Título: Ínterim
Artista: Guga Bruno
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * * 1/2
Disco disponível para audição e download gratuito e legalizado no site Música Artesanal
Há mordaz ironia nos versos de Chuva de uma gota só, uma das dez músicas inéditas e autorais alinhadas pelo cantor e compositor carioca Guga Bruno em seu segundo álbum solo, Ínterim, lançado em edição digital neste mês de abril de 2014. "Hoje não farei um samba triste / Hoje vou fazer um funk alto astral / A tristeza do tango até existe / Mas a alegria da salsa é muito mais legal", avisa o artista no refrão pop e grudento, depois repetido em espanhol em brincadeira com os hermanos do universo pop latino-americano. Aos 36 anos, egresso de bandas cariocas como Chinelo de Couro Cru & Os Cruzados de Canhota (de 1998 a 2003) e a saudosa Lasciva Lula (de 2003 a 2008), Guga Bruno não chega a mudar de assunto na esfera pop rock em que está situada seu repertório autoral - a exemplo do que mostra o rock que abre o interessante disco, Manual para naufrágio em grandes cidades - mas Ínterim (re)apresenta um compositor de bom nível, com algo para dizer. E que diz, embutindo certa desesperança na delicadeza de O pequeno circo místico, canção que alude no título ao balé O grande circo místico (1983). Power balada de tom bluesy, como explicita de cara sua longa introdução instrumental, Estado inerte é o ponto mais alto, intenso e denso de um disco que flagra um homem à procura de qualquer emoção que sirva. Temperos e flores e rock suaviza o ambiente na pegada do rock enquanto Eu-dividido espalha perfume pop sem abafar o grito ouvido "na caverna do sofrer". Embalada em levada pop folk, a balada Recapitulo relativiza o sol surgido pós-tempestade. "Todo mundo sempre volta para casa / Todo mundo menos um", contabiliza a letra. Sucessor de Nanogravura popular brasileira (2009), Ínterim reflete sobre a relatividade do tempo em Homens ao mar. As tempestades interiores são o mote das letras de um disco que transita entre contrastes de luzes e sombras, de calmas e medos, de alegrias e tristezas e de alívios e cansaços. Nesse sentido, o pop rock Circuito fechado encerra o CD sem encontrar o fio da meada, mas com luz no fim do túnel iluminado pela presença do ser amado. Como compositor, Guga Bruno não se encontra em estado inerte. Tampouco seu disco.
2 comentários:
Há mordaz ironia nos versos de Chuva de uma gota só, uma das dez músicas inéditas e autorais alinhadas pelo cantor e compositor carioca Guga Bruno em seu segundo álbum solo, Ínterim, lançado em edição digital neste mês de abril de 2014. "Hoje não farei um samba triste / Hoje vou fazer um funk alto astral / A tristeza do tango até existe / Mas a alegria da salsa é muito mais legal", avisa o artista no refrão pop e grudento, depois repetido em espanhol em brincadeira com os hermanos do universo pop latino-americano. Aos 36 anos, egresso de bandas cariocas como Chinelo de Couro Cru & Os Cruzados de Canhota (de 1998 a 2003) e a saudosa Lasciva Lula (de 2003 a 2008), Guga Bruno não chega a mudar de assunto na esfera pop rock em que está situada seu repertório autoral - a exemplo do que mostra o rock que abre o interessante disco, Manual para naufrágio em grandes cidades - mas Ínterim (re)apresenta um compositor de bom nível, com algo para dizer. E que diz, embutindo certa desesperança na delicadeza de O pequeno circo místico, canção que alude no título ao balé O grande circo místico (1983). Power balada de tom bluesy, como explicita de cara sua longa introdução instrumental, Estado inerte é o ponto mais alto, intenso e denso de um disco que flagra um homem à procura de qualquer emoção que sirva. Temperos e flores e rock suaviza o ambiente na pegada do rock enquanto Eu-dividido espalha perfume pop sem abafar o grito ouvido "na caverna do sofrer". Embalada em levada pop folk, a balada Recapitulo relativiza o sol pós-tempestade. "Todo mundo sempre volta para casa / Todo mundo menos um", contabiliza a letra. Sucessor de Nanogravura popular brasileira (2009), Ínterim reflete sobre a relatividade do tempo em Homens ao mar. As tempestades interiores são o mote das letras de um disco que transita entre contrastes de luzes e sombras, de calmas e medos, de alegrias e tristezas e de alívios e cansaços. Nesse sentido, o pop rock Circuito fechado encerra o CD sem encontrar o fio da meada, mas com luz no fim do túnel iluminado pela presença do ser amado. Como compositor, Guga Bruno não se encontra em estado inerte. Tampouco seu disco.
Discão! Recomendo muito! Guga é um talento!
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