Mauro Ferreira no G1

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quarta-feira, 2 de abril de 2014

Funk vira 'grife' que dá visibilidade a artistas de nichos menos populares

Editorial - É sintomático que Boss in Drama - projeto de música eletrônica do  DJ curitibano (radicado em São Paulo) Péricles Martins - esteja lançando no YouTube Tropa de elite, single gravado com a participação do funkeiro Mr. Catra, na mesma semana em que a cantora paraense Gaby Amarantos desapontou seu produtor musical Carlos Eduardo Miranda ao lançar o clipe do funk Brasil ostentação. A cantora paraense alegou que o vídeo era pegadinha de 1º de abril e que não estava virando funkeira. Mas Miranda enxergou ali um sinal claro e evidente do caminho artístico a ser seguido por Amarantos em seu vindouro segundo álbum, expressando publicamente sua decepção em rede social. A própria artista já havia declarado anteriormente que seu próximo CD seria "mais pop". Resta saber se, para ser pop e popular, é preciso entrar no baile funk.  "Tropa de elite / Só escapa quem tem grife", martela Mr. Catra no refrão do single de Boss in Drama. O funk é legítima representação cultural de um segmento social e, como tal, deve ser sempre respeitado. Até porque mentes inteligentes, como a da cantora e compositora gaúcha Adriana Calcanhotto, já detectaram no preconceito veiculado contra o funk e os funkeiros o mesmo nocivo sentimento de segregação social que era dirigido ao samba e aos sambistas no início do século XX. A questão é que, comendo pelas beiradas e caminhando à margem desse preconceito, o funk parece ter virado o passaporte que permite a entrada de artistas mais elitizados em um universo mais popular. O funk já parece ser a grife que vai possibilitar mais popularidade para artistas que, como Boss in Drama, atuam em determinados nichos de mercado com menor visibilidade. A própria Gaby Amarantos - apesar de envolvida por aura popular - lançou um primeiro disco solo mais cultuado pela crítica e pelo mundinho hype do que pelo chamado povão, mesmo com música brega-chique, Ex-mai love, propagada em trilha sonora de novela da TV Globo. Enfim, tudo indica que o funk vai ser cada vez mais usado por artistas que buscam nele somente uma oportunidade de obter mais sucesso comercial. E isso, sim, é triste. Carlos Eduardo Miranda tem razão de hoje ter acordado triste.

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

Editorial - É sintomático que Boss in Drama - projeto de música eletrônica do DJ curitibano (radicado em São Paulo) Péricles Martins - esteja lançando no YouTube Tropa de elite, single gravado com a participação do funkeiro Mr. Catra, na mesma semana em que a cantora paraense Gaby Amarantos desapontou seu produtor musical Carlos Eduardo Miranda ao lançar o clipe do funk Gaby ostentação. A cantora paraense alegou que o vídeo era pegadinha de 1º de abril e que não estava virando funkeira. Mas Miranda enxergou ali um sinal claro e evidente do caminho artístico a ser seguido por Amarantos em seu vindouro segundo álbum, expressando publicamente sua decepção em rede social. A própria artista já havia declarado anteriormente que seu próximo CD seria "mais pop". Resta saber se, para ser pop e popular, é preciso entrar no baile funk. "Tropa de elite / Só escapa quem tem grife", martela Mr. Catra no refrão do single de Boss in Drama. O funk é legítima representação cultural de um segmento social e, como tal, deve ser sempre respeitado. Até porque mentes inteligentes, como a da cantora e compositora gaúcha Adriana Calcanhotto, já detectaram no preconceito veiculado contra o funk e os funkeiros o mesmo nocivo sentimento de segregação social que era dirigido ao samba e aos sambistas no início do século XX. A questão é que, comendo pelas beiradas e caminhando à margem desse preconceito, o funk parece ter virado o passaporte que permite a entrada de artistas mais elitizados em um universo mais popular. O funk já parece ser a grife que vai possibilitar mais popularidade para artistas que, como Boss in Drama, atuam em determinados nichos de mercado com menor visibilidade. A própria Gaby Amarantos - apesar de envolvida por aura popular - lançou um primeiro disco solo mais cultuado pela crítica e pelo mundinho hype do que pelo chamado povão, mesmo com música brega-chique, Ex-mai love, propagada em trilha sonora de novela da TV Globo. Enfim, tudo indica que o funk vai ser cada vez mais usado por artistas que buscam nele somente uma oportunidade de obter mais sucesso comercial. E isso, sim, é triste. Carlos Eduardo Miranda tem razão de hoje ter acordado triste.

noca disse...

Editorial muito oportuno e importante,Mauro.Gosto muito de Calcanhoto,mas esse argumento de que o nível de segregação endereçado ao funk seja o mesmo é fragilissimo,não se sustenta na primeira brisa.Outras épocas,outro conceito artistico,outro mundo,um Brasil no inicio do século xx muito mais influenciado pela cultura européia do que pelo consumismo americano capitalista e mediocrizante no qual o funk tem bases sólidas.Nutria-se um preconceito e inveja das pessoas mais humildes que faziam samba de alto nivel criativo e cultural,porque ali falavam de igual para igual,independente da grana no bolso.Hoje os valores são medidos apenas pela ostentação caprichosa da mediocridade comercial.Parabens pelo texto Mauro!

Rhenan Soares disse...

Desconheço quem é Miranda na fila do pão. Mas sinto um mau cheiro...