sábado, 10 de maio de 2014

Biografia mostra como Smiths acenderam e apagaram luz dos anos 1980

Resenha de livro
Título: The Smiths - A light that never goes out - A biografia
Autor: Tony Fletcher (em tradução para o português de Rodrigo Abreu)
Editora: BestSeller
Cotação: * * * *

Para muitos habitantes do universo pop dos anos 1980,  o grupo britânico The Smiths foi quem acendeu a luz daquela década musicalmente marcada pela abundância de teclados que sintetizou o gênero conhecido como tecnopop. Primeira biografia (lançada no Brasil) dessa banda indie criada em 1982 e desativada em 1987, The Smiths - A light that never goes out narra com propriedade a saga de Johnny Marr e Steven Patrick Morrissey, garotos da classe operária inglesa que marcaram sua época ao abrir mão dos sintetizadores. Com estilo sóbrio, sem dar margem a sensacionalismos ou fofocas, o escritor Tony Fletcher - autor de aclamada biografia da banda norte-americana R.E.M., Remarks remade - reconstitui todos os passos do quarteto completado pelo baixista Andy Rourke e o baterista Mike Joyce. Fletcher contextualiza o surgimento da banda na cena musical inglesa e no cenário sócio-político de Manchester, cidade que gerou o Joy Division e o New Order, grupo surgido das cinzas do suicida Ian Curtis (1956 - 1980). O livro mostra, por exemplo, como a voluntária saída de cena de Curtis impactou Morrissey, então um jovem de alardeada tendência suicida, às vésperas de completar 21 anos. Antes de mostrar como a luz dos Smiths se acendeu, a partir do histórico encontro entre Marr e Morrissey em maio de 1982, quando eles se afinaram instantaneamente e se reconheceram como parceiros de alma e música, A light that never goes out perfila os dois ícones da banda na infância e na adolescência, antes da fama. Aliás, o calvário vivido por Morrissey em escola católica refletiria o tom melancólico, depressivo e mordaz de muitas de suas letras, a alma do denso rock alternativo dos Smiths. Uma vez formado o grupo, o escritor descortina os bastidores de cada álbum, as tensões entre Marr e Morrissey e a postura arisca da banda face a um mercado voraz. Foi, a propósito, em meio a uma estressante turnê pelos Estados Unidos que as tensões se agigantaram e que a luz dos Smiths começou a piscar até ir se apagando progressivamente no retorno à Inglaterra, na fase em que a banda - ou, mais precisamente, Marr e Morrissey - já tinham decidido migrar da gravadora indie Rough Trade para a multinacional EMI Music. Troca de guarda cujo efeito foi anulado pelo fim dos Smiths - no auge, a tempo de cristalizar a imagem juvenil da banda e evitar uma possível decadência nas décadas seguintes. Nessa extensa e sempre sedutora biografia, Tony Fletcher disseca os singles e álbuns que ainda iluminam bandas formadas após o fim dos influentes Smiths. O relato do escritor recusa a idolatria. É feito com objetividade e um distanciamento crítico que permite ao autor questionar os efeitos de atitudes tomadas de cabeça quente por Marr e Morrissey, polos de atração e repulsão dessa banda que foi a luz do pop inglês dos anos 1980 e que, a julgar pelo culto resistente à sua obra, deixou acesa uma chama que nunca se apagou. 

Um comentário:

  1. Para muitos habitantes do universo pop dos anos 1980, o grupo britânico The Smiths foi quem acendeu a luz daquela década musicalmente marcada pela abundância de teclados que sintetizou o gênero conhecido como tecnopop. Primeira biografia (lançada no Brasil) dessa banda indie criada em 1982 e desativada em 1987, The Smiths - A light that never goes out narra com propriedade a saga de Johnny Marr e Steven Patrick Morrissey, garotos da classe operária inglesa que marcaram sua época ao abrir mão dos sintetizadores. Com estilo sóbrio, sem dar margem a sensacionalismos ou fofocas, o escritor Tony Fletcher - autor de aclamada biografia da banda norte-americana R.E.M., Remarks remade - reconstitui todos os passos do quarteto completado pelo baixista Andy Rourke e o baterista Mike Joyce. Fletcher contextualiza o surgimento da banda na cena musical inglesa e no cenário sócio-político de Manchester, cidade que gerou o Joy Division e o New Order, grupo surgido das cinzas do suicida Ian Curtis (1956 - 1980). O livro mostra, por exemplo, como a voluntária saída de cena de Curtis impactou Morrissey, então um jovem de tendências suicidas, às vésperas de completar 21 anos. Antes de mostrar como a luz dos Smiths se acendeu, a partir do histórico encontro entre Marr e Morrissey, A light that never goes out perfila os dois principais integrantes da banda na infância e na adolescência, antes da fama. O calvário vivido por Morrissey em escola católica refletiria o tom melancólico, depressivo e mordaz de muitas de suas letras, a alma do denso rock alternativo dos Smiths. Uma vez formado o grupo, o escritor descortina os bastidores de cada álbum, as tensões entre Marr e Morrissey e a postura arisca da banda face a um mercado voraz. Foi, a propósito, em meio a uma estressante turnê pelos Estados Unidos que as tensões se agigantaram e que a luz dos Smiths começou a piscar até ir se apagando progressivamente no retorno à Inglaterra, na fase em que a banda - ou, mais precisamente, Marr e Morrissey - já tinham decidido migrar da gravadora indie Rough Trade para a multinacional EMI Music. Troca de guarda cujo efeito foi anulado pelo fim dos Smiths - no auge, a tempo de cristalizar a imagem juvenil da banda e evitar uma possível decadência nas décadas seguintes. Nessa extensa e sempre sedutora biografia, Tony Fletcher disseca os singles e álbuns que ainda iluminam bandas formadas após o fim dos influentes Smiths. O relato do escritor recusa a idolatria. É feito com objetividade e um distanciamento crítico que permite ao autor questionar os efeitos de atitudes tomadas de cabeça quente por Marr e Morrissey, polos de atração e repulsão dessa banda que foi a luz do pop inglês dos anos 1980 e que, a julgar pelo culto resistente à sua obra, deixou acesa uma chama que nunca se apagou.

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