Mauro Ferreira no G1

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terça-feira, 22 de abril de 2014

Algo se perde na transposição de show de Zizi para CD ao vivo sem viço

Resenha de CD
Título: Tudo se transformou
Artista: Zizi Possi
Gravadora: Eldorado / NovoDisc
Cotação: * * 1/2

Admiradores do canto límpido e preciso de Zizi Possi esperaram muito por pouco. Se for levado em conta que o último título da obra fonográfica da artista paulista, Cantos & contos (Biscoito Fino, 2010), foi lançado somente em DVD, Tudo se transformou é o primeiro CD da cantora em longos nove anos. Tal como seu antecessor Para inglês ver e ouvir (Som Livre, 2005), trata-se de um registro de show, o quarto da carreira de Zizi, mas somente o segundo editado no formato de CD. Estreado em 25 de fevereiro de 2012, em São Paulo (SP), o show em si é primoroso. Por mais que os arranjos de músicas como Explode coração (Gonzaguinha, 1978) indiquem que a estética do recital seja um desdobramento do molde acústico do antológico Sobre todas as coisas (show de 1991 que virou disco e que elevou o nome de Zizi Possi na música brasileira, pondo a artista no mesmo nível das maiores cantoras do país), Tudo se transformou embeveceu espectadores Brasil afora por mostrar Zizi ainda no auge, com pleno domínio de seu instrumento vocal. Ao dividir o palco com Jether Garotti Jr. (piano, tamborim e clarineta), Kecco Brandão (teclados), Webster Santos (violão, bandolim e guitarra) e Luiz Guello (percussão) para dar voz a 26 músicas do cancioneiro nacional, a cantora mostrou que essa voz já maturada - de timbre único e inimitável - conserva todo o brilho, a beleza e a afinação dos anos 1990. De fevereiro de 2012 para cá, o show caiu na estrada, perdendo e ganhando músicas, como é natural. Mas a perda mais significativa é a detecada na transposição do show para o CD que chegou ao mercado digital via iTunes em janeiro deste ano de 2014 e que ganhou enfim edição física neste mês de abril. Tal perda não contabiliza somente os muitos números deixados de fora na seleção do disco, cuja duração beira os meros 38 minutos. Por inacreditável decisão artística, e não por falta de espaço, o CD alinha somente dez números extraídos do show, já que o single Sem você - música de Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, lançada por Brown em 1998 com o título de Busy man - é faixa-bônus gravada no estúdio Mosh, em São Paulo (SP), em 27 de fevereiro de 2013. É pouco. Só que a perda maior é percebida na qualidade do som, que resultou sem viço no CD. Pela audição do disco editado em embalagem digipack, é difícil perceber toda a sofisticação dos arranjos e do diálogo travado por Zizi com seus músicos. É como se o disco abafasse a imensidão do canto da artista. De todo modo, para quem ignorar tais perdas, Tudo se transformou apresenta algumas músicas nunca registradas pela cantora em disco. A começar pelo elegante samba de Paulinho da Viola que batiza o disco, 44 anos após ter sido lançado pelo compositor carioca em LP de 1970. Há também Porta estandarte (Geraldo Vandré e Fernando Lona, 1966), marcha-rancho que jazia esquecida no baú de joias da obra do arisco compositor baiano paraibano Geraldo Vandré, de quem Zizi também rebobina o sucesso Disparada (Geraldo Vandré e Theo de Barros, 1966) em registro decalcado de sua gravação no álbum Puro prazer (Universal Music, 1999). Dentre as novidades na voz de Zizi, vale mencionar também a bonita No vento, canção embebida em saudade que, embora apresentada como inédita, já ganhou registro de sua autora, a gaúcha Necka Ayla, no disco Todo (2006). Músicas que reiteram a precisão do canto da artista, Cacos de amor (da filha Luiza Possi com Dudu Falcão), Contrato de separação (Dominguinhos e Anastácia, 1991) e Meu mundo e nada mais (Guilherme Arantes, 1976) - balada gravada por Zizi em 2011 para tributo a Guilherme Arantes editado pela gravadora Joia Moderna em CD já esgotado - ajudam a dar certo ar de novidade a disco que não faz jus ao histórico fonográfico de Zizi. Inclusive por expor de forma fragmentada o show que o gerou. Enfim, Tudo se transformou não é o CD que Zizi Possi pode, deve e merece fazer para voltar a ocupar lugar central na música brasileira. Voz não falta. O que talvez falte seja a disposição para virar o disco, a mesa e apresentar um álbum realmente novo, à altura de seu belo canto.

14 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Admiradores do canto límpido e preciso de Zizi Possi esperaram muito por pouco. Se for levado em conta que o último título da obra fonográfica da artista paulista, Cantos & contos (Biscoito Fino, 2010), foi lançado somente em DVD, Tudo se transformou é o primeiro CD da cantora em longos nove anos. Tal como seu antecessor Para inglês ver e ouvir (Som Livre, 2005), trata-se de um registro de show, o quarto da carreira de Zizi, mas somente o segundo editado no formato de CD. Estreado em 25 de fevereiro de 2012, em São Paulo (SP), o show em si é primoroso. Por mais que os arranjos de músicas como Explode coração (Gonzaguinha, 1978) indiquem que a estética do recital seja um desdobramento do molde acústico do antológico Sobre todas as coisas (show de 1991 que virou disco e que elevou o nome de Zizi Possi na música brasileira, pondo a artista no mesmo nível das maiores cantoras do país), Tudo se transformou embeveceu espectadores Brasil afora por mostrar Zizi ainda no auge, com pleno domínio de seu instrumento vocal. Ao dividir o palco com Jether Garotti Jr. (piano, tamborim e clarineta), Kecco Brandão (teclados), Webster Santos (violão, bandolim e guitarra) e Luiz Guello (percussão) para dar voz a 26 músicas do cancioneiro nacional, a cantora mostrou que essa voz já maturada - de timbre único e inimitável - conserva todo o brilho, a beleza e a afinação dos anos 1990. De fevereiro de 2012 para cá, o show caiu na estrada, perdendo e ganhando músicas, como é natural. Mas a perda mais significativa é a detecada na transposição do show para o CD que chegou ao mercado digital via iTunes em janeiro deste ano de 2014 e que ganhou enfim edição física neste mês de abril. Tal perda não contabiliza somente os muitos números deixados de fora na seleção do disco, cuja duração beira os meros 38 minutos. Por inacreditável decisão artística, e não por falta de espaço, o CD alinha somente dez números extraídos do show, já que o single Sem você - música de Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, lançada por Brown em 1998 com o título de Busy man - é faixa-bônus gravada no estúdio Mosh, em São Paulo (SP), em 27 de fevereiro de 2013. É pouco. Só que a perda maior é percebida na qualidade do som, que resultou sem viço no CD. Pela audição do disco editado em embalagem digipack, é difícil perceber toda a sofisticação dos arranjos e do diálogo travado por Zizi com seus músicos. É como se o disco abafasse a imensidão do canto da artista. De todo modo, para quem ignorar tais perdas, Tudo se transformou apresenta algumas músicas nunca registradas pela cantora em disco. A começar pelo elegante samba de Paulinho da Viola que batiza o disco, 44 anos após ter sido lançado pelo compositor carioca em LP de 1970. Há também Porta estandarte (Geraldo Vandré e Fernando Lona, 1966), marcha-rancho que jazia esquecida no baú de joias da obra do arisco compositor baiano paraibano Geraldo Vandré, de quem Zizi também rebobina o sucesso Disparada (Geraldo Vandré e Theo de Barros, 1966) em registro decalcado de sua gravação no álbum Puro prazer (Universal Music, 1999). Dentre as novidades na voz de Zizi, vale mencionar também a bonita No vento, canção embebida em saudade que, embora apresentada como inédita, já ganhou registro de sua autora, a gaúcha Necka Ayla, no disco Todo (2006). Músicas que reiteram a precisão do canto da artista, Cacos de amor (da filha Luiza Possi com Dudu Falcão), Contrato de separação (Dominguinhos e Anastácia, 1991) e Meu mundo e nada mais (Guilherme Arantes, 1976) - balada gravada por Zizi em 2011 para tributo a Guilherme Arantes editado pela gravadora Joia Moderna em CD já esgotado - ajudam a dar certo ar de novidade a disco que não faz jus ao histórico fonográfico de Zizi. Inclusive por expor de forma fragmentada o show que o gerou. Enfim, Tudo se transformou não é o CD que Zizi Possi pode, deve e merece fazer para voltar a ocupar lugar central na música brasileira. Voz não falta. O que talvez falte seja a disposição para virar o disco, a mesa e apresentar um álbum realmente novo, à altura de seu belo canto.

Cristiano Melo disse...

Caramba, Mauro. DISSE TUDO! Tem meu aval.

Fabio disse...

Disse tudo! Já deixei de ouvir esse CD há um tempo. Uma grande decepção. Já pensou se Gal tivesse reduzido Recanto Ao Vivo em 10 faixas? Bola fora Zizi. Não da pra entender.

Unknown disse...

Zizi está nos devendo mesmo um bom disco de estúdio, um novo Mais Simples, por exemplo. O Tudo se Transformou é registro bonito da voz de Zizi, mas não vemos transformação. Boa crítica, Mauro!

P.S.: Curioso pra saber por que só agora a crítica...

Mauro Ferreira disse...

Cadu, quando o disco saiu no iTunes, eu achei o som sem brilho. Mas preferi esperar a edição física do CD para fazer minha avaliação com segurança. O som do CD é sempre superior ao som de edição digital. Abs, grato pelo comentário, Mauro Ferreira

Unknown disse...

Realmente, Mauro disse tudo! Q desperdício... economia desnecessária, da capa de papelão a quantidade de faixas e tratamento de som....

lurian disse...

Depois dos feitos da década de 90 Zizi tinha tudo pra ser hoje uma das maiores cantoras do país, não apenas de reconhecimento da crítica, mas de aplauso do público. Não dá pra entender bem porque ela resolveu na ultima década tomar um caminho que ao invés de a aproximar ainda mais do publico foi afastando... Desde o Segundo disco italiano que eu perdi a tesão de esperar seus discos. Esse formato ao vivo, sem disco de estúdio já deu,,,

Anônimo disse...

O show foi incrível, funciona no palco, mas pra cd ficou na prateleira... acho que acertaram não lançar em dvd, seria outro fracasso tal qual foi o cantos e contos!

Zizi é diva, a melhor voz, mas precisamo renovar repertório e talvez arriscar - mas não tanto como a Luiza Possi, rs*

Beijos a ZZ, encantadora e apaixonante - live!

Eduardo Cáffaro disse...

odeio show picotado. Nem me dou ao trabalho de comprar. Uma pena. merecia Cd duplo com mixagem nos EUA. pois o show foi lindo.

Rubens Lisboa disse...

Zizi, amo-te com devoção!

Marcelo disse...

Um show lindo e um cd fraquíssimo. Não sei o que se passa na cabeça da Zizi fazer algo assim...

Lilás disse...

Concordo em parte com a critica, Mauro. O show foi realmente divino e o CD é um registro incompleto do show. A qualidade da gravação também não faz jus à grandeza da voz. Mas a critica do CD parece-me prejudicada pela comparação deste com o show e com a produção extraordinária e imbatível da Zizi nos anos 90. Se este CD mostra que o canto permanece inigualável, a voz madura e no seu auge, e que há novidades na interpretação de canções inéditas ou antigas na voz da cantora, a nota não deveria ter sido mais alta, Mauro?

A sua conclusão me parece contraditória. O problema do CD não é ser ou não "novo". Se o problema é a qualidade da gravação, parece-me que no próximo trabalho, é preciso melhorar a gravação. Se o problema é incluir todas as canções de um show, que o próximo venha completo. Não sei se há falta de disposição para virar o disco ou a mesa. Mas será preciso virar o disco? Ou bastará melhorar a produção e gravar um CD em studio? A grandeza do canto foi reiterada após 9 anos sem CDs. O show foi primoroso. O repertório poderá ser antigo ou novo, desde que se renove na bela voz de Zizi e no seu canto que está cada vez melhor.

Douglas Carvalho disse...

Não assisti o show, portanto dele nada posso falar. Mas ouvi o disco e achei, em termos artísticos, fraco. Zizi é uma cantora extraordinária, e escutá-la é sempre entrar em contato com a voz de uma cantora acima de qualquer suspeita. Por isso, e só por isso, o CD não é 100% descartável.

No mais parece uma dessas coletâneas que gravadoras lançam quando não têm em catálogo os principais discos de um artista, cheias de músicas que não fizeram sucesso na voz desse artista.

Não dá pra entender qual a finalidade de gravar um CD com tantas regravações...

Unknown disse...

Acho que, para alguém que não viu o show e não conhece a fundo a carreira de Zizi,como eu, o disco soa muito bonito. Eu amei. Tanto que me surpreendi com o teor da crítica do Mauro, esperava encontrar só elogios... Achei o disco muito emocionante e fico aqui imaginando como deve ter sido esse show... Zizi arrasa!