas habitadas pelo artista é uma forma de enfocar o cidadão Ney de Souza Pereira, já que o Ney Matogrosso dos palcos e camarins é - com ou sem maquiagem e fantasia - uma personagem que sai de cena tão logo o show acaba, como o próprio Ney ressalta quase ao fim do filme, em fala determinante para se entender a natureza de seu processo artístico. Pizzini foca Ney com estilo, no tempo sem pressa de um artista que sempre caminhou com suas próprias pernas - e com personalidade - pelo mundo e pela música. Um caminhar feito com livre trânsito entre (quase) todos os estilos e gêneros de música brasileira - o que explica as imagens já raras que mostram Ney em duetos com artistas de universos musicais tão distintos como Astor Piazzolla (1921 - 1992), Caetano Veloso, Chico Buarque, Emilinha Borba (1923 - 2005), Fagner, Luli & Lucina e Toquinho. A propósito: as imagens de arquivo exibidas por Olho nu, com foco no Ney dos anos 1970 e 1980, são verdadeiras pérolas pescadas no baú que dão brilho adicional ao documentário. Vê-se fragmentos do show Bandido (1976), o clipe da gravação de Barco negro (Matheus Nunes e David de Jesus Mourão) e trechos de show histórico do trio Secos & Molhados no Maracanãzinho, entre outras raras imagens que são a mais perfeita tradução da natureza camaleônica do artista. E por falar em natureza, imagens novas e antigas de Ney nas matas e rios ajudam o espectador a enxergar na tela um pouco da alma de um ser humano criado com natural intimidade com os matos e os bichos. A ponto de causar arrepios urbanoides a cena em que Ney aparece deitado em pedra de rio com um caramujo a lhe cobrir inteiramente os lábios. Os depoimentos do artista - geralmente ouvidos em off - pontuam uma narrativa também feita de necessários silêncios. E é também pelas frestas desses depoimentos que Olho nu captura Ney. "Tenho medo do mar", revela o artista à certa altura do filme, deixando entrever trauma por ter sido, criança, carregado por onda e salvo por homem de um braço só. Além de permitir que o vejam chorando, ao fim de número com o violonista Raphael Rabello (1962- 1995), Ney não evita assuntos. Ao longo dos 100 minutos do filme, ele fala da relação contestatória com o pai (ouvido em depoimento de arquivo), do azedume da relação dos Secos & Molhados quando a força da grana ergueu e destruiu coisas belas e das sucessivas perdas de amigos dos anos 1980 por conta da Aids, entre outros temas abordados de forma espontânea, sem sensacionalismos. Naturais em artista de natureza camaleônica, as eventuais contradições aparecem no confronto entre depoimentos antigos e atuais. "Não pensem que eu acredito em tudo que canto", avisa Ney após o filme exibir trecho do show Beijo bandido (2009) em que o cantor dá voz à música Medo de amar (Vinicius de Moraes) - "O ciúme é o inferno do amor", sentencia, contrariando a visão romântica exposta na letra do poeta. "Tudo o que eu quero dizer está ali nas letras", afirmava Ney com sincera convicção, em fala (de antiga entrevista) reproduzida em Olho nu. Tais contradições jamais diluem a integridade artística com que o já septuagenário Ney de Souza Pereira conduziu a carreira do Matogrosso pós-Secos & Molhados. Ao capturar o cantor em imagens dos recentes shows Inclassificáveis (2007) e Beijo bandido, alocando tais imagens no roteiro ao lado de cenas de espetáculos dos anos 1970 e 1980, Olho nu escancara a coerência que pautou vida e obra de Ney, enigmática força da natureza que o documentário de Joel Pizzini espreita pelas frestas, atento aos sinais, mas sem deixar Ney nu.
Álbum dos Titãs apresenta três músicas não reveladas no show 'Inédito'
Álbum de inéditas que o grupo paulista Titãs vai lançar em maio de 2014, pela gravadora Som Livre, Nheengatu tem repertório (de peso) já previamente apresentado pela banda no show Titãs inédito (2012). Mas, das 14 músicas autorais alinhadas na tracklist do disco produzido por Rafael Ramos, três - Cadáver sobre cadáver, Fardado e Pedofilia - são reais novidades para quem não viu o show. Outra surpresa é a regravação de Canalha, música do repertório de Walter Franco, lançada pelo cantor e compositor paulista no álbum Vela aberta (Epic / CBS, 1980). Eis, na ordem, as 14 músicas gravadas pelos Titãs no esperado álbum Nheengatu:
1. Fardado (Sergio Britto e Paulo Miklos)
2. Mensageiro da desgraça (Paulo Miklos, Sergio Britto e Tony Bellotto)
3. República dos bananas (Branco Mello, Angeli, Hugo Possolo e Emerson Villani)
4. Fala, Renata (Paulo Miklos, Sergio Britto e Tony Bellotto)
5. Cadáver sobre cadáver (Paulo Miklos e Arnaldo Antunes)
6. Canalha (Walter Franco, 1980)
7. Pedofilia (Sergio Britto, Paulo Miklos e Tony Bellotto)
8. Chegada ao Brasil (Terra à vista) (Branco Mello, Aderbal Freire Filho e Emerson Villani)
9. Eu me sinto bem (Paulo Miklos, Sergio Britto e Tony Bellotto)
10. Flores pra ela (Mario Fabre e Sergio Britto)
11. Não pode (Sergio Britto)
12. Senhor (Tony Bellotto)
13. Baião de dois (Paulo Miklos)
14. Quem são os animais? (Sergio Britto)
Zeca vai entrar em campo com gravação de música de Altay para a Copa
Zeca Pagodinho também vai entrar em campo com a gravação de música candidata a figurar na trilha sonora da Copa do Mundo de 2014. Samba de Altay Veloso, letrado por Paulo César Feital, Filhos de Vera Cruz ganhou a voz do cantor e compositor carioca (em foto de Marcio Isensee e Sá) para disco, Festa Brasil, a ser lançado em maio de 2014 pela Universal Music. A música é a única inédita do projeto. Filhos de Vera Cruz usa o jargão do futebol para tocar em questões sociais. A faixa de Zeca vai ser lançada no iTunes antes do CD na forma de single.
Dani Black apresenta parceria inédita com Zélia Duncan, 'Só pra lembrar'
O cantor e compositor paulista Dani Black está abrindo parceria com a cantora e compositora fluminense Zélia Duncan. Só pra lembrar - primeira música composta juntamente pelos artistas de gerações distintas - vai ser apresentada pelos autores em show de Dani Black agendado para hoje, 29 de abril de 2014, na casa Miranda, no Rio de Janeiro (RJ). Zélia participará do show.
Single 'Flores em vida' puxa disco em que Zezé & Luciano compilam Raul
Disponível no iTunes a partir desta terça-feira, 29 de abril de 2014, o single Flores em vida, de Zezé Di Camargo & Luciano, promove álbum de inéditas que a dupla sertaneja goiana lança em maio de 2014 via Sony Music. No CD, há música, Teorias do Raul, cuja letra foi escrita com base em versos de composições do cantor e compositor baiano Raul Seixas (1945 - 1989).
segunda-feira, 28 de abril de 2014
Solo, Albarn expõe solidões da era 'hi-tech' no plácido 'Everyday robots'
Resenha de CD
Título: Everyday robots
Artista: Damon Albarn
Gravadora: XL Recordings / Parlophone Records / Warner Music
Cotação: * * * *
Título: Everyday robots
Artista: Damon Albarn
Gravadora: XL Recordings / Parlophone Records / Warner Music
Cotação: * * * *
"Quando você estiver se sentindo solitário, aperte o play", recomenda Damon Albarn em Lonely press play, uma das doze músicas feitas pelo cantor e compositor britânico em parceria com Richard Russell (proprietário da gravadora inglesa XL Recordings) e alinhadas na edição standard do primeiro álbum solo de Albarn, Everyday robots, lançado no Reino Unido nesta segunda-feira, 28 de abril de 2014. Ainda que Albarn já tenha lançado em 2003 um vinil duplo com registros embrionários (Democrazy) e em 2012 um CD com os temas que compôs para a trilha sonora da ópera Dr Dee, Everyday robots está sendo justamente saudado no universo pop como o verdadeiro début solo do líder do grupo inglês Blur - ícone do BritPop - e mentor da banda de animação Gorillaz. Enfim solo, Albarn expõe solidões do Homem na era hi-tech em álbum de tons plácidos, embebido em melancolia. Balada que abre e intitula o disco, Everyday robots versa sobre vícios e obsessões humanas em tempos de conexões superficiais feitas via iPhone. A música-título dá a pista certa do tempo sereno deste disco indie que caminha em velocidade lenta, entranhando belezas em canções como Hostiles e Heavy seas of love, esta encorpoda com as vozes de Brian Eno (coprodutor do álbum) e do Leytonstone City Mission Choir. Este coro também se faz ouvir na música, Mr. Tembo, que pode ser considerada a mais pop ou animada de um (belo) disco geralmente triste, interiorizado, suave, que delimita um território próprio para o som solo de Albarn, distanciando o artista do universo do Blur e do Gorillaz. Por conta de canções como The selfish giant, gravada pelo cantor em dueto com Natasha Khan (Bat for Lashes), Everyday robots soa até provocativo em tempos de selfies e de solidão acompanhada. Sem receitas, Albarn se alonga nos sete minutos de You and me - outra faixa gravada com a adesão de Brian Eno - e se permite criar clima meditativo em temas como Hollow ponds, fazendo com que Everyday robots soe como um disco de Art Pop. Entre reflexões, há estranhezas - como as falas inseridas ao longo de Photographs (You are taking now). Até por transitar nesse tempo de delicadeza melancólica, o álbum insurge contra a era da superficialidade tecnológica. Profundo, Everyday robots não é disco para ser ouvido entre trocas de mensagens no WhatsApp... Se estiver se sentindo solitário, não aperte o play...
'Transbordada' alinha dez inéditas criadas por Paula com seus parceiros
Transbordada é o título do quarto álbum solo de Paula Toller. Produzido por Liminha, o disco vai ser lançado ainda neste primeiro semestre de 2014, trazendo no repertório dez músicas inéditas, compostas pela artista carioca - vista em foto de Flávio Colker (convidado para fazer o ensaio fotográfico do álbum) disponibilizada pela cantora em sua página oficial no Facebook - em parceria com Arnaldo Antunes, Beni Borja, Liminha e Nenung, entre outros compositores.
Eis a capa criada por Sergio Britto para 'Nheengatu', 18º álbum dos Titãs
Esta é a capa do 18º álbum dos Titãs, Nheengatu, que tem lançamento programado pela gravadora Som Livre para 12 de maio. A idealização e arte da capa são de Sergio Britto, um dos quatro remanescentes do grupo formado em São Paulo (SP) no início dos anos 1980. Mas o design gráfico é de André Rola. A capa expõe tela do pintor holandês Pieter Bruegel (1525 - 1569). Na tela, Bruegel retrata a bíblica e mítica Torre de Babel, construída na cidade mais importante da Babilônia para elevar o Homem ao céu que simboliza Deus, mas destruída pela falta de entendimento entre os homens de idiomas distintos. A capa está em sintonia com o título Nheengatu, palavra indígena que significa Língua geral, compilação dos diferentes dialetos indígenas, feita pelo jesuítas no século XVII para que índios e
portugueses pudessem se entender. A ideia foi que a capa e o título do disco - produzido por Rafael Ramos - simbolizem um paradoxo pela associação da imagem de uma torre destruída pela falta de entendimento com uma língua criada para favorecer
o entendimento, retratando contradição do Brasil atual.
Aposta da Deck, banda Far From Alaska lança CD 'modeHuman' em maio
Aposta da gravadora Deck no segmento de pop rock, a banda potiguar Far From Alaska lança em maio de 2014 seu primeiro álbum, modeHuman, produzido por Pedro Garcia. Quinteto surgido em Natal (RN) e formado por Cris Botarelli (teclados e voz), Emmily Barreto (vocal), Edu
Filgueira (baixo), Rafael Brasil (guitarra) e Lauro Kirsh (bateria), Far From Alaska faz rock calcado em mix de guitarras e sintetizadores. Na sequência do lançamento do clipe do single Deadmen, lançado em 15 de abril, a banda apresenta mais uma música inédita do repertório autoral gravado no CD, Politiks. Assinada por Alexandre Wake, a capa de modeHuman (foto) expõe a figura de um android, símbolo da mistura da humanidade com
elementos eletrônicos.
Maria Rita desvenda o mistério do samba em ótimo show de voz e 'swingueira'
Título: Coração a batucar
Artista: Maria Rita (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Fundição Progresso (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 27 de abril de 2014
Cotação: * * * * 1/2
♪ O recém-lançado disco Coração a batucar (Universal Music, 2014) já mostrou que o samba dela é bom, sim, senhor. Mas é no palco que o coração de Maria Rita batuca com coesão, no (com)passo de um samba que já é seu. Assim como o álbum Samba meu (Warner Music, 2007) cresceu no show, o CD Coração a batucar - já em si superior ao primeiro álbum de samba da cantora paulistana - bate ainda mais forte em cena, como ficou claro na estreia oficial do show Coração a batucar no Rio de Janeiro (RJ). Desde o momento em que entrou no palco, já aos primeiros minutos do domingo 27 de abril de 2014, até a volta para o segundo bis - dado com a reprise do empolgante samba que abre o show, É corpo, é alma, é religião (Arlindo Cruz, Rogê e Arlindo Neto, 2014) - Maria Rita provou que desvendou o mistério do samba em show valorizado pela swingueira de sua banda e pela segurança da cantora. Uma grande cantora, diga-se, capaz de se equilibrar com maestria nas quebradas de sambas sinuosos como No meio do salão (Magnu Souza, Maurílio de Oliveira e Everson Pessoa, 2014) e Ladeira da preguiça (Gilberto Gil, 1973), referência sutil no roteiro a Elis Regina (1945 - 1982), inevitavelmente evocada no número anterior quando Maria Rita canta Mainha me ensinou (Arlindo Cruz, Xande de Pilares e Gilson Bernini, 2014). Diferentemente do show Samba meu, que abarcava músicas de outros ritmos, o roteiro do show Coração a batucar é formado inteiramente por sambas, entrelaçando as músicas do disco de 2007 com as do álbum de 2014. Só que os sucessos de Samba meu são remodelados na swingueira da banda formada por Alberto Continentino (no baixo), André Siqueira (na percussão), Davi Moraes (na guitarra), Marcelinho Moreira (na percussão), Ranieri Oliveira (nos teclados) e Wallace Santos (bateria). O baticum dos pagodes cariocas se faz ouvir com mais precisão no bis feliz, quando Maria Rita canta Do fundo do nosso quintal (Jorge Aragão e Alberto Souza, 1987) - samba inédito em sua voz - e repõe na avenida com empolgação O homem falou (Gonzaguinha, 1985), pérola pescada para o repertório do CD Samba meu. Contudo, no quintal da cantora, o suingue do samba vem por vezes dos teclados de Ranieri Oliveira, motes dos arranjos de Maltratar não é direito (Arlindo Cruz e Franco, 2007) e de Abre o peito e chora (Serginho Meriti, Rodrigo Leite e Cauíque, 2014), para citar somente dois números em que os teclados sobressaem no show. E é com esse samba seu que a cantora faz um show animado, vibrante, que eletrizou o público que encheu as pistas, arquibancadas e camarotes da Fundição Progresso. Além da absoluta segurança vocal (e, nesse sentido, Maria Rita é bem filha de quem é), a cantora tem carisma, samba no pé e uma vivaz presença cênica. O que faz com que público e artista caiam juntos no samba, sobretudo em temas infalíveis como Cara valente (Marcelo Camelo, 2003), uma lembrança coerente de um primeiro (estupendo) álbum gravado em tom mais senhoril, voltado para a MPB. É fato que Maria Rita rejuvenesceu ao cair no samba em 2007. Seu canto ganhou definitivamente a leveza já esboçada no álbum Segundo (2005). Mas, senhora cantora, ela também encara temas pesados como Comportamento geral (Gonzaguinha, 1972), ruminando amarguras e ironias usadas pelo compositor Luiz Gonzaga do Nascimento Jr. (1945 - 1991) para mandar seu recado para censores e repressores da ditadura que amordaçava o Brasil nos anos 1970. Do memorável Gonzaguinha, aliás, Maria Rita também canta E vamos à luta (1980), o samba encorajador que a cantora não pôde concluir em seu show na quinta edição carioca do festival Rock in Rio, em setembro de 2013, por conta de problemas técnicos. Sem clonar a interpretação de Alcione, intérprete original do samba que batizou álbum lançado pela Marrom em 1980, Maria Rita divide E vamos à luta a seu modo. E é com esse seu jeito próprio de cantar samba - sem se escorar nas cantoras que são referências do gênero - que Maria Rita faz crescer em cena até os sambas menos inspirados do CD Coração a batucar. No show, Bola pra frente (Xande de Pilares e Gilson Bernini, 2014) rola redondo, com jogadas rítmicas de tom jazzy que fazem toda a diferença. Golaço da banda e da cantora antenada, que arremessam Fogo no paiol (Rodrigo Maranhão, 2010) com mais calor do que no disco. Sempre jogando para a galera, Maria Rita destila fina ironia em Saco cheio (Dona Fia e Marcos Antônio, 1981) e faz Maria do Socorro (Edu Krieger, 2007) subir o morro com caras, bocas e rebolados que valorizam o maroto samba, já em si muito bom. Mais para o fim, Coração em desalinho (Mauro Diniz e Ratinho, 1986) bate irresistível, reiterando a força da geração de sambistas projetados nos quintais cariocas anos 1980. Aliás, o que acrescentar sobre a nobreza do samba de Arlindo Cruz, coautor de belezas como Rumo ao infinito (Arlindo Cruz, Marcelinho Moreira e Fred Camacho, 2014)? Os três sambas de Cruz no álbum Coração a batucar ratificam a inspiração melódica desse compositor que parece ter nascido sabendo o mistério do samba. O mistério que Maria Rita, aliás, já desvenda, encontrando uma maneira de sobreviver no mundo da música e fazendo seu público bem feliz. Em cena, o coração da boa cantora batuca, anima o público e incendeia o povo bamba do Brasil.
domingo, 27 de abril de 2014
Maria Rita cita mainha Elis via Gil no roteiro feliz do show 'Coração a batucar'
♪ É de forma sutil, através de samba de Gilberto Gil, que Maria Rita evoca a mãe, Elis Regina (1945 - 1982), no roteiro de Coração a batucar, show que estreou oficialmente no Rio de Janeiro (RJ) em apresentação iniciada aos primeiros minutos deste domingo, 27 de abril de 2014, na Fundição Progresso. O samba de Gil é Ladeira da preguiça, lançado por Elis em 1973. No roteiro, Ladeira da preguiça é cantado por Maria Rita após Mainha me ensinou (Arlindo Cruz, Xande de Pilares e Gilson Bernini, 2014), samba que sucede Cria (Serginho Meriti e César Belieny, 2007) em link sagaz que, sem discursos, expõe emoções da cantora como mãe de dois filhos e como filha, herdeira do legado imortal de Elis. Sem se desviar do samba em nenhuma das 24 músicas, o coeso roteiro de Coração a batucar ganhou um segundo bis na estreia carioca - com a reprise de É corpo, é alma, é religião (Arlindo Cruz, Rogê e Arlindo Neto, 2014) - mas foi rigorosamente o mesmo seguido por Maria Rita na pré-estreia de Coração a batucar em apresentação feita pela cantora em 12 de abril na Choperia do Gordo, situada na cidade de Lorena (SP). Eis o roteiro seguido em 27 de abril de 2014 por Maria Rita - em foto de Rodrigo Goffredo - na apresentação que eletrizou o público carioca que assistiu ao show na Fundição Progresso, situada na efervescente Lapa, o bairro boêmio do Centro da cidade do Rio de Janeiro (RJ):
1. É corpo, é alma, é religião (Arlindo Cruz, Rogê e Arlindo Neto, 2014)
2. Cara valente (Marcelo Camelo, 2003)
3. Maltratar não é direito (Arlindo Cruz e Franco, 2007)
4. Abre o peito e chora (Serginho Meriti, Rodrigo Leite e Cauíque, 2014)
5. Rumo ao infinito (Arlindo Cruz, Marcelinho Moreira e Fred Camacho, 2014)
6. O que é o amor (Arlindo Cruz, Maurição e Fred Camacho, 2007)
7. Fogo no paiol (Rodrigo Maranhão, 2010)
8. Bola pra frente (Xande de Pilares e Gilson Bernini, 2014)
9. Saco cheio (Dona Fia e Marcos Antônio, 1981)
10. Comportamento geral (Gonzaguinha, 1972)
11. E vamos à luta (Gonzaguinha, 1980)
12. Maria do Socorro (Edu Krieger, 2007)
13. No meio do salão (Magnu Souza, Maurílio de Oliveira e Everson Pessoa, 2014)
14. Coração a batucar (Davi Moraes e Alvinho Lancellotti, 2011)
15. Cria (Serginho Meriti e César Belieny, 2007)
16. Mainha me ensinou (Arlindo Cruz, Xande de Pilares e Gilson Bernini, 2014)
17. Ladeira da preguiça (Gilberto Gil, 1973)
18. No mistério do samba (Joyce Moreno, 2014)
19. Num corpo só (Arlindo Cruz e Picolé, 2007)
20. Coração em desalinho (Mauro Diniz e Ratinho, 1986)
21. Meu samba, sim, senhor (Fred Camacho, Marcelinho Moreira e Leandro Fab, 2014)
22. Tá perdoado (Arlindo Cruz e Franco, 2007)
Bis:
23. Do fundo do nosso quintal (Jorge Aragão e Alberto Souza, 1987)
24. O homem falou (Gonzaguinha, 1985)
Bis 2:
25. É corpo, é alma, é religião (Arlindo Cruz, Rogê e Arlindo Neto, 2014)
Eis a capa de 'Sorry I'm late', o segundo álbum de estúdio de Cher Lloyd
Esta é a capa de Sorry I'm late, segundo álbum da cantora e compositora inglesa Cher Lloyd, projetada no reality show The X Factor, atração musical da TV britânica. Sucessor de Sticks + boneys (2011), Sorry I'm late tem lançamento agendado para 23 de maio de 2014 em edição da Syco Music / Epic Records que vai ser distribuída pela Sony Music. Precedido pelo single I wish, lançado em setembro de 2013, o álbum está sendo badalado com a faixa Sirens. Eis as músicas - e seus respectivos compositores - alinhadas por Cher Lloyd em Sorry I'm late:
1. Just be mine (Benjamin Levin, Michael Posner e Shellback)
2. Bind your love (Carl Falk, Shellback, Ina Wroldsen e Rami Yacoub)
3. I wish (Clifford Harris, Savan Kotecha, Ilya, OZGO e Shellback) - com T.I.
4. Sirens (Ina Wroldsen, Rami Yacoub e Carl Falk)
5. Dirty love (Jakob Jerlström, Savan Kotecha, Cher Lloyd, Max Martin, Shellback e Ludvig Söderberg)
6. Human (Cher Lloyd, Catt Gravitt e Robert Marvin)
7. Sweet despair (Cher Lloyd, Jason Evigan e Beth Patterson)
8. Killin’ It (Cher Lloyd, Jakob Jerlstroem, Savan Harish Kotecha, Max Martin, Shellback, Karl Soderberg e Tove Lo)
9. Goodnight (Johan Carlsson, Cher Lloyd, Matt Squire e Emily Wright)
10. M.F.P.O.T.Y. (Marco Borrero, Johan Carlsson, Savan Kotecha, Cher Lloyd e Shellback)
11. Alone with me (Benjamin Levin, Cher Lloyd, Henrion Robert e Shellback)
Eis as músicas do sexto CD de estúdio do Linkin Park, 'The hunting party'
Em pré-venda a partir de amanhã, 28 de abril de 2014, data em que seu segundo single (Until It's gone) já vai estar disponível no iTunes, o sexto álbum de estúdio do grupo norte-americano Linkin Park, The hunting party, teve sua tracklist revelada. Até então somente o primeiro single - Guilty all the same, gravado com o rapper norte-americano Rakim (MC do duo Eric B & Rakim) e lançado em 7 de março - era conhecido. O álbum, que sai em 17 de junho, alinha 12 músicas inéditas no repertório. Eis as 12 músicas do álbum que vai chegar ao mercado em edição da Machine Shop Recordings distribuída em escala mundial pela gravadora Warner Music:
1. Keys to the kingdom
2. All for nothing - com Page Hamilton
3. Guilty all the same - com Rakim
4. The summoning
5. War
6. Wastelands
7. Until It’s gone
8. Rebellion - com Daron Malakian
9. Mark the graves
10. Drawbar - com Tom Morello
11. Final masquerade
12. A line in the sand
Calcanhotto volta ao Rio com 'Olhos de onda' às vésperas de lançar DVD
Adriana Calcanhotto voltou ao Rio de Janeiro (RJ) com Olhos de onda (2013), seu show de voz & violão, perpetuado em CD e DVD gravados ao vivo em 1º de fevereiro de 2014 em envolvente apresentação no Vivo Rio, casa situada na cidade que acolhe a artista gaúcha deste os anos 1990. Às vésperas da edição do CD e do DVD, postos no mercado fonográfico via Sony Music, o show retornou à cena carioca na noite de ontem, 26 de abril de 2014, em apresentação que lotou a casa Imperator, no Centro Cultural João Nogueira. A pedido do público, a cantora e compositora - em foto de Rodrigo Amaral - encerrou o bis com Fico assim sem você (Abdullah e Cacá Moraes, 2002), sucesso da dupla Claudinho & Buchecha que Calcanhotto tomou para si em 2004 na pele de seu heterônimo infantil Adriana Partimpim. Em contrapartida, a artista suprimiu do roteiro músicas como O nome da cidade (Caetano Veloso, 1984), Tua (Adriana Calcanhotto, 2009) - canção gravada, mas não incluída no DVD, apesar de nunca ter tido um registro fonográfico de sua compositora - e Me dê motivo (Michael Sullivan e Paulo Massadas, 1983). A propósito, a releitura desse sucesso de Tim Maia (1942 - 1998) foi escolhida para promover o CD e DVD Olhos de onda, já que a gravação de Calcanhotto vai ser propagada na trilha sonora de Geração Brasil, novela que será exibida pela TV Globo a partir de 5 de maio.
Crítico musical de jazz, José Domingos Raffaelli sai de cena aos 77 anos
A devoção ao jazz era imensa, mas nunca foi maior do que seu coração. Jornalista e crítico musical de jazz, espécie de profissional já em extinção na imprensa brasileira, o carioca José Domingos Raffaelli (15 de outubro de 1936 - 26 de abril de 2014) sai de cena aos 77 anos, mas deixa muita saudade entre músicos brasileiros e internacionais pela paixão com a qual sempre escreveu sobre jazz em longa atividade profissional iniciada nos anos 1950. Invariavelmente embasados, respeitosos e com enfoque positivo, seus textos - publicados no Brasil sobretudo no Jornal do Brasil (de 1972 a 1987) e em O Globo (de 1987 a 2002) - extrapolaram as fronteiras nacionais já nos anos 1950, década em que Raffaelli fez o primeiro de seus textos para jornais e revistas da Europa e dos Estados Unidos. Ao longo dos anos 2000, década em que diminuiu sua atuação no ofício de crítico de jazz por conta do progressivamente reduzido volume de lançamentos fonográfico do gênero no Brasil, Raffaelli produziu shows de nomes Dôdo Ferreira (2003), Osmar Milito Trio (2003), Brazilian Jazz Trio (Hélio Alves, Nilson Matta e Duduka da Fonseca) (2004) e Quinteto Victor Assis Brasil (2004). Profundo conhecedor dos meandros do jazz, Raffaelli deu também palestras sobre o tema e produziu programas de rádio em que propagou a mais livre das formas de música. O prêmio lhe concedido em 1999 pela International Association of Jazz Educators (IAJE) - o de melhor crítico de jazz fora do âmbito dos Estados Unidos - ajuda a dar a dimensão da importância do trabalho devotado de José Domingos Raffaelli, cujo conhecimento somente não foi maior do que sua alma generosa, sempre disposta a incentivar colegas de profissão, como um então iniciante crítico de MPB que hoje nada mais faz do que a obrigação ao lhe prestar, em Notas Musicais, merecido tributo a quem lhe foi sempre um exemplo de conduta ética no exercício do ofício de crítico musical. Valeu, José Domingos Raffaelli, cujo espírito agora está livre como o jazz que ele tanto amou.
sábado, 26 de abril de 2014
'Sentença' puxa DVD e CD ao vivo em que Alcione celebra Dominguinhos
Já à venda no iTunes, o single digital Sentença (Claudemir, Ricardo Moraes e Serginho Meriti) anuncia a chegada ao mercado fonográfico, em maio de 2014, do CD e DVD Eterna alegria ao vivo, de Alcione. Por seu tom romântico, a música foi escolhida para promover o registro audiovisual do show Eterna alegria, que estreou no Rio de Janeiro (RJ) em 21 de junho de 2013 e que foi captado ao vivo em apresentação feita na casa Barra Music, na mesma cidade do Rio de Janeiro, na madrugada de 22 de novembro de 2013. Em Eterna alegria ao vivo, a Marrom rebobina músicas do álbum de estúdio de 2013, faz Romaria (Renato Teixeira, 1977) com a dupla sertaneja Victor & Leo e dá voz a duas composições de Dominguinhos (1941 - 2013) lançadas em 1979, Quem me levará sou eu (Dominguinhos e Manduka) e Contrato de separação (Domiguinhos e Anastácia), unidas em medley no show. O CD e DVD Eterna alegria ao vivo vão sair em edição da Marrom Music, mas com distribuição da gravadora Biscoito Fino.
'Good kisser' é o primeiro 'single' do oitavo álbum de estúdio de Usher
Embora esteja às voltas com seu próximo filme, Hands of stone, o cantor, compositor e ator norte-americano Usher se prepara para voltar ao mercado fonográfico neste ano de 2014 com a edição de seu oitavo álbum de estúdio. Good kisser é o primeiro single do álbum que vai ser lançado pela RCA Records. O último álbum do artista, Looking 4 myself, foi editado em 2012.
Primeiro vídeo de 'Verdade uma ilusão' sinaliza DVD histórico de Marisa
Editorial - Em 1º de junho de 2012, Marisa Monte fez história ao estrear a turnê Verdade uma ilusão, show que dividiu águas nos palcos brasileiros pelo uso arrojado e inovador de projeções de vídeo. Projetados nos telões em imagens que ocupavam toda a dimensão do palco, vídeos de contemporâneos artistas plásticos brasileiros pareceram extrapolar os limites da cena, envolvendo artista, músicos e plateia em aura de sedução que reiterou o apuro da cantora e compositora carioca na criação de seus espetáculos. Quase dois anos depois, a exposição na web das primeiras imagens do DVD que vai perpetuar o show - captado em 3 de agosto de 2013 em apresentação para convidados na Grande Sala da Cidade das Artes, no Rio de Janeiro (RJ) - sinaliza que Marisa também vai fazer história com a edição do DVD que chega às lojas em maio de 2014 em edição do selo Phonomotor distribuída pela gravadora Universal Music. A julgar pela captação da valsa que batiza o show, Verdade uma ilusão (Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte, 2010), a cantora vai lançar - enfim! - o DVD que está devendo há anos para seu público. Ao filmar seus shows, Marisa vinha frustrando seu público com DVDs que exibiam os espetáculos de forma fragmentada, por vezes diluídos em vídeos de tom documental. Pois parece que o DVD Verdade uma ilusão foge dessa fórmula já batida, exibindo o show tal como ele foi apresentado nos palcos do Brasil e do mundo entre 2012 e 2013. Mas o que encanta é que, a julgar pelo vídeo de Verdade uma ilusão, a forma como esse show vai ser visto no DVD / blu-ray vai se revelar arrojada e inovadora como o espetáculo em si. Decorridos 25 anos de sua explosão nacional com Bem que se quis (E po' che fà) (Pino Danielle, 1982, em versão em português de Nelson Motta, 1989), Marisa Monte ainda chega na frente, ditando o padrão a ser atingido e sendo referência para as cantoras do Brasil.
Calor humano turbina o show que disfarça as oscilações do som de Vanessa
Resenha de show
Título: Segue o som
Artista: Vanessa da Mata (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Circo Voador (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 26 de abril de 2014
Cotação: * * * 1/2
Título: Segue o som
Artista: Vanessa da Mata (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Circo Voador (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 26 de abril de 2014
Cotação: * * * 1/2
♪ "Nunca presenciei tanto calor humano como nessa noite", avaliou Vanessa da Mata no palco do Circo Voador, após cantar Ninguém é igual a ninguém (Desilusão) (Vanessa da Mata, 2014), balada de versos densos, cujo peso da letra contrastou com a atmosfera leve em que está ambientado o show Segue o som. A cantora se referia à vibração do público que se aglomerou na pista e nas arquibancadas do Circo Voador para ver a estreia nacional do show Segue o som, baseado no sexto homônimo álbum de inéditas da artista, recém-lançado pela gravadora Sony Music. De fato, a recepção calorosa da plateia - perceptível já na primeira das 22 músicas do roteiro, Toda humanidade nasceu de uma mulher (Vanessa da Mata, 2014), pop reggae que teve seu refrão cantado em coro pelo público - contribuiu para que o show deixasse boa impressão. Iniciada no Rio de Janeiro (RJ) aos primeiros minutos deste sábado, 26 de abril de 2014, a primeira apresentação do show Segue o som se beneficiou desse calor popular - típico do jovial público do Circo - para encobrir oscilações e repetições do atual som da cantora e compositora mato-grossense. Produzido por Kassin com Liminha, Segue o som é álbum irregular em que Vanessa dá seus primeiros sinais de cansaço como compositora de criação intuitiva. Só que tal irregularidade fica disfarçada no show por conta do roteiro que entrelaça habilmente 12 das 13 músicas do CD com os sucessos dos álbuns anteriores da cantora. Se Não sei dizer adeus (Vanessa da Mata 2014), tema de moldura roqueira, ameaçou esfriar o show já na segunda música, a canção-título Segue o som (Vanessa da Mata, 2014) reconstruiu o alto astral que pautou a apresentação. Com direção, cenário (um painel floral e um lustre alocado ao centro do palco) e figurinos assinados pela própria Vanessa, o show Segue o som é expansivo, pop, de estrutura mais convencional, na linha do anterior Vanessa da Mata interpreta Tom Jobim (2013). Sem a teatralidade e os aparatos cênicos do espetáculo mais ambicioso da artista, Bicicletas, bolos e outras alegrias (2010), Segue o som é show que se escora na força natural de Vanessa da Mata. Com seu porte esguio, seu manancial de hits e o som contemporâneo orquestrado pelo disputado diretor musical Alexandre Kassin (arquiteto de sonoridade já dèjá vu, mas ainda atraente e eficaz), a cantora domou seu público e deu seu show, rodopiando pelo palco do Circo Voador ao fim de Desejos e medos (Vanessa da Mata, 2014) - música tão insossa que nem animou a plateia de fãs - e lançando mão de munição certeira como o contagiante samba Não me deixe só (Vanessa da Mata, 2002), símbolo da explosão de alegria que pontuou vários números da apresentação. Capitaneada por Alexandre Kassin no baixo, a banda - completada por Danilo Andrade (teclados, programações e efeitos), Junior Boca (guitarra), Maurício Pacheco (guitarra) e Stéphane San Juan (bateria) - armou a cama sonora adequada para Vanessa ficar bem à vontade em cena. Volta e meia, cantora e músicos transitaram com desenvoltura pela praia do reggae, gênero que ditou o ritmo de Ilegais (Vanessa da Mata, 2007), Vê se fica bem (Vanessa da Mata, 2010), Homem invisível no mundo invisível (Vanessa da Mata, 2014) e, já no bis, Vermelho (Vanessa da Mata, 2007), número obviamente iluminado com luzes da cor que dá nome ao tema. Até a balada As palavras (Vanessa da Mata, 2010) foi banhada em águas jamaicanas. E por falar em balada, Amado (Marcelo Jeneci e Vanessa da Mata, 2007) - introduzida no roteiro pelos teclados de Danilo Andrade - ganhou coro (do público) e assovios (da cantora), tendo reiterada a força e a beleza de sua melodia. O coro popular também se fez ouvir em Ainda bem (Liminha e Vanessa da Mata, 2004), canção em que Vanessa da Mata foi levada a soar como Marisa Monte em época em que ainda buscava o sucesso popular. Cover do hit do cantor e compositor norte-americano John Denver (1943 - 1997), Sunshine on my shoulders (John Denver, Dick Kniss e Mike Taylor, 1973) surtiu bom efeito, se insinuando como provável futuro hit do álbum Segue o som, embora os beats acelerados de Por onde ando tenho você (Vanessa da Mata, 2014) tenham eletrizado o Circo Voador, evidenciando o potencial da música (a faixa mais vibrante do CD). Em contrapartida, Homem preto (Vanessa da Mata, 2014) jogou o show para baixo, reiterando a notória irregularidade da atual safra autoral da compositora. Destaque dessa safra, o samba social Rebola nega (Vanessa da Mata, 2014) faz a cantora sambar no palco com a desenvoltura da fictícia mulata usada como personagem na letra focada no malabarismo cotidiano do povo brasileiro para (sobre)viver. Rebola nega foi a deixa para a artista entrar na roda de samba armada nos anos 1980 e 1990 pela cantora carioca Jovelina Pérola Negra (1944 - 1998), intérprete original do samba No mesmo manto (Beto Correa e Lúcio Curvello, 1991), única música do roteiro inédita na voz de Vanessa. Introduzida na velocidade do ska, No mesmo manto cai para o samba batido e marcado na palma da mão, mas a releitura ainda precisa de ajustes. Kassin e cia. diluem a pulsação original da música sem reconstruí-la a contento. E assim - com oscilações encobertas pelo alto astral da atmosfera do Circo Voador - seguiu o som de Vanessa da Mata na estreia nacional deste show encerrado com texto em off que mistura filosofia e esoterismo, culminando na literatura de autoajuda. Mas é claro que teve um bis, iniciado em anticlímax com Um sorriso entre nós dois (Vanessa da Mata, Kassin e Liminha, 2014) - música que ainda pode resultar (bem) mais feliz no roteiro - e encerrado previsivelmente com o primeiro grande sucesso nacional da artista, Ai, ai, ai... (Vanessa da Mata e Liminha, 2004), brinde à vida que, ao vivo, contagia até quem não possa suportar toda a felicidade pop (e industrializada) de Vanessa da Mata.
Vanessa da Mata reutiliza 'manto' de Jovelina no roteiro de 'Segue o som'
"Pensou me amarrar / Marcou bobeira / Vou me banhar, vou me jogar / Na cachoeira", avisa Vanessa da Mata, à sua moda e no seu ritmo, ao entrar na roda de samba armada pela partideira Jovelina Pérola Negra (1944 - 1998), cantora carioca projetada em 1985 no CD coletivo Raça brasileira (RGE). Samba de Beto Correa e Lúcio Curvello que abriu o álbum Sangue bom (RGE), lançado pela saudosa Jovelina em 1991, No mesmo manto é a única surpresa do roteiro essencialmente autoral de Segue o som, show baseado no sexto homônimo álbum de inéditas de Vanessa, cantora e compositora nascida em Alto Garças (MT), cidade interiorana banhada por cachoeiras. Com direção, cenário e dois figurinos (o belo vestido floral visto na foto de Rodrigo Amaral foi usado somente nos dois primeiros números) assinados pela própria Vanessa da Mata, o bom show Segue o som debutou em cena no Circo Voador, Rio de Janeiro (RJ), em apresentação iniciada já aos primeiros minutos deste sábado, 26 de abril de 2014, com rap que saúda a cantora na voz em off do rapper paulistano Emicida. Sob a direção musical de Alexandre Kassin (que toca baixo na banda completada pelo baterista Stéphane San Juan, pelo tecladista Danilo Andrade e pelos guitarristas Junior Boca e Maurício Pacheco), a artista dá voz a 12 das 13 músicas do autoral álbum Segue o som entre sucessos de seus discos anteriores. Eis o roteiro seguido por Vanessa da Mata em 26 de abril de 2014 na estreia nacional de Segue o som, show já produzido por Paula Lavigne, a nova empresária da cantora:
1. Toda humanidade nasceu de uma mulher (Vanessa da Mata, 2014)
2. Não sei dizer adeus (Vanessa da Mata, 2014)
3. Segue o som (Vanessa da Mata, 2014)
4. Não me deixe só (Vanessa da Mata, 2002)
5. Desejos e medos (Vanessa da Mata, 2014)
6. Ilegais (Vanessa da Mata, 2007)
7. Amado (Marcelo Jeneci e Vanessa da Mata, 2007)
8. Ninguém é igual a ninguém (Desilusão) (Vanessa da Mata, 2014)
9. Ainda bem (Liminha e Vanessa da Mata, 2004)
10. Sunshine on my shoulders (John Denver, Dick Kniss e Mike Taylor, 1973)
11. Vê se fica bem (Vanessa da Mata, 2010)
12. Homem preto (Vanessa da Mata, 2014)
13. As palavras (Vanessa da Mata, 2010)
14. Rebola nega (Vanessa da Mata, 2014)
15. No mesmo manto (Beto Correa e Lúcio Curvello, 1991)
16. Se o presente não tem você (Vanessa da Mata, 2014)
17. Por onde ando tenho você (Vanessa da Mata, 2014)
18. Homem invisível no mundo invisível (Vanessa da Mata, 2014)
Bis:
19. Um sorriso entre nós dois (Vanessa da Mata, Kassin e Liminha, 2014)
20. Vermelho (Vanessa da Mata, 2007)
21. Ai, ai, ai... (Liminha e Vanessa da Mata, 2004)
Bis 2:
22. Segue o som (Vanessa da Mata, 2014)
sexta-feira, 25 de abril de 2014
'First love' é segundo 'single' de álbum em que Lopez reúne Nas e Thicke
Faixa produzida por Max Martin, First love vai ser o segundo single oficial do oitavo álbum de estúdio da cantora norte-americana Jennifer Lopez. Formatado sob a produção executiva do compositor marroquino-sueco RedOne, o álbum tem lançamento programado para 17 de junho de 2014 via Capitol Records. Com edição prevista para maio, o single First love sucede I luh ya papi, primeiro single oficial do álbum de título ainda ignorado. Além do rapper norte-americano French Montana, convidado de I luh ya papi, o álbum alinha na ficha técnica time estelar formado por astros norte-americanos (rappers, em sua maioria). Uma das sensações do universo pop em 2013 por conta da música Blurred lines, o cantor Robin Thicke se junta a Lopez e ao rapper Wiz Khalifa em Love line. O rapper Pitbull participa de Big booty, música composta por Chris Brown - também coautor de Emotions - e produzida por Diplo. O jovem rapper Tyga figura em Girls. Já o rapper Rick Ross é o convidado de No worries enquanto Nas canta Trouble com a anfitriã. Maxwell engrossa o time em I wanna love. Por fim, Rockstar entra em Actin' like that. Outras músicas do álbum de Lopez são Never satisfied e Same girl.
EP com quatro gravações inéditas de Bruce já está disponível no iTunes
Lançado originalmente no formato de vinil, produzido com tiragem limitada para o Record Store Day deste ano de 2014, o EP American beauty, de Bruce Springsteen, já está disponível para compra no Brasil em edição digital posta no iTunes. No disco, que tem produção assinada por Ron Aniello, o cantor e compositor norte-americano apresenta quatro gravações inéditas - American beauty, Mary Mary, Hurry up sundown e Hey blue eyes - limadas da seleção final do 18º álbum solo de estúdio de Bruce, High hopes, lançado em janeiro. Todas as quatro músicas também são inéditas. American beauty e Hurry up sundown são oriundas de demos gravadas pelo Boss com o produtor Brendan O' Brien. Mary Mary tem sua origem na sessão de gravação do álbum Magic (2007) enquanto Hey blue eyes nasceu nas sessões de estúdio que deram forma ao álbum Working on a dream (2009). O EP digital American beauty sai via Sony Music.
Caixa 'Brasil brasileiro' expõe (todos) os tons da obra de Ary em 20 CDs
O lançamento da caixa Ary Barroso - Brasil brasileiro - posta nas lojas em edição do Museu da Imagem do Som (MIS) de São Paulo - é a maior homenagem que poderia ser prestada ao compositor mineiro no ano em que se completam cinco décadas da saída de cena de Ary Barroso (1903 - 1964). Com 20 CDs, a caixa inventaria toda a obra do compositor do samba-exaltação Aquarela do Brasil (1939), expondo todos os tons do cancioneiro de Ary através da disposição, em ordem cronológica, das gravações originais de 316 das 321 músicas nascidas da inspiração do compositor. O responsável pelo hercúleo inventário é o pesquisador musical paulista Omar Jubran. Ao longo de 12 anos de pesquisa, iniciada em 1994 e concluída em 2006, Jubran levantou toda a obra de Ary e compilou os fonogramas originais de cada música, em trabalho semelhante ao que já realizada com o cancioneiro autoral do compositor carioca Noel Rosa (1910 - 1937). Decorridos oito anos, a caixa Ary Barroso - Brasil brasileiro chega ao mercado fonográfico brasileiro pelo MIS, prestando inestimável serviço para a memória da música brasileira. A seleção vai do longínquo 1928 - ano em que o cantor carioca Mário Reis (1907 - 1981) gravou o samba Vou à Penha - até 2006, ano em que o fox Amor fatal foi enfim gravado pela primeira vez em disco, em registro caseiro feito pela pianista Janete Alonso especialmente para que o tema fosse incluído no projeto da caixa. Amor fatal - informa Jubran no livro encartado na caixa ao lado dos 20 CDs - foi lançado por Ary Barroso na revista Brasil da gente, em cartaz em 1932. Parte fundamental da caixa, o livro fornece informações detalhadas sobre a origem de cada fonograma e lista as cinco músicas das quais parece não haver registros fonográficos de qualquer espécie. Dentre as pérolas raras pescadas por Jubran no baú de Ary, há o samba-canção Semente do amor, ouvido em duas gravações extraídas da trilha sonora do filme Três colegas de batina (1962). Outro fonograma digno de menção pela causa curiosa é a marcha Jânio! Jânio! Jânio!, composta por Ary em 1960 para campanha do político sul-matogrossense Jânio Quadros (1917-1992). A aquarela de Ary Barroso foi pintada com um amplo painel de cores vivas, todas perpetuadas nos 20 CDs da caixa Brasil brasileiro.
Mel valoriza musical em que Rita Lee mora ao lado de alucinações históricas
Resenha de musical
Título: Rita Lee mora ao lado
Texto e roteiro: Debora Dubois, Márcio Macena e Paulo Rogério Lopes com base no livro
Título: Rita Lee mora ao lado
Texto e roteiro: Debora Dubois, Márcio Macena e Paulo Rogério Lopes com base no livro
Rita Lee mora ao lado - Uma biografia alucinada da rainha do rock,
de Henrique Bartsch
Direção: Debora Dubois e Márcio Macena
Elenco: Mel Lisboa (em foto de Priscila Prade), Carol Portes, Rafael Maia, Yael
Elenco: Mel Lisboa (em foto de Priscila Prade), Carol Portes, Rafael Maia, Yael
Pecarovich, Samuel de Assis, Fabiano Augusto, Débora Reis, Antonio Vanfill,
César Figueiredo, Fábio Ventura, Flávio Strongoli, Nanni Souza, Nellson
Oliveira e Thalita Pereira
Direção musical: André Aquino
Cotação: * *
Espetáculo em cartaz no Teatro das Artes, em São Paulo (SP), de sexta-feira a domingo
Cotação: * *
Espetáculo em cartaz no Teatro das Artes, em São Paulo (SP), de sexta-feira a domingo
♪ Mel Lisboa é Rita Lee no musical recém-estreado em São Paulo (SP) com enredo fantasioso sobre a vida e obra da cantora e compositora paulista. Produto de primorosa caracterização, a incrível semelhança da atriz gaúcha com a roqueira - perceptível nas fotos promocionais do espetáculo Rita Lee mora ao lado - ajuda Mel em cena, mas o desempenho da atriz no musical não se apoia somente nessa caracterização. Além de estar com sua voz pequena (do tamanho da voz de Rita, diga-se) bem colocada nos números musicais, Mel encontrou o tom de Rita na vida e na música. Sua convincente interpretação valoriza um musical pautado pelo desencontro. Talvez pelo fato de o texto ser baseado em heterodoxa biografia da artista, Rita Lee mora ao lado - Uma biografia alucinada da rainha do rock (2006), escrita por Henrique Bartsch com mistura de realidade e ficção, os autores se permitiram liberdades que depõem contra o espetáculo, vizinho da alucinação histórica. O desinformado público-alvo desses musicais biográficos - fórmula já seguida sem rigor por produtores de teatro no Rio de Janeiro e em São Paulo - certamente vai ver sem estranhamento a cena em que a efêmera dupla Cilibrinas do Éden - formada em 1973 por Rita com Lúcia Turnbull (vista na pele da atriz Thalita Pereira) - canta Jardins da babilônia (Rita Lee e Lee Marcucci, 1978), música que Rita somente comporia e gravaria cinco anos depois, em disco que selou o fim da fase em que se uniu ao grupo Tutti Frutti. A falta de pesquisa musical mais embasada se reflete em cenas que subvertem os fatos. Foi realmente através de Ney Matogrosso que Rita Lee conheceu em 1976 Roberto de Carvalho, o guitarrista com quem iria se unir na música e na vida, dando guinada pop que a transformaria em campeã de vendas de discos a partir de 1979. Mas o musical jamais poderia pôr Ney (visto na pele do ator Fabiano Augusto) cantando Bandolero (Luli e Lucina) - música que somente entraria no repertório do cantor a partir do disco e show Feitiço (1978) - com o figurino de espetáculo apresentado por Ney em 1981. A música certa para marcar em cena esse contato inicial de Rita e Roberto era Bandido corazón, dada por Rita para Ney em 1976 e turbinada no show do cantor com solo de guitarra de Roberto. Mas a composição certa não figura no errático roteiro, que ainda abre desnecessário espaço para Sangue latino (João Ricardo e Paulinho Mendonça, 1973), música dissociada da história de Rita. E o que dizer da entrada de Gal Costa (Yael Pecarovith) no roteiro para sublinhar a paixão de Rita e Roberto cantando Não identificado (Caetano Veloso, 1969) com o figurino do show Índia (1973) e a silhueta do show Recanto (2012)?! Além de ignorar tais alucinações históricas, o público parece ter certo prazer em ver seus ídolos retratados em cena com traços caricaturais. Ao longo das duas horas e 20 minutos de Rita Lee mora ao lado, entram em cena Caetano Veloso, Elis Regina (1945 - 1982), Gilberto Gil, João Gilberto, Jorge Ben Jor e Tim Maia (1942 - 1998), entre outros. A aparição de Elis é importante, pois, ao visitar Rita na prisão em 1976, a Pimentinha mostrou que também era doce, dando início ali uma amizade com a Ovelha Negra que foi intensa até o fim da vida de Elis. Mas o número musical da cena - já em si inadequado, pois a música O que foi feito devera (Milton Nascimento e Fernando Brant) é de 1978 - beira o constrangimento pela interpretação de Flávia Strongolli, que não alcança as notas e tampouco a dimensão da música. Já a aparição de João Gilberto (Nellson Oliveira) é risível, mas o riso é extraído não do humor, mas da exposição grotesca do papa da Bossa Nova. Que ainda por cima canta com Rita a antiga marchinha Joujoux e balangandãs (Lamartine Babo, 1939) - recriando dueto feito para especial exibido pela TV Globo em 1980 - sem seu violão e andando pelo palco em cena mais alucinada do que a biografia de Henrique Bartsch. No livro, como na peça, a vida de Rita é contada a partir da ótica de fictícia vizinha da artista, Bárbara Farniente (Carol Portes, muito bem no papel), às voltas com sua mãe apaixonada pelo pai de Rita. Aliás, todas as cenas de Bárbara com sua mãe, Diva Farniente (Nanni Souza), engorduram roteiro que peca por focar com menos precisão o que realmente importou na vida de Rita. Ao perder tempo com personagens periféricos na obra da roqueira, Rita Lee mora ao lado acaba pondo os feitos de Rita em segundo plano. A revolução estética promovida pelo grupo Mutantes na segunda metade dos anos 1960 é enfocada de forma superficial. Já a consolidação da carreira solo de Rita com o álbum Fruto proibido (1975) - do qual o musical rebobina hits como Ovelha negra (Rita Lee), Agora só falta você (Rita Lee e Luiz Carlini), rock alocado logo na abertura do roteiro, e Esse tal de roque en row (Rita Lee e Paulo Coelho) - sequer é mencionada no texto, assim como os fatos e discos da carreira de Rita pós-anos 1990. Entre tantas imprecisões, paira a interpretação certeira de Mel Lisboa como Rita Lee. Impossível não enxergar Rita quando Mel dá voz a canções como Menino bonito (Rita Lee, 1974) e Doce vampiro (Rita Lee, 1979) em números de atmosfera pop folk, calcados no violão. Mas nem o fato de Mel convencer como Rita dá ao espetáculo voltagem emocional que somente é elevada em Coisas da vida (Rita Lee, 1976), número mais vibrante do musical. A balada de Rita é usada para lembrar as sucessivas perdas - de ídolos como Cássia Eller (1962 - 2001), Cazuza (1958 - 1990), Elis Regina, Renato Russo (1960 - 1996) e Tim Maia, entre outros - que abalaram Rita e o Brasil. Enfim, Rita Lee mora ao lado é musical de apelo popular por estar centrado na vida e obra de uma das artistas mais queridas do Brasil, dona de uma obra irresistível. Só que, do início ao fim previsivelmente carnavalizante, quando o elenco recebe os aplausos ao som de Lança perfume (Rita Lee e Roberto de Carvalho, 1980), fica a impressão de que o fato de a biografia original ser alucinada liberou os autores para empilhar cenas que jamais erguem dramaturgia sólida e para cometer imprecisões históricas que depõem contra o musical, desvalorizando o espetáculo aos olhos de quem de fato conhece minimamente a vida e a obra de Rita Lee. Mas haverá quem aplauda a balada do louco...