Mauro Ferreira no G1

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quinta-feira, 1 de maio de 2014

Bethânia cultiva raízes da música do Brasil em seu álbum 'Meus quintais'

O oásis de Maria Bethânia é um sertão brasileiro povoado por caboclos, índios e onças. No álbum que vai lançar no segundo semestre de 2014 com distribuição da gravadora Biscoito Fino, Meus quintais, a intérprete baiana cultiva raízes da música de um Brasil rural e interiorano, retratado em versos como "Quando eu ouço a voz da fonte / Não sei que canto que encerra / Parece o gozo do monte / Dentro do ventre da terra", escritos pelo poeta carioca Paulo César Pinheiro e musicados pelo também carioca Dori Caymmi no que resultou na belíssima canção Alguma voz. Lançada por Dori em seu recente CD Setenta anos (Acari Recods), Alguma voz é uma das músicas cantadas por Bethânia - em foto de Bruno Pettinelli - em Meus quintais. A julgar pelo repertório, cuja temática remete ao cancioneiro gravado por Bethânia no aclamado álbum Brasileirinho (2003), a cantora olha em Meus quintais para dentro de si e do Brasil interiorano e sertanejo, se entranhando novamente nesse país rural, em universo que evoca a obra da cantora paulista Inezita Barroso. Não por acaso, a Moda da onça - tema do folclore popular recolhido e gravado por Inezita em 1960 - figura na ruralista trilha sonora de Meus quintais ao lado de cativante tema sertanejo, Lua bonita (Zé do Norte e Zé Martins), já enraizado na memória afetiva do brasileiro que vive nos campos, roças e sertões desde que foi lançado em 1953 pelo cantor e compositor paraibano Zé do Norte (1908 - 1979). Lua bonita deve iluminar a saudade que Bethânia sente de sua mãe, Claudionor Viana Teles Veloso (1907 - 2012), já que a música foi lembrada na seresta feita pela cantora com Dona Canô e reproduzida no DVD Pedrinha de Aruanda (2007). A propósito, é provável que a regravação de Mãe Maria (Custódio Mesquita e David Nasser, 1943) - música que já ganhara a voz de Bethânia no álbum Pássaro proibido (1976) - esteja no disco pela lembrança da presença de Canô nos dias de infância mais risonhos, para citar um verso da letra ouvida pela primeira vez no Brasil na voz (emblemática) do cantor gaúcho Nelson Gonçalves (1919 - 1998). 

Para sonorizar seus quintais, Bethânia arregimentou músicos virtuosos como o baixista Jorge Helder, os pianistas André Mehmari e Wagner Tiso (presente em Flor de quixabeira, uma das seis músicas assinadas no álbum pelo compositor baiano Roque Ferreira), o violonista e bandolinista João Gaspar - que toca em Iara, inédita de Adriana Calcanhotto unida no CD a texto da escritora ucraniana (de criação brasileira) Clarice Lispector (1920 - 1977) - e o acordeonista Toninho Ferragutti (cuja sanfona molda a antiga arquitetura ruralista de Casa de caboclo, outra música de Roque Ferreira). Compositor predominante no álbum e recorrente na discografia recente de Bethânia, Roque Ferreira assina músicas como Candeeiro velho, Folia de reis, Imbelezou e Vento de lá. Compositor também recorrente na obra da cantora desde 1996, o paraibano Chico César contribui com dois temas de universo indígena, Arco da velha índia e Xavante, ambos gravados com a percussão de Marcelo Costa, o baixo de Helder e o violão de João Gaspar. Nome novo, na discografia de Bethânia, é a presença do compositor Leandro Fregonesi, autor do samba Povos do Brasil (revelação dos quintais cariocas, Fregonesi teve sambas gravados por Beth Carvalho no álbum Nosso samba tá rua, de 2011). Já Dindi (Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, 1959) se diferencia no repertório por ser canção do universo urbano, sinalizando que, do horizonte de seus quintais, Maria Bethânia olha para todo o Brasil.

24 comentários:

Mauro Ferreira disse...

O oásis de Maria Bethânia é um sertão brasileiro povoado por caboclos, índios e onças. No álbum que vai lançar no segundo semestre de 2014 com distribuição da gravadora Biscoito Fino, Meus quintais, a intérprete baiana cultiva raízes da música de um Brasil rural e interiorano, retratado em versos como "Quando eu ouço a voz da fonte / Não sei que canto que encerra / Parece o gozo do monte / Dentro do ventre da terra", escritos pelo poeta carioca Paulo César Pinheiro e musicados pelo também carioca Dori Caymmi no que resultou na belíssima canção Alguma voz. Lançada por Dori em seu recente CD Setenta anos (Acari Recods), Alguma voz é uma das músicas cantadas por Bethânia - em foto de Bruno Pettinelli - em Meus quintais. A julgar pelo repertório, cuja temática remete ao cancioneiro gravado por Bethânia no aclamado álbum Brasileirinho (2003), a cantora olha em Meus quintais para dentro de si e do Brasil interiorano e sertanejo, se entranhando novamente nesse país rural, em universo que evoca a obra da cantora paulista Inezita Barroso. Não por acaso, a Moda da onça - tema do folclore popular recolhido e gravado por Inezita em 1960 - figura na ruralista trilha sonora de Meus quintais ao lado de cativante tema sertanejo, Lua bonita (Zé do Norte e Zé Martins), já enraizado na memória afetiva do brasileiro que vive nos campos, roças e sertões desde que foi lançado em 1953 pelo cantor e compositor paraibano Zé do Norte (1908 - 1979). Lua bonita deve iluminar a saudade que Bethânia sente de sua mãe, Claudionor Viana Teles Veloso (1907 - 2012), já que a música foi lembrada na seresta feita pela cantora com Dona Canô e reproduzida no DVD Pedrinha de Aruanda (2007). A propósito, é provável que a regravação de Mãe Maria (Custódio Mesquita e David Nasser, 1943) - música que já ganhara a voz de Bethânia no álbum Pássaro proibido (1976) - esteja no disco pela lembrança da presença de Canô nos dias de infância mais risonhos, para citar um verso da letra ouvida pela primeira vez no Brasil na voz (emblemática) do cantor gaúcho Nelson Gonçalves (1919 - 1998).

Para sonorizar seus quintais, Bethânia arregimentou músicos virtuosos como o baixista Jorge Helder, os pianistas André Mehmari e Wagner Tiso (presente em Flor de quixabeira, uma das seis músicas assinadas no álbum pelo compositor baiano Roque Ferreira), o violonista e bandolinista João Gaspar - que toca em Iara, inédita de Adriana Calcanhotto unida no CD a texto da escritora ucraniana (de criação brasileira) Clarice Lispector (1920 - 1977) - e o acordeonista Toninho Ferragutti (cuja sanfona molda a arquitetura ruralista de Casa de caboclo, outra música de Roque Ferreira). Compositor predominante no álbum e recorrente na discografia recente de Bethânia, Roque Ferreira assina músicas como Candeeiro velho, Folia de reis, Imbelezou e Vento de lá. Compositor também recorrente na obra da cantora desde 1996, o paraibano Chico César contribui com dois temas de universo indígena, Arco da velha índia e Xavante, ambos gravados com a percussão de Marcelo Costa, o baixo de Helder e o violão de João Gaspar. Nome novo, na discografia de Bethânia, é a presença do compositor Leandro Fregonesi, autor do samba Povos do Brasil (revelação dos quintais cariocas, Fregonesi teve sambas gravados por Beth Carvalho no álbum Nosso samba tá rua, de 2011). Já Dindi (Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, 1959) se diferencia no repertório por ser canção do universo urbano, sinalizando que, do horizonte de seus quintais, Maria Bethânia olha para todo o Brasil.

Marcelo disse...

Gosto muito de Bethânia, mas é mais do mesmo novamente dos últimos 15 anos, textos entrelaçados com músicas, saudades dos grandes discos da "Diva": Álibi, Mel, Talismã, Dezembros, 25 Anos, Âmbar...

ggermanodiniz disse...

Mauro, vamos fazer justiça e dar os créditos da pesquisa ao empenhado Alberto de Oliveira - da comunidade re-verso que, ainda está em plena discusão no orkut. abrs

Dona Emengarda disse...

Em plena discusão no Orkut?
Obrigado por avisar que ele ainda existe vida por lá!

Luca disse...

Bethânia tem quase 70 anos, não dá pra ela querer ser como no Álibi, ia soar ridícula. Acorda gente e olha pra frente! Bethânia pelo menos tá caminhando, e vocês?

Luca disse...

só acho que Roque Ferreira já deu: só a Bethânia, a Mariene, a Roberta e o Mauro ainda ligam presse compositor que se repete

Unknown disse...
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Unknown disse...

Essa temática ruralista está um pouco cansativa. Entendo que Bethânia queira, como sempre, reafirmar um Brasil rico, um trabalho de resistência e resgate cultural. É inquestionável que assim mesmo qualquer projeto dela fica acima e muito além da grande maioria. Se prestarmos bastante atenção,as cantoras têm se repetido à exaustão. É só ouvir Elbas,Simones,Marisas,Anas, etc.
Bem, espero para ouvir o cd e certamente me surpreender com algumas pérolas certeiras.Bethânia é Bethânia.

Crys Marques disse...

O cantor é uma pessoa como nós e não uma fábrica de novidades. Pessoas como nós repetem-se. Além do mais, pelo que Mauro nos escreveu, o conceito do álbum não é a novidade, pelo contrário, me parece ser um recomeço depois da morte de sua mãe; volta a origem do seu gosto musical e o gosto musical de sua mãe.

Tenho certeza que Bethânia vai soar bem como sempre soou. Quer ouvir algo diferente, vai ouvir o Recanto da Gal. Eu prefiro a sinceridade de Bethânia em não fazer algo pra agradar pessoas e mídia. A regravação de um bom trabalho nunca é de mais. Compõe-se música exatamente pra isso, para ser gravada e repetida quantas vezes quiser. Salve Bethânia e a cultura brasileira.

Fabio disse...

Será que as pessoas que não são artistas se reinventam sempre em seus trabalhos, em suas profissões? Brasileiro é tão crítico mas se esquece de olhar para o próprio umbigo.

Unknown disse...

Acabei de ouvir e ver o Dori cantando Alguma Voz. A música é uma obra prima e ,é claro, deve ter ficado belíssima na voz e interpretação de Bethânia. São as pérolas que me referi,como Salmo no Oásis.

Unknown disse...

Todo disco tem sua essência, certo que os antigos tinham mais sabores e esse tem o seu esplenderor

Unknown disse...

Concordo e ela está maravilhosa mesmo com a idade que tem

Unknown disse...

Sem graça

Dona Emengarda disse...

Os reclamildos e sua eterna mania de julgar antes de ouvir!

lurian disse...

Tenho o palpite de que ela se sente em casa nesse quintal, então melhor que ela faça o que quer fazer do que escutar e tentar fazer o que não lhes é de apreço. Normalmente quando ela ouve seu mundo interior se sai muito bem.

Psicólogo Jansen Sarmento disse...

Ansioso pelo novo álbum! Acho que será delicioso!

Marcus Paes disse...

Gente, por onde anda Jaime Alem?

Marcelo disse...

Que horror!!!

paulo s. disse...

Maria Bethânia embalou minha infância e juventude e me deixou órfão!

Kamilla disse...

Isso é Bethânia. . Como criticam sem nem ouvir o disco?? Não entendo. Mesmo se for mais do mesmo, sempre será a perfeição que só Bethânia tem. Sejam mais leves.

Vagno Di Paula disse...

Amo esse lado de Bethânia, bem sertão, de seringal, da mata, dos povos da floresta! Esse seu novo trabalho deve está lindo!!!... Ansioso para comprar!

Vagno Di Paula
Colunista Social, acreano, nascido no seringal Bom Destino








Paulogues disse...

Adoro Bethânia,mas realmente essa temática ruralista está um pouco cansativa, ela vem a muito tempo com esse estilo de canções, Brasileirinho foi incrível uma obra de arte, mas ele acabou se estendendo para outros trabalhos...

Paulogues disse...

Adoro Bethânia, mas essa temática ruralista realmente está um pouco cansativa, "Brasileirinho" foi incrível, o trabalho musical mais perfeito que ouvi, uma obra de arte. Mas acho que ele se estendeu para os outros trabalhos posteriores dela,e agora começa a ficar tudo muito repetitivo...