domingo, 20 de abril de 2014

'Ínterim' gira no tempo angustiado em que emerge o som de Guga Bruno

Resenha de CD
Título: Ínterim
Artista: Guga Bruno
Gravadora: Edição independente do artista
Cotação: * * * 1/2
Disco disponível para audição e download gratuito e legalizado no site Música Artesanal

Há mordaz ironia nos versos de Chuva de uma gota só, uma das dez músicas inéditas e autorais alinhadas pelo cantor e compositor carioca Guga Bruno em seu segundo álbum solo, Ínterim, lançado em edição digital neste mês de abril de 2014. "Hoje não farei um samba triste / Hoje vou fazer um funk alto astral / A tristeza do tango até existe / Mas a alegria da salsa é muito mais legal", avisa o artista no refrão pop e grudento, depois repetido em espanhol em brincadeira com os hermanos do universo pop latino-americano. Aos 36 anos, egresso de bandas cariocas como Chinelo de Couro Cru & Os Cruzados de Canhota (de 1998 a 2003) e a saudosa Lasciva Lula (de 2003 a 2008), Guga Bruno não chega a mudar de assunto na esfera pop rock em que está situada seu repertório autoral - a exemplo do que mostra o rock que abre o interessante disco, Manual para naufrágio em grandes cidades - mas Ínterim (re)apresenta um compositor de bom nível, com algo para dizer. E que diz, embutindo certa desesperança na delicadeza de O pequeno circo místico, canção que alude no título ao balé O grande circo místico (1983). Power balada de tom bluesy, como explicita de cara sua longa introdução instrumental, Estado inerte é o ponto mais alto, intenso e denso de um disco que flagra um homem à procura de qualquer emoção que sirva. Temperos e flores e rock suaviza o ambiente na pegada do rock enquanto Eu-dividido espalha perfume pop sem abafar o grito ouvido "na caverna do sofrer". Embalada em levada pop folk, a balada Recapitulo relativiza o sol surgido pós-tempestade. "Todo mundo sempre volta para casa / Todo mundo menos um", contabiliza a letra. Sucessor de Nanogravura popular brasileira (2009), Ínterim reflete sobre a relatividade do tempo em Homens ao mar. As tempestades interiores são o mote das letras de um disco que transita entre contrastes de luzes e sombras, de calmas e medos, de alegrias e tristezas e de alívios e cansaços. Nesse sentido, o pop rock Circuito fechado encerra o CD sem encontrar o fio da meada, mas com luz no fim do túnel iluminado pela presença do ser amado. Como compositor, Guga Bruno não se encontra em estado inerte. Tampouco seu disco.

2 comentários:

  1. Há mordaz ironia nos versos de Chuva de uma gota só, uma das dez músicas inéditas e autorais alinhadas pelo cantor e compositor carioca Guga Bruno em seu segundo álbum solo, Ínterim, lançado em edição digital neste mês de abril de 2014. "Hoje não farei um samba triste / Hoje vou fazer um funk alto astral / A tristeza do tango até existe / Mas a alegria da salsa é muito mais legal", avisa o artista no refrão pop e grudento, depois repetido em espanhol em brincadeira com os hermanos do universo pop latino-americano. Aos 36 anos, egresso de bandas cariocas como Chinelo de Couro Cru & Os Cruzados de Canhota (de 1998 a 2003) e a saudosa Lasciva Lula (de 2003 a 2008), Guga Bruno não chega a mudar de assunto na esfera pop rock em que está situada seu repertório autoral - a exemplo do que mostra o rock que abre o interessante disco, Manual para naufrágio em grandes cidades - mas Ínterim (re)apresenta um compositor de bom nível, com algo para dizer. E que diz, embutindo certa desesperança na delicadeza de O pequeno circo místico, canção que alude no título ao balé O grande circo místico (1983). Power balada de tom bluesy, como explicita de cara sua longa introdução instrumental, Estado inerte é o ponto mais alto, intenso e denso de um disco que flagra um homem à procura de qualquer emoção que sirva. Temperos e flores e rock suaviza o ambiente na pegada do rock enquanto Eu-dividido espalha perfume pop sem abafar o grito ouvido "na caverna do sofrer". Embalada em levada pop folk, a balada Recapitulo relativiza o sol pós-tempestade. "Todo mundo sempre volta para casa / Todo mundo menos um", contabiliza a letra. Sucessor de Nanogravura popular brasileira (2009), Ínterim reflete sobre a relatividade do tempo em Homens ao mar. As tempestades interiores são o mote das letras de um disco que transita entre contrastes de luzes e sombras, de calmas e medos, de alegrias e tristezas e de alívios e cansaços. Nesse sentido, o pop rock Circuito fechado encerra o CD sem encontrar o fio da meada, mas com luz no fim do túnel iluminado pela presença do ser amado. Como compositor, Guga Bruno não se encontra em estado inerte. Tampouco seu disco.

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  2. Discão! Recomendo muito! Guga é um talento!

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