Mauro Ferreira no G1

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domingo, 20 de abril de 2014

Nicolas celebra no CD 'Festejos' Brasil feminino (e brasileiro) de Pinheiro

Resenha de CD
Título: Festejos
Artista: Alexandra Nicolas
Gravadora: Acari Records
Cotação: * * * 1/2

De sua aguçada vista na cidade do Rio de Janeiro (RJ), o compositor carioca Paulo César Pinheiro enxerga todo um Brasil enraizado em ricas tradições musicais. Um país que, sob a ótica e sob a pena do compositor, continua parado em tempos idos, imune aos sons da modernidade cosmopolita e às bem-vindas influências do universo pop. É esse Brasil cristalizado e romantizado pelos olhos do poeta - um Brasil essencialmente brasileiro - que a cantora maranhense Alexandra Nicolas canta e celebra no seu primeiro CD, Festejos, no qual dá sua voz graciosa a 13 músicas de Paulo César Pinheiro. Baseado no show Senhora das Candeias do Maranhão, estreado em 2009 pela artista, o disco foi gravado em 2013 sob a direção musical da cavaquinista Luciana Rabello e está sendo lançado neste mês de abril de 2014 pela Acari Records. Em Festejos, álbum de caráter atemporal pela moldura tradicional dos arranjos e do inédito repertório de tons regionais, a cantora celebra também a força da mulher neste Brasil brasileiro que mantém seu pé na Mãe-África, evocada em Mironga (Paulo César Pinheiro), música de rítmica sedutora que dá mais uma amostra de que o poeta Pinheiro também é compositor inspirado na construção de melodias. Mulher valente que, no disco, é retratada tanto na figura da Iaiá do Brasil rural enfocado em Balacoxê de Iaiá (Paulo César Pinheiro) - samba que se destaca no repertório - como na pele da centenária e arretada personagem-título de Bisavó Madalena, tema forrozeiro de Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro. Ou ainda no molde da bela negra descendente de escravos que hoje mostra na avenida toda sua nobreza, perfilada no samba Passista (Paulo César Pinheiro). Em sintonia com o conceito do CD, Lavadeira (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro) ecoa o canto e a rítmica feminina de um Brasil que ginga nas cadeiras de suas mulheres. Festejos está embrenhado nesse Brasil rural e interiorano, mas também se aproxima do litoral, se banhando nas águas de Dorival Caymmi (1914 - 2008) em Presente de Iemanjá (João Lyra e Paulo César Pinheiro). Entre cocos anunciados já nos títulos das músicas (Coco e Coco da canoa, este composto por Pinheiro com João Lyra) e tambor-de-criola (São Luis do Maranhão, faixa que fecha o disco, trazendo Nicolas de volta às origens natais), Festejos migra para o Recôncavo Baiano, terra da chula, quando abre a longa Roda das sete saias, parceria de Pinheiro com o baiano Roque Ferreira, compositor tão compulsivo quanto o poeta carioca. Por mais que o cancioneiro reunido em Festejos careça de um traço de originalidade, o disco se sustenta bem em seu (en)canto pela permanência e pela louvação de um Brasil já mitificado pela poesia e a rítmica do compositor. 

3 comentários:

Mauro Ferreira disse...

De sua aguçada vista na cidade do Rio de Janeiro (RJ), o compositor carioca Paulo César Pinheiro enxerga todo um Brasil enraizado em ricas tradições musicais. Um país que, sob a ótica e sob a pena do compositor, continua parado em tempos idos, imune aos sons da modernidade cosmopolita e às influências do universo pop. É esse Brasil cristalizado e romantizado pelos olhos do poeta - um Brasil essencialmente brasileiro - que a cantora maranhense Alexandra Nicolas canta e celebra no seu primeiro CD, Festejos, no qual dá sua voz graciosa a 13 músicas de Pinheiro. Baseado no show Senhora das Candeias do Maranhão, estreado em 2009 pela artista, o disco foi gravado em 2013 sob a direção musical da cavaquinista Luciana Rabello e está sendo lançado neste mês de abril de 2014 pela Acari Records. Em Festejos, álbum de caráter atemporal pela moldura tradicional dos arranjos e do inédito repertório de tons regionais, a cantora celebra também a força da mulher neste Brasil brasileiro que mantém seu pé na Mãe-África, evocada em Mironga (Paulo César Pinheiro), música de rítmica sedutora que dá mais uma amostra de que o poeta Pinheiro também é compositor inspirado na construção de melodias. Mulher valente que, no disco, é retratada tanto na figura da Iaiá do Brasil rural enfocado em Balacoxê de Iaiá (Paulo César Pinheiro) - samba que se destaca no repertório - como na pele da centenária e arretada personagem-título de Bisavó Madalena, tema forrozeiro de Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro. Ou ainda no molde da negra descendente de escravos que hoje mostra na avenida toda sua nobreza, perfilada no samba Passista (Paulo César Pinheiro). Em sintonia com o conceito do CD, Lavadeira (Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro) ecoa o canto e a rítmica feminina de um Brasil que ginga nas cadeiras de suas mulheres. Festejos está embrenhado nesse Brasil rural e interiorano, mas também se aproxima do litoral, se banhando nas águas de Dorival Caymmi (1914 - 2008) em Presente de Iemanjá (João Lyra e Paulo César Pinheiro). Entre cocos anunciados já nos títulos das músicas (Coco e Coco da canoa, este composto por Pinheiro com João Lyra) e tambor-de-criola (São Luis do Maranhão, faixa que fecha o disco, trazendo Nicolas de volta às origens natais), Festejos migra para o Recôncavo Baiano, terra da chula, quando abre Roda das sete saias, parceria de Pinheiro com o baiano Roque Ferreira, compositor tão compulsivo quanto o poeta carioca. Por mais que o cancioneiro reunido em Festejos careça de um traço de originalidade, o disco se sustenta bem em seu (en)canto pela permanência e pela louvação de um Brasil já mitificado pela poesia e a rítmica do compositor.

Miyage disse...

Resenha bastante precisa, Mauro.
Só faltou realçar a bela voz da Alexandra.
Este disco, mais o "Santo E Orixá" de Gloria Bomfim, reafirmam Paulo César Pinheiro como um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos.

paulo s. disse...

Evito o Paulo César Pinheiro por, quase sempre, usar de assuntos religiosos em suas letras. Eu, particularmente, não gosto de nada religioso (somente os feriados). Mas, ele não se omite. Coloca letra até em ruido de chuva. Paulo deve ser um recordista mundial e sempre com qualidade. Porque será que os outros grandes letristas são tão covardes?