Mauro Ferreira no G1

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segunda-feira, 21 de abril de 2014

'Gigante gentil' é bom disco para Erasmo falar de amor e sexo no seu tom

Resenha de CD
Título: Gigante gentil
Artista: Erasmo Carlos
Gravadora: Coqueiro Verde Records
Cotação: * * * 1/2

É o som proeminente de guitarra que se ouve no rock que abre e dá nome ao 28º álbum de inéditas de Erasmo Carlos, Gigante gentil, lançado neste mês de abril de 2014 pela gravadora Coqueiro Verde Records. Gigante gentil (Erasmo Carlos), o rock, é resposta amorosa do cantor e compositor carioca aos ataques sofridos pelo Tremendão na web. Mas o rock e o som das guitarras logo se diluem ao longo das onze músicas deste disco de sonoridade serena. Em contrapartida, o amor cresce, aparece e fica mais explícito à medida que o CD avança. Balada espacial que alude no título ao best-seller editorial 50 tons de cinza e que turbina com efeitos de eco versos como "A constelação de dor / Vaza na imensidão"50 tons de cor (Erasmo Carlos) dá a pista certeira do que se ouve a seguir. Gigante Gentil é disco de muitas baladas, moldado para Erasmo falar de amor e sexo à sua própria moda, no seu tom habitual. Talvez por isso a produção de Kassin soe tão reverente a esse gigante do rock brasileiro que já totaliza 52 anos de carreira. Até dá para identificar o d.n.a. de Kassin na sonoridade leve e contemporânea do álbum, mas prevalece e sobressai em Gigante gentil a personalidade musical de Erasmo. Tanto que o disco poderia ter sido lançado antes do revigorante Rock'n'roll (2009), primeiro título da trilogia de álbuns inéditos prosseguida com Sexo (2011) e concluída com este Gigante gentil, CD que iria se chamar Amor, mas que acabou batizado com o apelido dado a Erasmo pela cantora, compositora e guitarrista paulista Lúcia Turnbull. A conexão com os dias de hoje se faz pelos temas das letras de músicas como Colapso (Erasmo Carlos), balada que versa sobre "apagão na informática" entre elegantes toques de country. Sim, Erasmo (também) fala de amor em tempos tecnológicos. Mais adiante, na faixa 9, Amor na rede - canção feita por Erasmo em parceria com o compositor carioca Nelson Motta, autor da letra - versa sobre (des)conexões afetivas e sexuais em tempos cibernéticos. Só que a balada Coisa por coisa (Erasmo Carlos) lembra que a dialética entre amor e paixão confunde o Homem desde os tempos do filósofo grego Aristóteles (384 A.C. / 322 A.C.). Primeira parceria de Erasmo com Caetano Veloso, cantor e compositor baiano que deu De noite na cama em 1971 para o Tremendão, Sentimentos complicados é canção aquém da expectativa gerada pela primeira criação conjunta dos artistas, mas dentro do espírito terno e apaixonado do álbum. Nova parceria de Erasmo com o compositor paulista Arnaldo Antunes, Teoria do óbvio repõe o rock na roda com pegada vintage e com letra (do ex-Titã) sobre o imponderável que conclui de forma gritada por Erasmo: "a vida é assim". Faixa que também tem versos de Antunes, Manhãs de love disserta melancolicamente sobre a solidão, efeito da partida da mulher amada. Sim, o gigante se apequena diante da mulher amada e desejada. O que justifica a declaração apaixonada feita em Moça (Erasmo Carlos), bela balada cuja levada folk da introdução do arranjo evoca ligeiramente Everybody's talkin' (Fred Neil, 1966), tema popularizado em escala mundial em 1969 na voz da gravação feita pelo cantor norte-americano Harry Nilson para a trilha sonora do filme Perdidos na noite (Estados Unidos, 1969). Como amor está sempre conectado ao sexo, a balada Caçador de deusas (Erasmo Carlos) entra no tom ao perfilar Erasmo como o predador que goza a caçada do alvo feminino em letra pontuada por versos que aludem ao ato sexual por meio de metáforas (aliás, utilizadas por Erasmo  e por seu amigo de fé Roberto Carlos desde os anos 1970). Enfim, mesmo que não tenha a pulsação do álbum Rock'n'roll, Gigante gentil se situa no mesmo bom nível de Sexo, o anterior disco de inéditas do Tremendão. Uma dose maior de rock diluiria o excesso de baladas e daria maior equilíbrio a Gigante gentil. De todo modo, é preciso saudar a disposição de Erasmo Carlos para lançar sucessivos álbuns de inéditas, injetando ânimo em sua vasta discografia. O gentil gigante cresce ainda mais quando, aos 72 anos, decide olhar para frente.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

É o som proeminente de guitarra que se ouve no rock que abre e dá nome ao 28º álbum de inéditas de Erasmo Carlos, Gigante gentil, lançado neste mês de abril de 2014 pela gravadora Coqueiro Verde Records. Gigante gentil (Erasmo Carlos), o rock, é resposta amorosa do cantor e compositor carioca aos ataques sofridos pelo Tremendão na web. Mas o rock e o som das guitarras se diluem ao longo das onze músicas deste disco de sonoridade serena. Em contrapartida, o amor cresce, aparece e fica mais explícito à medida que o CD avança. Balada espacial que alude no título ao best-seller editorial 50 tons de cinza e que turbina com efeitos de eco versos como "A constelação de dor / Vaza na imensidão", 50 tons de cor (Erasmo Carlos) dá a pista certeira do que se ouve a seguir. Gigante Gentil é disco de baladas, moldado para Erasmo falar de amor e sexo à sua própria moda, no seu tom habitual. Talvez por isso a produção de Kassin soe tão reverente a esse gigante do rock brasileiro que já totaliza 52 anos de carreira. Até dá para identificar o d.n.a. de Kassin na sonoridade leve e contemporânea do álbum, mas prevalece e sobressai em Gigante gentil a personalidade musical de Erasmo. Tanto que o disco poderia ter sido lançado antes do revigorante Rock'n'roll (2009), primeiro título da trilogia de álbuns inéditos prosseguida com Sexo (2011) e concluída com este Gigante gentil, CD que iria se chamar Amor, mas que acabou batizado com o apelido dado a Erasmo pela cantora, compositora e guitarrista paulista Lúcia Turnbull. A conexão com os dias de hoje se faz pelos temas das letras de músicas como Colapso (Erasmo Carlos), balada que versa sobre "apagão na informática" entre elegantes toques de country. Sim, Erasmo (também) fala de amor em tempos tecnológicos. Mais adiante, na faixa 9, Amor na rede - canção feita por Erasmo em parceria com o compositor carioca Nelson Motta, autor da letra - versa sobre (des)conexões afetivas e sexuais em tempos cibernéticos. Só que a balada Coisa por coisa (Erasmo Carlos) lembra que a dialética entre amor e paixão confunde o Homem desde os tempos do filósofo grego Aristóteles (384 A.C. / 322 A.C.). Primeira parceria de Erasmo com Caetano Veloso, cantor e compositor baiano que deu De noite na cama em 1971 para o Tremendão, Sentimentos complicados é canção aquém da expectativa gerada pela primeira criação conjunta dos artistas, mas dentro do espírito terno e apaixonado do álbum. Nova parceria de Erasmo com o compositor paulista Arnaldo Antunes, Teoria do óbvio repõe o rock na roda com pegada vintage e com letra (do ex-Titã) sobre o imponderável que conclui de forma gritada por Erasmo: "a vida é assim". Faixa que também tem versos de Antunes, Manhãs de love disserta melancolicamente sobre a solidão, efeito da partida da mulher amada. Sim, o gigante se apequena diante da mulher amada e desejada. O que justifica a declaração apaixonada feita em Moça (Erasmo Carlos), bela balada cuja levada folk da introdução do arranjo evoca ligeiramente Everybody's talkin' (Fred Neil, 1966), tema popularizado em escala mundial em 1969 na voz da gravação feita pelo cantor norte-americano Harry Nilson para a trilha sonora do filme Perdidos na noite (Estados Unidos, 1969). Como amor está sempre conectado ao sexo, a balada Caçador de deusas (Erasmo Carlos) entra no tom ao perfilar Erasmo como o predador que goza a caçada do alvo feminino em letra pontuada por versos que aludem ao ato sexual por meio de metáforas (aliás, utilizadas por Erasmo e por seu amigo de fé Roberto Carlos desde os anos 1970). Enfim, mesmo que não tenha a pulsação do álbum Rock'n'roll, Gigante gentil se situa no mesmo bom nível de Sexo, o anterior disco de inéditas do Tremendão. Uma dose maior de rock diluiria o excesso de baladas e daria maior equilíbrio a Gigante gentil. De todo modo, é preciso saudar a disposição de Erasmo Carlos para lançar sucessivos álbuns de inéditas, injetando ânimo em sua vasta discografia. O gentil gigante cresce ainda mais quando, aos 72 anos, decide olhar para frente.

Sandra Pereira disse...

Excelente (e justa) crítica! O álbum é mesmo muito bom.